sábado, 12 de abril de 2008

Um olhar voltado para o Nada

Grizar Junior/Futura Press - publicada pela Folha de S. Paulo
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá deixam de carro o IML, onde foram submetidos a exames após terem sido libertados

Caros Amigos,
No olhar distante, um instante da Queda.
A vida esvaziada,
perdida em sentimentos pasmos,
enlaçada de momentos turvos.
Movimentos parados,
como um pêndulo estático.

Quem? Quem? Quem?
O coração de todos quer uma resposta.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A crise de alimentos e Tio Patinhas

Caros Amigos,
Os Grandes do mundo estão manifestando preocupações com a subida dos preços dos alimentos.

Entendidos em economia e políticas públicas dizem que os preços estão numa corrida para o alto devido ao fato de que, no mundo, milhões e pessoas saíram da linha de probreza absoluta, ou melhor, da miséria, e estão podendo comer. Ou seja: gente deixando de passar fome para atender não apenas a uma necessidade fisiológica, mas a um direito universal de cidadania, a um direito humano, o direito à vida.

E os Grandes, com isso, estão preocupados. Estão temerosos com o fato de que, com o aumento dos preços, poderá resultar numa espiral inflacionária via conexão da produção alimentícia inflacionada com outros fatores socioeconômicos, formando-se então uma crise; estão preocupados, como se vê, é com o dinheiro, o capital, o lucro e a possibilidade de que eles, os Grandes, venham a, de alguma forma, perder poder e fortuna; milhares, milhões, bilhões de dólares escorrendo de suas grandes e gananciosas mãos.

Observando-se tal expectativa, o Grupo G8, e a Rússia, estão marcando uma reunião de emergência, para discutir o assunto. Não, não estão preocupados em como manter as pessoas se alimentando, ganhando corpo, saindo da desnutrição. Querem encontrar uma fórmula para que Tio Patinhas continue a dar mergulhos em dinheiro, nadando em seu cofre platinado.
Emanoel Barreto

terça-feira, 8 de abril de 2008

Aquela coisa que se chama morte

Caros Amigos,
A morte da menina Isabella, cujo anúncio e ênfase pelas coisas de jornal causa comoção a todo o País, leva a uma indagação: por que isso? Por que surge esse sentimento coletivo de pasmo, deprimente perplexidade, uma espécie de caos emocional que enche de vazio a alma? Por que esse grito no olhar, quando se vêem as manchetes?

A explicação: um psiquiatra disse na TV que esse tipo de ocorrência é chamada de crime inusitado, ou seja: uma ação infracional que atinge fundamente, além da pessoa vitimada, poderosos e antigos sentimentos, convicções arraigadas geração a geração e que, mesmo com as admissíveis mudanças sociais, permanecem ainda como valores fundamentais. Pelo menos foi isso o que entendi.

E o que foi atingido, quando alguém praticou o crime? Atingiu-se, na essência, essa coisa a que chamamos lar; aquela unidade familial que encerra e emana carinho, proteção, aconchego, intimidade, conforto, paz, menininhas dormindo no silêncio da noite calma. E, sendo o ataque à criança praticado sob o teto de um lar, onde a liturgia do amor e da comunhão se faz todos os dias, ou pelo menos se deveria fazer, agrediu-se de maneira incomum, esmerilhadamente cruel, a infância, a vida, o respeito ao lar. Houve, para o inconsciente coletivo, um sacrilégio, uma violação, uma profanação.

É por isso que, até mesmo estimulada pelas coisas de jornal, as pessoas esperam que se descubra quem matou a menina Isabella. E, como diziam as mulheres antigas, rezando seu terço ao entardecer e olhando ao longe o sol que se punha, "cada um que reze para que isso não venha a lhe acontecer." É o ser humano, pequeno e pobre, temendo que venham da vida, para lhe atacar, terrores e medos, aquele frio que arrepia e aquela coisa que se chama morte.

Emanoel Barreto
Foto: Agência Estado - Aledandre Nardonni e Ana Carolina, pai e madastra de Isabella.

domingo, 6 de abril de 2008

Goodbye, Ben Hur


Caros Amigos,
Com a morte do ator Charlton Heston, cujo papel mais representativo foi o do príncipe judeu Judá Ben Hur, uma superprodução de 1959 que ainda hoje é referência mundial, vai-se um artista que tinha, para mim, como que uma missão - claro que não era, mas, na minha visão de menino de oito anos, em 1959, era sim: interpretar personagens que encarnavam valores como dignidade, honradez, coragem, honestidade e, acima de tudo, heroicidade. Em El Cid, não foi diferente. Em Planeta dos Macacos, a mesma coisa. Também não se pode esquecer Os dez mandamentos.

Ben Hur é um clássico do cinema épico. E, sendo um épico hollywoodiano, é claramente um trabalho de comunicação de massa em seu sentido mais exato. Mas, apesar de ser obra de comunicação de massa - que em si é despretensiosa e eminentemente comercial -, de alguma maneira saúda a capacidade do ser humano de resistir ante os mais desastrosos, até mesmos trágicos acontecimentos.
Quando vi o filme, ou seja, quando conheci Ben Hur, ele logo tornou-se meu amigo. Como assim também o eram Jerônimo, o Herói do Sertão; os Doze Pares de França; o Zorro; Roy Rogers; os Trezentos de Esparta; os Três Mosqueteiros e o Duque de Caxias. Claro que eu tinha muitos outros amigos, mas não daria para reuni-los todos neste texto.
No meu imaginário infantil, a condição de herói, de defensor dos fracos e oprimidos, fazia-me aliar o Duque de Caxias e Rolando, um dos Doze de França, a personagens de cinema e histórias em quadrinhos. Uma aliança onírica, clara, brilhante; um campo vasto, para grandes campanhas de combate e largas e velozes cavalgadas.
Claro que o menino que eu fui sabia que, uns e outros, estavam divididos pelas suas condições de pessoas e de personagens. Mas suas essências, para mim, significavam muito. Eram a expressão da minha corajosa ingenuidade: o uso da força a favor do Bem.
Mas o tempo passou, meus amigos foram partindo um a um, recolhendo-se aos escaninhos mais distantes de minha memória e ali, de alguma forma, adormecendo. Mas, pensando bem, quem sabe, eles não estão montando guarda e me incentivando a enfrentar desvios e tormentas? Quem sabe?
Mas, a gente vive no mundo, e o mundo é real. E, com a morte de verdade deste velho companheiro de aventuras, tenho de dizer adeus. Hoje, já não mais enfrento bandidos ou legiões. Mas, como o Prisioneiro 41 do filme, o incansável remador Ben Hur, continuo no mesmo compasso, ao ritmo binário que rege todo galé. Goodbye, Ben Hur.
Emanoel Barreto