sábado, 9 de fevereiro de 2008

Uma mulher gravemente nua

Caros Amigos,
Talvez o Brasil seja assim: uma mulher gravemente nua, exageradamente rua,
desabaladamente tonta, loucamente bela.
Lindamente tola, desavergonhadamente plena, exuberantemente luz, reveste-se de seios, coxas, sorrisos, nada mais.
E depois, bom... depois, Brasil não sabe...
Emanoel Barreto
*Foto: Marcos D Paula (Estadão Online)
http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowFotos.action?produto=Estad%C3%A3o

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Natureza sob ataque

Caros Amigos,
Foto premiada da Agência Reuters, de um gorila morto no Congo, foi veiculada pelo Estadão Online. Um grupo de homens formou um estrado com longas varas, a fim de levar sua bela e magnífica vítima. Um grupo de homens de um país de terceiro mundo, atacando a natureza a troco de miserável soldo. A foto traz somente uma legenda: não dá detalhes, não diz qual a finalidade econômica da morte do animal nem a quantas anda o perigo de extinção da espécie.


Mais: não dá conta de quem são os criminosos que assalariaram aqueles caçadores, a fim de atacar a vida. Sem dúvida de que o mundo, a sociedade planetária, está precisando de um bom repórter, numa boa revista de grandes reportagens, para aprofundar assuntos como esses. Mas, os grandes repórteres estão aposentados, e o jornalismo não pratica mais a reportagem; apenas um noticiário que se volta para a superfície do real e esquece os grandes problemas que se escondem no fundo do poço.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A moça nua e os pecados federais

Caros Amigos,
Agora que o fogo do carnaval passou; depois que caiu o tapa-sexo de quatro centímetros que a moça usava e ela seguiu, alegre e nua, pela avenida; quando o fogo das manchetes espoca os gastos com os cartões corporativos do governo e a Igreja convoca o povo à oração e à vigília para expiar culpas e pecados, começa realmente o ano. Bem-vindo, 2008.
A oposição, cujo esporte preferido é abrir CPIs, e o governo, em sua inesgotável mestria em fornecer fartos fardos de erros para alimentar essa oposição, entram em campo para o renovado espetáculo da prática política nacional: escândalos e deslizes gastarão muita tinta e papel nas coisas de jornal. Bem vindo-2008.
Vem agora a Semana Santa. Pecadores dos mais diversos escalões, desde aqueles que se apegam a pecados veniais - pecados maneiros, que qualquer padre perdoa -, até aqueles que têm na consciência a certeza de que se cevaram de pecados mortais, pecados capitais, federais, estaduais, municipais e paroquianos, terão a oportunidade de rezar, rezar muito; para, depois, fazer a mesma coisa. Bem-vindo, 2008.
Depois da Semana Santa... sinceramente, não sei. De qualquer maneira, peço: oremos. Mas, mesmo assim, bem-vindo, 2008.
Emanoel Barreto

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Uma festa e um encontro trágico

Caros Amigos,
Quando uma escola de samba passa, qual o Brasil verdadeiro: o das mulheres belas, frenéticas, faunas seminuas, destaques que vêm do asfalto e nada têm a ver com as cabrochas; ou o Brasil dos batuqueiros, da percussão, dos puxadores de samba, dos empurradores de alegorias, pesados mamutes de luxo que o povo pobre e suado da favela ajudou a pagar?

Há aí, suponho, um encontro trágico-bacante entre o hedonismo das pagãs ricaças, belas deusas do dinheiro e fama, e o impulso febril do povo impaciente, que não suporta mais a tristeza e, uma vez por ano, sazonalmente, tem o direito de se sentir alegre em praça pública, mesmo sabendo que essa alegria é falsa, é uma alegria de aluguel e dura só uns cinqüenta minutos de desfile.

Hoje é terça-feira, prenúncio de fim de festa. Amanhã, Cinzas. E os olhos mareados de ressaca estarão sentindo que é hora de rever o mundo com suas cores reais. Tem ainda a escolha das campeãs. Haverá festa e muitos sorrisos. Depois, o País volta à normalidade. Será tempo de conviver com a luta e o salário mínimo.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Zé Pereira

Caros Amigos,
O poeta Walter Medeiros envia para publicação:


Zé Pereira

Viva Zé Pereira,
Português danado,
Cabra sem enfado,
Pela vida inteira.

Viva o Carnaval,
Que tanto admiro,
Mas já me retiro,
Não me levem a mal.

Viva aquele samba,
Feito por Martinho,
Que canto baixinho,
Querendo ser bamba.

Viva a lembrança,
Do pó*, do confetti,
Caetano, Zé Kéti,
Serpentina e lança.

Viva Paulo Maux**,
Nosso eterno Rei,
Nunca esquecerei,
Mas sei que passou.

Viva nossos clubes,
De lindo passado,
Que está gravado,
Não há quem derrube.

Viva uma saudade,
Cá neste meu peito,
De amores sem jeito,
E de felicidade