sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Minhas memórias fabulosas: uma estranha história que vivi em 1799

De como o 11 de setembro estava previsto desde 1799

http://www.blogger.com/blogger.g?blogID
Estava eu ocupado, e mui, em trabalhos tipográficos quando se me apresentam à casa onde moro dois elegantes cidadãos: um elegante e bem postado orangotango; fidalgo, logo o vi, e um sisudo grou, tambem ele homem de grandes ascendências e preclaros ancestrais. 

Trabalhava eu na preparação de éditos me encomendados por monarca de ilha distante e ignota, senhor de selvas e ondas de mar turquesa. Como sabeis sou tipógrafo. Arte que aprendi com o Mestre de Mogúncia, idos de 1450.

Queria o tal monarca, graúdo personagem, que eu redigisse documento para comunicar a seus súditos que ninguém deveria ler os tais éditos que eu reparava, uma vez que tratavam de terríveis coisas do mundo como guerras, pestilências, corrupção dos costumes e outras debacles, a fim de que aquele honesto e ingênuo povo não se abalançasse a buscar tais e tremendos sucessos. Naquela ilha imperavam a mansidão e a concórdia e assim, queria o monarca, tudo deveria permanecer. Mais claramente: o monarca mandara eu redigir um documento dizendo que as pessoas não deveriam ler os documentos tidos como proibidos.

Devo dizer que neste momento encontro-me em pleno ano de 1799, quase adentrando, como se nota, o Século XIX. Devo dizer que espero mui desse século, cujos albores, parece, encaminharão a humanidade a patamar mais elevado. Mas, voltemos aos dois senhores que haviam comparecido à minha oficina: parei o trabalho e fui atendê-los.

Após as apresentações de praxe disseram a que tinham vindo: queriam que eu preparasse jornal - um jornal mágico logo descobri - onde se publicariam todos os infortúnios do mundo. Tudo o que se fosse tornar fato e realidade. Se tal fosse feito, asseguraram-me, e o jornal destruído em fogo de fogueira feita com madeira do monte Olimpo, todos os males seriam retirados da Terra e o século vindouro e todos os demais seriam plenos de idades fabulosas, eras magníficas e grandes ocorrências, chegando a humanidade a seu destino e fado: bem viver feliz; até, até, até. O jornal purgaria por antecipação os males  nada aconteceria.

Eu disse-lhes que era apenas um gráfico, um dono de tipografia, não tendo acesso aos dons de Merlin. Não, rebateram, eu não precisaria prever a vida do mundo. Apenas anotar e fazer publicar em jornal tudo o que me dissesse bela e dramática pitonisa a quem fizeram chamar. E logo adentrou à minha casa, envolta em volutas espessas, enignática dama. Fiz-lhe profunda reverência, a mulher entrou em transe a logo passou a prever o que iria o mundo viver e sofrer a partir do Século vindouro e daí em diante. 

Ao iniciar-se meu trabalho os grandes senhores retiraram-se não sem antes me advertir: ninguém, ninguém poderia ler o jornal, que seria levado à fogueira olimpiana isento de olhar de homem. Assenti com a cabeça e eles saíram. A tudo o que a mulher dizia minha mão, trêmula, anotava. Eram horrores demais, temores demais, cataclismas intensos, tragédias incontáveis, explosões e armas inacreditáveis. Datas e líderes explodiam às palavras da vidente. 

Percebi que minha missão era também algo terrível: tinha ali, literalmente, os destinos do mundo, da vida, de tudo. Caso aquela missão tivesse bons frutos um simples tipógrafo gutemberguiano mudaria a repetiviva estrada da história: teriam fim guerras e horrores liderados por loucos crentes em sua própria loucura, aqui e no ignoto Oriente.

http://www.google.com.br/imgres?q=11+de+setembro&hl=pt-BR&safe
A mulher não parava de prognosticar, vaticinar, profetizar e adivinhar, até que o mundo chegou afinal ao Apocalipse, com o acionamento de arma tão tremenda que é difícil crer que algo assim possa ser criado pela mente humana e usada por mão carrasca. Após terminar, três dias depois os seu trabalhos, exausta e branca, a pitonisa foi levada por um cortejo de aias que a amparavam, desaparecendo e meio a brumas.

Mal parei: refiz-me também da minha luta e corri à oficina, onde tipos preciosos, manejados por Gutemberg em pessoa me esperavam para o próximo passo. Trabalhei sozinho durante dias. Dispensara todos os auxiliares: o jornal não podia ser lido por mais ninguém além de mim. Ao fim e ao cabo de toda a travessia mandei que um aprendiz fosse chamas os dois senhores: o jornal estava pronto.

Impresso em papel de bela qualidade, ilustrado com imagens desenhadas à perfeição, textos de grande poder narrativo e descritivo, aquela obra era algo preciosíssimo. Lacrei-a em enorme envelope, entregando-a absolutamente fechada ao grou e ao orangotango. Não nos falamos. Ato contínuo, dirigiram-se eles a um outeiro onde já estava pronta a fogueira do Olimpo. Vetustos e sérios seguiram em sua carruagem. Nunca mais os vi.

Passou-se o tempo e, de lá para cá vi, li e escrevi a respeito de grandes males e enormes ocorrências e dores profundas. Duas Grandes Guerras, revoluções e destroços. Duas bombas atômicas. Tudo isso fora previsto pela pitonisa e tudo isso presenciei. Minha compreensão terminou por ensinar-me algo em que recusava-me a acreditar: algo havia dado errado com os respeitáveis grou e orangotango. Algum miserável acontecimento os havia colhido, impedindo que o mundo seja hoje um local digno e aprazível.

A minha suspeita de que algo ocorrera àqueles dois senhores foi confirmada: os honoráveis homens voltaram um dia, centenas de anos depois, à minha casa e, como naquele dia distante, estava eu na oficina. Foram trazidos à minha presença e contaram, olhos injetados de angústia: o jornal fora lido! Lido minutos antes de ser levado à fogueira. 

Como assim?, quis saber. Muito simples: para ser queimado o jornal teve que ser retirado do envelope por um pajem. Nesse instante aquele lacaio pousou os olhos na manchete, caindo fulminado por um colapso, tão horrenda era a notícia. Outros acorreram a ele e entraram em pânico. Enlouquecidos, puseram-se a correr gritando ao mundo o que aconteceria. 

Formou-se multidão e o jornal foi lido por todos, que se puseram a gritar. Em meio a isso acusaram o grou e o orangotango de feitiçaria e atos cabalísticos. Eles conseguiram fugir e ao longe viram acesa a fogueira e queimado o jornal, mas era tarde: o mundo continuaria a trilhar sua senda eternamente, até que venha o último artefato, a última bomba.

PS: os dignos senhores ainda estão em minha casa.  Pediram que eu ligue a televisão. Hoje é 11 de setembro.

E aí o povo bêbado vai gritar: "É cam-pe-ão! É cam-pe-ão!"



Os leões e a Arena das Dunas
Não sei se é náusea, nojo ou repulsa, mas o certo é que um sentimento ruim me invade quando passo nas imediações da Arena das Dunas, o deplorável santuário prateado para onde jorram os dinheiros sociais que deveriam ser empregados a favor do ser coletivo a quem chamamos povo. 
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=20204364#editor/target=post;postID=6006165432792332625

Resultado da decisão insana do então presidente Lula, essa arena, bem como as outras onde onde será realizada a Copa do Mundo, é a representação exata, firme, poderosa, horrenda, do quando se pode gastar impunemente o dinheiro da sociedade em projetos enlouquecidos.

 Mais que isso, a arena é a corporificação do consenso da chamada classe política: todos os partidos, talvez à exceção de PSTU e PSOL, bateram cabeça, aplaudindo a procissão onde o rei está nu. E não houve neste país sociedade civil para contestar a loucura de Lula e de seus sequazes de todos os partidos. 

E temos então no pobre Rio Grande do Norte o despejo de preciosos recursos. A arena, como um liquidificador imenso, sorve tudo e tritura o dinheiro que some em suas entranhas de ferro, chão e grama; e então, em 2014, de quem puder pagar o preço para berrar “gooooooooooooooooooool!”, com o bucho cheio de álcool e euforia, dirá que participa de uma grande festa. Ave, loucos! Ave!

Quando o monumental circo estiver totalmente e armado os pobres serão afastados pela polícia: não, nenhum vendedor de cerveja, cachaça, seja lá o que for, poderá se aproximar da arena: a Fifa não deixa. E o nosso povo aceita tudo, honradíssimo em ter aqui a Copa do Mundo. Grande coisa.

Ao que parece nem mesmo o sinistro nome de arena funciona como pista de tudo o que se faz, de todo o mal que se faz. Arena somente me lembra gladiadores, sacrifícios, sangue, suor e lágrimas. Ah! Sim! Lembrei agora: arena também é martírio.

Martírio, martírio, martírio. Sabe o que é isso? Sabe, todo mundo sabe. Mas a questão é que as pessoas já ficaram tão acostumado a sofrer, coitadas, que se um dia forem convidados a ser jogados a leões na Arena das Dunas, alegando a Fifa que é apenas a festa de abertura da Copa, todas irão. Sorridentes, alegres, suadas, bêbadas e gritando: “É cam-pe-ão! É cam-pe-ão! É cam-pe-ão!”

Depois as feras fazem a festa. E vão fazer de qualquer jeito.