sábado, 10 de dezembro de 2016

Brasil: a tragédia escrita a quente



Temer precisa de um cavalo;
parece que vai ganhar um burro

A lista que você vê na primeira página de O Globo e Correio Braziliense é suficientemente esclarecedora da potência concentrada nessa nova fase da Lava Jato. 

(Sim, Lula também tem que aparecer; faz parte do figurino de mídia. É que o PT também andou pisando na bola, mesmo não se provando nada contra Lula.)

Mas, como temia o sistema no poder, o pantanal político chega com suas ondas ao palácio do Planalto. As ondas têm lama e acusações crocodilianas. 

E as acusações dizem cobras e lagartos de Temer et caterva. 
Isso traz palpitações e suores frios ante um angustiante palpite: será que as denúncias do ex-diretor da Odebrecht Claudio Melo Filho podem contaminar o processo que corre contra Temer Tribunal Superior Eleitoral-TSE?

Motivo do temor: naquela Corte as acusações apontam Temer e Dilma envolvidos com abuso de poder econômico. Em outras palavras: teriam recebido propina da construtora Andrade Gutierrez, outra envolvida nos escândalos.

 Mas o denunciante, Otávio Azevedo, recuou negando que houvesse pago propina à campanha que reelegeu Temer e Dilma em 2014.

E então, quando tudo parecia mais fácil, o nó corrediço da história começou a apertar e a coisa parece ter ficado incômoda, bem mais incômoda. 

Veja só: o site UOL diz, a respeito das novas denúncias: “A colaboração da Odebrecht - cujos 77 executivos assinaram na semana passada delação com a força-tarefa da Lava Jato - pode chegar ao TSE de dois modos. Caso a instrução do processo ainda não tenha sido dada como concluída, novos depoimentos podem ser solicitados e juntados como indicações a favor da acusação.

“Ainda que isso não seja feito, no entanto, há um receio de interlocutores de Temer de que haja uma contaminação política do julgamento pelo TSE, considerada a corte ‘mais politizada’ entre os tribunais superiores.”

Afirma ainda o UOL: “No Planalto, a nova etapa da Lava Jato é vista como ‘imponderável’. Interlocutores do peemedebista dizem que o presidente demonstra tranquilidade com a delação, mas a defesa de Temer na corte eleitoral gostaria de que o caso se encerrasse antes de os acordos de Marcelo Odebrecht e funcionários da empresa se tornarem públicos.

Ainda assim, auxiliares de Temer consideram pouco provável uma cassação de mandato e consequente eleição. O Planalto garante que, caso haja condenação, Temer vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).” 

Isso, claro, essa briga no STF, abriria um abismo ainda maior a ser cruzado pela escorregadia pinguela de Temer. Imagine só: insegurança jurídica, grupos de investidores tremendo a cada manchete, povo na rua protestando contra o esmagamento de direitos que o governo perpetra...
Seria demais, não? Mas, as coisas estão acontecendo. 

E como os fatos se amontoam a grande velocidade pois estão inseridos num vertiginoso processo midiático e com isso ganham foros de novela, de pouco adiantam as explicações de Temer e entourage.
A perplexidade social disseminada é condenação implícita: há vilões demais e não há como negar.

Detalhe: os capítulos dessa novela têm espraiamentos que chegam às raias do absurdo: até mesmo os julgadores e acusadores não estão isentos de críticas: o juiz Sérgio Moro é visto por segmentos da sociedade como parcial, uma vez que promove espetaculares ações contra Lula. O PT é sempre o partido mais acusado. Ou pelo menos mais espetacularizado, quando seus maus feitos são encontrados. 
Diego Padgurschi /Folhapress

Para piorar, Moro foi flagrado em conúbio amistoso com o senador Aécio Neves durante finíssima cerimônia onde Temer foi estranhamente escolhido como um dos homens do ano. 

 E o procurador Deltan Dallagnol, um dos destacados membros da Lava Jato, é apontado como alguém que comprou casas ao projeto Minha Casa Minha Vida. Uma ação social voltada para atender pessoas de menor poder aquisitivo... 

Temos, ao visto, a exposição bastante exata do que seja a elite que dirige este país: empresários, judiciário e políticos. Todos conflagrados, trocando golpes, lavando-se em água servida. 

Mas o processo histórico está em aberto e não há como esconder ao olhar multimídia que há brutalidade demais, desonra demais, exploração demais dos desvalidos agora em vias de virar desgraçados. 

Creio que chegará a hora de Temer gritar como Ricardo III na batalha de Bosworth, antes de ser vencido pelo conde de Richmond: “Meu reino por um cavalo!”

Nisso, alguém pode gritar: “Serve um burro?”

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

OK, OK, a gente se ajeita



E aí Renan disse: "Manda quem pode; obedece quem é juiz”

A grotesca sessão do Supremo que manteve Renan Calheiros encalhado na presidência do Senado foi a mais escancarada e escandalosa prova do quanto temos um país onde o pudor se encolhe, vivemos numa terra onde ser safado é gesto, fato, valor e norma.
 
https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=20204364#editor/target=post;postID=2482998938732271340
O açoite do Senado estalou forte e Renan disse: “Manda quem pode; obedece quem é juiz.” E assim se fez.

Tinha razão Caetano Veloso quando compôs Podres Poderes.
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes somos uns boçais

Razão também a Castro Alves, endoidecido de liberdade ao bradar:
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio.  Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Jobim também aborda a crueza do ser brasileiro ao dizer:

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

Gonzaga, como eu nordestino, também comparece e narra o desvalimento do povo, a sucumbência cabisbaixa, o homem anulado, pobre:

Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
A lama e o baú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No norte e no sul
Ai, ai, ai, ai

E os Titãs, na palavra da Miklos, Bellottoe C.Gavin nos chegam com seu grito rebelde, força juvenil de sabre, ponta de florete irreverente. E berram:

Estão nas mangas dos Senhores Ministros
Nas capas dos Senhores Magistrados
Nas golas dos Senhores Deputados
Nos fundilhos dos Senhores Vereadores
Nas perucas dos Senhores Senadores
Senhores!
Senhores!
Senhores!
Minha Senhora!
Senhores!
Senhores!
Filha da Puta!
Bandido!
Corrupto!
Ladrão!

Sorrindo para a câmera
Sem saber que estamos vendo
Chorando que dá pena
Quando sabem que estão em cena
Sorrindo para as câmeras
Sem saber que são filmados
Um dia o sol ainda vai nascer
Quadrado

Isso não prova nada!
Sob pressão da opinião pública
É que não haveremos de tomar nenhuma decisão!
Vamos esperar que tudo caia no esquecimento
Aí então...
Faça-se a justiça!
Estamos preparando vossas acomodações, Excelência.
Filha da Puta! Bandido!
Corrupto! Ladrão!

Encerro aqui minha elegia, minha tristeza, minha indignação ante tanta indignidade. 


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Os Poderes e a farsa em Brasília



Renan, o Supremo e o carnaval de Veneza
Leio estarrecido no noticiário a informação de que Renan Calheiros já teria garantidos cinco votos de ministros do Supremo para continuar no cargo de presidente do senado, mesmo que hoje à tarde a Corte mantenha sua condição de réu.

Da mesma forma descubro boquiaberto que o vice-presidente petista, Jorge Viana, estaria em vias de renunciar ao cargo caso Renan seja efetivamente deposto. 

Segundo se informa na mídia, o titubeante senador busca escapulir de um dilema que está bem acima da sua aparente tibieza. Afirmou, segundo vi nas folhas: se pautar a PEC do teto na terça-feira (13), rompe com a esquerda; se não o fizer será acusado de aprofundar a debacle econômica. 

Com ocorra a fuga do petista, o cargo cairia no colo do senador Romero Jucá, outro réu na Lava Jato. Você já percebeu o quanto estamos mal servidos? Um foge das responsabilidades, outro é um homem na mira da lei. 

Parece-me que estamos às voltas com um simulacro de Poderes institucionais, uma grotesca encenação. Pessoas ocupando cargos vitais, essenciais, agindo como se numa mascarada histórica sem perceber que o abismo é logo ali.

O momento não é para contemporizações: os ministros do Supremo têm o dever moral de respeitar a decisão de sustar o mandado presidencial de Renan; da mesma forma o senador petista tem a obrigação de impedir a continuidade da PEC do fim do mundo. 

Tais comportamentos sugerem pusilanimidade e compadrio; pior que isso, revelam que as elites jurídica e política buscam salvar uma situação de engodo quando já ninguém mais acredita na encenação. Não percebem que a sociedade já grita que o rei está nu. 

Os olhares estarão todos voltados para a sessão de hoje do Supremo. Vejamos quem vai fantasiado para um carnaval em Veneza.
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A próxima vítima
Com o bloqueio de mais de 38 milhões do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ele pode ser o sétimo membro de equipe de Temer a ser atirado ao poço dos demitidos. Ocorrendo tal fato, e somando-se isso aos trambolhões perpetrados pelo governo o mercado terá mais e mais razões para temer que, com Temer, as coisas não darão muito certo. 

Ascensão e queda
Começam a se tornar insistentes os comentários a respeito da queda do próprio presidente da República. Está demonstrado que 1) ele não tem condições pessoais, não tem liderança nem pulso para enfrentar situações extremas; 2) o cerne do seu governo é podre, tais as más companhias em que está metido; 3) ele próprio pode vir a ser cassado, caso o Supremo acate acusação de que valeu-se de dinheiro sujo para usar na campanha de vice, ao lado de Dilma. 

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