sábado, 2 de julho de 2011

George Harrison Got My Mind Set On You (2009 Stereo Remaster)

the beach boys barbara ann live

Cherchez la femme

Leio na Folha e, abaixo, comento.

Ex-diretor do FMI é solto após reviravolta

Segundo Procuradoria, camareira mentiu sobre os detalhes de suposto ataque sexual de Dominique Strauss-Kahn
Acusações contra ele não foram totalmente retiradas, porém; caso pode ter impacto sobre a eleição francesa
Don Emmert/France Presse

Ao lado da mulher, Anne Sinclair, Strauss Kahn sai da Suprema Corte em liberdade, sem pagar fiança e sem tornozeleira de monitoramento eletrônico

ÁLVARO FAGUNDES
DE NOVA YORK

O ex-diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn, acusado de atacar sexualmente uma camareira de hotel em Nova York, foi liberado da prisão domiciliar, devido a dúvidas sobre a credibilidade da suposta vítima.
Ele removeu a tornozeleira eletrônica e terá de volta US$ 6 milhões pagos de fiança (incluindo US$ 5 milhões depositados em garantia).

As acusações ainda não foram retiradas, contudo, e ele não pode deixar os EUA, uma vez que seu passaporte está retido. Ele volta a se apresentar à Justiça em 18 de julho.
Caso seja inocentado, pode provocar uma reviravolta na disputa presidencial francesa, no ano que vem. Strauss-Kahn é uma das principais figuras do Partido Socialista, de oposição.
Os procuradores continuam a afirmar que acreditam que o ex-diretor do FMI atacou a camareira, mulher de 32 anos vinda da Guiné (oeste da África).

Mas admitem que as contradições apresentadas nos depoimentos podem tornar difícil para os jurados considerar o francês culpado.

"A força do caso foi afetada por questões de credibilidade", disse a procuradora Joan Illuzzi-Orbon.

A mudança ocorreu depois que a Procuradoria afirmou que a camareira mentiu não só sobre detalhes que ocorreram após o suposto ataque, em 14 de maio, como também sobre seu passado.

Em depoimentos anteriores, ela tinha afirmado que, após sair do quarto de Strauss-Kahn, ficou no corredor do andar até a saída do francês, para então reclamar com seu chefe.
Depois, porém, ela teria mudado a versão, dizendo que, antes de falar com seu chefe, limpou um quarto próximo ao do ex-diretor-gerente do FMI e também o dele.

Além disso, segundo a Procuradoria, a camareira admitiu ter mentido em seu pedido de asilo nos EUA e sobre ter sido vítima de um estupro grupal em seu país de origem.
A camareira também teria mentido ao colocar como dependente no Imposto de Renda o filho de um amigo para receber restituição maior.

Segundo o advogado dela, Kenneth Thompson, a camareira "cometeu alguns erros", mas "não significa que ela não seja vítima de estupro". "A única defesa de Dominique Strauss-Kahn é que o encontro sexual entre os dois foi consensual. Isso é uma mentira."

Strauss-Kahn esteve ontem no tribunal em Nova York acompanhado da mulher, Anne Sinclair. Os dois saíram lado a lado e sorrindo.

ELEIÇÃO
Uma possível absolvição de Strauss-Kahn pode mudar o panorama da eleição presidencial francesa do ano que vem, em que ele aparecia como favorito antes da prisão.
Membros do seu partido, o Socialista, já pediram para que o processo das primárias internas seja adiado, para dar mais tempo ao ex-diretor do FMI de concorrer.
............. 

Tenho a impressão de que trata-se, aí, de caso claro e clássico de abuso de poder, social, sexual e econômico. Mulher - pobre e trabalhadora - é ultrajada na intimidade alugada de um quarto de hotel, mas comete o crime de ter como agente ativo desse ultraje figurão da política francesa. Então, de repente, após o impacto inicial do escândalo, começam a ser destampadas culpas sociais da mulher. Pronto: a agressão, o abuso, o domínio do macho rico e poderoso sobre a fêmea trabalhadora suplantam seu assédio. E ela tem culpa de ser fêmea e desejada. Sculenta presa do tigre poderoso. Como deixar passar a oportunidade de sexo rapidinho sobre mulher à qual se atribuiu volúpia e desejo?

Mas, as cartas estão na mesa. O figurão pose ao lado da esposa bonitona, que apoia o marido.
Como contestar a família perfeita? Se a mulher-esposa aceitou as desculpas, como pode a sociedade contrariar tão sagrada circunstância? Não pode. Claro que não. E assim, o homem surge como elemento divinizado, o pai, o esposo que, de repente, foi cercado pela insídia de mulher vulgar e camareira.



É isso: não se sabe exatamente o que ocorre nas coxias dessa peça trágica. A vítima foi comprada para se assumir culpada? Houve consenso no ato banal do sexo hoteleiro? O bom senso diz que não. Mas, para a assessoria do figurão lúbrico, tudo pode ser legalizado e quem sofreu passa a ser agressora. Depois, o tempo passa e ele pode até ser eleito presidente da
França.






 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Beethoven: String Quartet op 130: V. Cavatina: adagio molto espressivo

Chico Buarque e Pablo Milanés - Cantam Yolanda

Leio na Folha e compartilho texto de Rui Castro a respeito do ódio que pessoas votam a Chico Buarque. Nem ele sabia.

RUY CASTRO

Ódio on-line

RIO DE JANEIRO - Na esteira de seu novo disco, à venda num site para o qual as pessoas podem escrever o que quiserem, Chico Buarque fez uma grave constatação. "Eu achava que era amado, porque as pessoas iam ao show, me aplaudiam, e, na rua, me cumprimentavam", ele disse. "Descobri, na internet, que sou odiado. As pessoas falam o que lhes vem à cabeça. Agora entendi as regras do jogo."

Sim, são as novas regras. Chico Buarque, possivelmente, nunca foi a unanimidade que se pensava -ao lado das multidões que lhe são gratas pela beleza que espalha em letra e música há quase 50 anos, sempre devem ter existido os inconformados com seu sucesso, com seu talento, com suas rimas, talvez até com seus olhos claros.

A diferença é que os que não gostavam dele não se dariam ao trabalho de ir a seus shows para hostilizá-lo e, se passassem por ele na rua, não se disporiam a desfeiteá-lo. A vida real tem seus códigos de convívio -nela, para melhor andamento dos trabalhos, somos mais tolerantes e evitamos dizer o que pensamos uns dos outros. Mas a internet está fora desses códigos.
Nesta, ao sermos convidados a "interagir" e a "postar" nossos comentários, podemos despejar tudo que pensamos contra ou a favor de quem quer que seja. Quase sempre, contra. Uma sequência de comentários -que, em poucas horas, são milhares- a respeito de qualquer coisa nas páginas on-line é uma saraivada de ódios, despeitos, rancores, recalques e ressentimentos. E, não raro, num português de quinta. Pode-se ofender, ameaçar e agredir sem receio, como numa covarde carta anônima coletiva.

Alguns dirão que isso tem um lado bom -com a internet, acabou a hipocrisia e, agora, as pessoas podem se revelar como realmente são. Que ótimo. Resta perguntar quando elas passarão à prática -do ódio on-line contra X ou Y para sua manifestação concreta na rua.
História suja

Reproduzo abaixo matéria da Folha a respeito de Strauss-Khann, aquele do FMI e seu envolvimento com a camareira de um hotel. De repente a mulher, de vítima, é acusada de ter "experiências - sexuais - prévias" e que seria envolvida com tráfico de drogas e por aí vai. É uma história suja em que pela demonstração de que a mulher não seria santa justifica-se o assédio do poderoso. Leia e se assoe.

Camareira mentiu sobre detalhes da acusação contra Strauss-Kahn

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Em carta enviada à Justiça de Nova York, os promotores do caso do ex-diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disseram que a camareira admitiu ter mentido sobre importantes detalhes da sua acusação contra o francês. De acordo com a nova versão, após o incidente ela teria continuado seu trabalho antes de avisar a gerência do hotel sobre a agressão sexual.
"A autora da queixa, desde então, admitiu que o depoimento era falso e que, logo depois do incidente no quarto 2086, passou a limpar um quarto próximo e só depois fez o mesmo no 2086, antes de denunciar o caso a seus supervisores", indicaram os promotores, segundo documentos do tribunal.

Mario Tama/France Presse
Ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn deixa corte de NY ao lado da mulher, Anne Sinclair; ele foi libertado sem fiança
Ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn deixa corte de NY ao lado da mulher; ele foi libertado sem fiança
Caso a nova versão do depoimento seja confirmada em audiência, a tese defendida pela defesa do ex-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) --de que a relação sexual teria sido consensual-- deve ganhar força.
Na carta enviada pela promotoria, afirma-se que a suposta vítima deixou o quarto e limpou outro cômodo antes de denunciar a suposta agressão, ao invés de, em pânico, ter corrido imediatamente à gerência, como antes afirmara.
"No curso da investigação, a acusadora mentiu aos promotores distritais assistentes sobre vários outros assuntos, incluindo sua história, experiências prévias, circunstâncias presentes e relacionamentos pessoais", diz um trecho do documento.
Segundo Benjamin Brafman, um dos advogados de defesa do francês, Strauss Kahn será declarado inocente.
Os últimos elementos relacionados ao caso "reforçam nossa convicção de que será declarado inocente (...). É um grande alívio", disse.
A justiça nova-iorquina suspendeu nesta sexta-feira a prisão domiciliar de Strauss-Kahn, mas as acusações por crimes sexuais abertas contra ele não foram abandonadas.
REVIRAVOLTA
O Tribunal Penal de Nova York libertou nesta sexta-feira o ex-diretor-gerente do FMI que estava há um mês e meio em prisão domiciliar.
Strauss-Kahn foi libertado sem fiança --o que indicaria que as acusações são menos graves do que as inicialmente apresentadas.
Mary Altaffer/Associated Press
Ex-diretor-chefe do FMI chega a corte de Nova York para nova audiência; francês foi libertado após reviravolta no caso
Ex-diretor-chefe do FMI chega a corte de Nova York para nova audiência; francês foi libertado após reviravolta no caso
O canal de TV americano CNN diz ainda que há algumas condições para a libertação do francês, que continua sem o passaporte e deve voltar para novas audiências. As acusações não foram derrubadas e ele continua sendo processado.
A TV mostrou imagens de Strauss-Kahn deixando a corte, sorrindo, ao lado da mulher.
O caso de Strausss-Kahn sofreu uma reviravolta na noite de quinta-feira quando o jornal "The New York Times" revelou, com fontes ligadas ao caso, que havia fortes suspeitas sobre a credibilidade da vítima.
Estas suspeitas teriam sido apresentadas na audiência desta sexta-feira, o que teria resultado na libertação do francês.
ACUSAÇÕES
Strauss-Kahn, 62, foi preso em 14 maio sob suspeita de abuso sexual, tentativa de estupro, ato sexual criminoso, aprisionamento ilegal e toque violento contra uma camareira de 32 anos do luxuoso Hotel Sofitel, em Nova York. Ele nega as acusações.
O escândalo o levou a renunciar ao cargo no FMI e acabou com suas chances de concorrer à Presidência francesa em 2012, à qual era um dos favoritos.
Na noite de quinta-feira, contudo, o "NYT" afirmou, com base em fontes anônimas, que a suposta vítima mentiu sobre o incidente repetidas vezes.
Os advogados de defesa apuraram que a camareira recebeu depósitos que somaram US$ 100 mil nos últimos dois anos --em suposta evidência de que ela teria sido paga para inventar a acusação.

Todd Heisler/France Presse
Strauss-Kahn (segundo da dir. para a esq.) durante audiência; francês foi libertado mas não pode sair dos EUA
Strauss-Kahn (segundo da dir. para a esq.) durante audiência; francês foi libertado mas não pode sair dos EUA
Os promotores teriam ainda conversas gravadas da camareira com indivíduos sobre o pagamento pela acusação de agressão sexual, destaca o jornal.
A polícia descobriu ainda supostos vínculos da vítima, uma guineana de 32 anos, com atividade criminosa, incluindo lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. A mulher também teria mentido para obter seu visto de permanência nos Estados Unidos.
Segundo o "New York Times", as novas evidências poderiam resultar na libertação de Strauss-Kahn.
"É um desastre, um desastre para ambas as partes", disse um funcionário ao jornal.
 
CASO
A camareira alega ter entrado no quarto achando que não havia ninguém e que Strauss-Kahn saiu do banheiro nu, em sua direção. Ele a teria agarrado e tentado colocar seu pênis na boca da camareira por duas vezes, além de impedir que ela deixasse o local. 

Após ser detido em um avião quando se preparava para voltar à França, Strauss-Kahn passou duas noites em uma delegacia do Harlem e quatro na prisão de Rikers Island, antes de conseguir mudar para a prisão domiciliar em um luxuoso apartamento de Manhattan, depois de pagar uma fiança de um milhão de dólares. 

Além de pagar US$ 1 milhão de fiança e mais US$ 5 milhões em caução, o ex-diretor do FMI foi obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica, restringir-se a um regime de saídas e visitas muito rígido e entregar todos seus documentos de viagem.
A doce vida dos corruptos

Acompanho a olhar tardo o noticiário salpicado, difuso, relatando as coisas dos corruptos. Nas coisas de jornal é assim: no início há cobertura intensa mas os corruptos, esse seres dotados de alma encharcada, conseguem receber - e aparar - todos os golpes. Os amortecedores morais de seus corpos civis suportam a carga da artilharia da imprensa e meses depois já quase ninguém deles se lembra. O corrupto é um imoral bem assessorado.
Pois bem: passada a fase dura do noticiário,  o processo se amorna, acomoda-se entre os papéis de outros processos e todos dormitam entre o mofo e as traças. E assim o corrupto, protegido pelo silêncio caduco da lei processual, cobra forças para novas investidas, assume outros cargos, torna-se autoridade novamente. E vai, vai e vai; até que surge nova denúncia, mas ele nega até o fim. Sabe que nada lhe aconteceu e, sob a proteção pesada da cortina do seu próprio poder, bebe seu uísque e estira a mão para a fortuna, a deusa da sorte que há tanto o acompanha.



quarta-feira, 29 de junho de 2011

O crme do Vectra prateado

Não se vende uma menina

A elegante mulher desceu do carro prateado, deixou o motor ligado, foi até a favela do Maruim e parou aquele mundo de dor e lama: ali ninguém entendia o que uma senhora tão distinta, tão bonita, tão fina, fazia em meio a tanta pobreza, sujeira, lodo. Simples: ela procurava Dona Maria Oduvalda, até que ouviu: “Está falando com ela.” Sem esperar mais um segundo a mulher sacou uma pequena pistola da bolsa, mirou a mulher e acertou-a no meio da testa. 
A assassina correu, enquanto todos ficavam paralisados. Entrou no carro e fugiu. O crime do Vectra prateado, como o caso ficou conhecido, abalou Natal não apenas pelo fato em si, mas pelo envolvimento dos personagens, o confronto social, a elegância criminosa e a miséria ofendida, indefesa e morta.

Alguém anotou a placa? Não, ninguém anotara a placa, tal o pandemônio estabelecido na favela do Maruim. Mas na cidadde somente se falava na bela e seu Vectra fulminante. Passaram-se 15 dias, os jornais quase não tinham mais títulos para continuar segurando o assunto, até que ela pegou o telefone e ligou para o Delegado Eudóxio: “Doutor, amanhã vou me apresentar ao senhor. Matei aquele mulher. Não, não, não pergunte o meu nome. Apenas me espere às três da tarde que irei, sem escolta e sem medo, a seu gabinete.”

Dia seguinte, no horário aprazado, a elegante mulher chegou à Delegacia e foi direto à sala do delegado Eudóxio. Ele: “E então, por que a senhora matou aquela pobre mulher?” Ela disparou resposta aguda como lâmina de florete: “Matei porque ela era minha mãe.”

“Como?”, disse o delegado, que quase saltou da cadeira. Como seria possível que aquela mulher, finíssima, fosse filha de uma velha miserável, moradora da favela do Maruim? Ela explicou: a velha Oduvalda, viciada em álcool e faminta, a havia vendido ainda bebê a uma respeitável família natalense, família rica, porém impossibilitada de ter filhos. 

Oduvalda, bonita à época, disputada por todos os cafajestes da área, havia conseguido um bom dinheiro com a venda da criança e gastou todo ele em cachaça.

“Mas ela não lhe fez um bem? Não é hoje a senhora uma mulher rica, educada, bem de vida, tranqüila até o último dos seus dias?”, quis saber o delegado.

“Sim; mas não se vende  uma menina." Apontou a pistola para o delegado. E disparou.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Arraiás da memória

Walter Medeiros – waltermedeiros@supercabo.com.br
 

Os festejos juninos, principalmente para nós, nordestinos, proporcionam momentos agradáveis e felizes, que vêm das nossas raízes e ligações com a terra, a caatinga, o sertão. Algo como ouvir aquele acorde da sanfona e as batidas da zabumba e do triângulo; como comer aquela espiga de milho cozido ou assado; aquele pratinho de canjica; aquela pamonha. Tudo isso junto forma aquele tradicional arraiá, que antigamente era feito quase por rua, e há alguns anos passou a ser concentrado na disputa para saber quem faz o maior do mundo.

Meus arraiás estão guardados na memória, e deles tenho aquela saudade de quem já sabe que foram felizes e ficaram lá no passado. O “Arraiá do Xico Careca”, do tempo da Av. Rafael Fernandes – anos 60; o arraiá da Rádio Cabugi e Tribuna, feito aos pés da antena que ficava nos transmissores da estrada da Redinha, à época tão longe; o arraia do Movimento Estudantil, onde dançamos até ao som de Belchior; o Arraiá do Pinguinho de Gente, acompanhando a criançada; o Arraiá do SESC Taguatinga, quando morava em Brasília; o Arraiá de Alfama, com o manjerico, dois anos atrás (foi de lá que vieram tantos trejeitos bons); e hoje o “Arraiá da UNICAT”, nosso local de trabalho.

Sempre que se fala em arraia, vêm à mente aquelas músicas que tanto marcaram os citados momentos: “Ai, São João / São João do Carneirinho...”, “Tem tanta fogueira / tem tanto balão...”, “Zabé como é que pode / eu viver longe de você...”, “Eu fiquei tão triste / eu fiquei tão triste naquele São João...” mas para marcar as quadrilhas eram sempre as marchas animadas, porém não tanto. Hoje multiplicaram as batidas e as quadrilhas dançam num ritmo frenético e desconforme, que as distancia daquele passo tão confortável de antigamente.

Movimentando o arraia, agora vemos gente fantasiada com trajes meio carnavalescos, e na TV dizem também que a estrutura de confecção das vestes é idêntica à dos barracões das escolas de samba, algo meio Carnaval. Aos poucos foram sumindo aquela fogueira em que se assava milho e elegia os compadres, as comadres, os afilhados e as afilhadas, sob os versos inesquecíveis do “São João Disse / São Pedro confirmou...” tão fortemente cantados por Luiz Gonzaga.

Não sou contra os grandes forrós. Apenas não consegui ainda me situar neles. E até mesmo por bairrismo, torço para que Mossoró ganhe de Caruaru e Campina Grande, para que nossos conterrâneos passem a ostentar o título de maior São João do Mundo. Apesar da discriminação da mídia, que mostra até coisas menos importante, pois deixa de mostrar qualquer festejo junino do Rio Grande do Norte, haja vista o Globo Repórter passado.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

 A chuva em Natal

A chuva em Natal trocou a luz tropical da cidade por um cinza calmo, um silêncio salpicado pelo tamboril dos pingos e muitas vezes uma cachoeira que despeja litros de barulho no telhado. A chuva em Natal trouxe o inverno do sertão às ruas. A chuva em Natal trouxe a este meu início de férias a vontade de um bom livro e um pouco de descanso. A chuva em Natal aguou o meu jardim. A chuva em Natal vai fazer-me parar um pouco e ter tempo para escrever, mesmo que só um pouco.