sábado, 14 de abril de 2012

Acabou-se o tempo e todos se tornaram imortais

E como o tempo havia passado não havia mais tempo. Explico melhor: por haver-se passado o tempo não mais existia - da mesma forma como uma pessoa que morre não existe mais. 
http://www.simplesmentebeijaflor.com/o_tempo.html

E assim, acabado o tempo, não havendo mais começo, meio e fim, todos tornaram-se imortais. E o tempo somente era uma lembrança. E como lembranças não têm consequências tudo passou a se repetir. 

E assim, por não terem mais o tempo, as pessoas ficaram sem tempo para existir e, do mesmo jeito de quando havia tempo, todos morreram e acabou-se a história.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Genial Jean Galvão na Folha

Leio e compartilho

A imprensa e Paulo Freire    

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_imprensa_e_paulo_freire

Por Alfredo Vizeu 
em 04/08/2009 na edição nº 549
 
O jornalismo tem muito a aprender com Paulo Freire, tanto no que diz respeito à compreensão do mundo, bem como no processo de produção da notícia. A investigação é da essência do jornalismo porque diminui a possibilidade do erro e do equívoco. Caso isso ocorra, ainda dentro das práticas jornalísticas, faz-se necessário retificar a informação publicada que se revela inexata. No entanto, uma das tarefas centrais do rigor do método, do conhecimento do jornalismo, é evitar a ambigüidade na informação. Outro aspecto importante no atual processo de produção da notícia é estar sob a ditadura da audiência, da concorrência, a pressa que pode tornar mais precária a qualidade da informação noticiosa.
 
Por isso, apropriando-me dos ensinamentos de Paulo Freire, é importante nas práticas sociais do jornalismo ir além da mera captação dos fatos, buscando não só a interdependência entre eles, mas também o que há entre as parcialidades constitutivas da totalidade de cada um. Nesse sentido, o jornalismo necessita estabelecer uma vigilância constante sobre a sua própria atividade.
Ainda dentro da perspectiva de Freire, consideramos que a comparação que o autor faz entre a ingenuidade e a criticidade pode contribuir para entendermos o conhecimento do jornalismo – que trata dos acontecimentos do mundo, dos diversos saberes, dos campos da experiência e do cotidiano. O autor esclarece que não há diferença e nem distância entre a ingenuidade e a criticidade. Para Freire, entre o saber da pura experiência e dos procedimentos metodicamente rigorosos ocorre uma superação.
 
Abrir a "alma" da cultura
Freire argumenta que não acontece uma ruptura porque a curiosidade ingênua, sem deixar de ser curiosidade, continuando a ser curiosidade, se criticiza. Continuando a explicação, diz que ao criticizar-se, tornando-se curiosidade epistemológica, metodicamente "rigorizando-se" na sua aproximação ao objeto, conota seus achados de maior exatidão. A curiosidade metodicamente rigorosa do método cognoscível se torna curiosidade epistemológica, mudando de qualidade, mas não na essência.
 
É dentro desse quadro que opera o conhecimento do jornalismo. Na produção da notícia, o jornalista trabalha constantemente dentro dessa perspectiva de superação. Não é permitido ao jornalista que seja ingênuo na cobertura dos fatos. A tomada de consciência é o ponto de partida da sua atividade. Como é possível dar conta da cobertura dos acontecimentos, da mediação entre eles e a sociedade, se antes de construir a informação não conheço o objeto? É tomando consciência dele que me dou conta do objeto, que é conhecido por mim.
 
A eficácia da atividade jornalística e o conhecimento do jornalismo estão intimamente ligados ao que Freire colocava como a capacidade de abrir a "alma" da cultura, de aprender a racionalidade da experiência por meio de caminhos múltiplos, deixando-se "molhar, ensopar" das águas culturais e históricas dos indivíduos envolvidos na experiência. É dimensão crítica do conhecimento jornalístico, num imbricamento entre teoria e prática.
 
Utopia de um compromisso histórico
 
Por fim, não custa lembrar que esses ensinamentos a partir da leitura da obra de Paulo Freire têm como preocupação mostrar que o jornalista que seja tentado a abrir mão do rigor do método esquece o respeito ao outro, vítima, testemunha, parente, espezinha o respeito que deve a si mesmo: não é mais que um instrumento – um meio! – da informação.
É ainda o mestre Freire quem ensina. E isso é básico para o jornalismo. O trabalho humanizante não poderá ser outro senão o trabalho de desmistificação. Por isso, a conscientização é o olhar mais crítico possível da realidade, que a "desvela" para conhecê-la e para conhecer os mitos que enganam e que ajudam a manter a realidade da estrutura dominante.
 
É o dever do jornalismo a busca da verdade e a ética como singularidade. Uma utopia a ser perseguida diariamente. Um jornalismo de frontes levantadas. Dentro desse contexto, concluo com Paulo Freire: "...o utópico não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar a estrutura desumanizante e anunciar a estrutura humanizante. Por esta razão, a utopia é também um compromisso histórico." O jornalismo é utopia realizável de um compromisso histórico com a verdade, a ética, a liberdade e a democracia.

Recebo e divulgo



Sebo online promove encontro no Parque das Dunas

O “Sebo Desapego” reúne no próximo dia 14 (sábado) seus participantes para confraternizar leituras no Parque das Dunas, às 16h. O sebo é um grupo online do Facebook, que com menos de vinte dias no ar, já conta com mais de 2.600 pessoas compartilhando literaturas. Lá é possível buscar, comprar e trocar livros, revistas, CDs, DVDs e vinis.

As Redes Sociais vêm deixando o trivial de lado e inovando frequentemente, prova disso é o sucesso do “Sebo Desapego”, no qual pessoas de diferentes idades e diferentes gostos de leitura divulgam materiais que estavam guardados em suas estantes, praticando o desapego. Compartilhamento é a palavra-chave da era digital e da conectividade, pensando nisso, e reforçando o lado social das mídias sociais, o Sebo Desapego promove o I Encontro dos Desapegados, uma ocasião para aproximar as pessoas e incentivar a leitura.

Além da parte cultural do evento, que também vai contar com sorteio de livros, na oportunidade será organizado um piquenique com a contribuição dos participantes. Diversão, cultura e literatura andando de mãos juntas no on e offline.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

O gol do centrefó

De repente veio a lembrança do Colégio São João. O colégio e seus dois campos de futebol. Anos 60. O colégio era uma lembrança grande, larga como o passado. O primeiro campo, verdadeiro forno com seu chão de areia calcinada, servia para partidas improvisadas. O outro campo, não: gramado, com medidas oficiais, era usado para prélios renhidos, jogadores com posições definidas. Os professores eram os técnicos. 

Era o tempo de Pelé, Vavá, Zagalo, Garrincha, Gilmar, Djalma Santos, Didi, Nilton Santos. O Brasil bicampeão. Goleiros eram chamados de goalkeeper, valendo também guarda-valas, mas também se aceitava dizer arqueiros. 

O menino tinha uma decisão: entrar para o time da classe e disputar o campeonato do colégio. Munido de uma vontade secreta e firme começou a treinar. Depois de muito esforço, foi aceito no time. E mais: ia ser o “centrefó”. Quando o professor anunciou sua posição no time, ele quase caiu. Já pensou? Ele ia ser o centrefó. Era o máximo. A palavra inglesa center for ward, absolutamente impronunciável para aqueles meninos dos anos 60, acabou virando isso mesmo, centrefó. Ele jamais imaginaria que, anos depois, todos estariam chamando centrefó de... centro-avante.

E ele ia ser o centrefó. A posição na equipe, vista como algo quase heróico, o jogador avançado que rompia defesas com seus dribles mágicos, era o sonho afinal realizado. Chegou em casa, contou aos pais, riu e, na rua, com os colegas, gritou: – Eu sou o centrefó! Eu sou o centrefó! Era o sonho calçando chuteiras. Sentiu-se completo. A vitória antecipada. O gol, guardado na gaveta das vontades, afinal iria brotar dos seus pés.

Veio então o jogo. Antes de entrar para a equipe principal, ele somente havia jogado no campo de areia. Era o que os meninos chamavam de futebol de poeira. Ali, ninguém tinha posição definida, os pés afundavam e cada chute levantava uma nuvem, daí o nome futebol de poeira. Detalhe: naquele campinho de areia, ele jamais havia marcado o “seu gol.” Mas agora, não: faria muitos gols, e gols de classe, gols marcados num campo de verdade.

O juiz apitou. Na tela das lembranças a partida foi lembrada quadro a quadro. Os lances duros, as jogadas corajosas, até mesmo aquela bicicleta que quase vira um gol. Tudo, tudo foi devidamente revisto com os olhar retrasado da saudade. Seu time ganhou. Cinco a um. Mas não deu para ele fazer o “seu gol”. Nem naquele jogo, nem nos outros. Jogava bem, mas não conseguiu o gol.

A vida escorreu sob os seus pés, acabou o ano, acabou-se o tempo de colégio, tudo passou. O colégio São João virou aquela lembrança travada na alma. Um dia, tomou uma decisão: aquele gol não podia ser apenas uma vontade com sabor de derrota, um passe malfeito num jogo que, dentro dele, nunca tinha fim. Então, num final de tarde, entrou numa loja de material esportivo, comprou a melhor bola e dirigiu-se ao colégio.

Ali, todos estranharam ao ver aquele senhor de paletó e gravata, cabelos grisalhos, entrando colégio adentro, segurando uma bola. Ele escolhera o momento de maior movimentação no colégio. Era final de aula. Centenas de meninos deixavam as salas em meio a gritos de estopim.

Ele cruzou a curiosidade geral como um tiro de meta e dirigiu-se ao campo. Todos o acompanharam. Mais e mais gente o seguia. Ele passou pelo campo de futebol de poeira, já seguido por uma multidão. Pronto. Chegou ao campo gramado.

Dirigiu-se à marca do pênalti e ajeitou a bola. Os meninos ficaram ao redor, deixando a trave ao fundo. Ele estava em meio a um largo círculo de expectativa. Estranhamente todos perceberam que viviam ali um momento especial e intenso. O rigor na face severa daquele homem, a luz do crepúsculo, a seriedade de cada gesto seu, tudo dava à cena uma composição litúrgica, ritual. Todos respiravam compassadamente; ninguém entendia nada, mas havia respeito em todos os olhares.

Ele afastou-se da bola, esperou um pouco e correu. O chute bateu na bola com força, uma força de raiva alegre e solene. A bola partiu. Como se fosse em câmera lenta, foi bem no ângulo direito. Balançou a rede e desceu, belíssima, até se esconder lá no fundo.

Ele saltou e deu um soco no ar. Nesse instante, uma fagulha de emoção. Todos os meninos gritaram: – Gooooooooool! – e se abraçaram. Em silêncio, tal como chegara, ele retirou-se. Deixou a bola lá no cantinho da rede. Ao sair, ouvia aplausos, aplausos antigos, ecos que somente agora chegavam, tão tarde, depois de tanto tempo...

Nunca mais foi visto no Colégio São João; mas agora ele era realmente, o centrefó.

terça-feira, 10 de abril de 2012

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PECADORES - ABEPEC
NOTA OFICIAL DE FUNDAÇÃO

Ficam por meio desta convocados a se filiar a esta augusta e responsável entidade todos os pecadores deste País a fim de que possam gozar dos direitos e prerrogativas atinentes à condição de pecador e assemelhados. Todo bom pecador deverá filiar-se à Associação, passando a ter os seguintes direitos:

1) Será reconhecido e louvado em praça pública;

2) Quanto mais pecar, maior será o reconhecimento;

3) Será estabelecido o Mercado Nacional e Internacional do Pecado, com preço e cotação na Bolsa;

4) O pecador poderá negociar seus pecados ou fazer a sua acumulação;

5) A acumulação de pecados, morto o pecador, será revertida em benefício dos seus familiares;

6) Em função dos direitos e aquisições acima, todo pecador terá direito a pagar dízimo.

7) O pecador poderá pagar seu dízimo até mesmo na hora da morte; 

8) Em caso de pagamento nas condições acima, incidirá imposto de transmissão de pecados;

9) Para efeito de associação na Abepec haverá a condição de assmelhados - como mencionado acima -, devendo em tal caso ser reconhecidos como pecadores todos os que se encontram nas seguintes categorias: corruptos, usurpadores, salafrários, fraudadores e quejandos.

10) A Abepec faz saber que serão instaurados cursos rápidos de treinamento em pecados por pensamentos, palavras ou obras. Acreditamos que, frente à grande ocorrência de pecadores, esta entidade terá um largo papel a cumprir.

11) Informamos que se algum não-pecador se inscerver nesta Associação será severamente punido por fraude e falsidade ideológica.


domingo, 8 de abril de 2012

Deu na Tribuna do Norte

Delegados sob investigação


Assassinatos, tráfico de drogas, formação de quadrilha, extorsão, corrupção e tráfico de influência. Esses são alguns dos crimes atribuídos a delegados e agentes da Polícia Civil do Rio Grande do Norte, um agente da Polícia Federal que trabalha na Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social, e um funcionário aposentado da Assembleia Legislativa potiguar. As denúncias desses supostos crimes já são de conhecimento da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), órgão vinculado diretamente à Presidência da República.   

Baseado nessas denúncias, o delegado geral de Polícia Civil, Fábio Rogério Silva, designou na quarta-feira passada uma comissão tríplice para apurar os supostos crimes. A comissão é formada pelos delegados João Bosco Vasconcelos de Almeida, Laerte Jardim Brasil e Marcus Dayan Pereira Teixeira de Vasconcelos.

A portaria, de número 020/2012, não faz referência aos supostos crimes. Da mesma maneira, não cita os nomes dos policiais que teriam relação com os delitos. O documento diz somente que a comissão deve "instaurar e concluir, no prazo legal, inquérito policial objetivando apurar as denúncias contidas nos documentos anexos ao Ofício nº 365/2011 - SNPDDH/SDH/PR". A sigla é referente à Secretaria Nacional de Promoção e Defesa de Direitos Humanos.

Procurado pela TRIBUNA DO NORTE, Fábio Rogério disse - através da assessoria de imprensa - que como a investigação corre em caráter sigiloso, não irá se pronunciar sobre a portaria. A TN também procurou um dos delegados que compõem a comissão. "Recebemos essa incumbência agora. Não podemos falar nada neste momento", limitou-se a dizer o delegado.

"Ordem é matar"

A TRIBUNA DO NORTE teve acesso com exclusividade às denúncias encaminhadas à Secretaria Nacional de Promoção e Defesa de Direitos Humanos. O documento, apócrifo, foi protocolado em 10 de junho do ano passado sob o número: 00005.004292/2011-71. Dez dias depois, o secretário substituto de Promoção e Defesa de Direitos Humanos, Gabriel Silva Ribeiro, enviou ofício (de número 365/2011) ao ouvidor de Polícia do RN, Geraldo Soares Wanderley.

Após tramitar na Casa Civil, na Corregedoria Geral e na Secretaria de Segurança, as denúncias chegaram nas mãos do delegado geral. Fábio Rogério decidiu designar a comissão tríplice na semana passada.

A TRIBUNA DO NORTE obteve cópia das denúncias, que são feitas em cinco páginas de papel ofício, em Brasília. O documento é atribuído ao Sindicato dos Policiais Civis do RN (Sinpol). Logo na primeira página, o denunciante frisa que "por não ter um plano se segurança devidamente traçado, a 'ordem é matar' para mostrar serviço perante a governadora e a sociedade" (sic). Fato teria ocorrido no ano passado.

O denunciante ressalta que "toda e qualquer investigação a ser realizada sobre os fatos jamais poderá ser feita pela polícia do Rio Grande do Norte, pois os policiais citados fazem parte da cúpula das Polícias Civil, Militar, PF e da Sesed, inviabilizando e tornando suspeita toda e qualquer apuração" (sic).

O denunciante diz que crimes ocorridos em abril de 2011 "demonstram claramente o que estou falando". Ele exemplificou usando quatro assassinatos atribuídos à polícia potiguar. As vítimas foram: os assaltantes Vidalvo Miguel da Silva e Damião Régis e Francisco Miguel, além de um outro cujo nome não é citado no documento. Para o denunciante, esses homens foram mortos "quando poderiam ter sido presos".

A pessoa que encaminhou a denúncia à SNPDDH diz que desde 2005 que várias mortes são registradas na região oeste potiguar. Segundo ela, "é sabido dentro das instituições policiais que muitas destas mortes foram arquitetadas pela família Veras com participação de policiais civis e militares" (sic).

Nesse trecho do documento, o denunciante se refere aos delegados Ronaldo Gomes de Moraes e Sheila Maria Freitas de Almeida, ao funcionário aposentado da Assembleia Legislativa Admilson Fernandes e ao agente de Polícia Federal Sílvio Marcelino da Silva Júnior. (Veja quadro)

O documento também trata do crime de tráfico de influência dentro da Polícia Civil. O denunciante tratou esse capítulo como "Esquema de nomeações estratégicas da Degepol". O crime teria sido cometido na época em que Ronaldo Gomes era delegado geral. O objetivo do dito "esquema" era "dar cobertura a determinadas irregularidades e recebimentos de propinas".
Adriano AbreuDelegado Ronaldo Gomes é um dos investigados sobre crimes cometidos em Natal e interior do estadoDelegado Ronaldo Gomes é um dos investigados sobre crimes cometidos em Natal e interior do estado

O denunciante cita outros quatro delegados como partícipes desse "esquema": Sílvio Fernando, Gustavo Santana, Delmontiê Falcão e Márcio Delgado Varandas.

Segundo o documento, Sílvio Fernando,  titular da Delegacia Especializada de Costumes (DEC) é "amigo íntimo do traficante e homicida Novinho do Gás [Wagner Miguel de Araújo Galvão]". O delegado teria inclusive sido "flagrado numa filmagem feita pelo Dr. Rolim [Raimundo Rolim de Albuquerque Filho, também delegado de Polícia Civil] viajando numa camioneta de propriedade de Novinho do Gás. Atualmente dá cobertura ao 'Esquema do Gás', tirando do caminho os concorrentes de Novinho" (sic). O documento ressalta que Wagner Miguel teria relações amorosas com "uma sobrinha do Dr. Ferraz, atual subsecretário de Segurança, (…), onde a ordem é não mexer com Novinho" (sic). Na verdade, o delegado de Polícia Federal aposentado Airton Ferraz ocupa o cargo de secretário-adjunto da Sesed.

O delegado Gustavo Santana foi citado no documento porque, quando estava na Delegacia de Costumes, teve, de acordo com o denunciante, "seu nome encontrado nas agendas dos bicheiros Luiz Correia e Marcelo Correia, presos e envolvidos numa operação que apreendeu várias máquinas caça-níqueis" (sic).

Delmontiê Evaristo Falcão, que hoje está na Delegacia Especializada na Defesa da Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov), foi citado porque estaria "envolvido num esquema de roubo de cargas na época em que era delegado de Assu, fato que está sendo investigado pela Polícia Federal".

Por último, o delegado Márcio Delgado teve o nome ventilado na denúncia por ter sido nomeado para a Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Ordem Tributária (Deicot). A designação teria por objetivo "abafar o inquérito policial que está apurando as irregularidades do IPEM, que tem como acusado o ex-diretor Richardson [de Macedo Bernardo, preso na operação Pecado Capital e solto recentemente após a revogação dessa prisão]". O denunciante frisa ainda que Richardson seria um "testa de ferro do deputado Gilson Moura".

Quem é quem

Ronaldo Gomes - delegado de Polícia Civil

"Atual delegado geral, quando comandava o Deicor, realizava operações na região oeste e executava os desafetos da família Veras, chegando inclusive a receber R4 30 mil de Antônio Veras para dar cobertura em várias mortes no Alto Oeste, matando os desafetos dos Veras nas operações policiais, alegando 'reação' por parte dos bandidos".

Márcio Delgado - delegado de Polícia Civil

"Nomeado para a Deicot (ex-membro da Deicor, junto com Ronaldo Gomes e Lenivaldo [Pimentel]), com o objetivo de abafar o inquérito policial que está apurando as irregularidades do IPEM, que tem como acusado o ex-diretor Richardson [de Macedo Bernardo, preso na operação Pecado Capital e solto recentemente após a revogação dessa prisão] (testa de ferro do deputado Gilson Moura)".

Admilson Fernandes - funcionário aposentado da Assembleia Legislativa

"Ex-ajudante de polícia de dr. Maurílio [Pinto de Medeiros], conhecido como 'Admilson Pé de Cão' e tido como 'Menino de Ouro do dr. Maurílio'. Primo legítimo dos Irmãos Veras, arquitetava com a polícia a morte dos desafetos dos Veras e tinha acesso à localização das pessoas marcadas para morrer, que geralmente estavam foragidas, através de interceptações feitas pelo agente da Polícia Federal".

Sheila Freitas - delegada de Polícia Civil

"Ex-delegada de Caraúbas, casada com um vereador de Campo Grande (primo de Antônio Veras) e nora de Admilson Fernandes (também primo de Antônio Veras). A delegada, quando titular em Caraúbas, realizava operações fictícias com o objetivo de retirar os policiais da área onde ia acontecer os crimes, facilitando assim o cometimento do assassinato por parte dos pistoleiros, e muitas vezes nas operações, matava os desafetos dos Veras, alegando 'reação' por parte dos bandidos".

Gustavo Santana - delegado de Polícia Civil

"Teve seu nome encontrado nas agendas dos bicheiros Luiz Correia e Marcelo Correia, presos e envolvidos numa operação que apreendeu várias máquinas caça-níqueis".

Sílvio Marcelino Júnior - agente da Polícia Federal

"Atual coordenador de Inteligência da Sesed, gerenciador do Guardião, sem no entanto ter tomado posse, conhecido por ter realizado todas as escutas para o antigo secretário de Segurança Dr. Glauberto [Bezerra], escutas estas que grampeou (sic) os telefones de vários políticos do RN, fazendo uso do sistema da Polícia Federal. Passava todas as informações para os Veras e para a Polícia Civil, quando estava à frente do Departamento de Investigações da Polícia Federal e posteriormente quando coordenava a Inteligência da Secretaria de Segurança do RN na época da gestão passada, sendo inclusive gravado numa interceptação feita pela Justiça marcando um almoço com Antônio Veras, interceptação esta que é do conhecimento do promotor de Justiça Fausto França".

Silvio Fernando - delegado de Polícia Civil

Amigo íntimo do homicida e traficante Novinho do Gás [Wagner Miguel de Araújo Galvão], flagrado numa filmagem feita pelo Dr. Rolim [Raimundo Rolim de Albuquerque Filho, também delegado de Polícia Civil] (que depõe em relação a estes fatos) viajando numa camioneta de propriedade de Novinho do Gás. Atualmente dá cobertura ao 'Esquema do Gás', tirando do caminho os concorrentes de Novinho". Importante ressaltar que uma sobrinha do Dr. Ferraz [Airton Ferraz, delegado federal], tem relações amorosas com Novinho do Gás, onde a ordem é não mexer com Novinho.

Delmontiê Evaristo Falcão - delegado de Polícia Civil

"Envolvido num esquema de roubo de cargas na época em que era delegado de Assu, fato que está sendo investigado pela Polícia Federal".

Delegados teriam vendido 20kg de cocaína

As denúncias relativas a crimes supostamente praticadas por delegados da Polícia Civil são extensas e, dentre elas, atribuem o delito de tráfico de drogas a esses policiais. De acordo com o documento, profissionais da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor) da Polícia Civil teriam orquestrado a venda de parte de entorpecentes apreendidos durante operações. Os delegados Ronaldo Gomes, Márcio Delgado Varandas e Lenivaldo Pimentel, além de uma pessoa identificada apenas como Geovane teriam vendido parte da cocaína apreendida durante operação em Jenipabu - Região Metropolitana - durante o ano de 2008.

Na oportunidade foi anunciado que operação resultou na apreensão de 100 quilos de cocaína. Para o denunciante, o caso vai além. Segundo o documento, a Deicor deflagrou operações paralelas em que ocorreram mais apreensões. "Várias diligências foram deflagradas pelo Deicor, resultando numa quantidade bem maior do que o divulgado", revela.  O documento enumera o que supostamente ocorreu após a ação policial: 1) "as diligências posteriores resultaram numa apreensão de aproximadamente 20 kg, que foi vendida em Recife pela quantia de 3 milhões"; 2) "Quem vendeu a cocaína foi o APC Geovane, lotado no Deicor e pessoa de confiança do Dr. Ronaldo Gomes, ex-agente penitenciário, que devido a antiga profissão tinha contatos com algumas traficantes, tendo realizado a venda na cidade do Recife"; 3) "o dinheiro foi dividido em partes iguais entre Ronaldo, Lenivaldo e Marcio Varandas ( 2,5 milhões) tendo  o APC Geovane ficado com 500 mil (usou recentemente 300 mil para comprar um apartamento)".

O caso

O delegado Ronaldo Gomes de Moraes, então titular da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor), foi o responsável pela condução do inquérito que apurava a apreensão de cerca de 400 quilos de entorpecentes. A ação recorde ocorreu no ano de 2008. Sob o título de "Laboratório do tráfico é desativado", a TRIBUNA DO NORTE noticiava a prisão de uma dupla de traficantes e uma grande quantidade de drogas, entre crack e cocaína. A ação ocorreu no dia 8 de outubro de 2008 em uma casa na zona rural de Extremoz - Região Metropolitana. "Num lance de pura sorte, o destacamento da Polícia Militar de Extremoz desmantelou um laboratório de refino de cocaína na comunidade de Tabu, numa área limítrofe ao mangue localizado na Área de Proteção Ambiental (APA) da praia de Jenipabu.  No local foram presos dois paulistas: Newton de Albuquerque Gomes Andrade e Cláudio Martins Júnior, ambos de 32 anos", informava a reportagem.

O delegado de Extremoz Vicente Gomes Filho lavrou o flagrante delito dos traficantes, mas o inquérito seria conduzido pelo delegado Ronaldo Gomes. Na oportunidade, a estimativa da polícia era que a apreensão da droga pudesse ter causado um prejuízo de R$3 milhões para a dupla criminosa. Quase uma semana depois, a Polícia Civil encontrou mais de 100 quilos de cocaína escondidos em veículo tipo Land Rover, de placas GGI-6868, que estava na residência dos suspeitos. A droga foi avaliada em R$ 25 milhões e estava sob um fundo falso da picape.

"Do jeito que está aí, poderia ser multiplicado em cinco vezes aumentando o lucro da quadrilha", declarou o delegado Ronaldo Gomes na época.

Em junho de 2006, a TRIBUNA DO NORTE publicou uma matéria intitulada "Execuções viraram rotina no Oeste". Nela, as informações diziam respeito à recorrência de práticas de homicídio naquela região do Rio Grande do Norte. "As execuções sumárias, que permanecem insolúveis, já somam nove, registradas em Mossoró e região, desde o começo deste ano. Crimes com estas características são muito comuns na região, principalmente, porque não existem testemunhas ou quem presenciou tem medo de falar. A pistolagem ocorre, na maioria das vezes, na casa da própria vítima, numa ousada atuação que desafia as autoridades. Ou simplesmente, num lugar ermo, onde ninguém tenha visto. É uma característica, também muito comum, de serem agricultores normalmente envolvidos com algum tipo de ilícito", dizia a reportagem.

De acordo com a denúncia obtida pela TRIBUNA DO NORTE, esses recorrentes crimes de homicídio podem ter relação com policiais civis e militares: "Desde o ano de 2005 que várias mortes vem acontecendo na Região Oeste sem que ninguém investigue a fundo os autores". Segundo o documento, "é sabido dentro das instituições policiais que muitas destas mortes foram arquitetadas pela Família Veras com a participação de policiais civis e militares".

Conforme a denúncia, algumas morte são suspeitas e devem ser investigadas a fundo. José Reis de Melo, Edson Patrício Diniz Júnior, José Garção de Campos Neto, Edson Vieira de Lima, Antônio Gomes e Antônio Amorim. Alguns deles teriam relação com crimes praticados contra integrantes da família Veras, como José Reis que confessou ter participado do assassinato dos irmãos Vicente e César Veras. Muitos foram executados e tiveram os corpos abandonados em estradas carroçáveis e terrenos de difícil acesso.

Segundo o documento, "toda e qualquer investigação a ser realizada sobre os fatos acima expostos, jamais poderá ser feita pela polícia do Rio Grande do Norte, pois os policiais citados fazem parte da cúpula das polícias civil, militar, PF e da Sesed, inviabilizando e tornando suspeita toda e qualquer apuração".

Vingança seria em resposta à morte de PM

"A morte de Vidalvo Miguel da Silva foi expressamente comandada de dentro da Sesed, para demonstrar "o que faz a polícia com quem mata policial". Esse trecho da denúncia contido na primeira página do documento diz respeito à morte do soldado PM Bruno Smith - alvejado durante ocorrência de assalto no município de Jucurutu.

Vidaldo Miguel da Silva é suspeito de ter matado o soldado Smith durante um assalto realizado em Jucurutu - a 230 quilômetros da capital. O crime ocorreu em março de 2011. O corpo de Vivaldo foi encontrado pouco tempo depois, já em estado de decomposição e com uma arma de fogo próximo ao cadáver. Damião Régis e Francisco Miguel da Silva,  suspeitos de ser parceiros de Vivaldo e estar presentes durante assalto que terminou na morte do soldado PM Bruno Smith, também foram assassinados. De acordo com a versão oficial, policiais trocaram tiros com os suspeitos a 10 quilômetros de Jucurutu, que foram alvejados e mortos.

Para o denunciante, isso representa "outro fato que demonstra que a 'ordem é matar' é a morte de Damião Régis e Francisco Miguel (parceiros de Vidalvo Miguel) que também foram mortos, quando poderiam ter sido presos".
É natural ser político e ser ladrão

Os sucessivos escândalos envolvendo personalidades da vida pública nacional, a incessante repetição de atos de imoralidade administrativa ocupando as manchetes, terminou por imbricar no senso comum que fazer política no Brasil é tão-somente uma troca de acusações entre homens e mulheres e que, culpados todos, já que os acusadores de hoje amanhã serão os réus, o que se passa é apenas um racha, um desentendimento entre vilões, parceiros e pares de sua própria indignidade.
http://tamancolargo.blogspot.com.br/2012/02/politicos-esposas-e-amantes.html


Isso, é claro, não é de hoje. O último escândalo será sempre e apenas o mais recente; outro virá sucedê-lo. A história é pródiga em denúncias de corrupção. Sua prática foi naturalizada e  suas diversas formas de manifestação passam a ser tidas como sendo a essência mesma da política. 

Ou seja: para o chamado homem comum a compreensão que resta é a de que fazer política não é tratar das coisas importantes, essenciais para o provimento do social; para ele, fazer política é apenas a gestão de um conluio, a organização de quadrilheiros que, sob o manto dos mandatos, roubam o mais que podem. 

Obviamente o senso comum espera que o político "trabalhe", realize, administre, legisle bem e dignamente. A questão é que o inverso tornou-se a realidade - a realidade coditiana e contundente das manchetes -, e a prevalência dos atos de bigamia entre o público e o privado, tornando dúbia a relação do político com seus atos de pessoa e ator social, termina por formular a convicção de que fazer política é roubar o mais que puder e, se possível, sair-se bem, jamais ser pego.