sábado, 26 de março de 2011

Dos perigos de fazer uma viagem perimetral de inspeção

Caro leitor, 

Devo dizer que encontro-me hoje no ano de 1789 e estou a serviço de empresa para a qual trabalho mas cuja finalidade operacional não tenho condições de explicar qual é, pois nunca a entendi.  Percorro algum país em viagem perimetral de inspeção. Também não sei exatamente o que isso significa, mas cumpro com meu mister da melhor forma possível: interrogo pessoas a esmo, pergunto como vai o tempo, inquiro se nasceu algum novo carneiro, busco informar-me sobre qual a idade de uma formiga, indago se um peixe pode ser segrado rei, se uma cobra pode prescrever receituário médico e coisas que tais. Como vedes, coisa jurisconsultas e altíssimas.

Anoto tudo e logo em seguida jogo as anotações fora. Em seguida a mim vem um inspetor que recolhe meus escritos, os lê e os arremessa no mato, e atrás dele vem outro e faz a mesma coisa e logo após outro, outro e outro, e isso se repete indefinidamente. Mas, atentai bem, estas foram as instruções que recebi para que fosse levada e efeito uma eficaz viagem perimetral de inspeção. Sendo assim, como cumpro com inominável prazer e desesperada ânsia este fado, creio que estou me saindo muito bem.

A carruagem em que me desloco é uma espécie de inferno ambulante, tal o calor impregnante que me acossa em meio a estrada sacolejante. Já superamos, eu e os outros infelizes viajores que cumprem comigo este périplo insano, cada um com seus motivos, chuvas que mais se assemelham às mais imponentes cachoeiras, ataques de salteadores, perseguição de matilhas e gritos de pavor de velhas devotas em lugarejos insólitos - elas emitem guinchos terríveis quando nos veem em nosso lastimável estado: roupas sujas, cabelos eriçados, botas enlameadas, olhos injetados, pensando, tais e bondosas criaturas, que somos representantes do Maldito. Velhos curas nos expulsam apresentando o crucifixo. Como medida de bom senso fugimos sem parar.

Afinal, digo-vos, aproximo-me do término de minha viagem e eis que surge o gerente geral de viagens perimetrais de inspeção e me avisa: Vais iniciar imediatamente uma viagem perimetral de inspeção, pois dizem que nos confins deste país maltas de desocupados, biltres temíveis, répobros insondáveis, ímpios impudentes e homens mal-faladores, além de néscios preguiçosos e beócios empedernidos preparam surtida contra a lei e contra ordem e, destarte, El Rey precisa de dados e números para preparar as defesas de todos os burgos.

Diante de tal quadro fugi, pois horrendo medo se apoderou de mim, inopinadamente, ao sentir que meu trabalho é cousa de louco ou de alguém a este assemelhado. Embrenhei-me na primeira e mais feroz floresta, cujas árvores têm arestas e espinhos de mais de um metro de comprimento e aliei-me ao primeiro magote de ímpios e outros banidos que encontrei. E, assim, senti-me pleno e lesto: depois desta fuga participarei de assaltos aos burgos mais solenes e preclaros, ataques a cidades ilustres e luminosas e jamais, nunca mais, farei novamente uma viagem perimetral de inspeção.
Na revista Piauí encontrei o que abaixo se lê.

Reza a lenda, amém



Gilberto Gil tem uma linda composição chamada “Oriente” no antológico álbum Expresso 2222 (1972, ano que Gil voltava do exílio em Londres).  Dona de um jogo de palavras interessantíssimo, a canção trata de uma questão super recorrente para os jovens da época, candidatos a intelectuais-pensadores, apaixonados pela esquerda e por uma revolução interna e externa. Na letra, um Gil desafiador aparece, cutuca, pergunta , provoca com a letra “Se oriente, rapaz, pela constatação de que a aranha vive do que tece.” É uma maneira de exigir uma posição, mostrar a necessidade de assinar o nome em algo que pudesse ser relevante, diferente ou pelo menos corajoso. Principalmente em tempos de ditadura militar e corações endurecidos.

Na gravação, o sofisticado violão de Gil chega sombrio como a canção e insinua uma melodia oriental. A voz grudada nos ecos do instrumento faz uma introdução que já intriga logo de cara, mas também convida. Gil, aliás, impressiona por ser um artista que soma as qualidades de um virtuoso no seu instrumento com a criatividade de compositor. Fez (e faz) escola tanto com suas harmonias e belos caminhos melódicos quanto com sua maneira de tocar e cantar. Sem falar na modernidade e poesia de suas letras.

No ano seguinte, Elis Regina gravou “Oriente” com um arranjo repleto de instrumentos. Era algo arrojado pra época e ainda hoje soa assim. O arranjo acentua ritmicamente a melodia e soa bem diferente. Vai ficando grandioso, épico, mesmo porque é preciso abrigar a voz indomável e emocionada da intérprete singular que ela sempre foi. O andamento vai crescendo e termina com um jeito meio sinfônico e igualmente provocador, como pedem o tema e o momento. Elis opta por não repetir a letra, canta uma vez só. É muito significativa, historicamente falando, a escolha dessa canção como abre-alas do seu LP "Elis", de 1973.
Porém, numa audição um pouco mais cuidadosa, percebemos que Elis se distrai numa palavra que altera o sentido e a gravidade original. Ela tropeça: ”Pela constatação de que a aranha DUVIDO que tece”. Eu fico aqui pensando...

Hoje quase todos os compositores mandam suas músicas em formato MP3, com as letras devidamente digitadas. Como será que Elis recebeu “Oriente”? Em que som ela teria ouvido para se confundir na hora de registrar? O K7 falhou? O LP estava arranhado? Ou a pessoa encarregada de tirar a letra negligenciou o serviço? “Dizem” que Gil não gostou muito da troca (o que é compreensível) e eles teriam ficado um tanto abalados um como outro.
Mas a natureza encontra sua maneira de ajeitar as coisas quando os propósitos são verdadeiros, creio eu. Então, já em tempos de paz e, certamente, imensa admiração mútua, Elis entra em estúdio em 1974 para gravar um álbum impecável contendo dois petardos do baiano Gil. “Amor até O Fim”, samba/choro sincopado cuja letra mostra que Gil emanava leveza pra sua cantora, “amor não tem que se acabar, até o fim da minha vida eu vou te amar”.

Não à toa, Elis encerra o álbum com a delicada bula ,“O Compositor Me Disse”, que tem um jeito de reconciliação com a criação e com a anatomia do canto. Me emociono só de pensar em Elis e sua incomensurável voz dizendo cuidadosamente o que foi feito pra ela .“O compositor me disse que eu cantasse ligada no vento, sem ligar pras coisas que ele quis dizer”. Gil traz a alforria nas mãos, a liberdade para a voz, agarrada no vento. E Elis voou.

Obs - E um beijo pro meu irmão mais velho, que ouvia Gil cantando isso sem parar na vitrola, se formou em Sociologia e foi dar aulas na Dinamarca.
Como disse, pode não ser verdade nada disso. Mas é lindo.
Nosso mundo
Recebi do professor Antonio Francisco Magnoni pungente e alentador texto de José Mujica, presidente do Uruguai. Uma reflexão cuja profundidade está na singeleza de suas assertivas; um canto de alerta quanto ao tipo de sociedade que construímos e um chamamento a mudar o quadro que ensaia seu galope rumo a um mundo pleno de consumismo e desumanização. Segue.
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.pulsamerica

Ustedes saben mejor que nadie que en el conocimiento y la cultura no sólo hay esfuerzo sino también placer.
 
Dicen que la gente que trota por la rambla, llega un punto en el que entra en una especie de éxtasis donde ya no existe el cansancio y sólo le queda el placer. 

Creo que con el conocimiento y la cultura pasa lo mismo. Llega un punto
 donde estudiar, o investigar, o aprender, ya no es un esfuerzo y es puro disfrute. 
¡Qué bueno sería que estos manjares estuvieran a disposición de mucha gente! 
Qué bueno sería, si en la canasta de la calidad de la vida que el Uruguay puede ofrecer a su gente, hubiera una buena cantidad de consumos intelectuales. 
No porque sea elegante sino porque es placentero. 
Porque se disfruta, con la misma intensidad con la que se puede disfrutar un plato de tallarines. 

¡No hay una lista obligatoria de las cosas que nos hacen felices!
 
Algunos pueden pensar que el mundo ideal es un lugar repleto de shopping centers. 
En ese mundo la gente es feliz porque todos pueden salir llenos de bolsas de ropa nueva y de cajas de electrodomésticos. 
No tengo nada contra esa visión, sólo digo que no es la única posible. 

Digo que también podemos pensar en un país donde la gente elige arreglar
 las cosas en lugar de tirarlas, elige un auto chico en lugar de un auto grande, elige abrigarse en lugar de subir la calefacción. 

Despilfarrar no es lo que hacen las sociedades más maduras. Vayan a Holanda
 y vean las ciudades repletas de bicicletas. Allí se van a dar cuenta de que el consumismo no es la elección de la verdadera aristocracia de la humanidad. Es la elección de los noveleros y los frívolos. 

Los holandeses andan en bicicleta, las usan para ir a trabajar pero también
 para ir a los conciertos o a los parques. 
Porque han llegado a un nivel en el que su felicidad cotidiana se alimenta tanto de consumos materiales como intelectuales. 

Así que amigos, vayan y contagien el placer por el conocimiento.
 
En paralelo, mi modesta contribución va a ser tratar de que los uruguayos anden de bicicleteada en bicicleteada. 

LA EDUCACIÓN ES EL CAMINO
 

Y amigos, el puente entre este hoy y ese mañana que queremos tiene un
 nombre y se llama educación. 
Y miren que es un puente largo y difícil de cruzar. 

Porque una cosa es la retórica de la educación y otra cosa es que nos
 decidamos a hacer los sacrificios que implica lanzar un gran esfuerzo educativo y sostenerlo en el tiempo. 
Las inversiones en educación son de rendimiento lento, no le lucen a ningún gobierno, movilizan resistencias y obligan a postergar otras demandas.

Pero hay que hacerlo. 

Se lo debemos a nuestros hijos y nietos.
 

Y hay que hacerlo ahora, cuando todavía está fresco el milagro tecnológico
 de Internet y se abren oportunidades nunca vistas de acceso al conocimiento. 

Yo me crié con la radio, vi nacer la televisión, después la televisión en
 colores, después las transmisiones por satélite. 

Después resultó que en mi televisor aparecían cuarenta canales, incluidos
 los que trasmitían en directo desde Estados Unidos, España e Italia. 

Después los celulares y después la computadora, que al principio sólo
 servía para procesar números. 

Cada una de esas veces, me quedé con la boca abierta.
 

Pero ahora con Internet se me agotó la capacidad de sorpresa.
 

Me siento como aquellos humanos que vieron una rueda por primera vez.
 

O como los que vieron el fuego por primera vez.
 

Uno siente que le tocó en suerte vivir un hito en la historia.
 

Se están abriendo las puertas de todas las bibliotecas y de todos los
 museos; van a estar a disposición, todas las revistas científicas y todos los libros del mundo. 

Y probablemente todas las películas y todas las músicas del mundo.
 

Es abrumador.
 

Por eso necesitamos que todos los uruguayos y sobre todo los uruguayitos
 sepan nadar en ese torrente. 

Hay que subirse a esa corriente y navegar en ella como pez en el agua.
 

Lo conseguiremos si está sólida esa matriz intelectual de la que hablábamos
 antes. 

Si nuestros chiquilines saben razonar en orden y saben hacerse las
 preguntas que valen la pena. 

Es como una carrera en dos pistas, allá arriba en el mundo el océano de
 información, acá abajo preparándonos para la navegación trasatlántica. 

Escuelas de tiempo completo, facultades en el interior, enseñanza terciaria
 masificada. 

Y probablemente, inglés desde el preescolar en la enseñanza pública. 


Porque el inglés no es el idioma que hablan los yanquis, es el idioma con 
el que los chinos se entienden con el mundo.

No podemos estar afuera. No podemos dejar afuera a nuestros chiquilines.
 
Esas son las herramientas que nos habilitan a interactuar con la explosión universal del conocimiento. 

Este mundo nuevo no nos simplifica la vida, nos la complica..
 
Nos obliga a ir más lejos y más hondo en la educación.
No hay tarea más grande delante de nosotros.   


sexta-feira, 25 de março de 2011

Recebo da professora Socorro Veloso, da UFRN, a matéria que segue:


Juca Kfouri dará palestra na UFRN

Jornalista que é referência na cobertura esportiva vem a Natal para falar sobre o tema "Jornalismo, esporte e democracia"

Jornalismo esportivo pode ir além da cobertura rasa, voltada apenas para o entretenimento? Para o jornalista Juca Kfouri, não só pode como deve. Com quatro décadas de experiência, o blogueiro, colunista da Folha de São Paulo e comentarista da ESPN virá a Natal no dia 5 de abril para falar sobre o assunto na palestra intitulada "Jornalismo, Esporte e Democracia".

O evento, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) através do Departamento de Comunicação Social (Decom), é uma oportunidade para estudantes, profissionais da área e fãs do futebol conhecerem mais de perto um universo que envolve, além do esporte, interesses políticos e financeiros. E tudo sob a visão de alguém que é referência quando o assunto é jornalismo esportivo.

O que Juca diz e publica na internet, na TV e no jornal já ensejou tantos processos contra o jornalista que ele nem se dá mais ao trabalho de contar quantas vezes foi acionado na Justiça - seguramente, mais de 100. Polêmico, sabe que quem noticia informa em benefício do coletivo, mas quase nunca sem incomodar ou ir de encontro a interesses difusos.


Segundo o chefe do Decom, professor Adriano Cruz, a vinda de Juca à UFRN complementa uma série de ações que fazem parte do processo de reestruturação do departamento. "Esse evento é de suma importância para discutir temas essenciais da comunicação hoje. Queremos reaproximar a academia e os profissionais do mercado para que haja uma troca de conhecimentos", afirma.


Sobre Juca Kfouri
Apesar da formação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), foi como jornalista que José Carlos do Amaral Kfouri ganhou notoriedade. Militante político nos tempos de ditadura, Juca virou referência no jornalismo investigativo, por meio do qual mostrou o lado obscuro do esporte, habitado por falcatruas e dirigentes corruptos.

O ingresso no jornalismo começou com o convite para trabalhar no Departamento de Documentação (Dedoc) da Editora Abril, em 1970. Quatro anos depois ele já era chefe de reportagem da revista Placar, passando por diversos veículos de comunicação ao longo da carreira. Sua história é contada por Carlos Alencar na biografia “Juca Kfouri: O Militante da Notícia”, lançada em 2006.

Em veículos impressos, foi diretor das revistas Placar e Playboy, além de colunista dos jornais O Globo, Diário Lance e Folha de São Paulo. Passou pela Rádio América e Americansat, antes da CBN, onde apresentou o CBN Esporte Clube por dez anos. Na televisão, após curta passagem pela extinta TV Tupi, seguiu carreira no SBT, TV Record, TV Globo, Rede Cultura, RedeTV, rede CNT e canais ESPN.

Atualmente participa de programas na ESPN Brasil e ESPN Internacional, assina uma coluna na Folha de São Paulo, é comentarista esportivo na CBN e tem um blog no site da UOL. Juca tem cinco livros publicados: A Emoção Corinthians (1982), Corinthians, Paixão e Glória (1996, com relançamento em 2002), Meninos, Eu Vi… (2003), O Passe e o Gol (2005) e Por que não desisto - Futebol, Poder e Política (2009).

quinta-feira, 24 de março de 2011

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces


Elizabeth Taylor
Veja só o que faz o jornalismo declaratório, sem que o repórter tenha reação questionadora. É da Folha a matéria. Meu comentário vem logo abaixo do texto do jornal.

Schwarzenegger se diz contra construção de hidrelétricas

MARIANA BARBOSA
DE MANAUS
O ator e ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, se juntou ao diretor James Cameron na luta contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Na abertura do Fórum Mundial de Sustentabilidade, que acontece em Manaus até sábado, Schwarzenegger afirmou que a água é uma fonte "fantástica" de energia, mas que "a construção de barragens, com o consequente desalojamento de pessoas e animais, não é sustentável". 

O ex-governador defendeu o uso de energias alternativas como solar e eólica e afirmou que o Brasil tem muito a aprender com a Califórnia. "Estamos construindo o maior painel solar do mundo na Califórnia." 

Schwarzenegger: defensor do meio ambiente
Na quarta-feira, antes do início do evento, Schwarzenegger acompanhou Cameron em uma visita a comunidades indígenas no Pará, localizadas no entorno das obras da usina. "Ninguém pode vir até Manaus e não visitar a floresta, foi um dia muito inspirador. Aqui em Manaus você pode sentir o poder da natureza que nos circunda." 

Segundo o ex-governador americano, para conseguir promover mudanças no campo ambiental, é preciso mudar o discurso de "medo" e "culpa" com relação ao meio ambiente, com discursos científicos catastróficos sobre mudanças climáticas ou de responsabilização de pessoas que usam carro ou sacolas de plástico. "A mudança virá da base da sociedade, e as pessoas precisam se envolver emocionalmente, precisamos fazer com que 'agir de verde' seja sexy". 

Cameron elogiou o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, mas criticou a falta de políticas a favor de energias renováveis. "Vocês aqui têm muito sol, mas apenas 1% da matriz energética vem do sol ou do vento. Na Alemanha, que depende muito de carvão e tem bem menos sol do que o Brasil, obtém até 20% da sua energia do sol e do vento. Vocês também podem fazer isso." 

ETANOL
Schwarzenegger elogiou o programa brasileiro de etanol e como o país conseguiu reduzir a dependência em relação ao petróleo. "Vocês são inteligentes ao produzir etanol de cana-de-açúcar. Mais do que a gente usando milho. Espero que vocês consigam exportar etanol para os EUA, isso vai nos ajudar imensamente." 
....
A entrevista foi centrada na força midiática, na personalidade dos dois famosos. Nenhum dos dois, ao que me consta, tem autoridade técnica para opinar a respeito do tema. Além disso, falta-lhes algo essencial para tratar do assunto: nenhum dos dois é brasileiro. Daí supondo que falta às suas assertivas algo essencial a um discurso digno de credibilidade: refiro-me a algo chamado sinceridade.

São americanos, portanto, têm interesse nas coisas do seu país e na exploração dos nossos recursos naturais em favor do gigante do Norte.

Schwarzenegger, então, faz um discurso chão, tolo, uma platitude: diz que é preciso criar o que entendi como sendo uma consciência sexy verde, a fim de que ser defensor da natureza transforme o indivíduo em alguém da moda, percebe? É tão rasteiro seu pensar, que o conservadorismo - não conservacionismo - do ator sinaliza que ninguém deve ter preocupação nem "sentir culpa" por usar automóvel ou entupir o mundo com plástico. Isso não foi questionado. Ou se foi não está dito no texto da Folha.

Ambos jogam culpa no Brasil pela construção da barragem, mas não referem ao fato de que seu país é um poluior em alto grau e defende o uso de energia nuclear. Somente para lembrar, Schwarzenegger - que nome! - em seus filmes, é o Exterminador do Futuro. É pouco ou quer mais?


A nossa triste sina

Apelando para tecnicalidades jurídicas o ministro Luiz Fux apoiou o fagueiro ingresso em plenário de fichas-sujas como Jader Barbalho (PMDB-PA), Cássio Cunha Lima (PSDB-PBO), João Capiberibe (PSB-AP), Marcelo Miranda (PMDB-TO), eleitos para o Senado, e Janete Capiberibe (PSB-AP), eleita para a Câmara. Com isso, atirou na lata do lixo a moralidade e os bons costumes políticos. 

Fux: fichas-sujaseleitos vão tomar posse
Diz a Folha que ele assim justificou seu gesto: "O intuito da moralidade é de todo louvável, mas estamos diante de uma questão técnica e jurídica de que se aplicar no ano da eleição fere a Constituição." Ações como esta, que fariam corar ambientes jurídicos mais sintonizados com anseios sociais elevados, asseguram a pessoas como as nominadas acima desenvoltura para que continuem a perpetrar seus atos frente a um Judiciário que, de alguma forma, os garante, dobrando-se a questões técnicas.

A impunidade, desta forma, passa a ser garantida como uma espécie de direito travesso, justiça às avessas para júbilo de quantos a queiram afrontar em sua forma tradicional e exata: punir aqueles que mereçam punição. 

A mesma Folha registra opinião contrária ao comportamento de Fux, ao detalhar: "Joaquim Barbosa, que defendeu a validade da lei nas eleições passadas, afirmou que a moralidade é um princípio constitucional e que caberia ao STF fazer uma escolha ao interpretar a Carta." Relata ainda o jornal: "Para Ayres Britto, 'o candidato que desfila pelo Código Penal com sua biografia não pode ter a ousadia de se candidatar'".

Triste sina a nossa, quando a lei termina por apoiar incursos no Código Penal em detrimento do que a sociedade espera de uma Corte Suprema. Triste Sina. 

quarta-feira, 23 de março de 2011

Deu no Estadão:

Morre nos Estados Unidos a atriz Elizabeth Taylor

Aos 79 anos, a intérprete de Cleópatra sofria de complicações cardíacas

A atriz Elizabeth Taylor morreu aos 79 anos, nos Estados Unidos, na manhã desta quarta-feira, 23. Ela estava internada havia seis semanas no hospital Cedars-Sinaides, em Los Angeles, e faleceu em decorrência de complicações cardíacas.
Mario Anzuoni/Reuters - 18.02.2011
Mario Anzuoni/Reuters - 18.02.2011
 
Liz Taylor foi operada em 2009 com uma falha na válvula cardíaca, uma intervenção que segundo palavras da atriz saiu "perfeitamente bem". Além de sofrer de diversas pneumonias durante sua vida, ela superou nos últimos anos problemas na coluna, diversas operações de quadril e, inclusive, um tumor benigno no cérebro que foi retirado em 1997. Além disso, a atriz teve um passado de abusos de álcool e drogas.
Em comunicado, a agente da atriz, Sally Morrison, informou que Elizabeth Taylor morreu "em paz" e cercada pelos quatro filhos. "Apesar de ter sofrido recentemente uma série de complicações, a condição estava estável e se esperava que ela pudesse voltar para casa. Infelizmente, não era para ser", completou.
"Minha mãe era uma mulher extraordinária que viveu a vida ao máximo, com muita paixão, humor, e amor. Apesar de sua morte ser devastadora para aqueles que a mantiveram tão próxima e de forma tão querida, sempre seremos inspirados por sua contribuição duradoura ao nosso mundo", disse o filho da atriz Michael Wilding.

Nascida em Londres, em 27 de fevereiro de 1932, de pais norte-americanos, Elizabeth retornou para os EUA no final da Segunda Guerra. A mãe, Sara, abandonou a carreira de atriz ao se casar com o pai, Francis Taylor, mas enconrajou a filha a seguir seus passos. As duas foram muito próximas até a morte de Sara, em 1994, aos 99 anos.

Em 1963, Liz Taylor notabilizou-se pelo papel de Cleópatra. Elizabeth ganhou o Oscar duas vezes, pelos filmes Disque Butterfield 8 (1960) e Quem tem medo de Virginia Wolf? (1966). No fim da vida, tornou-se famosa por seus sete casamentos e pelo comportamento às vezes excêntrico. Ela vinha apresentando problemas de saúde nos últimos anos e apareceu em público em estado de saúde frágil.

A atriz encabeçou uma série de causas, principalmente o combate à aids. Após a morte do amigo Rock Hudson, ela abriu uma fundação contra a doença para a qual dedicou seu tempo e dinheiro - principalmente a partir do declínio da carreira, na década de 1980.
Dá para comprar uma pedra

http://www.google.com.br/imgres
Um leve tremor no corpo, as perninhas bambas escorregam pelo chão de areia do barraco, os pés encardidos pisando a própria miséria. A fome ronca na barriga que parece um buraco, um oco no meio do corpo do menino. Bandé caminha até a janela e a luz do sol - é manhã nascente -, estala em seus olhos um brilho de dor . Somente então, com a fome estalando na barriga oca, a tremedeira nas pernas, a cabeça funcionando mal, se dá conta de que está há três dias sem comer. 


Se vira para dentro do casebre e vê, num canto daquele pequeno antro que construiu só para si, a garrafa de plástico que o tem acompanhado nos últimos dias: nela, um resto de cola de sapateiro; mais adiante, o cachimbo de crack. Arranja forças não se sabe onde e caminha até lá. Cheira a cola e isso estranhamente lá dá um ânimo brutal. As forças retornam àquele corpo mirrado, àquela cabeça tonta. 

Vai à luta. Pega um caco de vidro e invade a casa vizinha,  de uma velha paralítica estirada em uma cama. Ali, ningúem mais que ele, o corajoso da miséria, e ela, a vítima a quem os filhos deixaram sozinha para ir trabalhar. Ele mete a mão sob o travesseiro para ver se tem dinheiro. A velha resiste e tenta segurar as mãos do menino. Ele se livra e num gesto brusco atira a mão armadae fende o pescoço da mulher. O sangue esguicha e ele sai. Havia encontrado cinco reais debaixo do travesseiro. Dá para comprar uma pedra.

terça-feira, 22 de março de 2011

Campus Cidade Alta oferece vários cursos abertos à comunidade

O Campus Avançado da Cidade Alta do IFRN está com matrículas abertas para o Programa “Artes da Cidade”, que contempla diversos cursos de extensão gratuitos abertos à comunidade. Do total de vagas, 50% é reservada às pessoas que estudam ou concluíram estudos na rede pública de ensino.
Apesar de gratuitos, o diretor do campus, professor Lerson Fernando, informa que o aluno precisa assumir o compromisso de seguir as normas de frequência e participação nas aulas.
Cada curso terá entre 10 e 15 vagas, com preenchimento via sorteio, a ser feito no primeiro dia de aula. Por isso, é importante que todos os inscritos compareçam à instituição na data marcada para o início do curso ou oficina, previsto para 22 de março.

Serviço

  • Inscrições: 15 a 21 de março
  • Documentação: 01 foto 3x4 , xerox de RG, CPF, comprovante de endereço e de histórico da escola pública (para quem quiser entrar na cota dos 50% das vagas)
  • Telefone: 4005.0963
  • E-mail:  extensao.cal@ifrn.edu.br
  • Endereço: Avenida Rio Branco, n. 743, Cidade Alta – em frente à Central do Cidadão
Do jornalista e poeta Walter Medeiros, este poema sobre o Dia da Água

Apesares

--- Walter Medeiros

A gota d’água da chuva
Explodiu no chão da serra
E secou rapidamente
Ao sol, inclemente.

Era a última gota
Na seca do açude
E se desintegrou
No chão rachado e triste.

Aos olhos sedentos
Daquele nadador sertanejo,
Que sacode a poeira
Da roupa de couro de boi.

O facão desolado corta o coração,
Na ligeireza que passa
Do corte úmido do mandacaru,
Para molhar os lábios rachados.

A mão forte aperta a fé
E resiste em busca da vida,
Mesmo que sofrida, sedenta;
Mesmo que faminta.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Um discurso de churrascaria

De Jânio de Freitas, na Folha:
Segurança oficial e simpatia do casal roubam atenção

Até camisa do Flamengo, cujo campo foi usado pelo helicóptero de Obama, foi considerada ameaçadora

JANIO DE FREITAS
COLUNISTA DA FOLHA

O segundo ato importante de Barack Obama no Brasil, sendo o primeiro sua conversa reservada com Dilma Rousseff, esperava-se ser o discurso público previsto para a Cinelândia e reduzido a discurso reservado a convidados no Theatro Municipal.
Se a plateia correspondeu ao privilégio do convite, com os aplausos apropriados, o papel de Obama não exige muito rigor para ser descrito assim: um discurso de churrascaria.
Salvou-se uma frase, talvez, pela retórica: "Quando se acende uma luz de liberdade, o planeta fica mais iluminado". Ao que, dada a seleção dos convidados, não houve um maldoso que indagasse: "Por isso, tome de luzes com bombas e foguetes?" No mais, Barack Obama parece ter utilizado o ato no Municipal para oferecer uma síntese da motivação perceptível de sua visita: "Vejam como eu sou simpático".
Para uma visita que devesse dar novo sentido às relações de Brasil e Estados Unidos, não por causa de duas ou três contrariedades causadas à Casa Branca por Lula, mas por sempre, a missão de Obama fez muito pouco. Se fez algo, não divulgado até agora das suas conversas com Dilma Rousseff.
Do que se sabe, o melhor ficou com a presidente. Pela objetividade com que destacou, já que o palavrório visitante tanto se referia a relações de colaboração, o tratamento prejudicial dado pelo governo dos Estados Unidos a um punhado de produtos da exportação brasileira (tratamento discriminatório mesmo em desobediência a julgamento da Organização Mundial de Comércio).
A frase mais repetida a respeito de Barack Obama, nos meios de comunicação brasileiros, é a que o define como "o homem mais poderoso do mundo". É possível.
Mas a suave Patrícia Amorim -uma lição feminina de como dirigir com honestidade e competência um grande clube de futebol- não poderia sequer presentear Obama, cujo helicóptero usou o campo do Flamengo, com uma camisa do time.
A "segurança" de Obama tinha considerado a camisa tão ameaçadora quanto uma pessoa ter qualquer coisa na mão, ao se aproximar do presidente. Patrícia foi vestida com a camisa.
É o homem mais poderoso ou o mais frágil? (Em tempo: Patrícia Amorim não respondeu, como poderia, que, se a camisa e mesmo ela são tão perigosos, Obama que baixasse em outro lugar, não mais no Flamengo).
O pior da "segurança" em proporções estúpidas é que os locais a tomam como eficiência em nível máximo e exemplar.
Há anos, se um avião com o presidente brasileiro está em voo, o tráfego aéreo é alterado, como se também aqui o avião presidencial estivesse sob risco de ataque da Al Qaeda.
De uma visita que fez tantos esperarem tanto, com as pretensas antecipações de numerosos tratados, o "esquema de segurança" foi o que mais atraiu atenção.
E, claro, a simpatia do casal. À qual o "glamour" da jovem senhora dá, esta sim, uma boa segurança.

domingo, 20 de março de 2011

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Stephanie de Mônaco
Somente agora, quase oito da noite, pude ler O Poti, formato standard, em seu retorno como leitura dominical. Um bom jornal. Bem diagramado, bom uso de ilustrações fotográficas, vários articulistas. Noticiário local abrangente, alguns textos em estilo reportagem. Parabéns a Deliomar, diretor institucional, e a Soares e a Juliska Azevedo, editora-chefe.
Emanoel Barreto
O poder que pode, na voz que manda

No discurso feito no Theatro Municipal do Rio, o presidente Obama, utilizou-se de retórica, digamos assim, atrativa: citou que no auditório havia "cariocas", "paulistas", "mineiros" e "baianos". Assim mesmo, em português. Com isso buscou estabelecer laço de aproximação, como se conhecesse a fundo as diversidades nacionais. Mais que isso, lembrou que às portas, em frente ao teatro, houveram as grandes manifestações contra a ditadura. Foi aplaudido. Mas não disse que a ditadura teve seu punho, seu braço de ferro, apoiado pelos EUA; que havia navios de guerra americanos em nossa costa, com tropas prontas ao desembarque caso o golpe de 64 não se processasse com a eficácia desejada pelo seu país. 

Elogiou Dilma e sua coragem de lutar contra a ditadura. Mas nada disse quanto ao fato de que à época da prisão ela era militante de grupo armado e em movimento bélico aberto contra a ideologia que ele, e agora ela, unidos pelos tortuosos caminhos da política, defendem. É como se a ditadura brasileira também tivera repúdio norte-americano. É como se numa kafkiana, ionesca modificação de fatos históricos, os Estados Unidos e a hoje presidente tivessem ligações orgânicas profundas, enraizadas desde o processo ditatorial brasileiro.

O jornalismo de festim elogiou enormemente o discurso obamiano. A vinda do mandatário americano se dá unicamente em face das mudanças que se processam no chamado mundo árabe, que coincidem com o fortalecimento de nossa economia. Taticamente, é preciso fortalecer a parceria com o Brasil. Atende aos interesses americanos. Pode até, de alguma forma, atender aos nossos. Mas querer fazer parecer que os EUA são "amigos" é coisa bem diferente. Muito diferente.