sábado, 4 de abril de 2009


Os terrores noturnos e a flecha que voa de dia

Emanoel Barreto

A morte do jornalista e ex-deputado federal Márcio Moreira Alves, uma das figuras icônicas da minha geração, a geração de 1968, transforma aos poucos a história ainda viva em seus personagens em lembrança. Quer dizer: história será sempre história; para mim é que é lembrança, vira saudade.

Pessoas e seus gestos largos de coragem começam a desaparecer. Logo para nós, uma geração que não acreditava em ninguém que tivesse mais de trinta anos. Estávamos todos liberados para viver a eterna juventude. Tolos e sublimes, como éramos.

Ainda me lembro das passeatas de 68, maio de 68. Um movimento que começou em Paris sob a liderança de um jovem, Daniel Cohen Bendit, Danny o Vermelho, espalhou-se pela Europa, ganhou os campi norte-americanos e explodiu como uma bomba de girassóis insurretos na América do Sul, Brasil. Natal, por consequência.

O lema: "Seja realista; peça o impossível." De alguma forma continuo pensando assim. O impossível será sempre a minha meta. Mesmo caminhando entre os terrores noturnos e sob as flechas que voam de dia.

(Na foto, Márcio faz seu tremendo discurso, em que conclama as mães a não deixar que seus filhos fossem assistir ao desfile de 7 de Setembro, lembrando que os militares que então desfilariam eram os mesmos que prendiam aqueles meninos e meninas e davam sustentação à ditadura).

sexta-feira, 3 de abril de 2009


Desejo de matar
Emanoel Barreto

Escorado por um desespero sem fim, um homem invadiu um prédio nos Estados Unidos e matou 13 pessoas. Está na net, nas coisas de jornal de todo o mundo. Não conheço qualquer estudo a respeito do motivo ou motivos para tais atos. Mas, qualquer pessoa medianamente informada, sabe que nos EUA tais comportamentos são uma espécie de recidiva social: algo doentio que, num ciclo de sazonalidade instável, acontece naquele país. E aparentemente só naquele país.

O que faz alguém, municiado por um incontrolável desejo de matar, atirar-se a essa aventura insana que termina com o agressor também morto, muitas vezes por suicídio? Estranho mundo esse nosso, estranho país aquele. Suponho que haja estudos sociológicos buscando esclarecer tais acontecimentos. Enquanto isso, fico supondo: é parte da condição humana chamar a atenção para si quando em estado de angústia. No caso, esse desespero é como se fora um grito, a denúncia desequilibrada de uma solidão intensa, tão intensa que precisa da morte, do vazio, do nada, para se completar. E, aí sim, ser solidão em estado puro.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Foto: Miguel Claro
Silêncios, sombras
Emanoel Barreto

Sombras solúveis irrompem lentamente
e se misturam plenas em si mesmas.

Em silêncio nós somos liquefeitos
e seguimos os passos do não-vir.

terça-feira, 31 de março de 2009

Ouvirus do Ipiranga às margens plácidas...
Emanoel Barreto
Não vamos falar do 31 de março. Não vale a pena. O espírito do mal que foi feito está vagando na treva amarga do ostracismo da História. Hoje, mais a vale a pena falar da ameaça que, dizem as coisas de net, está por desabar amanhã, Dia da Mentira. Um vírus que deverá ter sua força maliciosa exponencialmente aumentada, podendo atacar milhões de computadores em todo o mundo.

O mal de 1964 e o mal dos vírus de computadores têm algo em comum: a malignidade humana em suas manifestações mais nefastas. O primeiro no negror do medo do comunismo, o outro na resplendente tela do computador. No fundo, ambos vindos do mesmo vértice: a necessidade de poder imtimidar e de alguma forma dominar.

Então, cuidado com amanhã, para que a ditadura do vírus não pegue seu computador, como fizeram com nosso povo em primeiro de abril de 64.
PS: Terminei falando em 64. Mil perdões.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Dona da Daslu: poderosa, heim?
Emanoel Barreto

A Folha conta: A condenação de quase cem anos de prisão imposta a Eliana Tranchesi, dona da Daslu, e a seu irmão Antônio Carlos Piva de Albuquerque é um fato isolado ou pode ser o início de uma tendência da Justiça para punir quem é acusado de fugir do pagamento de tributos? Para advogados criminalistas, tributaristas e ex-dirigentes da Receita Federal, a pena determinada para Tranchesi e seu irmão - os dois conseguiram liminares da Justiça e já estão em liberdade - representa decisão isolada de uma juíza (Maria Isabel do Prado, da 2ª Vara Federal em Guarulhos) e não deve ser exemplo para outras sentenças que envolvam crimes de sonegação fiscal.

Detalhe: Para o ex-secretário da Receita Federal e consultor tributário Everardo Maciel, a sentença dada à dona da Daslu é "completamente desproporcional". "Não conheço o caso específico, mas sinto que existe uma espécie de má vontade e indisposição contra pessoas que têm boa situação financeira. A condição financeira não deve ser critério para proteger, muito menos para perseguir."

... A sra. Eliana Tranchesi e seu irmão são criminosos. Se foram condenados, são criminosos. E criminosos de alta periculosidade. São detentores de periculosidade social. O que quero dizer com isto? Simples: fazem um mal coletivo. Sonegam impostos, quer dizer, roubam dinheiro que deveria ser encaminhado aos cofres públicos, por conseguinte, dinheiro público, para uso a favor do público.

Com isso, configuram-se como indivíduos de periculosidade. Cavilosos, juristas entrevistados pela Folha minimizam a ação dos dois, alegando que não houve crime de sangue. Manipulam o repúdio histórico e ancestral ao provavelmente mais antigo delito do mundo: o homicídio. Com como não mataram, mas "apenas" se apoderaram de dinheiro público praticando, digamos assim, crimes delicados acham que não devem ser punidos. Maria Antonieta também, pensava assim, não? Perdeu a cabeça.

Detalhe Final: os dois irmãos já estão livres. Ganharam liminar e podem voltar às suas atividades.