Discurso do jornalista Walter Medeiros na
câmara municipal de Mata Grande ao receber o
título de cidadão matagrandense em 12.11.2012
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Mata Grande,
Uma música diz que a vida é feita de chegadas e partidas. E é verdade. Cada um
tem seus encontros e despedidas. E em meio a tudo isso estão momentos
inesquecíveis, como este momento, um momento de reencontro. Momento que se
constitui num sonho, vivido neste chão tão especial, pedaço sagrado do sertão,
onde pisei na inocência da infância e tenho a felicidade de voltar agora pela
terceira vez.
Volto a Mata Grande mais feliz. Agora chamado pelos seus dignos representantes
para receber tão alta honraria, o Título de Cidadão Matagrandense. Homenagem
que é dada a poucos e que não esperava, apesar de todo sentimento que sempre
demonstrei por esta terra.
O simples caminhar por estas ruas, por estas serras, por suas estradas, já
bastava para mim. Bastava, para mim, no meu memorável olfato, o cheiro forte,
inigualável e inesquecível do melão Caetano, que encontrava pelas cercas no
caminho da fonte. Bastava-me rever a sombra do aveloz e a torre da Igreja, tão
alta e protetora dos nossos passos e aspirações.
Emociona-me cada foto que vejo do povo de Mata Grande nas ruas. Em procissões,
desfiles ou tantos ouros festejos, para identificar que um dia era eu quem
estava pelas ruas assistindo aos papangus do Carnaval ou vendo a minha irmã
desfilar, com aquela farda tão alinhada, com as suas colegas do Colégio.
Daqui parti há cinquenta anos. Saímos num caminhão, meu pai, minha mãe e eu,
para Arcoverde, em Pernambuco. Lá embarcamos num trem, que nos levou até Natal.
Naquele tempo o transporte ferroviário tinha uma malha extensa e era muito
útil. E fomos viver nossas vidas na cidade onde nasci. Mas as lembranças de
Mata Grande nunca se apagaram, nem haverão de se apagar.
Carlos Drummond de Andrade não estava ainda em minha vida, mas eu já praticava
o que disse ele em um de seus versos: “Não nos afastemos tanto”. Escrevia para
cá e recebia cartas de nossos ex-vizinhos. Em algumas ocasiões, recebíamos
fotos e notícias recentes, que nos davam uma visão das mudanças que aqui vinham
ocorrendo.
Com o tempo fui percebendo que essa ligação não era só minha nem da minha
família. Descobri que a ânsia por notícias e a vontade de voltar a Mata Grande
era forte da mesma forma em todos os seus filhos e ex-moradores que partiram
para outros estados, principalmente para São Paulo e Rio de Janeiro.
Pessoas que nasceram em Mata Grande e foram para longe não esquecem e se
emocionam com notícias daqui. Para ter um forte exemplo, cito a amiga Rosilda,
que saiu daqui nos anos setenta e foi com a sua família para São Paulo. Na
viagem que fiz a Mata Grande em 2011 fotografei a casa onde ela morou até os 17
anos. Enviei-lhe aquelas imagens e ela me passou uma mensagem dizendo que havia
ficado muito emocionada, não esperava aquela surpresa e tinha chorado muito com
aquela lembrança. Rosilda hoje é diretora de um colégio em São Bernardo do
Campo, São Paulo.
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Por onde andei e ando levo minhas fortes ligações com este belo pedaço do
sertão nordestino, que começou a ser habitado há mais de duzentos anos. E
quando uso a palavra “belo” não falo de forma vulgar; considero Mata Grande da
mesma forma que os antigos filósofos da Grécia encaravam a beleza; algo que
provocava mesmo grande sentimento, grande comoção.
Mesmo sem tanta andança na região, para mim sempre repercutiram de forma
bastante familiar as informações sobre as redondezas: Água Branca, Inhapi,
Canapi, Paulo Afonso, Palmeira dos Índios, Delmiro Gouveia, Santana do Ipanema,
Satuba e Maceió.
Vinte anos depois de ter saído daqui, as lembranças eram tão fortes que resolvi
escrever tudo que recordava. Passei a soltar meu pensamento pelos caminhos de
todos os meus sonhos infinitos. Lembrar o cheiro das árvores coloridas de Mata
Grande. E as pedras da Serra da Onça, onde fazia as incursões de minha
infância. Reviver comigo mesmo o tempo ingênuo e puro da fonte, próximo da qual
encontrava o mel das abelhas e onde o silêncio só era quebrado pelo canto dos
pássaros.
Pensava em voltar a Mata Grande do Grupo Escolar Professor Demócrito Gracindo,
onde me realizava ao assistir as aulas da professora Josefina Canuto. Do bar de
Noca. Do alambique onde era feita uma cachaça chamada Carolina, tinha no rótulo
a foto de uma bela moça e sempre me lembrava a música de Luiz Gonzaga que tem
esse nome. Da padaria de seu Balbino, onde comprava o pão francês tão
quentinho. Da rua de cima e da rua de baixo. Do armazém de seu Odilon, com
aquelas latas e tonéis.
Trazia à minha mente a figura de Pastora, uma preta sem rumo, bebendo cachaça
pelas ruas. Trazia a mim Dona Maria Sabiá, chegando à minha casa com o café
torrado no caco. O carro de cocão de Etinho, meu irmão, que antes de mim foi
para Natal estudar no Ginásio Industrial, formou-se em Mineração e depois
Jornalismo.
A despedida da minha irmã Clemilda, que também foi para Natal antes de nós. E
lembro ainda que pegava bigu nos carros de boi, depois da feira. E a felicidade
de vestir as roupas novas que a minha mãe fazia.
Mata Grande sempre foi como uma rosa que se procura. Distante, no alto sertão
das Alagoas. Não mandava tantas notícias. Mas eu não esqueci. E hei de vê-la
novamente, para retomar sempre o caminho dos meus sonhos.
Voltar aqui sempre foi retornar a um passado sem igual. Por estas ruas eu
andava e sonhava sonhos pouco ambiciosos, porém justos. Como os que ainda hoje
sonho, que a vida haverá de concretizar. Observava, pequeno, as frondosas
árvores, com suas flores vermelhas e amarelas, e as folhas caídas ao chão,
levadas pelo vendo da ladeira da Matriz.
Não era de ficar observando muito, porque na minha mente de criança morava
distante. Mas aproveitava o máximo quando era mandado à rua ou ia, aos
domingos, engraxar os sapatos no centro. E não comentava nada disso com
ninguém.
Sei que estas lembranças belas, guardadas, não vinham naquele tempo pelo fato
de ter saído daqui. Elas sempre estiveram presentes, e apenas se reavivavam,
trazendo à imaginação o aspecto que teriam atualmente esta cidade, muitos anos
depois.
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Não queria acreditar que tivesse mudado nada, porque achava que não havia
necessidade. Mas sabia que ao redor deveria estar tudo diferente. A cidade
crescera, as antenas de rádio haviam dado lugar às antenas de TV, vitrines
haviam mesmo tomado o lugar das portas duplas e altas de madeira das lojas, e
carros novos ficavam ao lado dos jipes Willys de então.
Nesse sertão onde eu vivi, o homem não deixa nada sem conhecer de perto. É
curioso e procura os mínimos detalhes sobre sua vida e o ambiente que habita. E
isso o leva a se acostumar com os animais, as rochas e os espinhos. Foi por
isso que subi a Serra da Onça, num passeio em certo domingo. Era muita gente.
Quem já conhecia, ia mostrando os caminhos aparentemente impossíveis de seguir.
Perigosos, porém não intransponíveis. Bastava seguir a recomendação de ter
cuidado com as coroas de frade e fazer tudo para não escorregar. Muita
disposição exigia-se para poder subir, mas todo preparo era pouco para evitar o
cansaço.
Todo ânimo ressurgia, ao sentirmos que estava
próximo o cume, com seus segredos, suas lendas e rochas, algumas talvez até
hoje não visitadas.
A beleza da paisagem era muito grande. Todos ficavam a apreciá-la. Seguiam,
porém, aos poucos, até se juntarem para comentar o medo de alguns, o
desajeitamento de outros, as plantas nascidas das pedras. Soltávamos a
imaginação, esquecendo até a quentura das rochas sob o calor do começo da
tarde.
Conhecemos a Serra, nos divertimos e depois chegou, para muitos, da maior
apreensão: descer de volta! Era muita aflição junta, mas todos conseguiam. E a
serra continuava lá, quase indiferente à visita, como representante dos poderes
da natureza. Imortal, assistindo os anos de seca na região, que trazem penúria
ao povo nordestino.
Outra lembrança que guardo de Mata Grande é da fonte, onde diariamente muitos
iam buscar água e da qual se falava como se ela fosse uma pessoa integrada ao
nosso convívio. Ali, as cenas mais comuns eram formadas por pessoas
transportando seus galões.
Era a fonte que, arrodeada pela tranquilidade dos avelozes e plantas rasteiras,
garantia a sobrevivência de muitos, até em certos períodos críticos de seca, e
que tinha uma beleza ímpar, já que o sol quase não chegava perto e vivia como
que protegida pela vegetação.
Naquele local se misturavam os pássaros, com seu canto sinfônico, que nos davam
uma tenra tranqüilidade, a qual motivava remorso, quando quebrada, como fez
numa daquelas manhãs um menino, ao atingir fortemente um canário com uma “bala”
de barro. Ao vê-lo batendo asas, sem poder voar, lutando contra a dor, foi
tomado de arrependimento e tentou salvá-lo a qualquer custo. Mas era tarde.
Tinha dessas coisas a fonte, que eu posso comparar hoje à melhor alvorada que
desejaria ter. Cedo, pisava suas bordas molhadas e seguia o ritual comum,
jogando as latas, naquela espera paciente pelo afastar das pequenas folhas. E
saía respirando o ar puro, ao seu redor, deixando-a algumas vezes solitária,
como que se embalando, para dormir um sono justo.
Nas árvores frondosas costumávamos ver belas cigarras, com o canto sonoro sem
igual. É muito belo o canto de uma cigarra!
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Mata Grande no meu tempo teve coisas que quem viveu não esquecerá jamais.
Ouvia-se no ar “Alguém me disse”, “Quero beijar-te as mãos” e todas as outras
faixas do LP de Anísio Silva; seguidas daquelas outras músicas na voz de Carlos
Gonzaga – “Diana” e “Oh! Carol”, Luís Gonzaga com “Forró no escuro”, Nelson
Gonçalves, com “Doidivanas”, e as previsões de “Marcianita (branca ou negra)”
de que “nos anos setenta felizes seremos os dois”.
Enquanto isto, na rua passava Zé Praxedes com aquela escada grande para
completar a instalação da energia de Paulo Afonso.
Foi naquele tempo que meu pai recebeu um rádio vindo de São Paulo. Nele
escutávamos os jogos da Copa do Mundo e a apreensão sobre o açude de Orós, que
estava para romper a qualquer momento.
As notícias chegavam como que molhadas pela chuva e debaixo daquele frio que
fazia pularem os cururus no meio da rua. A mesma rua por onde vinha aquela
mulher com um balaio de imbu na cabeça e a gente comprava um caldeirão inteiro
para chupar.
Mais de trinta anos depois voltei à cidade. Graça - minha mulher, Clemilda,
minha irmã e dois dos meus filhos – Firmino Neto e Waltinho. Cada passo era uma
emoção, em cada esquina matava uma saudade, em cada rosto via os dias da
infância. Inclusive no rosto de Dona Josefina, com quem nos encontramos, embora
rapidamente; Dona Luizinha, Valderez e Germano.
Aquela volta a Mata Grande foi como uma espécie de desincumbência. Parecia que
existia no ar uma obrigação assumida em percorrer novamente aquelas ruas, andar
novamente naquela feira, tocar mais uma vez nos carros de boi, olhar a fonte, o
Almeida, a Igreja.
Meu pai, José Firmino de Medeiros, guarda do DNERU, conhecido também como José
Bezerra. Percorria todos os cantos do município, com a burra que eu ia buscar
no Almeida. Carregava uns venenos chamados 1.080 e DDT para enfrentar as pragas
e doenças.
Meu irmão, Wellington Medeiros, escreveu sobre Mata Grande: “Recordo os
passeios em carros de boi, as montarias em cavalos e burros, os engenhos de
cana-de-açúcar, as casas de farinha, o carro-de-cocão ou a subida da Serra da
Onça. Também lembro os galões de água que carregava nos ombros, ainda escuro,
entre a nossa casa e a fonte – distante cerca de 300 metros – e os pássaros que
criava e cuidava, entre eles um canário, que me servia de despertador”.
Foi daqui, que Wellington foi levado por nosso pai para Natal, a fim de estudar
na Escola Industrial. É ele ainda quem diz: “Também senti na pele a necessidade
da disseminação do ensino nos seus diferentes níveis, evitando-se a separação
dos jovens das suas famílias para poder estudar”. Esse drama ainda é enfrentado
por muitos que nesta época estão percebendo na mídia a ‘prioridade’ prometida
para a educação.
Há seis anos Mata Grande foi notícia na imprensa do Rio Grande do Norte, porque
um senhor de 71 chegou à cidade de Upanema (a 250 km de Natal), informando
chamar-se Otacílio Alves Ferreira Filho e dizendo-se natural da cidade alagoana
de Mata Grande.
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O jornalista Anaximandro Eudson, que atua em Upanema, começou a enviar e-mails
e procurar pistas pela Internet. Eis que encontrou o site montado por mim,
dedicado a Mata Grande.
Estava construída a ponte que conseguiu localizar os parentes do seu Otacílio,
contando com a participação de um internauta de Mata Grande, bancário
aposentado Germano Alves, que fora nosso vizinho, e estabelecer contato entre
os prefeitos de Upanema (RN), Jorge Luiz Costa de Oliveira e Fernando José de
Araújo Lou, de Mata Grande (AL). Providenciam a reestadualização de seu
Otacílio, que vinha sendo abrigado pelo Delegado Jota Pereira e Prefeitura
fazia 15 anos que era dado como morto pelo irmão Antônio Alves Ferreira.
Por conta dessas notícias a respeito de seu Otacílio, muita gente expôs suas
emoções. Na época recebi um artigo emocionado com o título de “MATA GRANDE – Um
pedacinho de saudade”, escrito por Remi Bastos, filho de Seu Plácido Reis da
Silva, Guarda Chefe do extinto DNERU – Departamento Nacional de Endemias
Rurais, que aqui trabalhou junto com meu pai.
Como diria o poeta Fernando Pessoa, numa frase também lembrada num e-mail: “O
valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com
que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e
pessoas incomparáveis”.
Pela internet também recebi outra grande surpresa. Um e-mail que dizia o
seguinte:
“Olá!
"Walter Bezerra de Medeiros", recordo-me de um amigo quando eu tinha
entre 4 e cinco anos, morávamos em Mata Grande - AL. Quando mudaram-se para
Natal- RN. Seus pais, José Bezerra de Medeiros e Dona Cristina, sua irmã e
minha madrinha Clemilda, lembro-me do irmão mais velho Wellington. Porventura
estou falando com a mesma pessoa?
Vejo que és poeta, li todas as publicações que encontrei na internet, gostaria
muito que entrasse em contato comigo, ficarei muito feliz em ter notícias de
toda a família.
Abraços
Rosilda Gomes de Souza”
No meu álbum de infância e juventude guardo todos da época, entre elas uma foto
de Rosilda, com seus 15 anos. Cada vez que folheava aquelas páginas sentia
saudade e a vontade de rever ou pelo menos saber o destino daquela amiga de
infância. Aquela mensagem me deixara extremamente emocionado. Respondi imediatamente:
“Rosilda,
Que surpresa feliz!
Sou eu mesmo. Ainda tenho uma foto sua e outra de Rosemi. Lembro e tenho
saudade de Dido e Dadá. Saudade da galinha que Dona Mariinha preparava e
mandava um pouco para nossa casa e vice-versa. Seu João. Da ida de vocês para
São Paulo. Como estão todos?
Aqui em Natal vivemos Wellington, Clemilda e eu. Minha Mãe, Cristina, morreu em
1992. Meu pai, José, morreu em 1995.
Estou casado (Graça é minha mulher - assistente social), temos 5 filhos
(Mônica, 35 anos, Bruno, 29, Breno, 26, Firmino Neto, 23 e Walter Filho, 19).
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Pelo que vi você andou lendo algumas coisas que escrevi. Deve ter visto o que
escrevi sobre Mata Grande também. Está no link
http://www.rnsites.com.br/MataGrande.htm .
Tenha certeza que sempre tive muita vontade de ter notícias suas.
Um beijão.
Walter”
Aí começou uma ávida e emocionada troca de mensagens e informações.
Naqueles dias fiz um poeminha que parecia comemorar nosso contato.
Caçuá do tempo
Vivi lá pelo sertão,
No cheiro do aveloz,
Pelo espinho do cardeiro,
Vendo a boneca do milho
E a Rosinha do amor.
Nada mais belo que as pedras,
Areia, poeira seca,
O entrançado das cercas,
O colorido do mato
E os bichos fazendo som.
Na sombra do umbuzeiro
Ouvi muitos passarinhos,
Vi um luar tão branquinho
Inda menino buchudo
Levava a vida a sonhar.
Agora o sonho é saudade
Do tempo que já se foi
Dentro de um carro de boi
Trancado num caçuá
Cheio de felicidade.
Caatinga adentro encontrava
Pelas plantas do destino
A mais bela flor vermelha
E vasos com mel de abelha;
Como meu mundo cheirava!
Mas ninguém faz o que quer
Fui parar noutros lugares
E aqueles belos luares
Agora apertam meu peito
Mas reforçam minha fé.
Rosilda conta que em 18 de fevereiro de 1974, nos embalos da música do saudoso
Luiz Gonzaga, deixava Mata Grande com destino a São Paulo.
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“Em um caminhão
Ele bota a família,
Chega o triste dia
Já vai viajar.
A seca terrível
Que tudo devora
Lhe bota pra fora
Da terra natal”...
Sempre ouvi, tenho, gosto - apesar de triste, da música "Triste
Partida". Não imaginava que Rosilda tivesse vivenciado coisa parecida. Mas
que bom, termos hoje tanta coisa para resgatar.
Prezados Matagrandenses,
Para mim foi uma das maiores satisfações da minha vida receber o Ofício nº
14/2011, assinado pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de
Mata Grande, vereador Samyr Malta Amaral, comunicando-me a aprovação em
plenário da proposta de concessão a mim do Título de Cidadão Matagrandense.
A justificativa era de que, segundo o Sr. Germano Mendonça Alves, eu teria
feito “importantíssimo trabalho de divulgação do município de Mata Grande
através de escritos”. Lembrava Germano, em seu documento, que vivi minha
infância na Rua 5 de Julho e, embora potiguar, amo Mata Grande, que nunca
esqueci.
Olhando a instrução do processo, tenho surpresas como uma declaração de apoio a
esta propositura por parte do matagrandense José Freitas. E maior surpresa
ainda quando tomei conhecimento da aprovação do Título, que é o mais honroso
para qualquer cidadão.
Cabe agora corresponder a esta deferência tão simpática e amável do povo de
Mata Grande, agindo como cidadão matagrandense e procurando jamais decepcionar
nem trair tamanha confiança que em mim é depositada neste momento.
Para mim é motivo de imenso orgulho ostentar este Título e dizer para o mundo
inteiro que no sertão do nordeste brasileiro um município tão singular me
concedeu esta honraria. Mas isto seria apenas a minha manifestação festiva.
Cabe mais do que isto. O mundo precisa saber das qualidades que Mata Grande
tem.
Talvez a maior dificuldade para seu progresso fosse a distância, mas acredito
que haverá criatividade para transformar o que seria uma dificuldade em
diferencial. Aí cabe criar condições para receber os visitantes do turismo
religioso e sertanejo, aproveitando tantos pontos belos que o município tem e
que podem se transformar em atrativos.
Agradeço a Germano Mendonça Alves, a José Freitas, a todos os Vereadores e ao
povo de Mata Grande.
Sintonizado com as minhas palavras iniciais, peço permissão para ler mais um
poeminha de minha autoria, denominado “Despedidas”.
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Despedidas
--- Walter Medeiros
Que força têm em mim as despedidas,
Parecem a essência mesma da vida,
Consolidando o que me deu guarida,
Quantas despedidas já vividas.
Despedir-me é transitar para a saudade,
É perder um pouco aquela liberdade,
É descobrir o exercício da bondade,
É sofrer com o momento da verdade.
Nas minhas despedidas fui um dia
Obrigado a deixar a Mata Grande,
Cidade encantadora, que foi onde
Vivi dias de infância e alegria.
Depois, fui despedir-me de colegas
Que comigo tantos anos estudaram
E ao fim seus rumos então tomaram
Cada um com uma decidida entrega.
Veio um dia a despedida da caserna,
De onde guardo uma lembrança eterna,
Pois ali tive convivência tão fraterna,
Foi também uma idade muito terna.
Despedi-me depois daquela tia,
Do avô, da avó, do pai, da mãe,
Não há o que na despedida ganhe,
É sempre como um triste fim de dia.
Foram tantas despedidas pelo mundo,
Que já tive algum dia de encarar,
Que pareço calejado pra encontrar
Pela frente minhas novas despedidas.
O tempo passou novamente. Fazia tanto tempo que não via Mata Grande. E parecia
que aquela vontade de voltar aumentava. Em cada mensagem que agora recebemos
pela internet, em cada fato que a natureza coloca em nosso caminho. Parece que
tudo leva a fazer real aquela frase de pára-choque que nosso vizinho João
Leobino tinha no seu caminhão:
“A SAUDADE ME FEZ VOLTAR”.