sábado, 11 de julho de 2009

Diploma sim. E já!
Emanoel Barreto

Está para ser encaminhada proposta de emenda constitucional que restabelece a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. A proposta é do deputado Paulo Pimenta (PT). No Senado, tramita proposta do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE).

Na Câmara o documento teve o apoio de 191 parlamentares.
Do Rio Grande do Norte, apenas Sandra Rosado (PSB) e Fátima Bezerra (PT). As informações relativas aos deputados me foram passadas por colega, integrante, como eu, do Forum Nacional dos Professores de Jornalismo.

Omitiram-se, pelo menos até agora, os deputados Henrique Alves, Betinho Rosado, Fábio Faria, Felipe Maia, João Maia, Rogério Marinho. A decisão do Supremo com relação ao diploma está eivada de um primarismo que desqualifica a condição intelectual e humanística da Corte. Revela os juristas como incapazes de entender a diferenciação palmar entre informação e opinião, sendo a primeira ato de relatar o que ocorreu, e a segunda gesto de emitir ponto de vista.

No segundo caso estaria, aí sim, o direito à livre expressão de pensamento. Os ministros confundiram tudo. Explico: quando um repórter sai à rua, ele busca encontrar no mundo acontecimento importante ou interessante, seja na rua mesmo, seja no parlamento ou locais onde se dá o confronto de ideias.

A responsabilidade, ou o direito, de manifestar opinião a respeito, está vedada ao repórter pelas próprias empresas. Em jornal somente opina quem a empresa deseja que opine, percebe? Somente pessoal da confiança da direção do jornal tem o direito, dentro da empresa jornalística, de manifestar opinião: colunistas, editorialistas, articulistas. A notícia, por sua vez, é apenas relato, sem opinião, do jornalista que a redigiu.

Colunistas e editorialistas são contradados para isso. Articulistas nem sempre são jornalistas, mas podem ser contradados, em razão de notório saber relativo a assunto ou tema, para que sobre estes façam comentários. Acho legítimo, por exemplo, Delfim Netto expor sobre economia e política, ou a filósofa Marilena Chaui tratar de questões também envolvendo o contencioso social, só para ficar nesses exemplos.

Agora, determinar que, para o exercício do jornalismo, uma pessoa não precisa ter qualquer qualificação, já que não se lhe exige o diploma, é pelo menos uma demonstração de alguma forma de ignorância ou má-fé.

Espero e confio que a legislação seja mudada e que nós, jornalistas, tomemos nosso destino em nossas mãos e passemos agir como corporação a fim de assegurar, no final do processo, o jovem estudante saia da universidade qualificado para o exercício profissional.


sexta-feira, 10 de julho de 2009


Texto para uma foto estranha
Emanoel Barreto

Devia cantar, mas, antes, não fez nada.
Devia dizer, mas, depois, calou-se.
Deveria saltar?


quarta-feira, 8 de julho de 2009

O cansaço do pequeno brasil
Emanoel Barreto

O pequeno brasil cansou.
Se não de tudo, pelo menos de andar.
E depois, para aonde os passos o levarem,
chegará sempre e sempre a mais cansaço.


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Confirmada existência de funcionários-fantasmas
Emanoel Barreto

A Folha informa: Único instrumento de fiscalização das contas bancárias mantidas em sigilo no Senado, a comissão interna formada por um senador e dez servidores é uma peça de ficção. O grupo, que não se reúne há pelo menos cinco anos, é integrado por funcionários que não mais pertencem aos quadros do Senado e até por um servidor morto em 2005. Trata-se de Celso Aparecido Rodrigues, diretor financeiro do Senado. Ele foi designado para o Conselho de Supervisão do SIS (Sistema Integrado de Saúde) em agosto de 2003. Morreu dois anos depois.
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Comprovado: funcionários-fantasmas existem. Eles andam à noite pelas salas, ântecâmaras, corredores e escaninhos do Poder. Participam, influem, opinam e decidem coisas relativas aos vivos. No Senado, sabia?, têm até livro de ponto e cumprem fielmente com o seu dever, ou seja: fazer nada. Coisa que já faziam, e muito bem, quando estavam vivos. E somente porque eram vivos, "muito vivos", que conseguiram, já mesmo em vida, ser funcionários-fantasmas.

O Senado é o cenáculo onde se espicham, se espojam e vicejam tipos os mais condenáveis, que achincalham, na esbórnia de suas vidas lodosas, o dinheiro que falta ao posto de saúde, à escolinha de bairro, aos mais pobres da nação.

PS: Se você digitar neste blog a palavra "zumbi" saberá como surgiram os funcionários-fantasmas e a incrível história do seu surgimento. É de arrepiar.

domingo, 5 de julho de 2009

Ó Deus, ele morreu...
Emanoel Barreto

Deu na Folha: Mais de um milhão de pessoas se registraram na internet para o sorteio das apenas 17.500 entradas que permitirão acesso ao funeral de Michael Jackson na próxima terça-feira (7), em Los Angeles, informou neste sábado (4) em comunicado a empresa porta-voz da família do cantor.
Um total de 1.223.978 pessoas tinham se inscrito na página do ginásio Staples Center, que receberá a cerimônia, até as 17h (hora em Brasília) deste sábado.
Na sexta-feira, a empresa AEG, responsável pela organização do funeral, assinalou que abriu o processo de registro a pessoas que não vivem nos Estados Unidos, uma modificação ao anúncio realizado na manhã de quinta em Los Angeles.
Os que quiserem assistir ao memorial terão a sua disposição 11 mil entradas para o Staples Center e outras 6.500 para o teatro Nokia, a poucos metros do ginásio, onde a cerimônia será transmitida.
O funeral do rei do pop será transmitido para todo o mundo.

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A orgia midiática em torno da morte do cantor bem merece um estudo acadêmico. Há algo de profundamente histérico nesse concerto de insanidade. Histeria social pré-fabricada a partir e em torno da indústria de discos e da TV. Jackcon, um ídolo pop, um produto dessa indústria, conseguiu como que fazer a catarse da nossa idade, a idade da loucura administrada com fins de lucro.

É lamentável a sua morte, como assim também o é a morte dos que nos são próximos e nos deixarão saudades e até mesmo um dor pungente. A primeira morte, a morte do anônimo, causa a devastação amorosa dos que o querem bem. Vem o luto e a sua necessária superação. Não é o caso do saltitante artista.

A partir dela, o sistema de lucro da indústria cultural vai estabelecer seu esquema de ação: virão discos com músicas inéditas, CDs com últimas imagens, imagens raras de Jackson falando com amigos, Jackson andando, Jackson pensando, Jackcon isso, Jackson aquilo, Jackson aquilo outro...

Tudo uma manipulação até mesmo macabra, explorando até à última gota a vida de um ser humano que viveu disso e para isso: escândalos, frivolidades, bizarrices. Ah.!, dirão, mas era um artista, um ser sensível, pleno de virtudes, complexidades, problemas que somente a sua poética idissoncrática poderia fazer e se auto-compreender.

Pode até ser, mas, menos. Por favor, menos. Por trás de tudo estava o dinheiro, a narcísica e doentia necessidade da fama, o peter pan que gostava de meninos. Michael Jackson sim. Mas, por favor, menos...