sábado, 17 de julho de 2010

O DIÁRIO DE BICALHO EM SUA LUTA CONTRA A "CONSPIRAÇÃO"

A grande reunião com os Cenaculadores

Ilustre Diário,

Estive ontem no Porão Central da Augusta e Responsável Ordem dos Homens Bons, Frequentadores de Porões. Reunido com nosso Deão, o Honorável Rabaça. Estavam também ali presentes Dona Zulma, a Altaneira - única mulher admitida à Ordem - diretora da Diretoria de Álibis e um dos nossos maiores filosofadores, o solene Dr. Rubeão Pantalho.

À reunião fora eu convocado. Convocado, entende? Uma convocação é um chamamento do honor, meu caro. É missão, que, como tal, é dever irrecusável. E fui. Chegando, imergi ao Porão Central, onde candelabros tiveram acendidas as suas velas. Nossas reuniões são sempre à luz de velas, para manter-se a armosfera respeitável e ilustre de tais encontros.

Ali, fui informado de que Dona Zulma iria mobilizar a Diretoria de Disfarces (ver edição do dia 15) a fim de paramentar-me e, especialmente, receber um diploma de político a fim de penetrar nas esferas de tais seres e descobrir seus planos.

Como sabe, caro Diário, os pólíticos fazem parde da Conspiração, aquele movimento solerte  contra os Homens Bons.

Imediatamente tudo foi providenciado e um carro levou-me ao Cenáculo, local onde eles são largamente encontrados e pululam ávidos. Lá chegando identifiquei-me como Cenaculador. Foi alvo de deferências e efemérides tais, que quase passei a supor que era um deles.

Quando me encaminhava ao auditorium, onde proferem suas discussões em nome do povo, um deles chamou-me ao lado e pediu que, disfarçadamente, o acompanhasse. Ato contínuo fui levado a uma câmara secreta onde graves e inclusas coisas iriam acontecer, foi o que me disse o anfitrião.

Quando perguntei o que era uma grave e inclusa coisa, respondeu apenas: "Logo verá. Logo verá".

Em seguida estava completo o círculo de convivas e um deles anunciou que a nação vive um instante profundo e oclusivo e que, portanto, todos os Cenaculadores deveriam assim se mobilizar.

Um deles pediu detalhamento. E lhe foi explicado e a nós demais também: um momento profundo e oclusivo referia-se a grande obra paralisada por excesso de superfaturamento e cabia aos Cenaculadores desentravar o processo. Mas, ele disse mas, havia um Cenaculador que estava disposto a se postar contra aquela realização tão pródiga e bonançosa ao povo e à nação, enfatizou.

São sei porquê, mas todos os olhares se voltaram para mim. Entrei em pânico. Afinal, não tenho prática de político.  Quis correr e fui prontamente dominado. E então, em meio à geral confusão, um deles me disse: "Calma, seus dez por cento já foram depositados em conta". Eles pensavam que eu ia ao banco checar se a minha conta tinha crescido.

A reunião prosseguiu e foram traçados planos para o momento profundo o oclusivo. Partilha de dinheiro, entende? Tudoacertado, todos pareceram felizes e sacros com o dever cumprido.

Depois fui para casa. Achei muito estranho essa bondade dos políticos. Distribuir dinheiro? Assim, sem mais nem menos? Chegando em casa, fui direto mexer nas coisas da minha sogra. Temo que seja da política. Nada encontrei. Sorrateira, deve ter escondido provas. Vou investigar mais amanhã: afinal, foi para isso que me reuni com Rabaça, o grande mestre dos Homens Bons.

Não se engane, Diário, a Conspiração deve estar agindo pelas mãos dos Cenaculadores. E da minha sogra também.

Um abraço,
Bicalho

Quando o jornalismo se vai



A morte do JB e Leônidas nas Termópilas
Emanoel Barreto

O anúncio do fim do Jornal do Brasil para 1° de setembro, anúncio que seu proprietátrio Nelson Tanure fez questão de dizer que será um ascenso, o "ingresso na modernidade" ao ser veiculado apenas na internet, é na verdade acontecimento de tristeza que chega à depressão para quem, como eu, a sente como perda e referente profissional e histórico.

O cinismo do dono só não é maior que o estrondo produzido pelo fim dessa voz impressa. Voz que já foi discurso candente; jornal como tribuna, jornal como ator, sujeito coletivo
 não-assujeitado, por exemplo, à ditadura de 64 - pelo menos não completamente.

Como exemplo histórico devo lembrar que o jornal não circulou dia 15 de dezembro de 1968, em repúdio à edição do Ato Institucional n° 5.  A Condessa Pereira Carneiro, então à frente do jornal, preferiu não registrar em suas páginas aquele gesto de brutalidade em forma de lei - lei infame e em essência da mais profunda ilegalidade; lei que feria o princípio do que seja a intenção-mor do que se entende por lei.

A débâcle do JB é tragédia de há muito instaurada em suas salas administrativas, seus escaninhos econômicos, seus registros de ativo e passivo. O fim do JB não é fato que chega assim e pronto: se apresenta como coisa no mundo.

O fim do JB é processo, é algo vivo, é dor que habita seu corpo coletivo como um mal que se alastrou, impregnou e desenvolveu ao longo do tempo como moléstia degenerativa. E nada, nada, conseguiu reverter a tendência à queda. Até chegarmos aos dias presentes.

A declaração do seu dono, de ingresso na modernidade, se não é o anúncio público de sua incompetência gestora - e é - revela, como discurso para quem o sabe ler, outro aspecto: não se trata do tão propalado fim do jornalismo impresso. Não. É fato isolado, vem de antes de tais augúrios funestos, é situação histórica a priori à internet.

Creio que o jornal impresso guarda, ainda guarda, seu poder e sua importância. Os jornais nas bancas de revista são parte da paisagem urbana, integram discurso de lugar, impregnam o telurismo visual de uma urbe. Os jornais gritam em suas cores o passar do cotidiano. Caetanamente nos enchem de alegria e preguiça. Que bom.

Sua força documental, seu potencial lúdico de interação com o leitor pelo manuseio, a capacidade atrativa do discurso gráfico, são fatores ponderáveis a depor favoravelmnte à sua perpetuação - pelo menos a alguma forma de perpetuação. Seja por reforma de conteúdo, reforma expressional com seu encaminhamento à análise, a volta ao até então improvável ressurgimento do jornalismo de opinião como o era no século 19.

Não prego um déja-vù em sua manifestação fenomênica de retrocesso, muito menos uma tautologia histórica; antes suponho uma necessidade, uma espécie de decisão técnico-empresarial. Proponho algo que é muito caro ao léxico ideológico dos capitalistas: empreendedorismo.
Tenho dificuldade em entender um jornalismo totalmente em internet. Quem suportaria ler todo o conteúdo de um jornal, ou pelo menos parte substancial dele, numa tela de computador? E mesmo havendo-se chegado a isso - ao jornal, perdão, internético -, que tipo de conteúdo, que tipo de aprofundamento teríamos?

Temo que tal situação configuraria um jornalismo de notinhas, um jornalismo zipado. Para comprovar o que digo, em processo de metaacontecimento você já deve experimentar agora, agora mesmo, ao ler este Coisas de Jornal, um certo cansaço; aquele, já bem conhecido, advindo da movimentação do mouse. Bingo! Estamos experienciando jornalismo na internet.
Que deve ser complementar, análitico e, especialmente, crítico do impresso. Essa a grande jogada. Pelo menos do ponto de vista democrático.

Talvez uma leve tendinite já advirta de que este artigo está longo, longo demais, contrariando aquilo que eu e meus colegas professores de jornalismo ensinamos: em internet o texto deve ser curto. E curto em função de uma lei tão velha quanto a própria humanidade: a lei do menor esforço.

Veja como os meus parágrafos são curtos. Cada partícula textual tem quase a duração de um aforismo. Ou é isso ou o leitor não aguenta. Você não aguenta. Eu não aguento. Ninguém aguenta. Talvez só Deus. Mas Deus não precisa de jornais.

Então, eis o que penso: um presuntivo fim do impresso não será uma causa advinda de si mesma, de esgotamento de um modelo. Os motivos são econômicos e são sociais. A internet, como fenômeno fin de siécle, contribuiu. A novidade tornou mais fácil o acesso ao conteúdo do jornal. A lei do menor esforço funcionou até mesmo aí.

Mas, a despeito do JB, creio perceber da parte dos donos de jornal, e isso em todo o mundo, consciência de que devem ajustar o artefato, a plataforma, ao mercado. O capitalismo sempre soube se flexibilizar, é um camaleão e todos sabemos disso. No caso, graças a Deus...

Mas isto é apenas uma bem intencionada especulação. Não tenho o dom das áugures de Delfos. Não posso prever. Sei contudo que a história não caminha a passos certos, a história não é positivista. Não se pode pensar que um acontecimento infausto seja reproduzido eternamente. Lembra da dialética, não lembra? Então, a história não é um ser, é um conjunto de variáveis. Independentes e ao mesmo tempo complexas, vitalizadas e dinâmicas. As crises devem ser momentos-fênix.

É ponderável admitir que o jornalismo impresso pode até morrer. Roma, apesar de roma, também acabou. Finou-se pela esgarçadura do seu modelo de sociedade, mas não foi uma decisão: "Não dá mais certo. Vamos fechar a loja".

Com o jornalismo não. Será decisão administrativa: quem o matará, como ao JB, não seremos nós, os jornalistas, sim os nossos patrões e sua adoração ao lucro, esse baal. As consequências do fim do jornalismo impresso serão gravíssimas, com brutais consequências à democracia. Politicamente, isso somente interessa a uma determinada elite.

Como disse, o jornalismo de internet cansa. Fisicamente cansa. Como disse, de novo, este texto já está muito longo... Paradoxalmente faço a minha própria contestação, pois exerço aqui jornalismo opinativo e de interpretação... na internet. Mas conheço meu leitorado. São pessoas que gostam de ler opinião e interpretação. Mas não de ser torturadas. Não escrevo para sadomasoquistas.

Assim, se eu estirar muito as digressões, se minha escritura atirar-se demais para baixo, mais e mais são mão recusará o mouse. É melhor entrar no MSN.

Voltarei ao tema. Por uma questão de bom senso vou parar. Isto é jornalismo, não uma tese.

Resumindo: creio, espero que o impresso não seja finado. Suponho que como Leônidas nas Termópilas, lutará até o fim dos seus últimos trezentos.

Ufa! Até que enfim terminei, heim? Você já deve estar morto...

Umas palavrinhas de Nietzsche

Encontrei na net estes aforismos de Nietzsche e compartilho.

1. A filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas."



2."Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


3."Como são múltiplas as ocasiões para o mal-entendido e para a ruptura hostil!"


4."Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".


5."Há homens que já nascem póstumos."


6."O Evangelho morreu na cruz."


7."A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada."


8."Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade."


9."Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária."


10."O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo."


11."A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade."


12."As convicções são cárceres."


13."As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."


14."Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem."


15."Aquilo que não me destrói fortalece-me"


16."Sem música, a vida seria um erro."


17."E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."


18."A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo."


19."O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno."


20."Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder."


21."Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos."


22."Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar."


23."Se minhas loucuras tivessem explicações, não seriam loucuras."


24."O Homem evolui dos macacos? É, existem macacos!"


25."Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."


26."Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."


27."Torna-te quem tu és!"


28."O padre está mentindo."


29."Deus está morto mas o seu cadáver permanece insepulto."


30."Acautela-te quando lutares com monstros, para que não te tornes um."


31."Da escola de guerra da vida: o que não me mata, torna-me mais forte."

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Vamo batê uma bolinha, deputado?

Agência Brasil
Um drible e um jab na democracia
Emanoel Barreto

Romário, Bebeto, Túlio Maravilha, Marcelinho Carioca e o ex-boxeador Popó são candidatos a deputado federal. Esses e Macelinho Carioca. Coisas da democracia. A questão que se coloca é o fato de que ingressam na, vá lá, vida pública quando vivem plenamente a decadência natural dos seres humanos.

Não seria estranho se, ao longo de suas carreiras tivessem usado a fama, a força de suas personalidades midiáticas para influenciar politicamente.

Não quero dizer política partidária, mas política em sua acepção maior, mais larga: cidadãos demonstrando que ao lado do esporte tinham consciência de que suas opiniões e atitudes teriam peso político. Atuação na sociedade civil, percebe?

Agora, não: ao que me parece, querem mesmo é integrar-se ao baixo clero da corte brasiliense, ficar encostados a um mandato e receber um agrado no fim do mês. E que agrado.

Mas, não lhes tiro de todo a razão. De alguma forma, se eleitos, o que temo seja uma possibilidade bastante plausível, irão se integrar à política-espetáculo, certamente por entender que já faziam parte de uma forma de espetáculo. Só que na política, política como discurso, gesto social de manifestação do Poder, resulta um show burlesco, resultado do nosso caldo de cultura, da nossa permissividade galante e cordial: é coisa pública?, quero a minha parte.

É triste, mas a democracia tem disso.

Os ex-craques, esteja certo, não vão bater um bolão em plenário. Popó não vai nocautear o processo corrupto que é a seiva da Câmara. Não são algo novo a irrigar a cena política. Apenas, espertamente, sugam o que restou de sua imagem na mídia para faturar uma espécie de segunda divisão, confortavelmente sentados em cadeiras magníficas.

O DIÁRIO DE BICALHO - CONTINUAÇÃO


Dona Zulma, a mulher protetora


A Conspiração, Diário Sábio, está em andamento. Para enfrentá-la, a Ordem dos Homens Bons mobiliza notáveis e valorosos esforços. Imagine você, que temos Departamentos especializados nessa proteção.

Temos, por exemplo, a Diretoria de Álibis. Importantíssima. Trata-se de órgão que confecciona, e isso diariamente, documentos e mais documentos a respeito de todos os nossos afiliados com o intuito de, caso seja preciso, a qualquer momento serem sacados e exibidos às terríficas autoridades que compõem a Conspiração.

Quando um Homem Bom é acusado de estar num determinado local onde houve qualquer coisa que perfidamente o incrimine, logo comparece advogado e exibe o álibi, mostrando que ele estava em outro local, incluindo fotos e testemunhos assinados.

Existe também a Diretoria de Passes e Fugas. Outro grande serviço. Com ela, temos passagens de avião, ônibus, canoas, catraias, botes, balões, asa delta, carrinho de supermercado, qualquer coisa que ande ou voe. E escapamos, caso o álibi não seja acatado.

Outra coisa: a Diretoria de Disfarces. Ah!, meu amigo, essa é incrível. Temos à disposição todo tipo de disfarce. Simulação e dissimulação garantidas. Grande e humanitária obra. Ontem mesmo experimentei um deles.

Vesti-me de arcebispo. Assim paramentado dirigi-me a importante repartição onde fui recebido com honras e deferências. Incrível, amigo, o que a desfaçatez pode nos proporcionar. O fingimento, caríssimo, é essencial hoje em dia. Enganei a todos e ainda fui agraciado pelas virtudes da minha enganação. Enganar, meu caro, é essencial.

Afinal, a Ordem nos proporciona a Diretoria Geral de Obscurecimentos, que comanda todas as demais. Trata de tudo o que se possa imaginar: manipula documentos, providencia desaparecimento de outros que sejam inconvenientes, redige cartas, apelos e convocações à representação internacional da nossa Ordem para que nos ajude.

E tudo, tudo isso, sincero diário, é comandado por uma mulher. Sim!, a única mulher que teve permissão para ingressar na Ordem. Falo da Senhora Dona Zulma, a Altaneira. É ela quem providencia tudo e nos garante total segurança em nosso agir. Quero dizer, em nossas defesas.

Assim, colendo diário, estou em total amparo. Há pouco, só para citar um exemplo, recebi estranho telefonema. Ouvi uma voz de pessoa péssima. Voz soturna e gutural de homem  que procurava por um certo Obdonaldo. Imagine só! Obdonaldo? Boa coisa não deve ser.

Quando me identifiquei, a voz desculpou-se e disse que era ligação errada. Entrei em pânico. Alguém me confundindo com um Abdonaldo? Não, jamais, em tempo algum! É a Conspiração. É a Conspiração que está em meu encalço.

Liguei para Dona Zulma que em quinze minutos descobriu tudo: era o dono de uma agência funerária. Mas, pressurosa, aquela magnífica dama me tranquilizou: já havia providenciado para que ele fosse enviado à Birmânia e aeli entregue a estranhas gentes. Estou livre, escapei dessa, mas atento sou.

Afinal, agentes funerários, segundo soube, são representantes da Morte e com ela têm comércio. Ganham por cada caixão que vendem e ainda levam dez por cento. Dizem que a Morte faz parte da Conspiração.

Agora, Dona Zulma está prestando atenção é nos filhos do agente funerário. Podem querem vingança, ela disse, e assim providenciou para mim disfarce de... agente funerário.

Vestido como um, posso passear entre eles e jamais serei capturado e enterrado vivo. Grande Dona Zulma. Talvez eu até mesmo abra uma agência funerária.

Um abraço,
Bicalho

quarta-feira, 14 de julho de 2010

http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/area%5Csuburbio.jpg
O homem do subúrbio
Emanoel Barreto

Ao tempo o olhar é turvo
e faz descer
ao coração do homem do subúrbio,
o operário sem-nome ou sem-futuro.

E ele desce do ônibus sem pressa
de chegar o dia seguinte.
Igual a já tão outros e tanto
mais perdidos.

É isso e quase que não isso.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O DIÁRIO DE BICALHO


A LEAL, AUGUSTA E RESPONSÁVEL ORDEM DOS FREQUENTADORES DE PORÕES

Digníssimo Diário,

Apraz-me informá-lo que passei a integrar a Leal, Augusta e Responsável Ordem dos Homens Bons, Frequentadores de Porões. A subida entidade tem por objetivo reunir Homens Bons vítimas de insanas e ignóbeis perseguições, como é o meu caso.

Imagine você que meu amigo Quaresma, um dos fundadores, há muito tempo me vinha observando e propôs meu nome aos seus pares, sendo eu, mesmo sem o saber, aceito em meio a vivas e exclamações de profundo e lhano regozijo. Aclamação!, meu caro amigo. Aclamação!

E eis que ontem, ao degustar com ele uma boa conversa, foi-me anunciada a minha a epifânica e solene aprovação, o que muito me envaideceu. Não sabia da existência da Sociedade dos Frequentadores de Porões. Coisa bastante clara, compreendi, por se tratar de sociedade secreta.

Saímos da minha casa sob os olhares terrificantes de minha sogra, intrigada com a nossa conversa. Sem dúvida planejava obter detalhes, o que não conseguiu, para então perpetrar solerte ataque.

Ao chegarmos do Porão Central, onde são tomadas as mais solenes e cautelosas soluções contra aqueles que nos perseguem, fui recebido de forma vivaz e altaneira. Soube então que a partir de então seria considerado oficialmente um Homem Bom e passaria a contar com total proteção.

A Leal, Augusta e Responsável Ordem dos Homens Bons, Frequentadores de Porões, reúne-se em tais pontos porque estudos seríssimos indicam que são aqueles os locais mais seguros. Os inimigos, que são muitos e estão em toda parte, ali não podem instalar escutas ou pôr câmeras a nos vigiar.

Importante salientar que temos enorme e vasta rede de túneis que ligam-se em teia por toda a cidade, porão a porão. Nosso líder maior, nosso Deão - sim, temos um Deão - é  o Honorável Rabaça. Rabaça, amigo! Já pensou, Rabaça?

Homem de grandes sabenças. Filósofo e metafísico, alquimista, profeta e positivista. Disse-me, após cordial e fraternal abraço, que nossa Ordem está sempre em luta contra a Conspiração, que nada mais é do que organização que envolve o Governo, figurões e pessoas comuns, todos dispostos a perseguir os Homens Bons.

A Conspiração, Diário sábio é... (continua)

domingo, 11 de julho de 2010

http://copadomundo.uol.com.br/2010/campeao/
Uma vitória espartana
Emanoel Barreto

Com a vitória da Espanha vi-me obrigado a tomar uma dose de uísque. Depois, uma chamada de cana. Cachaça boa, vinda das Alterosas, produzida entre as serras e os vales secretos que só se encontram, para quem sabe procurar, nas Minas Gerais.

O que vi no jogo? Duas equipes vigorosas, competentes, mais que isso, aguerridas, como não encontrei na nossa Seleção - ali um grupo de malandros ociosos, acumpliciados com os altos pagamentos que ganham. Magote de vaidosos e inúteis. Quem contesta?

Vi no jogo uma guerra, vi guerreiros-jogadores. Vi homens briosos de lado a lado, homens com a têmpera de Leônidas nas Termópilas. Leônidas, o general espartano e seus 300 contra os milhares de atacantes persas.

A Espanha, chamada Fúria, nada teve desse sentimento menor mesmo pujante, revelador de dignidade na hora do enfrentamento; dignidade bruta, mas insensata forma de pensar porque nascida do instinto. Não. A Espanha teve bravura, força e disposição. Nada de Fúria. Raça, competência, técnica.

E isso faltou a nossa Seleção, medíocre conjunto, lamentável agrupamento sob a regência do anão Dunga. Como disse em duas crônicas neste Coisas: "Volta Garrincha! Volta."

Final da Copa 2010

Bem, amigos do Velho Barreto, se vocês estão procurando um local para assistir a final da copa 2010 ao lado de amigos tomando aquela longneck super gelada e ainda desfrutar de uma bela paisagem, o Insonia Bar é o seu destino.

De nosso mirante você assiste o jogo e ainda aproveita o belo visual da Praia de Ponta Negra.
Venha, esperamos você hoje e em noites de insonia.

PS. Hoje, excepcionalmente, funcionaremos das 12h até 20h.