sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Breve histórico da corrupção, a engenhosa invenção do cientista De Putado

Caras Amigas,
Caros Amigos,

Lobista não se contentava com o que tinha. Caminhando pelos meandros da burocracia, trilhando tapetes e gabinetes, salas e palácios, resolveu que deveria desenvolver ao máximo sua capacidade de, digamos, lobar.

Lendo um jornal, viu uma notícia a respeito de transgênicos e resolveu: iria ser um lobista transgênico. Assim, ó: misturando suas habilidades naturais para enganar, conluiar, mancomunar, trapacear, burlar, tramar, fraudar, gorar, espoliar, conspurcar, garrotear, procrastinar e influenciar, com um toque de outras qualidades malignas que iria buscar imediatamente, com certeza obteria novos e maiores lucros às suas ações. Lobista sofria da Síndrome dos Irmãos Metralha. Mal incurável e endêmico no Brasil.

Daí à prática foi um passo: caminhando na praia, encontrou-se com um enorme polvo a quem propôs negócio: na fabulosa máquina de mimetização do Professor De Putado, poderiam formar um só organismo e melhor: metamorfosear-se o quanto quisessem, garantindo desta forma mais agilidade aos golpes. O polvo topava? Claro, claro que sim, topava. Estavam acertados. E tiveram o seguinte diálogo:
- Ramo trabalhar?
-Ramo.
- Então ramo.
-Bora.

E foram ao gabinete do cientista De Putado, que imediatamente os meteu na engenhosa máquina. Dez minutos depois, estavam unidos numa só, enorme e pegajosa criatura. A nova descoberta de De Putado recebeu o nome de Corrupção e deste então invade, penetra, se mete e aprofunda em tudo quanto é canto onde possa haver dinheiro.

E, até hoje, ninguém conseguiu pegar a criatura.
Se a virem, é fácil identificar: come dinheiro e somente freqüenta ambientes de alta$ tran$açõe$.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Um caso literalmente de polícia

Caras Amigas,
Caros amigos,
As coisas de jornal do Estadão informam o seguinte:
"Gravações telefônicas em posse do Ministério Público foram decisivas para o pedido de prisão do diretor-executivo da Polícia Federal, delegado Romero Menezes. Os grampos mostrariam Menezes pressionando o superintendente da PF no Amapá, Anderson Rui Fontel de Oliveira, a favorecer seu irmão José Gomes de Menezes Junior.De acordo com informações do Ministério Público, nas conversas, gravadas com autorização judicial, o segundo homem na hierarquia da PF reclama da demora de Fontel em concluir o processo em que o irmão pede o credenciamento como instrutor de tiro. As conversas indicariam ainda que Menezes estaria articulando o afastamento do superintendente do cargo, caso a exigência não fosse atendida."
O papel social de uma pessoa, ou seja, aquele conjunto de atributos que supostamente deva ter para assumir aquilo que dela se espera, indicam que, de um policial, especialmente ocupando um alto cargo em sua corporação, seja o de comportamento ilibado. E isso em sentido o mais amplo possível.
Afinal, será ele quem vai dar vida ao "longo braço da lei", como diziam os livrinhos de bolso. Ao que está dito, esse delegado age de maneira completamente imprópria, para colocarmos sua avaliação de maneira elegante.
O proclamado distanciamento do policial de sua missão é um dado, apenas mais um dado, a demonstrar como a corrupção chegou ao estágio de endemia. A Polícia Federal, para fazer um comparativo cinematográfico, é o nosso FBI. No cinema, seus agentes são apresentados como incorruptíveis, densamente presos à sua ética, às suas responsabilidades. Verdadeiro ou não, é isso o que o cinema mostra.
Agora, voltando à nossa realidade, temos um escândalo, quando o delegado reclama prebenda empregatícia para um irmão e estaria até mesmo mancomunando para descartar um colega. Ao que parece, estamos mesmo muito longe de 007, o agente secreto inglês, charmoso e envolvente que, em meio a uma conquista e outra, cumpria à risca o seu dever.
Aqui, além de faltar aplomb e um toque de elegância, a polícia precisa de polícia.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Bum-bum! Bum-bum! Bum-bum!

Caras Amigas,
Caros Amigos,

Candidata a prefeita de Itamaracá, Pernambuco, a cantora Gretchen tem dito às coisas de jornal que confia em que sua campanha cresça e até chegue a ser eleita. País carnavalizado, chacrinizado, talvez ninguém melhor que ela para representar essa faceta nacional. Afinal, os representantes de uma sociedade saem dessa mesma sociedade e levam consigo, de alguma maneira, seus valores, crenças práticas e costumes.

Não se espantem com a corrupção em câmaras, assembléias legislativas, câmara federal, senado e governos municipais, estaduais e federal: eles são, entalhados e esculpidos, a cultura brasileira em sua mais pura e impura essência. O que acontece no macro, da mesma forma se representa no micro.

Não digo que ela seja a personalidade ideal para disputar uma eleição; mas tem legitimidade para tanto. Somos uma sociedade dionisíaca, sensual; somos o povo do jeitinho, do levar vantagem em tudo. Assim, os chamados atores políticos são uma amostra veraz e forte do caldo cultural que forma a sopa política e social do grande ser coletivo que é o povo.

Dessa forma, vamos em frente, enquanto, na bagunça, os tambores fazem bum-bum, bum-bum, bum-bum.
Emanoel Barreto

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Deixem-nos morrer

Caras Amigas,
Caros Amigos,

As coisas de jornal comunicam ao mundo que pequenos grupos de milionários estão em desespero porque seu banco faliu.

E falindo esse banco, que é americano, muitos outros bancos poderão entrar em desespero, ou seja: pequenos grupos de milionários, donos desses bancos, poderão ver-se em perigo - e, como se sabe, essas pessoas, pelo seu status e influência política sobre os destinos do mundo, não podem, não devem e não merecem perder seu rico dinheirinho.

Acho interessante o funcionamento desse esquema mental, perverso e insano: pouquíssimos milionários não podem perder dinheiro e é preciso o governo americano investir preciosos dólares do Tesouro para cimentar o mercado.

Enquanto isso, populações inteiras passam fome no mundo e ninguém se preocupa, ninguém diz nada. Essas pessoas, como não têm dinheiro, não têm importância; virtualmente, não existem. Nascem, crescem e morrem em meio ao anonimato histórico a que foram relegadas pelo cruel e pragmático sistema que domina o mundo.

Mas, é isso:
deixem-nos morrer;
eles valem nada;
não rendem dinheiro,
nem compram nada
.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 15 de setembro de 2008