sábado, 18 de julho de 2009

A luta, sempre a luta...
Emanoel Barreto

O vice-presidente José Alencar vem "lutando contra um câncer", como costumam dizer as coisas de jornal no cotidiano da imprensa. A expressão, lugar comum, é, todavia, suficientemente forte para sugerir algo de heroísmo pela resistência e capacidade pessoal de enfrentar a doença; ou martírio, pelo fato mesmo de sentir-se alguém atingido por mal terrível e do qual não há como libertar-se.

Num caso e noutro a condição humana de limitação, perplexidade e impotência perante as adversidades que, às vezes, invisivelmente nos cercam. E a possibilidade de que qualquer um de nós, eu e você incluídos, podemos sucumbir frente aos desvãos, terrores e medos da vida. Antecipadamente, espero que não.

Mas Alencar vem demonstrando, pelo que dizem as coisas de jornal, grande capacidade de luta. Uma espécie de resignação corajosa e persistente: internação após internação, cirurgia após cirurgia. O corpo invadido por medicação poderosa e ao mesmo tempo cruel; bisturis e pinças cumprindo com seu dever de maltratar para salvar.

Conheci o vice-presidente. Entrevistei-o no Xeque-Mate, TV Universitária, com meus alunos de jornalismo. Ele era candidato ao cargo. Então, perguntei se estaria numa espécie de sociedade com Lula e o PT. Uma sociedade de capital e trabalho, já que ele integra forças conservadoras em inusitada aliança com um partido de trabalhadores. Uma incoerência. Ele, como fiador junto aos segmentos conservadores, de que não havia "perigo" de se votar em Lula, cuja trajetória história o colocava como defensor do socialismo.

Descontraído, bonachão, disse que não. Que Lula podia se garantir por si só. Que não seria preciso aval dele, como empresário, para o petista conseguir chegar à eleição com o voto da conservação. Foi uma bela, instigante entrevista. Fiquei dele com a melhor das impressões. Como pessoa e como político bem-intencionado.

Dias depois do programa, recebi telegrama em que Alencar se congratulava com a iniciativa de existir um laboratório como o Xeque-Mate, e estimulava, a mim e aos jovens estudantes de jornalismo, a continuar com a proposta.

Espero que consiga superar as dificuldades. Que viva...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Não é só com um chazinho
Emanoel Barreto

Não é só chá vitamina "C" e cama: a gripe suína está começando a se espalhar e as coisas de jornal da grande imprensa já falam em 11 mortos. Mais que isso, informam que a doença assumiu sua condição de "sustentada", em que a vítima não viajou a outros países em que há epidemia, nem entrou em contato com gente infectada. Ou seja: o vírus já circula no país.

O preocupante é que nossos serviços de atendimento médico-hospitalar, postos de saúde e desasistência a quem não tem plano de saúde formam quadro que podemos chamar de dramático. Caso a gripe suína se torne situação alastrada um expressivo contingente populacional estará literalmente ao abandono.

A frágil situação organizacional do Estado brasileiro o leva a colocar-se como instituição que falha na prestação de serviço público. Vamos mal na educação, segurança e saúde. O Estado não chega aos que mais precisam, aos que mais dependem do bom funcionamento de sua estrutura organizacional em termos de assistência.

Talvez seja o caso de se remeter o problema aos céus, esperando que o sobrenatural faça o que as autoridades com certeza não poderão fazer.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O castelão e seu castelo
Emanoel Barreto

Leio no Estadão: BRASÍLIA - O Conselho de Ética da Câmara arquivou nesta quarta-feira, 15, por 9 votos a 3, o processo contra o deputado Edmar Moreira (Sem partido-MG), que ficou conhecido por ser dono de um castelo. O arquivamento foi proposto pelo terceiro relator do caso, deputado Sérgio Brito (PDT-BA). As informações são da Agência Câmara. O arquivamento foi votado após duas tentativas infrutíferas de punição ao deputado do castelo.
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Há tempo, muito tempo, li o seguinte: "O lar de um homem é o seu castelo." Não sei a autoria da frase. Mas fica sugerido que ali o cidadão não poderá ser desrespeitado. E o peso da mão do Estado sobre ele não poderá se abater, desde que o senhor do castelo que se chama lar nada tenha feito de socialmente recriminável.

Agora a citação assume forma corpórea: trata-se mesmo de um castelo, e o castelão, em vez de respeitável senhor, trata-se de um arrivista, um aproveitador, protegido pelos seus iguais. É mais uma demonstração do tipo de gente que compõe o Congresso Nacional, cujas duas Casas notabilizam-se pela mais rasteira e solerte ação de rapina.

Aves de mau agouro cívico, muitos deputados e senadores dedicam seu tempo e energia a procurar formas e métodos para se locupletar, às custas de mais sofrimento ao povo a quem deveriam bem representar.

Mas a representação ali ocorre no sentido teatral do termo: eles encenam o espetáculo político em plenário. Baixado o pano, acorrem presurosos em busca das trinta moedas de Judas, que jorram de cofres apodrecidos.
Vergonha
Emanoel Barreto

Apenas para você comparar: na Noruega o ministro da Saúde foi demitido porque telefonou a um hospital público pedindo que amigo seu fosse atendido de forma preferencial. Pegou o telefone e fez o pedido. Isso causou tamanha indignação nacional que a saída foi a sua demissão imediata. A imprensa abriu manchetes, a população se indignou. E esse ato, lá entendido como de corrupção inaceitável, valeu, talvez, o fim da vida pública do envolvido.

Aqui, o presidente do Senado, José Sarney, faz contorcionismos incríveis. Está sob fogo cerrado da imprensa, a opinião pública nacional está perplexa, mas sabemos todos: nada lhe acontecerá. No máximo, talvez seja levado a renunciar ao cargo como estão pedindo as vozes mais honoráveis da Casa, como o senador Pedro Simon, do alto dos seus 80 anos, mais, muito mais da metade deles dedicados ao público.

Em conversas, tenho ouvido: para que serve o Senado? Talvez a indagação esteja fora de enquadramento. Na verdade, a pergunta seria: para que servem certos senadores? A legislação deveria contemplar com rigor esse tipo de gente, permitindo sua cassação de forma certeira e rápida, quando da ocorrência de indignidades como as perpetradas por Sarney.