sexta-feira, 23 de março de 2012

Chico Anísio: saudade em superlativo absoluto sintético

Não, não morreu apenas um homem, no sentido de um único homem, especial, inteiro, irrepetível. Com ele morreram muitos. Chico era muitos. Seu talento abrigava, como uma vasta casa sertaneja, aquelas de alpendrada larga, a vida de muitos personagens, todos vivos, vivíssimos, em sua verve vivacíssima - isso mesmo, superlativo absoluto sintético.
Folha de S. Paulo

Então, Chico era isso: superlativo absoluto sintético. Reunia em si coisa muita, uma brasilidade inteira, um grande samba exaltação do que seja ser brasileiro; brasileiro, esse modo de vida, estilo de ser: intenso e forte, pianíssimo em cada gargalhada. 

Vá. E onde quer que esteja, incorpore  agora o novo personagem: a saudade, torne-se saudade, seja saudade. Mas, veja só: ser saudade é coisa difícil, para você, não? Digo isso porque saudade, esse substantivo feminino fusco e pardo, cheio de meios tons e desvãos de cinza, sempre tendente à tristeza, tem o dom da despedida e isso não combina com o seu humor.

Mas, enfim, é isso: o Brasil está meio sem graça. Essa a grande realidade. Não tem graça nenhuma perder Chico Anísio. E o pior, Chico, é que o Brasil é uma piada, na verdade, uma grande piada. E você, como ninguém, soube nos fazer ser essa piada. E rir de nós mesmo. E o salário mínimo, ó....

Encerrando, digo: "Adeus, Chico. No mínimo, você era o máximo." 
E como no máximo meu texto é mínimo para dizer o que penso, penso que é melhor não pensar que perdemos o que a gente não devia, não podia perder: você e todos os personagens que moravam em você.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Dia mundial da água
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quarta-feira, 21 de março de 2012


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Sem mácula, apesar da Manxa

Leio no Novo Jornal a morte de Manxa, escultor e entalhador. Morreu aos 64 anos, problemas renais, em pleno ostracismo. Até que ponto as atitudes de esbanjamento do artista o levaram à distância de um sítio no interior, onde cultivava e vendia hortaliças, e daí ao esquecimento, e até que ponto quem é muito grande não deve viver com gente pequena, não saberia fazer a diferença, uma vez que com ele não convivia.


Mas, certa tarde, em Ponta Negra, num alpendre amigo, conversamos longamente. Revelava seu amor à arquitetura e às imagens magistrais que criava. Tinha admiração por Le Corbusier. Era encantado com o que suas mãos produziam.

Ontem, na Reitoria da UFRN, olhava sua magistral  - e monumental - escultura Guernica Nordestina, espalhada para cima e para os lados em frente em espelho d'água. Hoje, de alguma forma sinto saudade.

terça-feira, 20 de março de 2012

Fórum de Professores quer readmissão
de docente afastado da FaCásper

A diretoria do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) manifesta, neste documento, sua insatisfação pública com a recente demissão do professor Edson Flosi da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Jornalista com décadas de experiência profissional, Flosi trabalhava no Curso de Jornalismo da Instituição havia 16 anos e, mesmo doente e afastado para tratamento médico, foi demitido da Escola.

Independentemente da motivação oficial que tenha levado à demissão do professor, a diretoria do FNPJ defende e solicita que a direção da FaCasper reveja tal decisão e mantenha o professor em seu quadro profissional. A educação superior não pode ser tratada como simples mercadoria, nem seus profissionais podem ser considerados meras peças aleatoriamente descartáveis.

A manutenção do afastamento do professor Flosi constituiria-se num mau exemplo para as demais instituições de ensino superior, que poderiam se sentir desobrigadas dos cuidados humanos e éticos no tratamento de situações semelhantes. O peso e a tradição da Faculdade Cásper Líbero, nesse caso, estariam colocados em prol de uma péssima causa. Para o bem do professor e da preservação do nome da própria Faculdade, torna-se indispensável, num primeiro momento, o reconhecimento do equívoco e da gravidade do ato.

A justificativa, além da solidariedade humana que qualquer pessoa tem direito em caso de doença e quando precisa de tratamento médico, refere-se ao fato de a Faculdade Cásper ser a mais antiga instituição universitária do País a ofertar Curso de Jornalismo (desde1947). E, portanto, era de esperar, no mínimo, que conseguisse manter o respeito humano e profissional a seu quadro docente.

A direção do FNPJ reforça, aqui, seu apoio à iniciativa de manifestação estudantil, realizada desde a sexta-feira (16/03/2012), contra a demissão do professor Flosi. É preciso, mesmo, que outras entidades e membros da comunidade acadêmica venham a público solicitar a imediata revisão de tal decisão administrativa. Afinal, tamanha injustiça é inaceitável em qualquer momento ou local e, portanto, estranha o fato de que a diretoria da FaCásper – com um histórico de prestígio na manutenção de um respeitado Curso de graduação em Jornalismo – tome tal atitude, que foge ao respeito que tal instituição registra, ao longo das últimas seis décadas. Uma ação impensada de gestor não pode colocar em risco a imagem de uma Fundação que mantém o mais antigo Curso de Jornalismo do Brasil e da América Latina.

Por isso mesmo, a diretoria do Fórum de Professores de Jornalismo (FNPJ) faz, aqui, um apelo público em defesa da qualidade do ensino universitário, que não se faz apenas com estrutura física, mas também com respeito humano, solidariedade e respeito profissional. E, neste momento, tal gesto pode se expressar na imediata readmissão do professor Edson Flosi.


Diretoria do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ)
Gestão Em Defesa da Formação Jornalística (2010-2012)


Brasília/DF, 20 de Março de 2012

domingo, 18 de março de 2012

Memorial do Guerrilheiro Glênio Sá - Cidadão Natalense
 Walter Medeiros*

Último dia do ano de 1999. Uma jovem repórter percorre os arredores da Torre de TV de Brasília. Olhar atento, ela observa cada pessoa, dos turistas aos hippyes, principalmente olhando para os seus braços esquerdos e mãos direitas. Procurava alguém que tivesse um cordão amarrado no braço esquerdo e uma Bíblia na mão direita. Aproximava-se da meia-noite. Em menos de uma hora chegaria o ano 2000, que tanto trabalho deu para entenderem tratar-se do último ano do Século XX e não o início do novo século. Ela procurava não dar na vista, mas olhava para todos que encontrava, preocupada em não deixar de enxergar ninguém. Se aquela pessoa que procurava estivesse no local ela não poderia deixar de localizá-la. 

O frio era grande, mas ela era acostumada com aquelas temperaturas do cerrado e sempre saía de casa com o agasalho certo; não teria nenhum problema. Não tinha perigo de deixar de ver a pessoa que procurava, se ela estivesse no local, pois ela conhecia cada canto da torre. Estava acostumada a fazer reportagens e visitas ao local, às vezes até para almoçar no seu restaurante. Ou mesmo para levar amigos de outros estados a fazerem compras na tradicional feirinha do local. Havia uma ansiedade muito grande, pois o encontro com aquela pessoa poderia ser emocionante. Ela queria saber aonde e como teria sido a vida da outra pessoa nos últimos 26 anos. 

A ansiedade aumentava na medida em que aproximava-se da meia-noite. Seria a passagem  do ano e início do reveillon de Brasília. Através de um pequeno televisor a pilha, ela vira de relance festejos da chegada do ano em outras partes do mundo. Na solidão de sua missão jornalística, via a beleza dos fogos de artifício iluminando o céu da sua amada cidade. Correu do seu rosto uma lágrima. Era a emoção da chegada do ano 2000, a frustração por não ter encontrado a pessoa que esperava e o calor anônimo das pessoas que a cumprimentavam e desejavam “Feliz Ano Novo!” e “Feliz Ano 2000!”. Não encontrou o homem do cordão no braço e a Bíblia na mão. Mesmo assim aproveitou aquele ambiente que viu e juntou dados para uma matéria, na qual contaria o que tinha ido fazer na Torre de TV naquela hora e revelaria para seus leitores tudo que sabia a respeito do homem que fora esperar.  

A imprensa nacional atentou para o encontro marcado por Glênio Sá, ex-guerrilheiro do Araguaia, com um ex-companheiro de cela. Eles combinaram que passariam o réveillon juntos na Torre de TV de Brasília. Um jornal da cidade registrou a história em grande reportagem com a chamada: “Torre de TV: local em que dois ex-presos do regime militar marcaram um encontro 25 anos atrás para comemorar a liberdade”.  Glênio sobreviveu ao regime militar, sem dedurar ninguém, mas não pôde contar ao amigo sobre a nova etapa da sua vida, quando reestruturou o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em Natal, casou-se, teve um casal de filhos, acreditava na revolução. Não conseguiu encontrar o amigo para falar de coisas boas. Seus contatos resumiram-se ao período da prisão, havia tantos anos.
Enquanto Glênio estava preso por motivos políticos, o outro fora parar no Pelotão de Investigações Criminais (PIC), no Setor Militar Urbano acusado de desviar armas do Exército. Era um recruta, preso num cela vizinha. Ninguém sabia o seu nome. Constava que era paranaense e fazia contato com o vizinho de cela, apavorado com os gritos vindos das sessões de tortura. A Torre de TV era a única vista externa que os dois tinham a partir da prisão. Eles subiam numa pia para contemplá-la, enquanto sonhavam com a liberdade. 

A forma de se identificarem depois de tantos anos seria usar um cordão amarrado no braço esquerdo e conduzir uma Bíblia na mão direita. Mesmo Glênio tendo vivido fora de atividades religiosas, demonstrava grande respeito pelas Igrejas e o uso da Bíblia no encontro não seria totalmente despropositado, pois o seu amigo era evangélico.  Todos estavam atentos no dia. Mas Glênio não poderia estar lá. Seu amigo também não foi ao encontro. Talvez jamais saibamos porquê. A jornalista lançou um olhar no infinito, para onde mandava em pensamento suas homenagens a Glênio e dava por encerrada a busca pelo encontro que o tempo e a vida desfizeram.
*Jornalista