sábado, 20 de fevereiro de 2010

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A homossexualidade de Cristo
Emanoel Barreto

O cantor e compositor Elton John anda dizendo por aí que "Jesus Cristo era um gay superinteligente que compreendia os problemas humanos." A afirmativa de Sir Elton Hercules John, claro, não deve ser levada a sério. A não ser o fato de que ele é um grande artista, que como pessoa de mídia busca a qualquer preço aparecer, sua assertiva não merece ser levada em conta. No máximo, uma esquisitice, na verdade uma jogada promocional, com a utilização de marketing disruptivo, voltado para criar um factoide. Um falso acontecimento.

Seja planejado ou fruto de um insight, um estalo durante entrevista, surtiu o efeito desejado. Tanto, que o estou reproduzindo aqui. É o que Bourdieu chamava de "circulação circular da notícia". Mais claramente: a reprodução da notícia de jornal em jornal. A notícia assumindo a condição de fato primário, em substituição à realidade que a gerou. No caso, a importância que até mesmo eu estou dando a esse factoide. Vale a importância jonalística atribuída, não a consideração de sua validade original, o momento da declaração por ator midiático privilegiado.

Mas, não me deixei levar, não por completo, pela indução advinda do artista globalizado. Não. O que me moveu é o fato de que, usualmente, homossexuais gostam de atribuir a personagens de destaque idêntica condição à sua, como forma de legitimar-se sejam como cidadãos, seja como homossexuais mesmo. 

Grande erro. Além de carrear a si antipatia, esquecem que não precisariam disso, uma vez que crescente parcela da sociedade reconhece, e faz muito bem, o homossexual como pessoa, cidadão e profissional. Claro, somente alguma mente obscurantista retira a outro ser humano tais atributos, em função de orientação sexual divergente da maioria.

O cantor foi esperto ao se promover, porque expert em tais tipos de comunicação. Mas tolo, para dizer o mínimo, enquanto pessoa que, assim agindo, apenas ganha espaço de mídia, sem quaisquer consequências de validade maior.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Glauco, na Folha, Edição de hoje
Patifes e pilantras, legítimos produtos da cultura nacional
Emanoel Barreto

O sórdido espétaculo da cena brasiliense leva à mais explícita e ad nauseam constatação de que tipo de política se pratica no Brasil. Um magote de políticos sem qualquer apreço pela ética e até pelo respeito próprio, apoderou-se dessa manifestação estatal que é o governo estadual, fazendo-o coisa própria e privada.

Todavia, o pior, neste contexto, é o seguinte: políticos não vêm do nada, não são largados aqui por alienígenas ou escaparam de alguma prisão especial de onde jamais deveriam ter saído. Não, políticos vêm da sociedade, nascem dos seus valores, de suas práticas, suas licenciosidades e liberdades sórdidas.

Os que exercem mandatos neste país são um retrato exato do nosso povo, do homem cordial de quem já falava Sérgio Buarque em sua magistral obra Raízes do Brasil, 1936. Não a cordialidade bem falante, prestativa, charmosa até, ou bajuladora e interesseira. Não. Cordialidade como uma espécie de estado de espírito que leva nossa sociedade a um estágio tal de informalidade que, chegando ao poder, ou alguma parcela do poder como nas repartições públicas, o indivíduo, a não ser os de caráter forte, pode permitir-se licenças que vão do chegar atrasado ao trabalho até mesmo aos conchavos e pilantragens mais sórdidos.

Está aí o nó górdio: somos uma sociedade de facilitações e tolerâncias. Os escândalos de Brasília, todos sabemos, darão em nada. Talvez alguém fique fora da vida pública por alguns anos e pronto. Esqueceremos que trata-se de um bandido, tão perigoso quando o traficante Elias Maluco, e até votaremos nele de novo se vier a candidatar-se.









quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Descoberta no Congresso Nacional a substância "Sangue de Midas"
Emanoel Barreto

A urina de deputados e senadores é dourada. Muito mais que a do comum dos mortais. Cientistas meus amigos, após largos anos de estudos, noites de ingentes pesquisas e profundos trabalhos alquímicos, descobriram o motivo: de tanto tratarem de assuntos que envolvem dinheiro, temas e coisas com este conexos, absorveram a essência áurea do mais nobre metal e agora têm suas veias a substância conhecida como "Sangue de Midas", inofensiva a seus portadores, mas altamente tóxica aos que, na taxonomia social, estão no grupo conhecido como "povo."

Trata-se de importante descoberta que, sem dúvida, contribuirá para o progresso da ciência que estuda os homens bons, especial categoria de seres humanos que se dedica a viver as delícias da vida. Talvez volte a falar do assunto numa próxima crônica.

É que as pesquisas continuam e os cientistas interromperam a entrevista para fazer novos estudos.
O trágico e sua risada terrível
Emanoel Barreto

O artista é uma espécie de danado, de maldito que a todos assola e por todos é assolado. Como praga benigna, às vezes maligna mesmo, ele não cresce: se alastra. O cartum do Angeli é o protótipo da vida como processo de decadência. O alfa e o ômega da nossa grandiosa e ridícula existência. O artista ri de si e de todos os todos que o habitamos, porque ele habita em todos nós. Não sou filósofo. Nada sei de altas indagações. Apenas convido você e ver e rir. Depois, talvez, quem sabe, um discreto choro...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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O jornalismo traiçoeiro
Emanoel Barreto

Vejo no JB:  RIO - Com o enredo "Do paraíso de Deus ao paraíso da loucura, cada um sabe o que procura", o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola que abriu o segundo dia de desfiles do Grupo Especial, emocionou o prefeito Eduardo Paes.

- Foi um desfile emocionante, a escola já entrou empolgando. O refrão do samba é muito bom. Fiquei muito feliz com tanta garra, a Mocidade voltou ao Grupo Especial merecidamente – afirmou o prefeito, que cantou o samba da escola junto com os componentes das alas.

Paes assistiu ao desfile da Mocidade desde o início. Saudou a Comissão de Frente, os integrantes das alas, reverenciou o casal de mestra-sala e porta-bandeira e fez questão de beijar o pavilhão da escola. No recuo da bateria, tocou chocalho no meio dos ritmistas e cumprimentou a cantora Elza Soares, que desfilou como madrinha da bateria.


Sobre o desfile de domingo, Eduardo Paes disse que ficou entusiasmado com a Unidos da Tijuca.
- Minha opinião é igual à da maioria das pessoas. A Unidos da Tijuca fez um desfile maravilhoso. O carnavalesco Paulo Barros merece ganhar um Carnaval - ressaltou.

Logo após a passagem da Mocidade, o prefeito disse que há um projeto de ampliação do Sambódromo sendo negociado com a AmBev. Paes informou que essa é mais uma obra visando as Olimpíadas de 2016.
...........

As assessorias de imprensa  chamam de "mídia espontânea" a esse tipo de matéria que você acabou de ler. Ou seja: uma matéria cujo enquadramento mostra positivamente um determinado ator social - um político, por exemplo - sem que tenha havido, por parte de assessoria, qualquer gestão nesse sentido. "Espontaneamente", o jornal faz a matéria que deixa a pessoa pública "bem" na foto. Acontece. É raro, mas acontece.

Isso ocorre quando um determinado fato tem valoração positiva em si, e é tão forte, que o jornal é "obrigado" a noticiar. Ocorre, porém, que, muitas vezes, o jornal, para atender a interesses particulares, normalmente interesses econômicos da empresa jornalística, viabiliza acontecimentos como se fora mídia espontânea.

Parece ser o caso da matéria acima. Nada justifica o destaque dado ao prefeito do Rio pelo JB. São a declaração do óbvio, tentando mostrá-lo como um homem do povo, vibrador, um "carioca autêntico". As palavras são o que em jornalismo é chamado de entrevista ritual: tudo o que o declarante vai dizer faz parte daquilo que Nelson Rodrigues chamava de o óbvio ululante: ou alguém esperava que o prefeito fosse deplorar ou criticar alguma escola? Nem precisa responder.

A atitude do JB é uma forma de desrespeito ao leitor. Uma farsa, um lamentável e (mal) intencionado equívoco jornalístico. Uma vibração vazia, entrincheirada nos interesses cruzados do jornal.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

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O ladrão está dentro do cofre
Emanoel Barreto

O texto a seguir não é transcrição de alguma obra de Kafka. Nada disso. Está na Folha e não é ficção, é verdade. O sujeito que imprime o dinheiro do país é, vamos ser bem claros, um ladrão. Leia abaixo.

O presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, tem no seu encalço o fisco, o Ministério Público e a Polícia Federal. A Receita Federal o autuou em R$ 3,5 milhões sob a suspeita de fraude no Imposto de Renda e de operação irregular de câmbio no valor de US$ 1 milhão.



Não bastassem as investigações dos três órgãos públicos, o responsável pela impressão de todo o dinheiro do país enfrenta agora também pressão do próprio partido que o apadrinhou, o PTB. Na terça-feira passada, os deputados Jovair Arantes (GO) e Nelson Marchezelli (SP) foram ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, pedir a cabeça de Denucci. Mantega afirmou que ele fica no cargo.
....
A charge de Angeli, na Folha, é o retrato do Congresso. (EB)*
*Nem precisava dizer.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010


O samba do crioulo doido também chega ao jornalismo
Emanoel Barreto

Uma das coisas que mais angustiam aos jornalistas é a necessidade imperiosa de ter notícias. É uma espécie de imperativo categórico, mesmo quando o mundo não nos oferece a nossa matéria primas. Pior que isso, ou pelo menos tão ruim quanto isso, é o fato de que, como vivemos da fragmentação do mundo, retirando daqui e dali acontecimentos que por nós sejam tidos como importantes ou interessantes, muitas vezes caímos no samba do crioulo doido.

Explico: já viu a primeira página da Folha aí em cima? Claro. Vamos à análise: como o assunto do momento é o carnaval, a Folha não tem como não dar um fotaço de carnaval na capa. É algo até mesmo ritual, uma reverência que mesmo um jornal que se diz "sério" tem que fazer ao hedonismo nacional.

Agora, veja uma coisa: seu olhar de leitor está treinado, treinado por nós, jornalistas, a ligar imediatamente a foto de destaque como o texto da manchete que lhe vem logo abaixo. E, no caso, o que temos? Apesar do esforço do editor da primeira página e do seu diagramador (ou paginador, como querem os modernos), você tenta fazer o link automaticamente e... o assunto nada tem a haver com carnaval.

É que o jornal viu-se diante de um dilema: como é um jornal "sério", não podia dar toda a capa aos festejos. Assim, à concessão de uma foto dos adoradores de Baco, tinha, também, que manter noticiário voltado para enquadramento mais ajustado ao dia a dia do jornal.

Haveria saída mais inteligente, dividindo o noditiciário? Haveria. Muitas. Mas o fato é que editor e diagramador falharam e você, até mesmo eu, quando buscamos o texto de carnaval abaixo da foto encontramos algo bem diverso. Tudo bem: é o samba do crioulo doido, mexendo até mesmo com as manchetes do cotidiano.


domingo, 14 de fevereiro de 2010

Samba exaltação
Emanoel Barreto

Este Brasil que canta
e é feliz.

Não é igual ao brasil
que não canta
nem é feliz.

Ou o Brasil que canta
o brasil nem sabe
que, na verdade,
não canta nem é feliz.