sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A escolha das desgraças: 

de Bolsonaro ao Carnatal

Por Emanoel Barreto

Por ignorância ou má-fé alguém pode escolher suas desgraças. No primeiro caso há uma sincera convicção de que se está buscando o melhor caminho em direção a um certo objetivo; na segunda opção há uma decidida atitude, consciente e determinada a se fazer algo danoso, mesmo com consequências catastróficas.

Foi assim que Bolsonaro foi eleito presidente da república: uma parcela acreditava estar fazendo o certo, enquanto espertalhões de todos os tipos o apresentavam como mito e pessoa capacitada a assumir a mais alta magistratura da nação. Deu no que deu. As sequelas do seu mandato se alongarão no decorrer dos anos, espere e verá. Já estamos vendo.

O mesmo ocorre com a covid, uma patologia que mesmo não orbitando no campo político foi àquele incluída por fatores ideológicos. Aqui e no mundo.

Setores à direita e tolos de todos os tipos defendem que não se tome a vacina e ponto final. Na Europa e Estados Unidos muitos se recusam a tomar a precaução vacinal. E o número de doentes e de mortos aumenta.

No Brasil mal-intencionados e otários já defendem que não se usem as máscaras em ambientes abertos e exultam ante a possibilidade de – viva! – haver Carnaval. Afinal, acreditam ou fingem acreditar, a pandemia bateu em retirada e está com o rabo entre as pernas, vencida e acabada.

Os mal-intencionados querem ganhar dinheiro apesar dos riscos, os otários querem gastar dinheiro apesar desses mesmos riscos, pensando que a alegria carnavalesca vai blindá-los com a armadura dos deuses e assim estarão a salvo do mal. Evoé, Baco!

Chego agora ao ponto que queria: o Carnatal a ser realizado de 9 a 12 de dezembro. Daqui a poucos dias. A festa se insere por completo nos padrões de algo perigoso, desaconselhável para o momento e eticamente questionável, pois festeja-se não se sabe exatamente o que num tempo de morte e de dor.

O lucro de uns poucos à custa de um risco de grande porte. Claro, haverá a desculpa cínica, hipócrita e entisnada de que somente participa quem estiver com a vacinação em dia. Pois sim.

Milhares de pessoas reunidas resultarão sem dúvida em contaminação apesar da vacina, já que com o passar do tempo a proteção vacinal se reduz. Qualquer pessoa mais ou menos informada sabe disso.

A questão é como foi dito no início deste texto: tudo depende dos mal-intencionados e dos otários, que estão loucos pela chegada do Carnatal. Depois muitos estarão loucos para escapar num leito de hospital. É isso.

 

  

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Garimpo, crime e castigo urgente

Por Emanoel Barreto

Leio na Folha de S. Paulo estarrecedora informação a respeito de um crime – mais um – cometido por garimpeiros da região Norte do país: “O MPF (Ministério Público Federal) recomendou nesta quarta (24) adoção emergencial de ação coordenada para repressão e desarticulação ao garimpo ilegal de ouro na calha do rio Madeira e afluentes em Autazes (AM).”

Detalha o jornal paulista: “Centenas de balsas de dragagem operadas por garimpeiros empreendem uma corrida por ouro no rio Madeira, importante afluente do rio Amazonas, navegando por vários quilômetros enquanto as autoridades estaduais e federais discutem quem é responsável por impedir a ação ilegal.” 

Por sua vez o jornal O Estado de S. Paulo indica que o prejuízo socioambiental é de nada menos que R$ 31,4 bilhões ao país. Os garipeiros, segundo o Estadão, pretendem reagir colocando-se como barreira humana e confiam que as tropas "vão respeitar", informa o jornal.

Os criminosos agem com desenvoltura e as autoridades ficam se questionando quanto a quem será o responsável por sua repressão, que além de ser urgente deverá ser dura e firme, com a força necessária e suficiente para desmobilizar a organização criminosa que há anos age naquela região.

Nas fotos exibidas pelo jornal estão mostradas as dragas dispostas taticamente uma ao lado da outra de forma a impedir o avanço das tropas que forem designadas para o enfrentamento ao bando.

Vale salientar que o Ministério Público recomenda, segundo o jornal: “Se necessário, diz a recomendação, os ‘instrumentos do crime’ devem ser destruídos.”

Importante esse aspecto, uma vez que, caso não sejam destruídos, os instrumentos do crime voltarão a funcionar a plena carga, como costumeiramente, tão logo as forças repressoras sejam retiradas. É preciso também que haja prisões em flagrante, processos e encarceramento em presídios dos que forem condenados.

A região Norte sofre com a devastação da floresta amazônica e com as agressões a territórios de povos originários, além da contaminação de águas com mercúrio para extração de minérios. A ação flagrada no Madeira é parte desse conjunto articulado de atos praticados pelos bandidos que agridem a natureza.

Tais comportamentos têm consequências aterradoras junto ao meio-ambiente e prejudicam até mesmo a economia, pois o ouro extraído é vendido a compradores criminosos residentes no exterior, e isso se faz sem pagar impostos. Até por isso deve ser exemplarmente reprimida a intentona garimpeira.

Os olhos do mundo estão voltados para essa tragédia planejada pelos garimpeiros. Nossos olhos também não podem ficar fechados.

 

 

 

 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

 O PSDB e a Lei de Murphy

Por Emanoel Barreto

A prévia do PSDB, que domingo último fracassou na tentativa de sondar a escolha de um candidato à presidência da república revela não apenas a inexistência de um líder inconteste do partido, mas, acima de tudo, indica que dificilmente quem vier a ser escolhido terá condições de conciliar as forças partidárias.  

Os nomes que se apresentaram – João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio – até hoje não tiveram força suficiente para aglutinar o entusiasmo do partido.

É preciso lembrar um fato histórico: na política brasileira, até onde eu me lembre, as convenções têm sido meramente homologatórias: isso porque os partidos já tinham, na fase pré-convencional, consenso em torno de uma liderança tida como capaz e forte para disputar com representantes de outras agremiações. Era o que se chamava de “candidato natural”.

A convenção apenas confirmava o preferido e pronto. Ainda estamos nas prévias e deu no que deu.

Observando a fase atual do PSDB o que se tem é o governador de São Paulo, João Doria, tentando desde o início de seu mandato validar-se como pretendente ao Palácio do Planalto. Não conseguiu; tanto que surgiram os oponentes. E esses, como Doria, não têm cacife suficiente para confrontar Lula.

Mais claramente, o PSDB já entra estilhaçado na disputa e nada indica que seu representante venha a obter congraçamento com aqueles que perderem a disputa interna. Lembremos de Aécio Neves, que saiu candidato aclamado e sem questionamentos, pois era uma liderança inconteste – foi desmascarado posteriormente e exposta toda a sua corrupção, mas isso é outra história.

No Brasil não há a tradição americana de disputa intrapartidária, quando democratas e republicanos travam disputas internas para a escolha de seus respectivos representantes. Escolhidos aqueles, os partidos acompanham seu nome até o fim.

O PSDB não vai trilhar caminho idêntico. Entre Brasil e Estados Unidos há realidades históricas diversas, tradições incomparáveis, vivências políticas distintas.

O PSDB não tem um nome com estrutura e imagem pública suficientemente possantes para avultar-se no horizonte da campanha como aglutinador do partido, dotado de competência performática para entusiasmar o eleitorado. Nenhum dos três mantém vínculos intensos e históricos com o grande eleitorado nacional, o povo, o senso comum.

Está tudo tão confuso no partido que até mesmo o app utilizado para a realização da prévia revelou-se falho. Lembrando a Lei de Murphy: “Se uma coisa pode dar errado vai dar errado.”

 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Bolsonaro e o ralo da História

Por Emanoel Barreto

O processo de comunicação social é denso, complexo, mas permeado pela ideologia que lhe é parte integrante, pode resultar em consequências lamentáveis, sequelas políticas cujos desdobramentos podem se estender por longos e perigosos períodos. O fenômeno Bolsonaro é exemplo típico.

Surgido num momento confuso da vida nacional o indivíduo em questão soube bem aproveitar-se do instante. Com um discurso raso, assentado sobre a manutenção de valores tradicionais, evitando falar em problemas sérios como educação, saúde, projetos de obras estruturantes ganhou popularidade. Manejando um linguajar rasteiro, conseguiu atrair a si políticos aproveitadores e, claro, uma parcela da população que viu ali um condutor válido para o cargo de presidente.

Juntou-se a isso episódio da facada, apresentado como um atentado – acontecimento cheio de lacunas e mal explicado – e temos hoje na presidência alguém que age como um desatinado, internacionalmente malvisto, nunca uma figura presidencial.

Centra todo o seu desempenho em torno de dar relevância a coisas que atendem a seu eleitorado protestante, tenta levar a descrédito a vacinação contra a covid, destitui sumariamente ministros que ele veja como futuros candidatos à presidência e cria confusão quanto ao uso de urnas eletrônicas – processo de votação que sempre funcionou bem.

Sim, sem esquecer o desastroso apoio que dá à destruição da floresta amazônica.

Vale também lembrar declarações que mostram toda a sua insensibilidade, como quando foi questionado a respeito do número de mortos pela covid e respondeu com toda a sua boçalidade: “Não sou coveiro.” Isso diz tudo a respeito da pessoa com quem o país está lidando.

Bolsonaro mantém, em termos de comunicação, um eficaz sistema de desinformação na internet, onde elementos a seu dispor disparam todos os dias milhares de textos, fotos e vídeos que o mantêm sempre em destaque; criando casos, estabelecendo contenciosos, dando o que falar.

Com isso esvazia-se o debate sério a respeito de projetos nacionais – que não existem em tal governo – e voltam-se as atenções, por exemplo, para um modesto personagem formado em direito que Bolsonaro quer porque quer ver alçado à condição de ministro do Supremo Tribunal Federal.

A qualificação do pretendente a tão alta responsabilidade é unicamente ser alguém obscuro, mas qualificado por ser “terrivelmente evangélico”, segundo suas próprias palavras. Pronto: ecce homo. Simples assim.

E dessa forma caminha nosso processo histórico: momentaneamente guiado por um grupo de pessoas que trabalham por manejar a favor de Bolso as simpatias populares. Ainda bem que as pesquisas mostram o encolhimento do seu perfil, a queda de prestígio público, o desmanche dos seus pés de barro.

É preciso entender: mesmo que uma mentira seja vista como verdade por efeito de uma alucinação comunicacional patológica, toda mentira é apenas isso: uma mentira. E quando a ilusão se transforma em pesadelo as pessoas começam a acordar.

Bolsonaro está sendo liquidificado por seus próprios engodos. E vai escorrer pelo ralo da História.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

 

 A história do homem suspeito de ser sequestrado

Por Emanoel Barreto


Conto aqui caso gravíssimo que aconteceu no território da minha imaginação brasileira: um homem foi suspeito de ter sido sequestrado e passou horrores. 

Foi o seguinte: a manchete do principal jornal da cidade anunciou que um grande comerciante estava sob suspeita de ter sido sequestrado. Imediatamente as polícias civil, militar e federal entraram em estado de alerta porque quem é suspeito é suspeito de algo, ou seja: o verbo suspeitar sugere que o sujeito alvo da suspeição é praticante de crime. Se não fosse assim não seria um suspeito.
Ora, o homem, que tinha sido sequestrado mesmo, estava padecendo em seu cativeiro. Enquanto isso, as polícias ativavam seus serviços de inteligência para que fosse capturado. Quando o cativeiro foi estourado pela polícia civil lá estava o pobre: acorrentado e amordaçado. Os bandidos haviam fugido minutos antes. 
Então, estando sob cárcere privado, ou seja, confirmado o sequestro, havia ali prova material de que o homem era realmente culpado de ter sido sequestrado. Caso contrário não estaria ali em local típico de criminosos.
Quando os agentes saíam com o agora bandido, que alegava aos brados que não era bandido, mas empresário, portanto pessoa ordeira e, mais que isso, vítima, chegaram os policiais militares.
Imediatamente deram voz de prisão a todos. E de nada adiantou os policiais civis afirmar que eram agentes da lei: os soldados disseram que se estavam em companhia de criminoso ocorria ali a formação de bando ou quadrilha e assim policiais civis e empresário foram postos em camburões.
Quando já seguiam para a delegacia, chega a polícia federal que por sua vez também prende a todos sob a mesma alegação: formação de quadrilha, crime agravado por serem todos homens da lei, conluiados com homem suspeito de ter sido sequestrado. 
A polícia federal então pensou em levar todo o já enorme grupo à prisão quando a Força Nacional de Segurança ia passando e ao ver aquele amontoado capturou a todos imediatamente.
Estabeleceu-se então grande tumulto e começou um tiroteio. Alguém chamou as Forças Armadas, pois pensou-se que ali havia algum tipo de levante, revolta, até mesmo revolução, luta armada. 
Então todo mundo começou a prender todo mundo e, ao final das contas, todo o aparelho armado do país estava envolvido e todos prenderam a todos, incluindo a população, que em meio a gritos de "o povo unido jamais será vencido “configurou situação de ato subversivo e todo subversivo deve ser tirado de circulação. 

Em meio à sedição agora instalada coube a um bandido, chefe da pior quadrilha do país, ter uma ideia: sequestrar alguém para pedir resgate. Pior: a quadrilha sequestrou todo mundo para garantir um bom lucro. Mas como todos estavam sequestrados não havia ninguém a quem cobrar o tal resgate.
 Assim a quadrilha denunciou à Justiça que tinha uma grande fortuna a receber, mas as famílias dos sequestrados não assumiam suas responsabilidades de devedores. O juiz do caso entendeu que a quadrilha tinha razão, uma vez que como trabalhadores do crime os criminosos tinham legalmente direito a seu salário.
Como solução decidiu-se que os bandidos teriam direito a assaltar um banco para ressarcimento de danos morais e materiais. Eles foram a assaltaram. Como garantia levaram o gerente de refém. E o gerente passou a ser suspeito de ser sequestrado.
Nesse momento todos esqueceram do sequestro anterior e de todas as suas loucas consequências e passaram a perseguir o agora novo suspeito. Isto posto, tudo voltou à normalidade, mas até agora o gerente não foi capturado.