É de Celso da Silveira, poeta que já partiu, o que abaixo transcrevo.
Poema
Para a morte, a vida
não tem esconderijos.
Nascer é um ato involuntário;
morrer é que é compulsório.
Tudo tem seu assentimento:
emoção e apreensão,
instinto e razão,
na medida em que
- sensível ou visual -
nada se mostra por acaso.
É o pressentimento
que revela a oculta
o eterno e o divino
que convivem numa
mesma unidade
crítica essencial,
que se exprime
em cada ser
cheio de equívocos.
Nossa percepção da morte
se infere na razão
do conhecimento de Deus.
- Deus e a morte estão em toda parte.
"Não é justo alguém ter o direito de ter uma empresa de aviação e outro não ter o direito de comer um pão." /////// JAMAIS IDE A UM LUGAR GRANDE DEMAIS. A UM LUGAR AONDE NÃO TENHAIS CORAGEM DA IMENSIDÃO - EMANOEL BARRETO - NATAL/RN
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
Crônicas para Natal
Memorial Câmara Cascudo
Luís da Câmara Cascudo. A mão do povo,
plantada nas raízes das gentes,
te sustenta a estátua silenciosa.
O Mestre, em seu mundo
de lendas e de mitos,
cercado de grandezas e crendices,
teve nas coisas do povo
seu motivo de vida e de venturas.
A grande obra de Cascudo
foi estar onde o povo se encontrava,
descobrindo no velho, no antigo,
no arcaico e fantástico mundo
do imaginário popular,
a presença sempre, do futuro.
Luís da Câmara Cascudo,
caminhante das veredas nordestinas.
Visionário da arte dos mais simples,
reconstruiu, com o gesto largo do estudo,
lembranças de coisas da noite do tempos.
Luís da Câmara Cascudo. A mão do povo,
plantada nas raízes das gentes,
te sustenta a estátua silenciosa.
O Mestre, em seu mundo
de lendas e de mitos,
cercado de grandezas e crendices,
teve nas coisas do povo
seu motivo de vida e de venturas.
A grande obra de Cascudo
foi estar onde o povo se encontrava,
descobrindo no velho, no antigo,
no arcaico e fantástico mundo
do imaginário popular,
a presença sempre, do futuro.
Luís da Câmara Cascudo,
caminhante das veredas nordestinas.
Visionário da arte dos mais simples,
reconstruiu, com o gesto largo do estudo,
lembranças de coisas da noite do tempos.
quarta-feira, 17 de janeiro de 2007
Em São Paulo não houve acidente: houve homicídios
A tragédia provocada pela cratera que se abriu em São Paulo, causando dor e perplexidade a todo o País, tem três aspectos jornalísticos a ser destacados, todos negativos: primeiramente, os jornais, o que inclui os telejornais, não estão buscando com o necessário vigor investigativo e editorial-opinativo os responsáveis pelo desastre.
Em seguida, e esse aspecto é eminentemente cruel, brutal e desumano, um fabricante de energético mandou ontem um grupo de moças distribuir o seu produto aos bombeiros para literalmente "dar uma forcinha" aos corajosos e decididos soldados da solidariedade, em sua cansativa tarefa.
No primeiro caso, o jornalismo não está pressionando autoridades, a empresa construtora, engenheiros, fiscais e todos os envolvidos no projeto, a quem se possa, de qualquer forma, atribuir uma parcela de responsabilidade.
Terceiro: o que houve em São Paulo não foi um acidente: houve homicídios no mínimo culposos, pois os responsáveis pela obra agiram com imprudência, imperícia e negligência.Se houvesse cuidado, o que é algo plenamente exigível a uma empreitada de tal porte, o desabamento não teria ocorrido. Insisto: aquelas pessoas não morreram de acidente: foram vítimas de homicídio culposo.
E os jornalistas estão aceitando passivamente o declaratório dos envolvidos, todos repassando culpas e se auto-isentando.
Quanto ao segundo aspecto, o da distribuição do energético, é algo acintoso e imoral. As, digamos assim, demonstradoras do produto, sem qualquer cerimônia apareceram no cenário onde houve os crimes, a fim de promover a marca. O setor de marketing da empresa, sem qualquer pudor, enviou seu material para ganhar exibição de mídia.
Vi isso rapidamente na TV. Não lembro qual o canal. O repórter ainda chegou a ouvir algumas pessoas, que se manifestaram chocadas. Mas, na edição da matéria, o editor teve o "cuidado" de preservar a marca e a encobriu, de forma a que o telespectador não a pudesse identificar.
Objetivamente: a TV, onde certamente o produto faz parte de sua carteira de anunciantes, não iria querer perder dinheiro. Assim, fez-se um pouco de sensacionalismo, mostrou-se uma indignação plastificada, mas, na hora do faturamento, a coisa mudou de figura.
Ao final das contas, quem foi assassinado está morto. Os culpados sairão mais ricos com a obra paulistana e às famílias restarão o sofrimento e a pergunta presa na garganta: "Por quê?"
Em seguida, e esse aspecto é eminentemente cruel, brutal e desumano, um fabricante de energético mandou ontem um grupo de moças distribuir o seu produto aos bombeiros para literalmente "dar uma forcinha" aos corajosos e decididos soldados da solidariedade, em sua cansativa tarefa.
No primeiro caso, o jornalismo não está pressionando autoridades, a empresa construtora, engenheiros, fiscais e todos os envolvidos no projeto, a quem se possa, de qualquer forma, atribuir uma parcela de responsabilidade.
Terceiro: o que houve em São Paulo não foi um acidente: houve homicídios no mínimo culposos, pois os responsáveis pela obra agiram com imprudência, imperícia e negligência.Se houvesse cuidado, o que é algo plenamente exigível a uma empreitada de tal porte, o desabamento não teria ocorrido. Insisto: aquelas pessoas não morreram de acidente: foram vítimas de homicídio culposo.
E os jornalistas estão aceitando passivamente o declaratório dos envolvidos, todos repassando culpas e se auto-isentando.
Quanto ao segundo aspecto, o da distribuição do energético, é algo acintoso e imoral. As, digamos assim, demonstradoras do produto, sem qualquer cerimônia apareceram no cenário onde houve os crimes, a fim de promover a marca. O setor de marketing da empresa, sem qualquer pudor, enviou seu material para ganhar exibição de mídia.
Vi isso rapidamente na TV. Não lembro qual o canal. O repórter ainda chegou a ouvir algumas pessoas, que se manifestaram chocadas. Mas, na edição da matéria, o editor teve o "cuidado" de preservar a marca e a encobriu, de forma a que o telespectador não a pudesse identificar.
Objetivamente: a TV, onde certamente o produto faz parte de sua carteira de anunciantes, não iria querer perder dinheiro. Assim, fez-se um pouco de sensacionalismo, mostrou-se uma indignação plastificada, mas, na hora do faturamento, a coisa mudou de figura.
Ao final das contas, quem foi assassinado está morto. Os culpados sairão mais ricos com a obra paulistana e às famílias restarão o sofrimento e a pergunta presa na garganta: "Por quê?"
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
Crônicas para Natal
As coisas em vão que construímos
As estátuas têm um tempo só seu.
Indivisível tempo.
Em singular movimento estático,
elas são guerreiras de instantes congelados.
As estátuas, habitantes públicas de todas as praças,
homenageiam coisas do passado.
São como que sentimentos arquitetados em bronze.
Sonoro bronze do tempo.
Cercadas pela cidade,
as estátuas, em seu conjunto que ensaia emoções,
golpeiam com a espada nua
as coisas em vão que construímos.
As estátuas têm um tempo só seu.
Indivisível tempo.
Em singular movimento estático,
elas são guerreiras de instantes congelados.
As estátuas, habitantes públicas de todas as praças,
homenageiam coisas do passado.
São como que sentimentos arquitetados em bronze.
Sonoro bronze do tempo.
Cercadas pela cidade,
as estátuas, em seu conjunto que ensaia emoções,
golpeiam com a espada nua
as coisas em vão que construímos.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
O Brasil vai escorrer pelo buraco
Ontem, à saída de um shopping, um louco surgiu não sei de onde e abordou-me assim:
- Tá sabendo aquele buraco de São Paulo?
Respondi que sim e ele:
- Aquele buraco é o chão do Brasil se abrindo, aquele buraco é o Brasil dizendo que não agüenta mais os brasileiros, e que, se as coisas continuarem desse jeito, esses políticos roubando, vamos todo mundo ser sugados pelo chão e vamos bater no inferno.
Tentei acalmá-lo, e ele:
- Não, não, não. O senhor se previna, trate de fugir, que o buraco vai pegar todo mundo.
Eu já queria me livrar do homem e me encaminhar para o carro, mas ele insistia:
- Eu estou lhe avisando, estou lhe avisando e estou avisando a todo mundo que passa por aqui:
- Aquele buraco é o pais escorrendo e vai todo mundo se acabar. Vai ser igual a um liquidificador; vai rodando, vai rodando, e ó: vummmm...., puxando tudo para dentro. Agora, pra mim, só tem um jeito.
Minha curiosidade foi maior que minha irritação com aquela conversa e eu perguntei:
- Qual é o jeito?
Ele garantiu:
- Fuja para o Amazonas. Lá é muito grande e acho que aquela floresta enorme não vá caber dentro do buraco de São Paulo. Aproveite, meu senhor. Corra! Vá embora! Vá para bem longe!
Quando eu já ia entrando no carro, apareceu um casal de classe média, gente bem vestida, acompanhado de dois rapazes: ao que aparentou, tratava-se de um filho com problemas mentais e que a família, na companhia dos dois outros irmãos afinal, havia encontrado, levando-o em seguida, presumo, para casa. Ele não resistiu, mas continuou, agora gritando:
- O Brasil vai afundar pelo buraco de São Paulo! O Brasil vai afundar pelo buraco de São Paulo!
Na volta para casa, aquela cena surrealista não me saía da cabeça: o Brasil afundando no buraco do canteiro de obras da futura estação Pinheiros do metrô paulistano. Pensando bem, como metáfora, aquele louco, aquele louco sublime certamente tem razão, o país está afundando, nadando num lodaçal onde a ética e a moral estão cheias de nódoas, nódoas que doem na alma da gente.
O país está em chamas no Rio e em São Paulo, onde os bandidos ditam a lei da barbaridade; o país está no lodo da Câmara e do Senado; o país paga altas taxas de remuneração a corruptos; o país tem altas taxas de fome; o Brasil tem excesso de pouco para muitos, e excesso de muito para poucos. O Brasil talvez devesse mesmo escorrer pelo buraco de São Paulo.
- Tá sabendo aquele buraco de São Paulo?
Respondi que sim e ele:
- Aquele buraco é o chão do Brasil se abrindo, aquele buraco é o Brasil dizendo que não agüenta mais os brasileiros, e que, se as coisas continuarem desse jeito, esses políticos roubando, vamos todo mundo ser sugados pelo chão e vamos bater no inferno.
Tentei acalmá-lo, e ele:
- Não, não, não. O senhor se previna, trate de fugir, que o buraco vai pegar todo mundo.
Eu já queria me livrar do homem e me encaminhar para o carro, mas ele insistia:
- Eu estou lhe avisando, estou lhe avisando e estou avisando a todo mundo que passa por aqui:
- Aquele buraco é o pais escorrendo e vai todo mundo se acabar. Vai ser igual a um liquidificador; vai rodando, vai rodando, e ó: vummmm...., puxando tudo para dentro. Agora, pra mim, só tem um jeito.
Minha curiosidade foi maior que minha irritação com aquela conversa e eu perguntei:
- Qual é o jeito?
Ele garantiu:
- Fuja para o Amazonas. Lá é muito grande e acho que aquela floresta enorme não vá caber dentro do buraco de São Paulo. Aproveite, meu senhor. Corra! Vá embora! Vá para bem longe!
Quando eu já ia entrando no carro, apareceu um casal de classe média, gente bem vestida, acompanhado de dois rapazes: ao que aparentou, tratava-se de um filho com problemas mentais e que a família, na companhia dos dois outros irmãos afinal, havia encontrado, levando-o em seguida, presumo, para casa. Ele não resistiu, mas continuou, agora gritando:
- O Brasil vai afundar pelo buraco de São Paulo! O Brasil vai afundar pelo buraco de São Paulo!
Na volta para casa, aquela cena surrealista não me saía da cabeça: o Brasil afundando no buraco do canteiro de obras da futura estação Pinheiros do metrô paulistano. Pensando bem, como metáfora, aquele louco, aquele louco sublime certamente tem razão, o país está afundando, nadando num lodaçal onde a ética e a moral estão cheias de nódoas, nódoas que doem na alma da gente.
O país está em chamas no Rio e em São Paulo, onde os bandidos ditam a lei da barbaridade; o país está no lodo da Câmara e do Senado; o país paga altas taxas de remuneração a corruptos; o país tem altas taxas de fome; o Brasil tem excesso de pouco para muitos, e excesso de muito para poucos. O Brasil talvez devesse mesmo escorrer pelo buraco de São Paulo.
domingo, 14 de janeiro de 2007
Crônicas para Natal
Amazônia de Natal
Pequena Amazônia de Natal, o Bosque dos Namorados é floresta urbana e diária na vida da cidade.
Sem os mistérios das matas fechadas, sem ser habitada por lendas e animais fabulosos, o Bosque se contenta em seu belo e encantar a todos.
Suas árvores são seus habitantes permanentes, como se estivessem, sempre, numa espécie de conversa verde, abençoada pelo sol.
E Natal, iluminada pelo amanhecer silencioso das folhas, abraça e beija sua Amazônia pequena.
Pequena Amazônia de Natal, o Bosque dos Namorados é floresta urbana e diária na vida da cidade.
Sem os mistérios das matas fechadas, sem ser habitada por lendas e animais fabulosos, o Bosque se contenta em seu belo e encantar a todos.
Suas árvores são seus habitantes permanentes, como se estivessem, sempre, numa espécie de conversa verde, abençoada pelo sol.
E Natal, iluminada pelo amanhecer silencioso das folhas, abraça e beija sua Amazônia pequena.
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