sábado, 8 de março de 2008

A Mulher e a luz de Aldebarã

A Minha Mulher chega com passos de silêncio
e faz do nosso dia um longo instante de luz amanhecente.
Ela traz no olhar calmo, a serenidade de muitos plenilúnios.

E depois de muitos tempos que são nossos,
sorri com a claridade suave de Aldebarã.

A Minha Mulher sabe, entretanto,
que fora dos nossos muros
a Vida traz os sabres alerta e as lutas sempre.

E não teme o Mundo e me dá a mão.
E, no Luar e na luta, é, sempre, Minha Mulher.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 6 de março de 2008

Paulicéia desvairada



Caros Amigos,

A foto de Caio Guatelli, da Folha Imagem,
mostra a poluição
que anoitece São Paulo em pleno dia.

A garoa da morte,
poeira do progresso deslavado,
resíduo maligno da riqueza de uns poucos,
se espraia pela cidade feroz e grande.
São Paulo.

A poeira,
a tosse,
o engasgo com o ar grosso,
pegajoso de metais e nuvens endêmicas de carvão,
sujam os pulmões e a vida.

Sobre a poeira quase sólida,
está erguida muita grana.
Dinheiro muito,
para as mãos de muito poucos.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 5 de março de 2008

Bip! Bip!

Caros Amigos,
As coisas de jornal no Estadão Online apresentam uma amável invenção, o Smera, carrinho movido a eletricidade, para um só passageiro. Coisa futurista, para marinetti nenhum botar defeito. Pudera: o carro não polui, não faz barulho, é facílimo de estacionar e tem um jeito engraçadinho. Tecnologia, digamos, bonachona, para um mundo que parece se encaminhar para uma idade de barbárie sofisticada, quando a grande tecnologia volta-se com vigor inaudito para o belicismo cirúrgico e para um neoliberalismo onde valerão sempre e mais as leis do mercado, a competição imperativa.
Só que o carrinho, tão bonitinho - quase digo bonzinho -, tem um probleminha: está inserido nesse após cortina do futuro que já se achegou: ele produz e reproduz com eficácia singular a solidão, o individualismo, a pressa do condutor para trabalhar mais rápido e atender às exigências do mercado, a submissão da pessoa humana a um sistema de exploração que tem por objetivo usar o homem da maneira mais completa.
Acho que prefiro o calhambeque
da velha canção de Roberto Carlos.
Emanoel Barreto
Foto: Efe