quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Vamos ver no que vai dar



A vingança de Cunha 

Ele pode delatar cúmplices;
e assim deletar todo o magote

Emanoel Barreto
(Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

A captura do ex-deputado Eduardo Cunha pode ser o início da chegada da Lava Jato aos capitães de areia do governo. Só que estes, ao contrário dos personagens amadianos, não são meninos de rua, peraltas, moleques. São taludos homens de negócios políticos; negócios escusos, evidentemente.

Após o pandemônio que isso provocou no governo e periféricos, o ex-vice-presidente-e-ex-vice-presidente-interino-Michel-Temer disse saionara aos seus hóspedes samurais e partiu na tentativa de, chegando, apagar o fogo de monturo que Cunha, acunhado, acendeu no lixão do Brasil. 

Claro, ao dizer adeus deve ter caprichado na pronúncia e dito em alto e bom som: “Saion-nará!”, que é como seus amáveis e formais albergueiros pronunciam a palavra. 

A prisão de Cunha, até onde se pode estimar, pode, caso ele fale tudo o que presumivelmente sabe dos intestinos políticos dos que hoje estão no poder, causar efeitos devastadores junto àqueles. Mas é preciso ter cuidado com o que está em andamento: a prisão se deu sem alarde ou midiatismos. Foi discreta, respeitosa. 

Creio que trata-se apenas de um gesto jurídico-retórico para justificar a prisão de Lula e inviabilizar uma possível candidatura à presidência em 2018.

Tido como um “planejador obsessivo” no dizer do jornalista Janio de Freitas em sua coluna da Folha, Cunha teria há tempos programado sua defesa, quer dizer seu ataque tático-destrutivo em resposta ao abando e à sensação de desamparo que agora tem em relação aos antigos aliados. 

O ex-deputado tem já o esboço de um explosivo livro de memórias; relato de tudo o que foi perpetrado, conluios, lucros, butins e patranhas na área e nas praias de PMDB e PSDB. Com relação a tais aspectos Janio de Freitas, todavia, faz um alerta: “o catálogo de casos e nomes denunciáveis” pode favorecer a situação de Cunha.

E explica o jornalista: “ Se não por influências externas sobre o seu inquérito, para delimitá-lo, poderia pelo próprio modo de ação da Lava Jato.” Continua: “Tanto porque o grupo de procuradores e policiais federais evita, até onde consegue, temas e nomes alheios à sua prioridade absoluta, que são Lula e o PT; como por ser ignorada e temida a dimensão do desarranjo que Eduardo Cunha pode causar. A ventania tóxica se estenderia até o hemisfério norte.”

Não há, isso é bastante claro, intenção e vontade de chegar ao alto tucanato e, especialmente, ao topo de tudo, ou seja: atingir-se o diante do trono onde se assenta o ex-vice-presidente-e-ex-vice-presidente-interino-Michel-Temer. 

Mas é verdade que caso haja a mais mínima possibilidade de denúncia dos becos e vielas dos que hoje se encontram ao timão da nave louca, surgirá pelo menos o levantamento de parcela da opinião pública para dizer que vivemos vergonha e farsa.

Vejamos agora como os fatos serão produzidos, criados e vividos. Mas de uma coisa estou convicto: Cunha sabe que, se delatar – sob prêmio ou não –, deletará da dolce vita muitos de seus antigos companheiros de caudal e de horda. Com isso todos estão com muito medo, não duvide.
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Vingança – Política pequena e mesquinha a da prefeitura de Jucurutu. Devido à derrota do prefeito George Queiroz, que não se reelegeu, foi suspenso o serviço de ônibus que o município mantinha para atender ao deslocamento de estudantes a aulas em outras cidades. 

Terrível Moradores de Parnamirim convivem com ruas esburacadas e capazes de destruir molas e amortecedores até mesmo desses mais poderosos carros quatro por quatro.  Na avenida Gastão Mariz, imediações do Condomínio Itatiaia, qualquer chuva mais forte transforma aquele local em verdadeiro mar. Moradores já falam em contratar os serviços de Moisés, a fim de que lhes propicie algo idêntico ao milagre do Mar Vermelho. É que quando chove a coisa ali fica preta.

Polícia e greve – A Polícia Civil do RN fez uma “paralisação de advertência” para avisar ao governo do estado de sua insatisfação com os problemas salariais da corporação. Os agentes e delegados já voltaram ao trabalho. 

Criminosos – É injusto o não-pagamento dos salários, mas parece-me seja ilegal greve da polícia. Mobilizar a sociedade civil em favor dos policiais seria, creio, a melhor solução. O inverso é aliança inercial com os criminosos. 
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ZOORÓSCOPO
Minhoca – na situação brasileira é sugere-se que os nascidos sob este zoosigno procurem terra bem fofa e macia para se esconder. Tal zoosigno é típico de trabalhadores, especialmente aqueles que mais dependem dos serviços públicos de um modo geral, moram em favelas, subúrbios e arrabaldes e morrem nas filas do SUS. Como estão acostumados a ser pisados aprenderam há muito tempo a meter-se na terra para escapar. Com relação a previsões acautelem-se: tudo deverá piorar. Mesmo com a prisão de Eduardo Cunha. Pelos próximos 20 anos os minhoquianos serão tratados como vermes.  


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Lá vem o Brasil descendo a ladeira


E aí, vai encarar?
Emanoel Barreto

Moleque travesso, tinhoso, peralta.
Saiu da favela disposto a brigar.
Exibe sua força que é magra e rasteira.

É um brasilzinho de muque raquítico.

Moleque travesso, teimoso, assanhado.
Tem jogo de perna é bamba na vida.
De becos escuros em briga com a fome.
É o brasilzinho. Que dó que ele dá.

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Foto obtida no endereço http://3.bp.blogspot.com/_H6WbGJSs7uc/Sa70nHR-DJI/AAAAAAAAA_Y/gz60m1mQIeU/s1600-h/%21cid_F142B54B3E8C4B048EDA16A6B38785F5%40Cida.jpg

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Edificante exemplo de um digno corrupto

Historinha brasileira: de como entrar na política, roubar e ser muito feliz


´Zé Aproniano  trabalhava como pedreiro. Paulo Setts era sempre visto em seu consultório médico. Josepha Crescência era advogada. Anúbio Florentino contador e Malachias Petrônio escritório de venda de imóveis. Já Asclepíades trabalhava como corrupto. De todos era o que melhor vivia.
http://www.google.com.br/imgres?q=corrup%C3%A7%C3%A3o&hl=pt-
Tudo para ele começou assim: na juventude dava um duro danado como camelô para sustentar a família e até mesmo a sogra rabugenta e infame.

Um belo dia lhe arranjaram emprego como porteiro na Câmara Municipal. Ali, rapidamente aprendeu os hábitos da Casa e deu-se muito bem. A saber: fez pequenos favores a pessoas pobres, acobertou falhas de colegas e pagava chamadas de cana para bebos em botecos safados. Mais: arranjou fichas para atendimento médico, tickets a desempregados, conluios com líderes comunitários, etc..., etc..., etc...

Com isso, você queria o quê? Aparentou prestígio, angariou votos e, óbvio, foi eleito vereador. Teve, como seria de se esperar, excelente desempenho, ou seja: intermediou verbas, ganhou elegantes e justíssimas propinas, trocou favores, propiciou imoralidades e, pronto!, afirmou-se no ramo.

Mas, cruel, o povo que o elegera vereador exigiu dele mais e mais, e tornou-o deputado estadual. Coitado; como sofreu avançando horas e horas noite adentro, executando grandes planos para desviar dinheiro público e outras falcatruas. Resultado: o povo cobrou mais do pobre-diabo, que foi obrigado a ser deputado federal. Aí sim, foi sofrimento grande.

Muito lhe foi imposto em termos de manobras e conciliábulos, traficâncias e caixa dois. Cansadíssimo, viu-se depois frente a novo e grande percalço: foi com notável esforço que o convenceram, ou melhor, intimaram a novo e terrível tormento: chegar ao Senado. 

Desesperado, sem saber mais o que fazer para atender ao povo ("Acho que esse povo quer que eu morra..."), continuou a trabalhar como corrupto, sofrendo inomináveis suplícios tipo beber champanhe com grandes empresários, almoçar com doleiros, ouvir reclamos de operadores de propina, fazer ajustes em dinheiro desviado para fora do país . 

Todavia, o povo queria mais - veja como o povo é cruel - e agora vinha forçá-lo a ser governador. "Ó, Senhor, que atroz destino, fado e sina", lamentava-se o corrupto na solidão, ajoelhado ante um oratório; e se perguntava: "Por quê? Por quê? Por quê?". 
Afinal, eleito ao novo cargo entregou-se ao martírio de atuar duplamente: como governador e como corrupto. Imbatível.

Afinal, anos e anos depois de grandes serviços prestados à safadagem, sentiu-se cansado; melhor dizendo, estava exausto e decidiu-se: reuniu toda a família e anunciou sua retirada da vida pública. 

Disse: "Após anos e anos trabalhando em favor do povo e da corrupção, mas sempre injustiçado pela imprensa, injuriado pelos adversários e acusado sem provas, quero comunicar que, ao contrário de Dom Pedro, não fico."

"Por que, papai, por que não fica mais na corrupção?", quis saber o filho mais velho, justificadamente preocupado. 

Ele respondeu: "Estou muito cansado. Não trabalhe tanto como o seu velho pai, meu filho. Corrupção é coisa de muita responsabilidade. Arte finíssima. Cansa muito. Corrupção é uma sina, é missão altíssima e exigente. Assim, não insistam, pois não mais trabalharei como corrupto. Não peçam mais a mim tal sacrifício."

"E o senhor vai trabalhar com o quê, se somente sabe trabalhar como corrupto e corruptor?", rebateu uma filha, temerosa de que o pai, afastado de seus afazeres, entrasse em lamentável depressão.

"Meus filhinhos", disse ele com os olhos em lágrimas, "agora papai vai ficar mais em casa e dar total assistência à família. Agora papai não precisa mais trabalhar como corrupto. Acabaram-se meus dias de sofrimento."

"Agora", disse com um sorriso no olhar, "papai vai ser  empreiteiro." 

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 ZOORÓSCOPO
cobra - Os estudos indicam que os nascidos neste zoosigno têm poderosa tendência a atacar de tocaia e agir de forma traiçoeira. Se você é um cobriano saiba que suas previsões encontram-se em confluência alvissareira. Está previsto um lucrativo encontro com alguém em Pavão. Como se sabe, os pavonianos são vaidosos e facilmente enganáveis. Você poderá obter grandes vantagens e tirar proveito dessa vaidosa ou vaidoso. Mas, cuidado: se ele ou ela forem alguém de carreira política existe grande possibilidade de você deixar de ser cobra e virar salsicha. Pense bem antes de tentara dar o golpe.



domingo, 16 de outubro de 2016

Uma conversa fabulosa nas distâncias do sertão



"Quem é aquele rapaz? Será um africano?"
Emanoel Barreto

Lembranças - Sertão central do Rio Grande do Norte. 1961. Encantado com a paisagem eriçada e rude eu seguia montado no passo tardo de um cavalo manso, escolhido com cuidado pelo velho Patrocínio, tio da Minha Mãe. Ele não queria que o sobrinho praciano sofresse os percalços de montar um cavalo de vaqueiro. Chamou-me e disse: "Pode montar sem medo. Esse é Soberbo. Vai para onde você mandar."

E lá fui eu, percorrendo os caminhinhos, sendas abertas a facão no meio da caatinga. Coisa de quatro da tarde. O vento era só pra dizer que tinha. O vento do sertão anda abraçado com o calor, para quem não sabe. Eu me sentia um verdadeiro caubói: Durango Kid, Roy Rogers, Zorro, Kid Colt. E imaginava que, em meio aos galhos secos, espinhos e cro'as de frade, cardeiros e macambiras, havia bandidos à espreita, prontos para ser acertados pelos meus tiros de infância. 

Soberbo andou, andou e, lá adiante, vi uma figura que vinha em minha direção. Era um velho. Negro, alto, o cabelo branquinho, a barba também. Lembrava a visão clássica do Pai Tomás. Puxei as rédeas de Soberbo quando o homem fez sinal como a mão. Queria que eu parasse. Aproximou-se e perguntou: "O minino é arguma coisa de Seu Patrocínio?" Respondi que sim. Ele disse: "Vim aqui pra falá cum ele, um negoço de umas vaca qui quero vendê."

Eu apontei na poeira da distância o rumo da casa-grande. E ele: "Então, vô pra lá." 

E eu: "Vamo, que eu vou com o senhor." E saímos. Soberbo mais parecia uma muralha perto do cavalinho dele. No caminho contou-me coisas de suas viagens, do tempo em que vivia longe daquelas terras. 

Contou como quem conta uma epopeia, um épico, canção de gesta. Os olhos da minha emoção estavam arregalados, pasmos com a vida daquele sertanejo. Por um momento quase vi a meu lado Amadis de Gaula, Parcival, Galahad ou o próprio Aquiles; quem sabe, Orlando Furioso. Aquele homem era feito de todas as lendas que povoavam o meu imaginário infantil. 

E ao final, já chegando à casa de Tio Patrocínio, ele revelou: "Minino, um dia ainda vô m'embora. Vou viajá, andá pelo mundo de novo. E vou demorar muito. E aí, quando eu vortá, acho qui as pessoa vai perguntá, sem se lembrar de mim: 'Quem é aquele rapaz? Será um africano?'"

Aquela conversa, aquela figura, hoje fazem parte de lembranças que ficaram guardadas em meio a memórias antigas, escondidas todas em alguma caverna de Polifemo, território traçado no mapa mais meu. 

E hoje, às vezes, me pergunto: "E se um dia eu viajar? Também quero viajar. Vou viajar. E vou demorar muito. E espero que, quando voltar, as pessoas também perguntem: "Quem é aquele rapaz? Será um africano?"

ZOORÓSCOPO
HIENA - Boas previsões para você, hiniana ou hieniano, pelo menos na fortuna. Ganhará rios de dinheiro, não será punido e poderá, sempre, se apresentar como pessoa respeitável. No amor, entretanto, as coisas não irão tão bem. Pelo seu caráter truculento e egoísta, somente poderá fazer par com os de Barata ou Tubarão. Mas, aí, ambos sairão perdendo pois um tentará engolir o outro. No mais, vá em frente que a estrada no Brasil é larga e o caminho é bom para quem não presta.