sábado, 7 de agosto de 2010

A marca da brutalidade

Hiroxima depois da bomba lançada pelo bombardeiro americano dia 9 de agosto de 1945
Osama nasceu em Hiroxima
Emanoel Barreto

Vejo na Triuna do Norte: Hiroshima (AE) - Um representante dos Estados Unidos participou ontem, pela primeira vez, da cerimônia anual que marca a explosão da bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima. O embaixador norte-americano no Japão, John Roos, participou da solenidade que marcou o 65º aniversário da explosão, que os organizadores esperam ajude a estimular os esforços globais na direção do desarmamento nuclear. No local onde o primeiro ataque com uma bomba atômica foi realizado ouviram-se corais de estudantes e o badalar solene de sinos na maior cerimônia já realizada. Às 8h15 - o horário em que a bomba foi jogada, incinerando a maior parte da cidade, foi observado um momento de silêncio.


O prefeito de Hiroshima, Tadatoshi Akiba, saudou a decisão dos Estados Unidos de enviar um representante à celebração, que começou com uma oferta de água aos 140 mil mortos dos dois ataques nucleares sofridos pelo Japão e que levaram o país a se render, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O segundo ataque nuclear ocorreu em 9 de agosto de 1945, contra a cidade de Nagasaki. O Japão se rendeu aos EUA em 15 de agosto de 1945
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O povo americano, pelos seus governantes, administra como ninguém a ira e o terrorismo contra outros povos a fim de manter seus privilégios de maior potência belicista e armamentista do mundo. Tem prática, ciência e experiência para tanto.

Osama bin Laden, que hoje é o martelo e o açoite brandidos pelos mais obscurantistas seguidores da Alá, é produto dos Estados Unidos. Sua família, poderosa, rica, mantinha ligações orgânicas com o grande capital americano, que também financiou o Talibã contra os russos quando a então URSS tinha domínio sobre o Afeganistão.

O comparecimento de representante ao ritual no Japão é parcela mínima de demonstração de respeito ao povo japonês tantos anos após o morticínio perpetrado via as bobas atômicas atiradas. Os artefatos tinham até nomes, eram fetiches bélicos, ícones da brutalidade do Tio Sam: Fat Man e Little Boy, assim eram carinhosamente chamadas as bombas atiradas sobre Hiroxima e Nagasáqui.

Os americanos precisam meditar a respeito de seus temores a Osama e comparar o total de mortos: 140 mil japoneses eliminados contra 2.993 pessoas no 11 de setembro de 2001. A estupidez de um e outro lados não se justificam. Mas é preciso entender que Osama não é fruto só do obscurantismo enlouquecido de parte dos muçulmanos. Osama nasceu em Hiroxima.
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Na Folha, a demonstração de como age o regime dos aiatolás:

Eu sofro por ser mulher, diz Sakineh



Iraniana condenada a morrer apedrejada por adultério afirma que Irã está "envergonhado" pela atenção ao caso


Em entrevista ao jornal "Guardian", Sakineh diz que autoridades estão mentindo e que assinou sentença sem entender

DE SÃO PAULO



"A resposta é bem simples. É por eu ser uma mulher, é por eles acharem que podem fazer o que quiserem com as mulheres, neste país."


É assim que Sakineh Ashtiani, a iraniana condenada à morte por apedrejamento pelo "crime" de adultério, define o motivo pelo qual aguarda por uma das mais cruéis penas de morte do mundo.


Presa desde 2006 na cadeia de Tabriz, Sakineh falou ontem ao jornal britânico "Guardian" por meio de um intermediário cuja identidade não mantida em sigilo.


Leia abaixo as principais declarações de Sakineh.


"A resposta é bem simples. É por eu ser uma mulher, é por eles acharem que podem fazer o que quiserem com as mulheres, neste país. Para eles, adultério é pior que homicídio. Mas não todos os tipos de adultério: um homem adúltero pode nem ser preso, mas uma mulher adúltera é o fim do mundo.


É por estar em um país onde as mulheres não têm o direito de se divorciar dos maridos e estão privadas de direitos básicos."


Medo


"Elas [autoridades iranianas] estão mentindo. Estão envergonhadas com a atenção internacional dada ao meu caso e tentam desesperadamente distrair a atenção e confundir a mídia para me matarem em segredo."


Julgamento


"Fui considerada culpada de adultério e absolvida do homicídio. O homem que realmente matou meu marido foi identificado e preso, mas não condenado à morte.


Quando o juiz me entregou minha sentença, nem percebi que deveria ser apedrejada à morte porque eu não sabia o que "rajam" significa.


Eles me pediram para assinar minha sentença e eu o fiz, daí eu voltei à prisão, e os meus companheiros de cela me disseram que eu seria apedrejada à morte e eu, instantaneamente, desmaiei."

Advogado


"Eles queriam se livrar do meu advogado [Mohammad Mostafaei] para que pudessem facilmente me acusar do que quer que fosse sem que ele denunciasse. Não fossem os esforços dele, eu já teria sido apedrejada à morte."


Prisão


"As palavras deles [dos guardas de Tabriz], o jeito como me olham -uma mulher adúltera que deveria ser apedrejada à morte- é como ser apedrejada todos os dias."

Campanha


"Todos esses anos, elas [autoridades tentaram colocar uma coisa na minha cabeça, me convencer de que eu sou uma mulher adúltera, uma mãe irresponsável, uma criminosa. Mas, com o apoio internacional, uma vez mais me vejo uma pessoa inocente. Não deixem que me apedrejem diante do meu filho."

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ei! vamo vê o debate não?

http://fotos.blogs2k.com/2008/11/08/caras-feias/
Vamo não: deixa "eles" pra lá...
Emanoel Barreto

Os baixos níveis de audiência do debate da Band talvez se possam explicar a partir de algumas observações: foi o primeiro e ainda em fase em que a campanha não atingiu seu nível de polarização; em função disso, os televisores estavam voltados para o futebol; não foi na Globo, cujo processo de glamourização e penetração são inegáveis e afinal, como decorrência de tudo o que disse, o debate foi entendido como apenas... um programa a mais. Ou seja: "tanto faz ver como não ver, não se perde nada" - tal o descrédito que os políticos atingiram.

A realização de eleições a cada dois anos, quando se içam as bandeiras que prometem que o país se tornará uma messe, uma seara de grandes colheitas sociais, de forma geral o cidadão vê isso com desconfiança.

É comum se dizer "eles prometem isso sempre". "Eles" tornou-se uma maneira de se designar os políticos pois, no dia a dia, o povo sofre as filas e as consequências de um quadro social de desigualdade, cuja reversão a chamada classe política não consegue ou não quer fazer, apesar de prometer. Por isso, não se tem lá grandes motivos para alegria quando começam as campanhas eleitorais.

Falando assim, pareço ser um pregoeiro da desgraça destilando um niilismo envenenador de esperanças, confiança e luta por um futuro mais digno. Antes, defendo uma reformulação do pensar político, ética nos mandatos, respeito à cidadania.

Isso, contudo, só vem com o tempo e o trasladar das gerações. Trata-se de processo sócio-histórico complexo, um fluxo e contrafluxo político, uma medição de forças. Assim, as forças populares precisam e devem ter representantes efetivamente comprometidos com a questão das classes em presença, fazendo a opção pela maioria.

E é exatamente essa maioria, hoje iludida com programas de baixíssimo nível que deixou de ver o debate, por pensar que seria mais um programa de baixíssimo nível. E, saiba, essa indiferança interessa a muita gente.

Os debates: da ágora ao espetáculo no palco da TV

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Acabou seu tempo, candidato!
Emanoel Barreto

Iniciado o ciclo circense da política, com os debates e as aparições no horário gratuito da propaganda eleitoral, os candidatos virtualmente chegam às ruas. Debates são uma das formas de manifestação da nossa sociedade do espetáculo, onde um público adestrado à linguagem da TV se interessa por política como reality show sazonal.

De qualquer maneira, lhe resta algo sim de espaço de sociedade civil - muito tenuamente. O candidato expõe-se e, se tem realmente essência, consegue de alguma forma passá-la. Veja bem: eu disse "de alguma forma". Com isso indicio que essa essência é manifesta de forma incompleta, superficial. Como pode alguém mandar uma mensagem consistente, de formulação sintática coerente, se tem apenas dois minutos para fazê-lo?

De qualquer forma essa é a nossa realidade e temos de com ela conviver. Os debates têm algo de agonístico, são uma rememoração tardio-midiática da ágora. A questão é que em vez de se permitir o debate largo, debate em sua consistência de confronto de ideias argumentadas, o que se vê é um ritmo frenético de perguntas/respostas. Isso tira do debate sua condição mesma de debate para levá-lo à situação de um jogo de espertezas.

Cria-se no público a expectativa não de público em seu sentido de sociedade civil,  mas de torcedores. O cordão do encarnado contra o cordão azul, como tínhamos em nossos folguedos juninos. Esvazia-se o debate em favor do confronto, mesmo que num bate-boca de bom nível, aqui entendido como relação de divergência respeitosa.

Mas a campanha começou. E se é isso, com os debates, e se será isso também com o guia eleitoral, paciência. Nos debates o matraquear de frases, no guia eleitoral um elenco de promessas apresentadas como "compromissos" que todos sabem de antemão irrealizáveis.

Por trás de tudo uma realidade cruel, cuja superação histórica engloba a passagem de gerações. Todavia, o tabique ideológico oculto pelas promessas deve ser rasgado de cima a baixo, por quem tenha visão acima do senso comum.

No confronto de ontem vi um Serra discursivamente pálido, atacando questões pontuais como um suposto aparelhamento dos Correios pelo PT e falta de apoio às Apae. Pequena política, tática de marqueteiro escolado e que o ensina.

Dilma, apesar dos compromissos do PT com uma certa ala conservadora, pode e deve ser a pessoa a impedir que o PSDB reassuma e dê continuidade ao desmantelamento da máquina pública em favor dos interesses do capital.
Plínio surpreende midiaticamente, mas Dilma ganha em exposição protagonista
Emanoel Barreto

O primeiro debate entre os presidenciáveis teve baixo nível de audiência. Diz o JB ONline: "Com o primeiro debate entre os presidenciáveis, a Band atingiu um pico de audiência de 5,5 pontos, mantendo uma média de 1,8 a 1,9 pontos. Transmitindo a semifinal da Taça Libertadores da América entre São Paulo e Internacional, a Globo teve uma média de 36,9. A média da Record foi de 7,4, segundo levantamento Ibope."

A aparição de Plínio Arruda, do PSOL, contudo, se não chegou a obnubilar as figuras de Dilma e Serra, serviu para apresentá-lo, uma vez que, para expressiva maioria dos telespectadores, era um ilustre desconhecido. Entendo que é um homem honrado, mas o discurso radicalíssimo não conseguirá, estimo, atrair parcela de votos ponderável.

Quanto ao debate em si, creio que o interesse maior era quanto ao desempenho de Dilma. Saiu-se bem. Foi firme, incisiva, soube rebater os questionamentos. Ela foi a acossada, pressionada, buscada, alvejada.

E foi aí que seus adversários, especialmente Serra, erraram: a fuzilaria sobre Dilma terminou por dar-lhe mais tempo de exposição protagonista, o que é bem diverso da simples exposição temporal. Esse o detalhe de qualidade e que a beneficiou, especialmente porque conseguiu liberar-se de todos os questionamentos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Candidatos ao governo do RN debatem segunda na Fiern
Emanoel Barreto

A Tribuna do Norte e a Federação da Indústria do Rio Grande do Norte-Fiern realizam nesta segunda, a parti das 8h,  debate com candidatos ao governo do estado. É uma edição especial do programa Motores do Desenvolvimento, onde as duas instituições, enquanto participantes da sociedade civil, promovem debates sobre questões de interesse do RN.


O evento será conduzido pelo jornalista da Globo News Merval Pereira. Cada um dos três
candidatos irá responder a perguntas referentes aos sete temas dos Motores do
Desenvolvimento do RN já ocorridos até agora (Infraestrutura; Energia; Turismo;
Comércio e Serviços; Indústria: Empreendedorismo; Educação).

Trata-se de evento importante ao qual já confirmei presença.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A comovente história de Zezinho da Mooca

O que é não precisa ser dito que é
Emanoel Barreto

Leio no Estadão: Depois do filme “Lula, o filho do Brasil”, o presidenciável do PSDB, José Serra, ganha sua cinebiografia. No documentário “Retratos do Serra”, o tucano é apresentado como “Zezinho”, um cidadão humilde, nascido na Mooca, onde “os vizinhos eram pintores de parede, cobradores de bonde, garçons, operários, quitandeiros, sapateiros e barbeiros”.
Dirigido por Guilherme Coelho, filho de Ronaldo Cézar Coelho, amigo de Serra, o filme foi trabalhado inicialmente para ser um longa, mas acabou dividido em 12 episódios que estão disponíveis agora na internet no site Retratos do Serra.

O filme se propõe a apresentar a vida de Serra. Durante as gravações, a equipe teve acesso a reuniões no Palácio dos Bandeirantes, quando Serra ainda era governador, e em agendas privadas do tucano.


Ao falar sobre o projeto no site, o diretor disse que, como personagem, Serra é “um prato cheio”. “E tem esse lance de ele ser arisco, avesso à exposição desnecessária, ser notívago, escrever invejavelmente e achar que entende de cinema”, afirmou Coelho
.........


O QUE É NÃO PRECISA SER DITO QUE É: o aforismo é bastante claro em sua assertiva. Ou seja: o que é se apresenta por si só em sua condição fenomêmica. É e pronto. O inverso também é verdade - o que não é não precisa ser dito que não é, dada a visibilidade do que não é.


O problema é quando um ator político busca se apresentar como sendo o que não é ou foi. Ao que ficou lido acima, sobre os filmetes sobre Serra, o que se percebe é um trabalho de simulação e dissimulação.
 
Simulação ao se apresentar como o Zezinho da Mooca, numa rala tentativa de comparar seu passado ao passado de Lula. Dissimulação ao tentar com isso nublar sua condição de homem das elites, ligado a partido idem.
 
Se alguém pode escapar ao seu futuro, como Lula pôde escapar ao seu, livrando-se de uma previsível situação de excluído para se tornar um líder, ninguém poderá fazê-lo com relação a seu passado. No caso de Serra - passado recente, passado político e todos os seus periféricos ideológicos.
 
O passado de dificuldades, mesmo grandes, não o equiparam a Lula. Até porque histórias de vida são difíceis se não impossíveis de se mensurar uma em relação à outra.
 
O lamentável é que esses filmetes de Serra no Youtube sejam veiculados como uma solução de última hora, a tentativa de o fazer com raízes populares, cheiro de povo, brado na garganta, punho em riste. Não dá. E os marqueteiros de Serra sabem que não dá.

Arlete divulga carta à comunidade universitária

Recebo e divulgo carta aberta da professora Maria Arlete Duarte de Araújo (foto) candidata a reitor da UFRN, em que trata de assuntos de interesse da Universidade. Outra ou outras candidaturas que venham a se apresentar terão neste Coisas de Jornal espaço para apresentar suas propostas à discussão. Segue o texto:

Discutindo a UFRN
Reforma da Estrutura Organizacional: uma agenda para a UFRN

Maria Arlete Duarte de Araújo
Professora Titular - DEPAD/Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Candidata à Reitoria :”UM NOVO OLHAR SOBRE A UFRN”


Nos últimos tempos tem prosperado no âmbito da UFRN a idéia de que a reforma de sua estrutura organizacional é uma necessidade. Entre os argumentos apresentados emerge com muita força a idéia de que a figura do Departamento, considerado lócus do conhecimento, tem se mostrado incapaz de dar conta das exigências de interdisciplinaridade que o conhecimento impõe, que sua agenda é eminentemente burocrática e que ele não articula de forma correta com outros espaços organizacionais, a exemplo das coordenações de graduação e pós-graduação.


A solução que naturalmente surge de tal diagnóstico é o fim dos Departamentos. Espera-se dessa forma que o enxugamento da estrutura organizacional solucione os problemas citados.


Neste diagnóstico o que mais chama a atenção é a ausência de discussões sobre a estruturação do campo científico fora da universidade e como ele impacta na forma como o professor produz e socializa o conhecimento produzido. Essa estruturação demarca com muita nitidez os espaços nos quais o professor reafirma sua identidade profissional, articula redes, define sua trajetória acadêmica. E cada vez mais essa estruturação se apresenta de forma fragmentada – eventos, periódicos, comitês de pesquisa e de avaliação. De modo que naturalmente a vinculação do professor se faz em primeiro lugar com o seu campo de conhecimento.


Ora, se aceitarmos esse argumento, nos deparamos com as seguintes questões: O fim do Departamento modificaria a forma pela qual o professor se relaciona com a sua área especifica de conhecimento?; A interdisciplinaridade entre diferentes áreas do conhecimento se daria pelo desaparecimento do Departamento?; A ausência de articulação entre diferentes espaços organizacionais – departamentos e coordenações não se explicaria, talvez, pela ausência de uma visão compartilhada sobre a condução de uma determinada área do conhecimento pelos diferentes atores envolvidos nessa construção?


Por outro lado, a discussão sobre a reforma da estrutura organizacional não deve ficar restrita à extinção e/ou manutenção dos Departamentos. Deve-se produzir também um debate no interior da instituição dos impactos que novos arranjos organizacionais – institutos, unidades acadêmicas especializadas, escolas, faculdades – estão produzindo na estrutura organizacional em termos de novas relações de poder, distribuição de recursos, adoção de novos procedimentos, alocação de pessoas e tecnologias.


A arquitetura organizacional vem sendo modificada sem que velhos problemas sejam resolvidos e, em especial, não se percebe que ela esteja sendo configurada em função de uma estratégia claramente definida. Do mesmo modo, não é visível a adoção de estruturas mais flexíveis para lidar com a diversidade de problemas que exigem criatividade para o seu gerenciamento.


Assim a discussão sobre a estrutura atual e a possibilidade de novos formatos organizacionais deve ocupar espaço central na agenda institucional, inclusive para abrigar novas iniciativas já em discussão no âmbito da universidade, a exemplo do Instituto de Química, da Unidade Acadêmica Especializada de Odontologia e das Faculdades de Medicina e Arquitetura.


Quando a estrutura não consegue mais responder às exigências colocadas pela função, há necessidade de repensar os arranjos organizacionais. No entanto, deve preceder à revisão da estrutura, a discussão do projeto formativo da UFRN. Igualmente, faz-se necessário pensar a operacionalidade da nova estrutura – as relações com as demais unidades, orçamento, vinculação hierárquica, lotação de professores, relacionamento com a comunidade, espaço físico e outras questões. Uma nova estrutura deve refletir a preocupação com a agilidade dos processos, com o trabalho em equipe, com a mobilidade dos professores, com o desenvolvimento do ensino e da pesquisa interdisciplinares, com a flexibilização curricular, com maior liberdade e autonomia.


Não há respostas prontas para essa nova configuração organizacional. É necessário assim iniciar um amplo processo de discussão para analisar a pertinência ou não da manutenção da estrutura departamental e de um novo formato organizacional para a UFRN. Enfrentar essa discussão é lançar um novo olhar sobre a arquitetura organizacional, com o objetivo de reconfigurar a atual estrutura.



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Até que o circo pegue fogo
Emanoel Bareto

Ao tomar conhecimento da candidatura de Tiririca a deputado federal - o que não estranhei, somente lamentei - veio-me uma dúvida: mas não é a Câmara, exatamente, a Casa do Povo? E em assim sendo não deveria eu regozijar-me, pois não é ele, exatamente, povo?

Povo na mais objetiva acepção da palavra em seu sentido de alguém nascido, vivido e vivificador do cotidiano, explítico ator do senso comum, copartícipe do ato diário do experimentar o que seja o brasileiro?, o brasileiro das ruas, becos, filas, dores e medos desse ser brasileiro?

Sim, ele o é. Mas, então, porque eu e outros deploramos essa presença - essa e outras, como o ex-jogador Bebeto - inscritos formalmente à cena público-parlamentar? Haveria aí um contrassenso, um paradoxo?

Na verdade, não. O problema, a questão, está no fato de que Tiririca, Bebeto, Romário, Agnaldo Timóteo - que é vereador em S. Paulo - e quejandos, assomam ao palco político-partidário exatamente em função do que ele tem de palco - em seu sentido de proscênio, de espetáculo.

Estão ali literalmente como atores de seus próprios papéis midiáticos, arrimando-se espertamente da política para nutrir seus rendimentos pessoais. E o fazem em função de que a política, a que se pratica no Brasil, permite a sua assunção enquanto participantes de uma mascarada.

E assim eles se candidatam e têm, certamente têm, possibilidades de embolsar um mandato, pelo menos um, ganhando um agrado no fim do mês. E que agrado. E assim somos e assim vivemos. No Brasil, senhoras e senhores, sempre tem marmelada. Até que, um dia, o circo pegue fogo.

Da minha ficção para a realidade do jornal

Aldair Dantas
Há poucos dias publiquei texto que tinha como persongem artífice gráfico, um velho homem que mantinha a seu lado antigos instrumentos de composição e impressão. Hoje leio - e transcrevo - da Tribuna do Norte matéria em que personagem vivo em muito se parece àquele que criei. Voltarei ao meu personagem, em outras crônicas. Coisas da vida, coisas da ficção. (EB)

Artífice do tempo



 Maria Betânia Monteiro - repórter


O paraibano, radicado em Natal, Antônio José Bandeira é um daqueles homens simples e cheios de mistério; mas um deles, a sua arte revela: o amor pelos livros. Gráfico no mínimo há 60 anos, Seu Bandeira diz que pediu à mãe para matriculá-lo na escola porque queria entender as coisas que via. Trabalhando de dia e estudando à noite, ele não pôde se dedicar aos estudos por muito tempo, mas acabou encontrando nas palavras impressas o seu sustento e a sua longevidade.


Há 60 anos no ramo gráfico, Antônio José Bandeira mantém viva a arte de encadernar livros e de cunhar títulos e textos com tipos móveisHoje aos 83 anos, aposentado, Seu Bandeira arrastou para sua casa um pouco do que encontrou em estabelecimentos comerciais e empresas públicas: a amizade, as maquinas de corte e impressão, os tipos gráficos – milhares deles – e a arte de encadernar livros.

Com uma clientela cativa, Seu Bandeira recebe encomendas diárias de jornais da cidade, como a Tribuna do Norte, de professores, e de donos de bibliotecas. Um deles, um médico, que preferiu não identificar, já teve quatro mil livros encadernados pelo artesão. “Um livro encadernado por mim dura toda uma vida”, disse Seu Bandeira, que recebeu a reportagem do VIVER em sua casa, na manhã de ontem.

Vestindo uma camisa branca da Bahia, Seu Bandeira foi logo dizendo: “É da Bahia, mas foi comprada aqui mesmo, não tem problema não”. A conversa aconteceu na sala da casa do encadernador, que fica numa das ruelas antigas do bairro das Rocas. Dividindo o espaço com uma guilhotina mecânica enorme, uma prensa e uma máquina de gravar, todas alemãs e com no mínimo meio século de uso, ele falou sobre o seu trabalho e muito pouco sobre sua vida.

Com trabalho, ele disse ter conseguido conquistar quase tudo o que sempre sonhou; encaminhou seus cinco filhos homens e suas duas filhas mulheres na vida e comemora o fato de ter a comida garantida todos os dias. “Hoje não quero saber o que os meus filhos fazem. Quero que eles olhem para trás e vejam o que eu fiz.” Mantendo uma rotina pesada, Seu Bandeira acorda às 5h todos os dias e percorre a rua onde mora, para tomar café com a filha. Pouco depois está de volta, dando início ao seu trabalho.


Ele corta os papéis, folhas avulsas, ou livros inteiros. Depois, faz o agrupamento das páginas, costura manualmente com linha de náilon, num belíssimo trabalho artesanal e sela com cola branca. Depois de deixar secar, Seu Bandeira alinha a brochura com a guilhotina e passa para a segunda etapa. Com papelão e um tipo especial de papel, ele faz a capa e a finaliza com uma faixa de brim no dorso, onde são impressos, com tipos móveis, os dados do livro. O encadernador fala que para compor as frases que serão imprensas no dorso, ele leva cerca de trinta minutos.


O trabalho é minucioso. Afinal, são 25 tipos de fontes, sendo cada uma delas composta de diversos tamanhos. As pecinhas de chumbo ficam distribuídas em diversas gavetas, organizadas no corredor da casa de Seu Bandeira. “Mas eu não reclamo de nada disso não, pois se inventassem um computador para encadernar eu já estava vendendo picolé na praia.”

Apesar de todo o trabalho, Seu Bandeira diz estar satisfeito com a profissão. “Aqui a gente lucra pouco. Nós fazemos mesmo é por paixão”, diz ele, que usou o plural para se referir aos filhos, que no final do expediente (ou mesmo no intervalo) se unem a ele. “Ensinei tudo aos meus filhos e gostaria que eles ensinassem aos filhos deles também.”

Um de seus filhos, Francisco Bandeira, chegou ao local de trabalho na hora em que o pai havia feito, mais uma vez, o mesmo pedido à reportagem: “Não publica isso não.” Ele estava falando de uma das fases de sua vida, quando teve que comer mingau de jabá com farinha fina, para poder sobreviver.

O fato não envergonha Seu Bandeira. O que ele não quer é revelar os detalhes sobre sua vida. Todas as informações preciosas ele quer guardar para compor sua autobiografia. Uma forma de colocar em prática o sonho de ser jornalista.

Sem detalhes

Aguardando que esta repórter fechasse o caderno e guardasse a caneta, Seu Bandeira começou a revelar detalhes de sua vida, depois de ter feito um esforço enorme para escondê-los durante a entrevista. Ele falou de como nasceu, como chegou a Natal, quais trabalhos realizou antes de ser gráfico, quem conheceu, quando se casou... Ele, porém, pediu sigilo total sobre o assunto.

Mas o que seu Bandeira não sabia é que debaixo das lentes pesadas de seus óculos escapavam várias outras informações preciosas, como a sua vivacidade, seu empreendedorismo, a saudade pelo tempo que se foi, o sofrimento da perda de um filho e a frustração de não ter estudado tanto quando desejou.


O encadernador fez apenas um pedido: que nesta matéria fosse citado o nome de Alfredo Lira, dono da Tipografia Lira, local onde aprendeu quase tudo o que sabe. Segundo ele, a outra parte da aprendizagem veio como consequência. Seu Bandeira trabalhou no jornal católico “A Ordem”, na Editora da UFRN, e, assim como os filhos, no final do expediente ia fazer o que mais gostava: aprender.

“Eu ia quase todas as noites à Tribuna do Norte. Lá, aprendi a fazer os títulos das reportagens e amigos”, disse ele, que há mais de 30 anos tem a TN como cliente. Frustrações na vida foram três, mas ele só permitiu falar de uma: a de não ter sido jornalista. As outras duas provavelmente estarão em sua biografia, que não tem data para ser publicada.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Rosalba esconde que dá apoio a Serra: teme perder votos de lulistas

http://www.google.com.br/imgres?

Aonde está Serra?
Emanoel Barreto

Leio na coluna de Monica Bergamo, Folha:

Wally 1 De todos os sumiços anotados pela cúpula da campanha de José Serra, nenhum causa mais espécie que o de Arthur Virgílio (PSDB-AM). O senador, que na tentativa de viabilizar sua reeleição aliou-se ao lulista Alfredo Nascimento (PR), rifou a campanha presidencial tucana no Amazonas.


Wally 2 Outra praça a preocupar o comando serrista é o Rio Grande do Norte. Ali a oposição tem a líder nas pesquisas, Rosalba Ciarlini (DEM), mas a campanha esconde o candidato presidencial. Trata-se de conselho da marquetagem para não contrariar o eleitorado lulista.
......
A CAMPANHA DE Serra já deve ter detectado que ele será derrotada. Quando começar a fase do circo, ou seja, dos debates na TV e do guia eleitoral, isso deverá ficar, paulatinamente, mais explícito.
 
Serra sabe que, por um desses fenômenos da comunicação de massa, ele não enfrenta Dilma, mas está às voltas com um mito: Lula. Mais que isso, deu de cara com uma situação de estabilidade econômica que, por si só, funciona como mensagem favorável à figura histórica de Lula, repercutindo favoravelmente a Dilma.
 
O registro de Bergamo a respeito do senador Virgílio é exemplo palmar: onde está o guardião da candidatua oposicionista, que tão bravamente acusa do governo no Senado? Está, segundo a jornalista, lastreando ninguém menos que um petista, abrindo os flancos para o crescimento de Dilma.
 
Aqui no Rio Grande do Norte, a mesma coisa. Ocorre com Serra uma espécie de efeito teflon: ele é repelido, não está colado à candidatura Rosalba Ciarlini ao governo do estado.
 
Todo candidato oposicionista precisa de um discurso que desconstrua o adversário. Está difícil desconstruir a imagem de Lula, agendada e armazenada no imaginário coletivo como um bom presidente.
 
O resto será o processo natural das coisas.
PS: para quem não lembra, Wally é um personagem de um jogo de quebra-cabeça. O seu criador o esconde em meio a uma multidão e ganha quem descobrir aonde ele está.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A misericórdia do carrasco

Que houve?
Emanoel Barreto

Houve um conluio de ladrões e tudo se fez calmo.
Que é próprio dos ladrões deixar a calma e o nada após o que fizeram.

Houve uma opereta de lobos em meio ao vento frio-noite.
Que é dos lobos varar o escuro com suas vozes de terror.

E afinal houve um mestre carrasco.
Que era misericordoso, pois rápido nos golpes de decepar cabeças;

A beleza bruta e seminua

Seminua, a vendedora do mercado de Bali é beleza em estado bruto. Um espécime humano tão intenso nascido do mesmo húmus de onde brotou o homem descarnado. A foto é de Cartier-Bresson, em seu livro O momento decisivo.

Heil, bomba atômica

Mete bronca
Emanoel Barreto

O anúncio de que os EUA têm "sobre a mesa" estudos bélicos, projetos táticos visando atacar o Irã caso o país persista em constuir uma bomba atômica, revela uma paradoxal realidade política: Os Estados Unidos "têm o direito" de manter um brutal arsenal nuclear, com capacidade literal de destruir o mundo; quando ao Irã, uma só bomba é inaceitável porque está "em mãos erradas".

Resumindo: se forem os Estados Unidos o povo matador, tudo certo. Se for qualquer outro povo, inaceitável.

O raciocínio até aqui desenvolvido pode sugerir que defendo o Irã. Não, não defendo. Deploro a política belicista estadunidense. Como deploro o regime obscurantista da teocracia iraniana.

Mas deploro, acima de tudo, que a criatura humana continue ainda nos tempos de hoje a decidir suas pendências à base de brutalidade e da estupidez. Algo ainda semelhante ao procedimento das hordas ancestrais da humanidade, quando dois grupos disputavam um mesmo manancial, um campo, uma caverna.

Essa a ideia que preside os comportamentos políticos  mundiais: a sucumbência da diplomacia ao canhão, a queda do diálogo em proveito dos fabricantes de armas, a morte do outro por ser "o estrangeiro", o distante, o diferente, aquele que quer comer, sem repartir, a frutinha que está no topo de uma árvore.