sábado, 31 de março de 2007

A castidade com que abria as coxas

Hoje, trago um poema de Carlos Drummond de Andrade. Hoje, não quero falar das dissensões do mundo, dos miseráveis ódios do cotidiano, nenhum comentário sobre o motim dos controladores de vôo, ou as últimas indignidades dos políticos. Fiquemos com Drommond. É melhor assim. É bem melhor. Veja.

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres
em mim ressuscitados.


Era Adão,primeiro gesto nu
ante a primeira negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.

terça-feira, 27 de março de 2007

De como o pobre leva uma vida de segunda mão e o ricaço sorri e festeja sua doce vida

Francenildo dos Santos Costa é o nome de um brasileiro que teve a coragem de denunciar a corrupção e apontou o hoje deputado federal Antônio Palloci ex-ministro da Fazenda, como integrante de um núcleo formado por altos figurões do Governo Lula,que seu reuniam em uma mansão no Lago Sul, em Brasília.

Era a chamada República de Ribeirão Preto, pois seus integrantes eram todos daquela cidade e na mansão se encontravam para festas e negócios escusos, dizia a imprensa há um ano, louvando-se nas denúncias de Francenildo, caseiro do delicioso antro e testemunha privilegiada do que ali se passava.

Resultado da ação de Francenildo: está desmpregado,vive de pequenos serviços e foi abandonado pela mulher que levou consigo o filho do casal, temento represálias. Palloci está deputado federal, tem livro publicado e vive muito bem. O processo contra ele dormita em alguma gaveta do Supremo Tribunal Federal, esperando parecer do Ministério Público. Quando, ninguém sabe.

Essas informações estão nos jornais e já podem ser incorporadas ao repertório de desgraças que compõem o cotidiano anônimo, a vida barata, angustiantezinha, péssima, a existência de segunda mão de milhões de brasileiros.

O honesto pagando o preço de ter integridade; o ricaço desfrutando do convescote do Poder, comendo as tâmaras da doce vida. O honrado atirado à margem, à sarjeta da vida; o mastim das benesses pronto para mostrar os dentes, protegido por um mandato federal. Oremos.