sábado, 8 de novembro de 2008


Vamos parar, um pouco...
Emanoel Barreto

Vamos parar um pouco, por um instante, o tédio.
Vamos olhar com vista de marfim.

Quem sabe, um pouco, a claridade
nos chame a viver em tendas nas estrelas.

Vamos sentir, sem medo, a lua mansa.
Vamos chamar, sem grito, o sol nascente.

Quem sabe, em pouco, a noite nacarada
nos chame a viver em meio a um jardim.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Obama, o benigno, é o senhor dos jornais
Emanoel Barreto

A assunção de Obama à presidência do grande império do Norte colocou-o não apenas como o homem mais poderoso do mundo. Ele galga o cargo envolvido por uma tal torrente de mídia, que passa a ocupar o papel de algo como um messias, um enviado que vai mudar tudo na face da Terra.

Isso é reflexo bastante explícito da situação que hoje se vive: o mundo chegou a um patamar de inseguranças e incertezas tamanhas, que ao surgir alguém cujo perfil destoa completamente do padrão étnico dos presidentes americanos, essa condição étnica passou a ser vista como status ético; um novo modelo estruturante, uma nova mentalidade e, especialmente, um novo modo de encarar o mundo por parte do sistema americano de poder.

Obama seria o sinal de que os Estados Unidos abandonariam sua política de polícia do mundo - e polícia voltada para a preservação dos interesses americanos -, passando a exercer uma liderança voltada para a paz e a conciliação entre os povos.

É que a angústia dos nossos tempos clama por um avatar e visualizou nele um taumaturgo, um ser superior capaz de, pela serenidade, humanidade e propósitos inatacáveis, nos encaminhar a uma era fabulosa de paz e bem.

Obama, carismático, culto, refinado, tornou-se um fenômeno de mídia. O jornal Washington Post, frente à avalanche de leitores em busca de exemplares, imprimiu nesta sexta-feira 350 mil exemplares adicionais à edição comemorativa, veiculada dia anterior. Mais: o site de leilão eBay está vendendo exemplares a 100 dólares, enquanto o site Craigslist vende cópias do jornal a 50, ainda no saco plástico.

Trtata-se, evidentemente, de um fenômeno de comunicação. Uma grande catarse coletiva, uma exultação, um fùlmine como dizem os italianos, para designar algo extraordinário e alumbrante, paralisante pela sensação magnífica que domina, encanta e sensibiliza.

Mas Obama pouco a pouco adentra o mundo dos mortais. Já despacha com a CIA e mantém seus primeiros contatos com relatórios do serviço secreto estadunidense. E estes, dizem as coisas de jornais que li, apontam para um mundo que tende sempre e mais à tensão e à guerra - sempre com a participãção dos EUA.

É que o mundo real não parou. O que é preciso é as pessoas começarem a sair do sonho para voltar a trilhar o dia-a-dia. Logo, logo ele tomará posse. E as pessoas serão levadas e admitir, como John Lennon, quando disse à dissolução dos Beatles: "O sonho acabou."

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ku Klux Klan: terrorista e genocida
Emanoel Barreto

A Folha informa:O pastor protestante e diretor da Ku Klux Klan, Thomas Robb, declarou após a vitória democrata na corrida à Casa Branca que o presidente eleito dos EUA é "só metade negro". A KKK é a associação racista mais famosa do planeta, identificada historicamente por seus capuzes brancos, cruzes incandescentes e crimes raciais.

Em um texto publicado no
site do grupo supremacista branco, Robb afirma que "Barack Obama se tornou o primeiro presidente mulato dos Estados Unidos", e não negro, já que "ele não foi criado em um ambiente negro". "Ele foi criado por sua mãe [branca]", argumenta, na nota intitulada "América, nossa nação está sob julgamento de Deus!".

Robb interpreta que, com a eleição de Obama, o "povo branco" dos EUA vai perceber que é hora de se unir contra aqueles que odeiam seu modo de vida --estrangeiros e negros, de acordo com a KKK. "Essa eleição de Obama nos chocou? Nem um pouco! Nós vinhamos avisando ao nosso povo que, ao menos que os brancos se juntassem, seria exatamente isso que aconteceria", incitou."
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A KKK é um dado político-racial a não ser desprezado. Talvez não sobrelevado, mas nunca desprezado. Os extremistas são o resíduo mais lamentável e desprezível da cultura norte-americana - aquele grupo reacionário, perigoso, agressivo que pode, sim, circunatancialmente acionar algo como um ataque ou atentado ao presidente eleito.

Alicerçada num fundamentalismo racista irracional e insano, a KKK representa a intolerância e o lado violento de uma sociedade branca, que não admite a humanidade como formada por seres iguais, cidadãos que podem e devem participar da sociedade, dos seus problemas e do compartilhamento de direitos.

Obama assumirá o poder em meio a uma situação difícil, não apenas pela guerra no Iraque e Afeganistão, mas especialmente pela crise econômica que desestabiliza a vida e o bem-estar de milhões de americanos. Esse condimento social pode muito bem ser acionado pelos extremistas, a fim de fazer valer os seus propósitos.

Preservar o equilíbrio é algo essencial para assegurar a democracia. E democracia não é algo que se esgota no simples e puro direito de votar e ser votado. A democracia é patrimônio ideológico e, portanto, imaterial, que assegura a mulheres e homens uma vida pautada pelo respeito a valores básicos da sida em sociedade; uma vida digna, honrada e assegurada em todos os planos pelo Estado. A democracia deve ter sempre como meta o ser humano, e sua valorização sob todos os aspectos.

A intransigência de racistas precisa receber todo o peso da mão do Estado. A KKK, desta forma, é um grupo terrorista, anti-democrático e, se deixarem, genocida. Tudo o que nenhum povo precisa.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O futuro americano é negro

Impedido de publicar postagens devido a problemas no meu computador volto agora, quando Obama é o presidente eleito. A eleição tem algo de essencialmente simbólico: a Casa Branca dirigida por um negro.
Não é um mero trocadilho, um drible que a história dá no segregacionismo, na exclusão, na pobreza que lá existe, e muita. Não se trata de, enfim, de uma cambalhota ideológica, uma surpresa do processo político: o que se vê é a ponta de um iceberg, a possibilidade lenta de uma mudança social e étnica. Um primeiro passo.
A ascensão de Obama é simbólica em função de outro aspecto: ele surge como uma espécie de antídoto para tudo o que a nação americana vive em seu momento histórico. Representa o recuo de uma corrente de pensamento reacionária, belicista e bronca, o declínio, pelo menos atualmente, do que há de pior na política dos Estados Unidos.
Estiolada por um governo que meteu o país em mais uma guerra, permitiu que o sistema financeiro agisse às cegas e gananciosamente, e incapaz de garantir a segurança interna com os ataques do 11 de setembro de 2001, a nação pede arreglo pelos erros e injustiças raciais e elege um negro.
Obama foi eleito sob a proteção das asas de um sonho: reerguer o país e sua auto-estima, seu orgulho imperial e seu patriotismo quase seminal; estilhaçar a crise econômica e o dilema do Iraque e fazer despertar um olhar novo sobre a presença e importância dos negros na construção do país. Isso foi o que o marketing vendeu. Isso foi o que prevaleceu. É bom que tenha sido assim, muito melhor que MacCain.
Obama, todavia, assumirá sob o peso da realidade. Do homem ideal, do líder, do condottiero, restará a figura humana que é, em si, falha e limitada. E virão, agora sim, os problemas, o mundo real, o presidente em ação.
O mundo inteiro vibrou a favor do jovem, do negro, do intelectual carismático. Agora, virá o americano, que não poderá - ninguém pode -, cumprir todos os compromissos de campanha. De qualquer forma, espera-se que se inaugure algo de novo, mais humano - aí no sentido de solidariedade ou compaixão -, para que se amenize o imperialismo e o torniquete que os americanos aplicam àqueles sobre quem se impõem.
Falando assim, parece que quem está sonhando sou eu. Vamos ver até que ponto. De qualquer forma, nessa quadra da história o futuro americano é negro. E, pelo menos isso, é bom, muito bom.
Emanoel Barreto