sábado, 23 de maio de 2009

O dever de respeitar
Emanoel Barreto

O Estadão informa: SÃO PAULO - Maisa Silva, 7 anos, está proibida pela Justiça de participar do quadro Pergunte para Maisa, no Programa Silvio Santos, a partir deste domingo. O alvará que permite que a garota trabalhe na televisão foi cassado nesta sexta-feira, 22, pela juíza auxiliar de Osasco Ana Helena Rodrigues Mellim, que aceitou o pedido feito pela promotora estadual da Infância e da Juventude de Osasco, Susana Müller.

A promotora usou o argumento de que Maisa era submetida a situações impróprias que ferem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ela também ressaltou que a participação da garota não observa o direito à liberdade e o respeito à dignidade do ser humano em desenvolvimento. Com relação ao Sábado Animado, a Justiça ainda não se manifestou.
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Às vezes a Justiça tarda, mas... chega. A decisão proibindo a criança de ser levada a situações vexatórias é um exemplo disso. A forma cruel como era exibida, como se fosse um animalzinho esperto, acabou. Como disse na postagem de ontem, esse tipo de televisão, que explora, da parte do espectador, a manifestação da face sórdida do ser humano, é uma espécie de praga, uma peste negra comunicacional que valida e torna importante o uso das pessoas como seres merecedores de ridicularização e escárnio.


Alguém ainda deve se lembrar de Faustão humilhando, para audiência de milhões de telespectadores, um jovem portador de característica que o senso comum chama de deficiência mental. Ele fora obrigado a se vestir como um cantorzinho que se apresenta sob o nome de "Latino". Lembra? Pequeno e magrinho, o jovem era levado a tentar cantar e rebolar como o citado elemento, para alegria estúpida do público.



Choveu reclamação nos telefones da Globo. Acho até que o Jornal do Brasil, então um jornal respeitável, emitiu editorial a respeito. Anos depois, o indivíduo Faustão, em entrevista, disse que "não sabia" como o jovem fora levado ao programa. "Isso tinha sido coisa da produção".
Infelizmente vivemos uma crise de valores, onde o sério cede lugar à malta de infames; a diversão sadia perde para a baderna e o lazer televisivo se transforma numa pantomima de vilões, gente safada e sem princípios.
No caso da menina Maísa, entretanto, parece que terá um final decente.
(Foto: Carol Carvalho, do Jornal da Tarde)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

The show must goes on...
Emanoel Barreto

Está registrado nas coisas de jornal da Folha que a menina Maísa, que se apresenta ao lado de Sílvio Santos pode estar sendo alvo de crueldade pelo dono do SBT: "Nas duas últimas edições do Programa Silvio Santos, exibidas nos dias 10 e 17 de maio, Maisa passou por situações de 'pranto convulsivo e aparente estado de desespero, enquanto o apresentador e animador de auditório Senor Abravanel aparentava extrema tranquilidade e alegria com o desenrolar dos fatos'", diz um trecho do ofício enviado ao SBT, segundo o comunicado publicado pela Folha.

O baixíssimo nível da programação da TV aberta, seus reality shows, tipos como Sílvio Santos, Gugu Liberato e Faustão são o exemplo mais refinado e perverso desse tipo de televisão. Que não acontece apenas no Brasil. Trata-se de apenas mais uma manifestação da tal globalização, que visa reduzir o mundo a apenas mercado e, para tanto, apela para os sentimentos mais baixos do público. A vulgaridade tornou-se quase que padrão moral a ser seguido, a crueldade marca registrada, o exercício de poder sobre participantes de reality shows uma regra a ser imitada.

A exposição dessa criança é prova disso. Veja o que diz a Folha: A menina Maisa protagonizou uma nova cena de choro no "Programa Silvio Santos", que foi ao ar neste domingo (17) no SBT.
No programa, Silvio Santos diz que não quer mais conversar com a garota. "Porque na semana passada você deu vexame, ficou chorando no palco como se fosse uma criancinha de um mês de idade."
Diante da reprimenda do apresentador, os olhos de Maisa começam a se encher de lágrimas.
"Mas você chora à toa. Parece uma atriz de televisão. Qualquer coisinha fica magoada. Auditório, eu estou falando alguma coisa para ela chorar?", questiona Silvio.
Desconcertada, Maisa olha para o chão e diz que ficou "magoada". Chorando e gritando, ela sai do palco e bate a cabeça em uma das câmeras do programa.
"Que artista cheia de banca", diz Silvio que, em seguida, com o público seguindo em coro, grita: "Medrosa, medrosa, medrosa."
"Tá doendo muito! Posso ir lá para a minha mãe?", pergunta Maisa ao voltar para o palco.
Maisa se dirige até o local onde se encontra sua mãe. No entanto, a mãe se recusa a receber a filha nos bastidores.
Ela se volta para o apresentador: "Silvio, deixa esperar sarar que eu volto. Gosto muito de você, mas está doendo muito."
"Silvio, meu Deus, tá doendo muito. Silvio, semana que vem vou gravar dois programas", grita a garota.
Em seguida, ela toma um copo de água, resolve encerrar o quadro "Pergunte para Maisa" e sai do palco. "Só cria caso. Toda semana ela cria caso", conclui Silvio.

Ao visto, até os familiares se recusaram a amparar a menina. Certamente a ganância pelo dinheiro auferido com sua força de trabalho superou o que seria de se esperar de uma mãe. Mas, o show tem que continuar...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vamos ter fé. Mas, só em Deus
Emanoel Barreto

As coisas de jornal da grande imprensa alarmam a respeito do câncer da ministra Dilma Rousseff. Na verdade, não é bem assim: Estadão e Folha falam a respeito da doença sem emitir qualquer opininão, mas sabem que o simples falar que uma pessoa está com câncer a inabilita presuntivamente, aos olhos da opinião pública, como pessoa apta ao exercício, por exemplo, da presidência da República.

Não pense que estou contra a liberdade de informação. Nada disso. O que alerto aos leitores é quanto ao fato de que as formulações jornalísticas muitas vezes, sob a alegação de objetividade, ou seja, estar apenas relatando os fatos como aconteceram, trabalham ocultamente formulações que visem prejudicar adversários políticos. Tanto Folha como Estadão registraram, sem destaque, que a ministra está usando "uma peruquinha básica", no dizer do Estadão.

E não é segredo para ninguém que as direções da Folha e do Estadão não morrem de amores pelo PT e por Lula. Então, aprendam a ler jornais lendo nas entrelinhas. Reafirmo: acreditem em jornais; mas, fé, só em Deus.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Dicas para um foca
Emanoel Barreto

Bom, como disse ontem, escrevo hoje para Alexsander Santana, que deseja ser jornalista. Primeira coisa; faça o curso de jornalismo. O curso lhe dará a formação profissional, ética e base teórica para o exercício da profissão. Os cursos estão passando por amplas reformulações e formação de quadro com professores capacitados.

Quanto ao trabalho mesmo, o batente, como chamamos na redação, o bom profissional precisa ter disponibilidade, ou seja: estar disponível literalmente a qualquer momento para ao trabalho. Jornalista é como policial ou médico: a qualquer momento pode se precisar dele.

Se você, digamos, cumpriu seu expediente e vai para casa e no meio do caminho encontra um incêndio, deve, pelo menos, informar à chefia de redação, quando não você mesmo cobrir o acontecimento. Pede que lhe mandem um repórter-fotográfico e faz a cobertura. Se o acontecimento for enorme, como por exemplo a brutalidade de Bin Laden contra as torres gêmeas, então vem uma equipe inteira.

Jornalista precisa ter fontes. Ou seja: se você é repórter policial, repórter político ou econômico, ou qualquer outra área, precisa conhecer gente, ter seus telefones, saber onde encontrar suas fontes a qualquer hora do dia ou da noite.

Jornalista precisa ser ético, deve saber respeitar as pessoas e manter uma distância crítica, mas polida, com os entrevistados. Precisa ter equilíbrio quando vai redigir suas matérias. Precisa ter três saberes profissionais: saber de reconhecimento, que diz respeito à sensibilidade quanto ao potencial noticioso de uma ocorrência (o caso do incêndio); saber de procedimento, que refere às atitudes a tomar para apurar bem um fato e saber narrativo, que é relativo à sua capacidade de redigir clara e sinteticamente o ocorrido.

Em poucas palavras Alesxandro, é isso. Faça o curso e venha a ser um foca brilhante e disposto a enfrentar desafios. Grato pelo seu e-mail e coloco-me à sua disposição. (EB)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Não é por aí, Vida...
Emanoel Barreto

Fui hoje a sessão solene na Assembléia Legislativa, em homenagem póstuma a meu amigo e de alguma forma mentor Leônidas Ferreira. Médico, político, homem de esquerda, era dotado de uma singularidade: sabia que trabalhar pelo social pode ser feito, mesmo sob governos conservadores. Assim, foi secretário de Saúde e Chefe da Casa Civil do governador José Agripino, realizando excelente trabalho.

Relembro sua figura amena, que deplorava os ódios encravados na alma humana. Dizia: "A gente deve se ligar às pessoas pelo amor. O ódio faz de você escravo de quem você chama de inimigo." Conciliador, tinha sempre uma palavra pacificadora: "Não é por aí: vamos conversar."


Lembro-me ainda de viagem que fizemos a Mossoró. Não fui como jornalista, mas como amigo. Convidou-me e lá nos atiramos de carro até lá. Antes, uma parada em Angicos, onde visitou família do seu antigo conhecimento. A dona da casa, senhora de modos artísticos, tocou-nos algumas valsas num velho e manco piano. Instrumento desafinado, mas, mesmo assim, capaz de nos fazer perceber a linha melódica. Que se perdia, tristemente, no ar morno e solitário da noite do sertão.

Em Mossoró visitamos o ex-governador Tarcísio Maia na Fazenda São João. Tarcísio era uma figura de enigmática serenidade. Recebeu-nos com o afeto que só os grandes senhores sabem dispensar, com gestos ao mesmo tempo efusivos e milimetricamente sóbrios.

Voltamos de avião. Lá de cima víamos o Rio Grande do Norte que ele tanto amava, suas paisagens e belezas. Depois, o tempo nos separou. Ele seguiu sua missão de médico e de político, trabalhando em ações de entidade internacional de saúde, e eu o meu jornalismo e, depois, professor.

E então, de repente, como se se tivessem passados apenas alguns minutos, estou eu na Assembléia, chorando a sua morte nas palavras do deputado Lavoisier Maia, que fez a saudação à sua figura histórica. A saudade mostrou como a vida é rápida. E todo o nosso tempo cabe, ele todo, numa minúscula gota da eternidade.

Não é por aí, Vida: você não devia ter levado Leônidas assim, tão depressa.
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*Recebi e-mail de um jovem que se identifica como Alexsander, que quer ser jornalista. Pede-me conselhos a respeito da profissão. Amanhã, Alexsander, publicarei sua mensagem e falarei a você a respeito da nossa profissão. (EB)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Foto do ônibus espacial Atlantis
Para onde vamos?
Emanoel Barreto
Tão pequenos no espaço flutuando
Qual o rumo, qual direção a tomar?
Por que vida, de onde veio, aonde vai?
Tão pequenos no espaço flutuando.