Aécio deitou-se espertamente em Rede esplêndida
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O esperado pronunciamento de Marina
perdeu a oportunidade de ser historicamente dramático para assumir a condição
de ato patético. Teria acumulado poderosa carga retórica caso inserido ao processo
histórico poucas horas após o primeiro turno. Isso teria revelado decisão,
ousadia, capacidade de assumir riscos em meio ao fragor dos acontecimentos.
O que aconteceu, todavia, foi
uma demorada, longuíssima espera, tomando-se como parâmetro o tempo eleitoral e
suas urgências. Ocorreu o seguinte: o prazo se escoava e o candidato tucano não
tinha tempo a perder aguardando que a morena Marina terminasse de se pintar. Enquanto
ela se maquiava no camarim político, seu desejado pronunciamento distanciava-se
do instante preciso e ela desperdiçava o momento psicossocial perfeito para assumir,
até mesmo com glamour midiático, a atitude vigorosa de valquíria amazônica.
Não tomo como referência o ato
em si, o gesto teatral que também é marca da política desde as ágoras
atenienses. Fixo como referente a firmeza do ator político, coragem pessoal para
dizer “eu sou assim e quem quiser que me aceite assim”. Faltou a Marina essa
decisão rápida, essa robustez de rocha.
Suas palavras, uma semana após
a eleição, funcionaram muito mais como um “dê licença”, para entrar na festa
tucana que um “cheguei e estou aqui”. Sua demora em tomar partido pareceu muito
mais relutância que reflexão, incerteza em vez de meditação, claudicância em
lugar de marco rijo cravado no chão instável do território político.
Primeiro Marina perdeu, até taticamente,
a oportunidade de colocar-se como fiel da balança. Depois, deixou escapulir a
chance de apresentar-se como figura impávida, decidida e decisiva, aliada ideal
para o Dia D de Aécio Neves. Perdeu a chance porque não é nem uma coisa nem
outra. Como demorou demais assumiu papel no elenco de apoio, ajudante de remo
na canoa tucana.
Marina, ao anunciar a sucumbência,
lembrou a carta “Juntos pela Democracia, pela Inclusão Social e pelo
Desenvolvimento Sustentável”, apresentada por Aécio, na qual estão elencados propósitos
que, aparentemente, atenderiam os desejos de um ambientalista; no caso ela
mesma. Marina os enunciou e aplaudiu.
Todavia, no intricado ambiente ideológico-comunicacional
o que se deu foi o seguinte: não foi Aécio quem aderiu a Marina; foi ela quem a
ele se juntou, percebe? Ele, não ela, apresentou uma carta de princípios. Ao ler
os propósitos de Aécio ela nada mais fez que isso mesmo: ler os propósitos de
Aécio. O documento é dele. Ela apenas acompanha
os ditames aecistas. Ele é o protagonista, ela o apoia. Não é ator antagonista.
Como não tem bancada ou partido sequer poderá esboçar qualquer cobrança
proximamente, uma vez que não tem poder de pressão.
Quanto a Aécio, caso eleito e vindo
a realizar alguma das metas de conciliar desenvolvimento com sustentabilidade, poderá
dizer que cumpre com seu próprio programa. Ela unicamente o secundou.
O político mineiro,
mineiramente, disse coisas que a atrairiam e ela deixou-se atrair. Para ele,
Marina agora é um trunfo. Para ela, Aécio tornou-se algo como um líder. E tudo
o que a pretendida Rede Sustentabilidade poderia anunciar no futuro como fruto
de sua essência agora é propriedade política do PSDB, devidamente registrada no
cartório da história. Aécio puxou a Tancredo. Sabido, foi paciente e afinal deitou-se espertamente em
Rede esplêndida.