quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O insustentável peso do Walfredo Gurgel

Leio estarrecido na Tribuna do Norte sobre a situação do Hospital Walfredo Gurgel: o descalabro, o desrespeito, o inaceitável como padrão de funcionamento. Os médicos fizeram bem ao mobilizar-se e denunciar, denunciar com veemência, tal abuso. O Walfredo Gurgel é um problema de saúde pública, literalmente. Instalou-se historicamente um quadro de funcionamento insatisfatório, o que sinaliza outra coisa: um quadro de governos insatisfatórios.

Governantes entram e saem com planos mirabolantes. Quando em campanha, os candidatos a governador teem planos, políticas públicas criados por marqueteiros, que transformam problemas sociais em argumento de campanha e põem toda a sua criatividade na elaboração de quadros sociais maravilhosos e pronto: o eleito será o avatar de um ser miraculoso, que transformará a realidade de pesadelo num sonho delicioso. Quando tomam posse, despertam e veem que não é bem assim.

O atual governo não é diferente: prometeu muito, prometeu tudo, prometeu mais que o tudo, seja o que for esse tudo. E agora o que temos é uma situação insustentável. Falta dinheiro para o hospital e sobra sofrimento e dor a quem precisa de atendimento. Vamos esperar que, no mundo vivido, o insustentável peso do Walfredo seja colocado na balança da seriedade e do trabalho.


O bem que não encontra eco no parlamento
Flávio Rezende
escritorflaviorezende@gmail.com

Tem umas coisas que podem até ter explicação, mas, pessoalmente, não    consigo digerir. Por exemplo, agora na política, o tempo na mídia é determinado pela representatividade dos partidos, ai, pergunto, se a disputa é por um novo parlamento, determinar o tempo dos que postulam ocupar um novo espaço, pelos que já ocupam, não é totalmente fora de propósito? O correto é que todos que postulam saiam em igualdade de condições, portanto o tão precioso tempo deve ser igualitário, posto que, como está os aquinhoados com mais tempo, terão imensa vantagem, maculando logo de cara, a tal democracia eleitoral.

Outra coisa, o camarada disputar o cargo estando no poder é de uma falta de bom senso incrível. Por mais que tenhamos leis, que separem as atividades do cara no poder e, as da campanha dele, lógico, claro, indiscutível que as inaugurações, as aparições, as declarações, a mídia espontânea do cara, são de longe, uma vantagem com relação aos demais, maculando assim, a tal democracia eleitoral.

Vez por outra recebo e-mails de propostas que encontram em meu ser guarita e que me remetem a grande alegria interior. Cito um que propõe que os políticos passem a pagar por suas aposentadorias, que elas sejam iguais à de todos nós, pessoas comuns, que eles vão trabalhar em seus próprios carros, paguem suas passagens aéreas do próprio bolso e seus funcionários também, que só tenham um mês de férias e que respondam a processo sem imunidade nenhuma. Eles receberiam um ordenado, diga-se, de médio valor, incentivando assim aos postulantes destes cargos não estarem ali em busca de emprego e, sim, para defender ideias, posições e aceitariam trabalhar por salários medianos, como os padres, alguns funcionários públicos, militares e a grande maioria do povo brasileiro.

Essas propostas podem parecer inocentes, ingênuas, mas nos países sérios, onde as coisas funcionam de maneira mais próxima ao mundo real, tudo isso é absolutamente normal. Aqui, as vestais do poder, sequer admitem discutir o assunto. Vez por outra leio que um ou outro político, levanta questões parecidas, mas, ninguém dá atenção, nem a mídia, que bem podia levar um cara desses para muitas entrevistas, expondo suas ideias de tal forma, que pudesse criar um forte movimento social de mudanças radicais.

Tempos atrás pensava que o Partido dos Trabalhadores seria portador de boas novas para o povo brasileiro, que mudanças aconteceriam, ledo engano, hoje, assisto desfilar nos canais de TV e, nas revistas e jornais que leio, a alta cúpula do partido desnuda em sua sede de poder eterno, flagrado em má conduta de mesadas partidárias aos mesmos vampiros que, antes, eram apontados como os capetas da república.

Em nome dessa tal governabilidade santos e belzebus se misturam cada qual com suas razões e defendidos por advogados de alto poder remuneratório, num caldeirão tão quente, que a razão se evapora na medida em que a emoção proporcionada pelo capital promove em suas vidas, o mergulho profundo num mar de dólares, euros, mulheres peladas, cuecas recheadas, dossiês, contrabandos, jogos de azar, traições, contradições e maldições, apagando da mente esperançosa dos idealistas e das pessoas de bem, todo um depósito de crenças num sistema político imaculado e correto.

Não nego e sou grato ao Partido dos Trabalhadores pelas grandes vitórias na condução do Brasil a pelos bons momentos e projetos sociais implantados, mas, não nego também, a decepção pela maneira como tentou se perpetuar no poder, por estes planos, antes condenáveis e, agora, igualmente utilizados.

Dilma mostra certa disposição em caminhar em outras direções, espero que tenha vontade e determinação para acabar com a nomeação de pessoas por critérios partidários, implantar uma ampla reforma política acabando com o ouro do poder, reformando o judiciário, mudando leis arcaicas e fora de época e, deixando esse povo da base aliada comendo na sua mão, esse povo precisa deixar de receber milho e levar uma surra de ética, ir para a cadeia quando delinquir, ficar preso quando desviar, voar e andar com as próprias pernas, sentir calor no trânsito, pegar engarrafamento, usar o cheque especial, chega de assessores, ECT free, gráfica, carro, mordomo, rapariga e desserviço ao Brasil. Se o petróleo é nosso, se a soja é nossa, se a Amazônia é nossa, por qual motivo as câmaras municipais, assembleias estaduais, a câmara federal e o senado são deles? 


Flávio Rezende é escritor, jornalista e ativista social em Natal.