Lula, a
História e os que serão reduzidos a pó
As observações que farei a
respeito do depoimento de Lula voltam-se unicamente para a questão do contexto
histórico e a marcha dos acontecimentos, não para o confronto entre aquele e o juiz Sérgio Moro.
O suposto confronto era do
interesse unicamente de um certo segmento social e midiático e visava criar
condições para um acirramento de ânimos de consequências que poderiam até mesmo
atingir os pilares da nossa frágil democracia.
A Lava-Jato é uma atitude
tático-jurídica que age em dois planos paralelos e intercomplementares: o
primeiro diz respeito mesmo ao ato de enfrentamento à corrupção; o restante,
enraizado no primeiro, volta-se para a destruição do PT e de Lula como figura icônica.
Como o PT e Lula foram de alguma
forma enredados nas engrenagens da Lava-Jato o intento destrutivo torna-se
aparentemente viável.
Observemos: as incoerências históricas
do PT, expressas em suas alianças desde a primeira eleição de Lula à
presidência, permitiram a fragilização do discurso partidário e o tornaram
presa fácil.
Isso vale tanto para a ablação do
partido quanto para impor ao país o que se está efetivamente impondo:
desregulamentar o trabalho e aprisionar a previdência.
É um propósito e tanto para os
que desejam acabar com direitos e apassivar uma organização partidária.
Por isso tornou-se importante
para a Lava-Jato e seus periféricos – TVs, jornais, blogs e movimentos
apresentados como populares – esmigalhar o PT e amesquinhar a figura histórica
de Lula.
O grande objetivo é eliminar uma
figura popular a fim de, mais facilmente, retirar direitos mais e mais. Trata-se
da busca de uma hegemonia.
O esforço é tão maior quanto
grande é a expressão de Lula perante a história. Não se lhe pode negar importância
e vigor durante o período ditatorial, não se pode esconder sua ação no plano da
promoção social.
E se é grande o empenho é porque
o adversário é notável.
Creio que Lula, mesmo com todas as suas contradições, em sua
complexa circunstância de ator histórico preso ao destino de um país de tantas
e tão graves divagações como a última ditadura, tem sim peso e
representatividade que devem ser levadas em conta.
Nada me tira a convicção de que
daqui a cem anos haverá trabalhos acadêmicos, livros-reportagem, análises e
artigos em revistas de sociologia analisando Lula e tudo o que a sua presença
de mundo deflagrou.
Quanto a seus acusadores,
incluindo os jornalistas, o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato
serão, todos, peças secundárias. Serão mencionados, jamais personagens
centrais.
Em outras palavras: daqui a cem
anos Lula será Lula. E, só para citar exemplo, Aécio Neves, que buscou ser sua nêmese,
estará reduzido a pó.