sábado, 28 de junho de 2008

O-bama! Pá-pá-pá! O-bama! Pá-pá-pá!

Caras Amigas,
Caros Amigos,
De repente, eu me vi torcento por Obama. Aí, alguém pode me perguntar: mas, porquê? Ele não é brasileiro, sua eleição não terá qualquer importância para o Brasil, etc... etc...

Seguinte: primeiro, a eleição de um novo presidente dos Estados Unidos terá, sim, reflexos para a nossa sociedade. Qualquer presidente americano tem importância relativa, maior ou menor, para qualquer país do mundo.

Segundo: torço por ele pelo fato de ser negro. Sua eleição significará uma quebra do paradigma americano - uma sociedade racista, onde até os anos 1960 negros não podiam votar, tinham de ceder lugar a brancos em ônibus e não usavam instalações sanitárias publicas destinadas a brancos; escolas, idem. Isso, para não me aprofundar demais no assunto.

Essa quebra de paradigma tem um alto valor simbólico e literalmente fere e realça uma contradição profunda para aquele povo: Obama vem de família africana e seus ascendentes eram... islâmicos. Fica assim um dilema: votar num homem de origem afro e ainda mais provindo de praticanes de uma religião que, para os americanos, é sinônimo perfeito de barbárie e forjadora de terroristas. Sim, e ainda há um detalhe: Obama é um nome muito parecido com o inimigo público número um dos amricanos: Osama.

Tenho consciência perfeita de que ele não será "bonzinho" com o Brasil, assim como não o será com relação a nenhuma nação; a não ser que, conjunturalmente, isso venha a atender aos interesses do seu país.

Meu interesse em sua eleição, em suma, é em função do dado humano, a lancinante questão para a extrema direita americana: ser governada por um negro. Interessa-me a perplexidade, o olhar de pânico dessas pessoas, ao ver um neguinho presidindo a América. É uma questão que coloca a esse segmento social um impasse, um drama, um conflito. Eles terão que curvar-se à evidência de que um negro é igual ou humanamente melhor que todos os que o discriminam.

Creio que, quebrado o paradigma da etnia (não gosto da palavra raça aplicada a seres humanos), vai se abrir, lá, uma nova janela, inaugurar-se um novo olhar, talvez um pouco melhor do que os americanos têm dos seus próprios compatriotas negros. Algo, mesmo que pequenamente, mudará.

É claro que Obama, para ser eleito, o será em função de que não introduzirá qualquer estatuto que venha a se contrapor ao establishment, à ordem. Ele é um negro perfeitamente assimilado, ou que assimilou, os valores brancos e pode como estes proceder. É um negro confiável aos interesses do poder americano; que não está somente na presidência, mas encravado também nas poderosas empresas do capital monopolista e imperialista dos Estados Unidos.

Ao que escrevi até agora, vocês podem perceber que há toda uma série de contradições: ele é e não é negro; ele é e não é uma reposição da ordem estabelecida. Creio que, somente por isso, pelo repertório de incoerências, vale a pena aguardar sua vitória. Depois, caso eleito, é esperar que a história seja escrita.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Um sinistro concurso

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Há vinte anos um grupo de tontos reúne-se nos Estados Unidos para promover um concurso que escolhe o cão mais feio do mundo. Esse ano o ganhador foi esse aí; só tem três pernas, sofre de câncer na pele e perdeu um olho em briga com um gato. A dona recebeu cerca de dois mil reais e disse que vai usar no tratamento da doença do animal.

Seguinte: como os humanos somos estranhos. Tanto nos envolvemos com o belo, o magnífico, o tranqüilo, a paisem de paraíso, quanto com o que há de pior no horror, no deplorável, no insondável, tenebroso e maléfico que existe no homem e no mundo.

É esse aspecto sombrio da nossa essência que me intriga: o deliciar-se com o sofrimento, a derrota, a humilhação, a queda pública e publicada. Como nossas mentes podem sentir prazer com espetáculos, abertos ou privados, de contatos doentios e relacionamentos escabrosos.

É próprio da condição humana esse pendular movimento entre o amor e o ódio, a serenidade e a ira; mas é acabrunhante a situação social enfermiça, essa forma de buscar prazer e satisfação na curiosidade mórbida; a deprimente descida os círculos mais abissais do inferno que habita o ser humano.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Agora, é tarde...

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Nesses meus mais de 30 anos de jornalismo, uma coisa sempre me impressionou na imprensa: muitas vezes, quando alguém morre, alguém que os noticiários entendem como sendo pesssoa importante, a cobertura do falecimento é muito maior do que se dera a tal pessoa quando em vida. A morte da antropóloga Ruth Cardoso é um caso típico.

Primeiro, porque ela não era tratada pela imprensa como antropóloga, alguém com alto nível intelectual e acadêmico, mas como "primeira dama" e agora "ex-primeira dama". Segundo, porque, mesmo quando ainda não fora primeira dama, desconheço qualquer ênfase em sua presença na vida pública nacional. Nenhuma matéria em que falasse a respeito de assunto ou tema relevante ou fosse chamada a comentar fatos de destaque.

Agora, quando morre, as coberturas chegam a ser lamuriosas e mostram o ex-presidente Fernando Henrique lacrimoso, olhar abatido, semblante de dor. Sei que o jornalismo se baliza por enfoques que dizem respeito a atores sociais relevantes, autoridades pelo cargo que ocupam ou por domínio científico, artístico ou empresarial, para ficarmos somente por aqui.

O problema do jornalismo, em referendar acontecimentos de peso gera essa distorção: como ela era, além de intelectual reconhedica internacionalmente e casada com político de renome ganha essa cobertura. Mas, em vida, insisto, pouco espaço ocupou. A noticiabilidade (potencial que alguém tem de ser notícia) a seu respeito em tipo low profile, ou seja: baixo perfil. Não se inseria à tensão jornalística e assim ela era um ator secundário na vida nacional, perante o jornalismo. Mais claramente, ela não gerava assuntos, acontecimentos que atraíssem para si câmeras e texto. Como não havia expectativa, inexistia noticiário.

Agora, morta, ganha destaque: é o velho enfoque do dado humano; o marido choroso, que ao fim de um longo casamento, encara o desenlace do seu tempo de casado por efeito da morte da companheira. E isso dá notícia. Para o chamado grande público, ela era, antes disso, literalmente desconhecida. Agora, morta, torna-se famosa pelos quinze minutos da dor espetacularizada.
Emanoel Barreto

Não podemos atravessar os Alpes

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Não, não podemos atravessar os Alpes, como o fez o grande Aníbal. Não temos elefantes, exércitos, provisões ou máquinas de guerra para atacar Roma.

Não
podemos
atravessar
os
Alpes.


Como também não temos generais, estrategos, infantaria ou coortes para tais embates.

Não
podemos
atravessar
os
Alpes,


Não vivemos aquele sonho de enfrentar o Poder, vergar seus limites e encontrar, ao fim e ao cabo do tempo azado, os louros e o vinho da vitória.

Não
podemos
atravessar
os
Alpes.


Somos apenas caminhantes noturnos, pasmos com a força da Força, e seguimos.

E, ao final das contas,
não
podemos
atravessar
os
Alpes.

Emanoel Barreto

terça-feira, 24 de junho de 2008

A lua elétrica

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Estamos no ano de 2700. O mundo devastado, transformado em sórdido planeta, tem um mar feito de lodo escuro e malcheiroso, árvores serão mostradas em museus, a barbárie impera e uns poucos, pouquíssimos, terão vida digna de assim ser chamada. E um detalhe a mais: a poluição chegou a tal ponto que grudou na lua. A lua não mais é branca: está coberta de fuligem. Como solução, foi eletrificada e somente assim pode ser vista no céu. Uma gloriosa cor artificial foi-lhe jogada por enormes refletores, lá mesmo instalados, e dão a ilusão de beleza.

Todavia, um grupo de subversivos luta contra o poder central do mundo, na busca de convocar a população da Terra a se libertar, para a tentativa de um desesperado recomeço. Eles são poucos, são caçados noite e dia. Espalham panfletos, invadem emissoras de TV e rádio, imprimem jornais insurretos e resistem o quanto podem.

Então, num ato extremo, formularam um plano para mostrar aos senhores do mundo que eles podem, sim, ser enfrentados. Trabalharam meses nos detalhes, muniram-se de todo o aparato necessário e levaram adiante a sua investida. Certa noite, pavor, os olhos dos dominadores quedaram estarrecidos quando miraram o céu e nadaviram: os subversivos haviam apagado a lua elétrica. Talvez começasse ali o início de um tempo novo.

E quanto a hoje, tenho certeza: em nossos dias, será preciso também apagar a lua elétrica.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Um poema de Lord Byron

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Deixo vocês com um poema de Lord Byron.
O texto é muito complexo, mesmo que escrito em português. O autor usa muitas palavras de forma poética, o que dificulta a tradução literal. Mas aí vai uma tradução.
Emanoel Barreto

Ela anda na beleza, igual à noite
De tempos sem nuvens e céus estrelados
E tudo isto é o melhor da escuridão e da claridade
Encontre-a seus aspecto e olhos
Assim admirado por aquela luz quente
No qual o céu???? Recusa
Uma sombra a mais, um raio a menos
Tido meio deficiente o sem nome graciosidade
Que ondas em todos corvo madeixa
Ou suavemente clareia o seu rosto
Onde idéias serenamente doce expressa
Quão puro , quão caro o seu habitando

E nessa bochecha , e acima de essa sobrancelha
Tão macio , tão calmo , ainda eloqüente
Os sorrisos que ganhamos , as matizes desse brilho
Mas falar de dias de bondade usufruídos
Uma mente em paz com todos abaixo
Um coração cujo amar é inocente!