sexta-feira, 13 de abril de 2007

O monstro atacou. Logo virou manchete

Jornais são feitos com as dores do mundo. A paz não dá manchete. Manchete é a guerra, o terror, a bomba. A paz entra como o componente que está faltando. A paz é apenas uma palavra. Infelizmente, é preciso contar as dores do mundo: não podemos esquecer que o homem nasce em meio à dor. Mas, contar a dor, relatar a dor, não significa aderia à dor como profissão de fé a fazer dela seu único objetivo noticioso.

Entendo que o jornalismo, por dever de ofício, não pode negar-se a mostrar o pavor e o triste, mas não deve fazer deles seu material básico para a notícia. Mas é assim que ocorre: estranhamente, as pessoas são levadas a escolher a brutalidade para se entreter, o estarrecimento como atrativo do olhar social. Um jornal com primeira página somente de boas notícias fatalmente seria levado à falência. Faltaria o componente essencial que o jornalismo estabeleceu historicamente: a tensão.

E não estou falando dos jornais sensacionalistas. Falo da imprensa séria. É que há, entre jornal e leitor, um acerto prévio de que, diariamente, em suas páginas serão encontradas notícias de alguma forma inusitadas. É importante falar da violência para denunciá-la, do crime para acusá-lo, do terror para repudiá-lo. Mas jamais banalizar a dor como mercadoria, manchete vendável ao prazer monstruoso da curiosidade mórbida.

Falo isso em função de fotos que vi na Folha Online e na TV, mostrando um crocodilo que havia arrancado o braço de um funcionário de zoológico em Taiwan. Fotos e vídeo mostram claramente o braco preso às mandíbulas do animal, como naqueles filmes de sangue e suspense, massacres e lacerações.

São imagens chocantes. O material poderia muito bem ter sido editado, de maneira a veicular a informação, sem detalhar a brutalidade. Mas aí prevelaceu a lógica de crueldade, não se levando em conta o olhar de perplexidade e o gesto de repúdio, o susto e o grito de se ver, no jornalismo, tanto horror perante os céus.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Crônicas para Natal: Os barcos do Potengi

O grande corredor do rio serve de espaço,
rota, desafio e prazer
aos barcos e homens que o vivem.

O rio Potengi, estuário de águas mansas

enroscado na Ribeira,
tem em seus barcos habitantes calmos,
seres vivos de madeira.

Construídos com dedicação e detalhes,

são obras primas da simplicidade.

Sem imponência ou grandiosidade programadas,

eles são como o povo:
enfrentam a travessia sem medo de que,
em meio às águas, surja, de repente, grave pesadelo.

Barcos, do Potengi,
amigos singelos
da gente navegante.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

O legado de Ícaro

O título insinua, mas não;
não vou falar dos descontroladores de tráfego aéreo.
Volto o olhar para as sandálias de Mercúrio,
as asas de Dédalo,
a infelicidade vertiginosa de Ícaro, seu filho,
que quis voar ao lado do sol.
Volto o olhar para o planar dos pássaros condores,
o súbito vôo das águias,
o silencioso e escuro transcurso noturno das corujas.
Estendo a mão para o destino
dos homens que somos, todos,
encaminhados ao vôo do desejo,
da esperança, da vontade.
O vôo de todos nós, que não temos asas.
O legado de Ícaro é a eterna queda.
A herança da vida é a permamente descida.
O resultado da morte é uma perpétua indagação.
Somos apenas homens.
Somos apenas não.

terça-feira, 10 de abril de 2007

O Brasil está dando certo...

Eu disse "O Brasil está dando certo?..."
Na verdade, deveria ter dito: "O Brasil está dando um certo..."

Explicando: o Brasil está dando um certo desprezo à vida das pessoas, quando permite que os bandidos ajam com tanta liberdade no Rio;
O Brasil está tendo um certo descaso com a educação, quando deixa que as escolas públicas caiam no descrédito e no abandono;
o Brasil está dando um certo abandono aos passageiros de avião, quando deixa que os descontroladores de vôo fiquem planando e as pessoas sofrendo nos aeroportos.

O Brasil está dando um certo apoio ao sofrimento das pessoas nas filas do SUS, quando faltam médicos nos postos de saúde e os medicamentos escasseiam;
o Brasil está dando um certo incentivo a políticos aproveitadores, quando demora tanto a fazer a reforma política;
o Brasil está tendo um certo desapreço com a Amazônia, quando permite a continuação das queimadas e o avanço das fazendas, detruindo a floresta;
o Brasil está tendo um certo desrespeito aos direitos humanos, quando permite que ainda haja trabalho escravo em fazendas.

O Brasil está dando um certo valor à fome do povo, à fome do povo por gols, por jogos panamericanos na TV, pelo brado de Galvão Bueno, heróico e retumbante, anunciando alguma vitória da Seleção... Espera, certamente, que um dia, num passe de mágica, esteja todo o povo satisfeito e as pessoas vivendo felizes para sempre.

domingo, 8 de abril de 2007

O salário da brutalidade

Continua a marcha da insanidade. O aquecimento global é uma realidade, as previsões indicam que em 20 anos o planeta já estará vivendo uma situação dramática, mas nada indica que os governantes estejam dispostos a tomar qualquer atitude para, pelo menos, retardar ou miniminar a catástrofe.

Uma das mais terríveis conseqüências será a savanização da amazônia, com a floresta tropical úmida transformada em um largo espaço de vegetação pobre e rasteira. As mudanças climáticas serão devastadoras, pois a floresta funcionada como elemento de equilíbrio climático da Terra.

A cultura ocidantal, em função dos rumos históricos que tomou, colocado o certo conceito de progresso como elemento a ser permanentemente observado, não importanto os custos sociais e ambientais rsultantes, dá bem uma idéia de que tipo de mentalidade presidiu e preside as intenções supostamente desenvolvimentistas da elite sócio-econômica mundial.

Os desníveis sócio-econômicos, por sua vez, permitiram a premitem a formação de multidões de pobres e miseráveis que, em função de suas condições de existência e ignorância, tambêm vêm no meio ambiente apenas uma fonte predatória de retirada da sobrevivência e depósito de lixo.

Assim, lixo e luxo, cobiça e miséria, trabalham numa espécie de parceria do absurdo para a destruição ambiental, das espécies animais e vegetais e do próprio homem. O perigo ronda a nossa existência, cavamos nosso próprio abismo e agora ele diz que está pronto e vai, sim, cobrar o preço de sua existência. O salário da nossa brutalidade será, não tenha dúvida, a nossa morte.