São desordeiros, mas nossos
são amigos, né?
Leio na
Tribuna do Norte.
“A
madrugada desta quinta-feira (26) foi de tensão no bairro Ponta Negra, próximo à
casa de shows Rastapé. Dois homens, em uma caminhonete, bateram em três veículos,
discutiram com populares, sacaram armas e tentaram fugir, mas acabaram detidos
por fuzileiros navais que fazem o patrulhamento ostensivo nas ruas de Natal. Os
suspeitos dos delitos são o diretor e o vice-diretor da Penitenciária Estadual
de Parnamirim (PEP), na grande Natal, respectivamente, Adailton Pessoa de
Oliveira, e Jairo Feliciano da Silva.
“A
Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (Sejuc) informou que aguardará o resultado
das investigações para tomar as medidas cabíveis, mas que, enquanto isso, os
diretores permanecem em seus respectivos cargos.”
Foi lamentável. Não apenas
pela desordem em si, quando estava envolvida viatura oficial; não somente pelo
comportamento incompatível com a condição de autoridades – e autoridades com
poder de polícia – mas especialmente pelo fato de que, apesar de tudo, a
direção da Sejuc de alguma forma dá cobertura aos dois desordeiros.
Flagrados
em atitude arruaceira, os dois, até mesmo por uma questão de bom senso,
deveriam ter sido afastados dos cargos.
Revelaria
isenção e equilíbrio por parte da Secretaria. Como parece-me que os atos de
desordem são inequívocos, deveriam, após concluídas as investigações, ser
demitidos a bem do serviço público.
Pode-se
notar que houve acontecimentos negativos convergentes: uso indevido de viatura
oficial, embriaguez ao volante, grave ameaça com o uso de armas de grosso
calibre, fuga de local onde houvera a prática de delito, insubordinação às
autoridades quando o motorista recusou-se ao teste do etilômetro.
Para completar,
temos o que sugere atitude de condescendência da Secretaria com os envolvidos
na desordem.
Como pano
de fundo de tudo isso a velha e incrustada cultura nacional de proteção aos
amigos, mesmo que sejam tipos que se utilizam do cargo para obter vantagens
indevidas.
Lamentável.
E, pelo visto, terminadas as apurações, ambos serão liberados e continuarão a
dirigir a penitenciária. Certos de que, mesmo cometendo, digamos assim,
deslizes, serão agraciados, acolhidos em compreensivo e afetuoso abraço.
Literalmente
terão “a little help from my friends”, uma pequena ajuda dos amigos, em bom português.
Só vejo uma falha na matéria da Tribuna: não diz o nome da autoridade que
protegeu os dois trelosos diretores da penitenciária de Parnamirim.