sábado, 11 de março de 2006

Eduarda

Esta crônica é uma homenagem à vida, expressa na figura inocente da minha primeira neta, a doce Eduarda, menina linda, feita de azul.

"A vida brota do amor e se refaz em si mesma, a cada instante de luz.
"A suave beleza da vida que nasceu se enlaça na ternura das mãos que a sustentam.
"E o lindo olhar da inocência reflete a existência de Deus.

"O pequeno raio de sol, matinal e ameno, é amigo de todas as manhãs.
"A natureza inteira é como um bosque de paz,

que prepara um ninho para a pequena vida.

"Vida, és amiga da verdade simples, das plantas e do azul.
"E te lanças em caminhos que reconhecem as mãos que te protegem.

"A pequena Eduarda é esse ser lindo da vida.
"Pequena menina de gestos de nuvens.
"Que os sons e todas as cores do mundo acompanhem os teus passos."

Ciumenta

"O homem nasce nu, molhado
e faminto; o pior vem depois."
(De um velho filme de caubói que, um dia, assisti)


De Zilda Neves recebi a crônica que segue abaixo, "Ciumenta".

Ela tinha um gênio difícil; brigava por qualquer coisa e com todo mundo!
No condomínio onde morávamos, não tinha amigas nem vizinhos; todo mundo passava por ela, preferindo abaixar a cabeça, com medo de apenas, num cumprimento, ter seu dia estragado, por um simples "bom dia".


Fosse risonho e receptivo, imaginava o incauto pretendendo uma aproximação que ela repudiava, e aí estava formado o banzé: -Nunca me viu não? Questionava de chofre, não dando tempo ao atingido por um petardo oral inimaginável.

Depois de dar três passos e olhando para trás, se o infeliz ainda, aturdido, estivesse parado, descarregava a bateria:- Vai querer o quê? Tempo bastante para desistência do amável cidadão, disposto a não ser mais educado.

Ninguém entendia como o marido, se casados fossem, aturava aquela mulher! Só ele sabia.

Na cama, era uma candura de mulher; bastava tirar a camisola, vestia-se de fêmea, cobrindo seu corpo, com a sensibilidade do amor que pode mais que a razão, sendo impossível não ser do jeito que os outros, acreditem ela seja. Apenas eu!

O que todo mundo vê, não corresponde ao sentido interior, justificativa de um ciúme consumidor e quase sempre sabe mais que a verdade, fato bastante para fazer-me imaginar que a idéia de morrer sozinho é uma desgraça, e não posso correr o risco.

O ciúme é próprio de quem ama; ela jamais derramou uma lágrima fácil, quando, razões de seu coração era atingido. Preferia um esgar, disposta a uma refrega de conseqüência imprevisível, a secar uma gota, que as costas da mão pudessem enxugar.

Não partilhava seus segredos, nem contava aventuras contidas em sua vida: nem do corpo, nem da alma; parecia compreender já ter se dado conta, num passado remoto, serem impunes a um futuro que se avizinha, deixando entender ao companheiro, não esquecer - se a vida lhe for breve - onde enterrou seu segredo.

Porém, nem sempre foi assim; dotada de personalidade forte, guardava nas profundezas do seu ser, uma possessividade controlada, exacerbada com o passar dos anos e das imposições que a vida lhe ofereceu. Seus dotes físicos mostravam-lhe essa verdade, fato bastante para criar um quê de reserva, e uma visão ciumenta de si própria. Percebia olhares furtivos, ao cruzar com pensamentos menos nobres, onde seu atual companheiro, fora um deles.

A vida a dois, fortalece um permanente descobrir, no jogo do amor, permitindo reconhecer que as tentativas, embora frustradas, avolumavam-se no amiudar de se dar e que o tempo encarrega-se de contemplar desejos recônditos.
As primeiras insinuações pareciam ser vencidas com um argumento imaginado inquestionável: “Quer entrar, onde só deve sair”?


A contramão dos fatos, jogou por terra, outras virtudes mais fortes para o primeiro embate, ficando os anos como um aliado, no novo se entregar.
A soma, julgada perfeita, alicerçou um questionamento, onde o ciúme extrapolou de uma forma acintosa ao parceiro, mais ainda assim, dizia-se a mulher mais feliz do mundo!

quinta-feira, 9 de março de 2006

Canalhas!

"A desonra é como a cicatriz na casca de uma árvore:
o tempo, longe de apagá-la, só faz aumentá-la cada vez mais."
(Autor desconhecido)

A Câmara dos Deputados perpetrou ontem um dos mais lamentáveis espetáculos que a podrura do seu plenário sórdido já pôde vomitar: absolveu dois usuários do mensalão, o deputado Professor Luizinho e o deputado Roberto Brant. O primeiro do PT, o segundo do PFL. A bile política, dizem os jornais da grande imprensa, foi secretada por um acordão reunindo PT, PSDB e PFL.

O grande mictório em que se transformou a Câmara dos Deputados salvou Roberto Brant com 283 votos, contra 156. Quando foi evacuar, o deputado Professor Luizinho
foi acolitado por 253 parlamentares (eu disse parlamentares?) contra 183. Outro envolvido no mensalão, Romeu Queiroz, do PTB, bem antes, já havia sido salvo por seus pares, melhor diria, pedreiros de latrinas.

Agora virão outros. Vejamos como as coisas vão acontecer. A manter-se a atual tendência, todos os calígulas irão triunfar. E, como você sabe, Calígula foi aquele imperador romano que prostituiu as mulheres dos senadores para arrecadar dinheiro para o Estado romano e fez de seu cavalo, Incitatus, também um grande tribuno. O cavalo foi sagrado senador, que, naquele tempo, era algo vitalício.


No Brasil, Incitatus sem dúvida alguma teria muito a ensinar. E os deputados muito a aprender. Afinal, Incitatus viria dos tempos das grandes bacanais que, em último caso, eram apenas festas religiosas, em honra ao grande deus Baco. E como os deputados gostam mesmo é de um balaco-baco, veja só, tudo estaria às mil maravilhas.
Mas Incitatus não poderia vir. E agora, fazer o quê? Esperar? Sofrer? Gritar? Lamentarmo-nos todos, cobrir nossas cabeças com cinzas e dirigirmo-nos a algum áugure ou oráculo, para saber o que acontecerá? Em verdade, em verdade vos digo: não acontecerá nada! Todos sairão com suas coroas de louros, como atletas do mundo olímpico clássico.
De uma coisa, entretanto, tenho certeza: o plenário da Câmara dos Deputados é um extrato perfeito da sociedade brasileira. Estamos ali, literalmente, representados. Somos um povo lasso, ideologicamente apascentado, leniente para com o crime, frouxo em enfrentamentos que defendam a ética e a moral. As próximas eleições vão comprovar o que digo.
Cada vez que alguém corrompe o guarda de trânsito com uma nota de dez reais, sempre que um funcionário público chega tarde ao trabalho, quando o médico deixa de ir ao posto de saúde para trabalhar, quando na academia alguém compra uma dissertação de mestrado pela internet, tudo isso, de alguma maneira, se reflete nas escolhas dos representantes políticos. É uma questão cultural, um processo de osmose, que se multiplica e se amplia, salta dos atos microscópicos do cotidiano e alcança toda a largueza das esferas políticas mais altas. Há as exceções, é claro. Mas...
Então, vamos dizer como Macunaíma:"Que preguiça..."

quarta-feira, 8 de março de 2006

A Mulher

"Tenho duas mãos,
e o sentimento do mundo."
(Carlos Drummond de Andrade)

Este texto é dedicado a Minha Mulher, em seu Dia.

Ela caminha, calma, em seu silêncio de manhã mais nascente. Suave, tece nossa vida como uma penélope que não precisa olhar para o horizonte, à espera de um navio que jamais chega. Seus passos abrem caminhos, suas mãos escolhem e colhem gestos de abraço. A ela, sempre, ofereço matizes sutis de nossas tardes. Minha Mulher.


Companheira, amiga, corajosa, tem enfrentado comigo todas as termópilas. É uma doce guerreira, valquíria de todas as horas. Minha Mulher.

É Mulher em festa, em cores, em sons magníficos; transforma-se em brilho quando é preciso, e em tons de luz e sombra quando chegam os momentos de nós dois. Minha Mulher.

Caminhamos em praias distantes e nos encontramos nas terras mais altas. Minha Mulher.

E quando os golpes ferozes da vida se abatem de rijo sobre o casal, somos recobertos pelo escudo de nossas cumplicidades sinuosas, pondo abaixo todos os dardos. Minha Mulher.

Conhecemos atalhos, descobrimos encontros, passamos ao largo da felicidade sonante, aquela que se compra com o dinheiro. Nossa moeda é intangível. Nossa felicidade é secreta. Minha Mulher.

A cicuta do Tempo jamais chegou à nossa taça. Brindamos à sagração de uma primavera que supera todos os dias as fronteiras do amanhã e do depois. Minha Mulher.

A ela, sempre, ofereço um cálice de pétalas para iluminar, com réstia de estrelas, o seu olhar candente de ternuras. Minha Mulher.

Ela não nasceu, floresce. Brota em cercanias secretas e mergulha numa paz que soubemos descobrir. Minha Mulher.


terça-feira, 7 de março de 2006

Brasil: o que vai acontecer?

"Ladrão que rouba ladrão,
tem cem anos de perdão"
(Sabedoria popular)

Atenção, atenção, muita atenção para as previsões quanto ao futuro próximo deste imenso País.

Delúbio Soares: não vai acontecer nada.
Marcos Valério: não vai acontecer nada.
Juiz Lalau: nesses dias estará solto.
José Genoíno: não vai acontecer nada.

Paulo Maluf: não vai acontecer nada.
Senador Eduardo Azeredo: não vai acontecer nada.
Duda Mendonça: não vai acontecer nada.
Waldomiro Diniz: não vai acontecer nada.

Assassinos do prefeito Celso Daniel: não vai acontecer nada.
Autores de crimes hediondos: podem cumprir pena em regime semi-aberto.
Paulo Okamoto, presidente do Sebrae: não vai acontecer nada.
Presidente Lula: vai continuar fazendo tudo e não vai acontecer nada.



domingo, 5 de março de 2006

O encontro dos sorrisos

“ Televisão é goma de
mascar para os olhos.”

(Frank Lloyd Wright, arquiteto americano)


Com o tempo, os adultos passamos a valorizar mais o tempo. Gosto de reencontrar pessoas, gosto de reencontrar amigos. Não apenas pelo reencontro em si, que muitas vezes é muito agradável, mas pelo voyeurismo de observar o que mudou naquela pessoa, como está, quais foram as transformações que assumiu, se o sorriso é o mesmo, se tornou-se amargo, enfim se...

Nos últimos dias, tive a oportunidade de rever amigos, amigos antigos, gente que comigo já cruzou caminhos, atravessou momentos, codividiu perplexidades. Foi estranho, pois, num deles, predominava o sentimento ocre da dor, zelosamente guardada no cofre dos ressentimentos com a vida; em outro, sobressaía ainda o sorriso jovial e franco do existir.

No primeiro, no que fez a opção pela dor, o cumprimento do reencontro mal passou de um grunhido. Sem um aperto de mão, sem um abraço, um tapinha nas costas. Fiquei parado, olhando o meu amigo, enquanto caminhava por entre a multidão de problemas - pois ele vê em cada pessoa um problema - com os quais tem que conviver.

Conheço a figura, sei que não é má pessoa. Sei de suas lutas, sei de quantas ondas já se esbateram contra a quilha do seu barco e quantas vezes quase soçobrou, saindo da tempestade com as velas em frangalhos e o estandarte de luta totalmente roto. E ele assumiu tudo isso, bebeu esse cálice até o fim e embriagou-se nele, como que guardando dentro de si todo o ódio de que já foi vítima. Uma vacina, entende? Assim, quando mais mal vier, ele já estará tão cheio, que nada o atingirá.

O outro amigo, ao contrário, mesmo tendo passado por problemas complicados, suportado a flecha lhe varando a armadura e ferindo o corpo, resistiu. E trazia, senão o sorriso das manhãs, uma vez que já se faz inverno a sua vida, trazia aquela alegria calma de quem não precisa da gargalhada para mostrar que está feliz, ou do grito para explicar que está em chamas. Algum dia espero ser assim também.