sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Explode o temor da crise

Deu na Folha:

Os mercados tiveram ontem o dia mais nervoso desde a crise financeira de 2008 e elevaram o receio de que a economia mundial entre em novo período de recessão.
As Bolsas caíram na Ásia, na Europa e nas Américas -a de SP teve um dos piores desempenhos no mundo, perdendo 5,7%.

O dia começou com ação do Japão para desvalorizar o iene, para onde investidores preocupados vinham fugindo.

A decisão do Banco Central Europeu de comprar títulos de países em crise, deixando claro que a situação no continente ainda é grave, aumentou o pânico. Investidores se desfizeram de ações e buscaram proteção no Tesouro americano, apesar da crise dos EUA. O retorno sobre os papéis despencou.

Para tentar reanimar a economia, voltou a ser cogitada nova rodada de compra de títulos pelo governo americano.
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Os anúncios de crises são sempre assim: o "mercado" está "estressado", em "pânico" e os "investidores" estão temerosos. O que não se diz é que são essas mesmas pessoas quem provoca a debacle, o caos. Querem lucro a qualquer preço, passam por cima de princípios éticos e morais os mais comizinhos e afinal, quando instauram a bagaceira, dizem que há uma crise. E lá  vem o Estado, com recursos da sociedade, salvar esses tipos, signatários de uma economia improdutiva e locupletária: a economia financeira. Vamos esperar para ver. No fim, quem trabalha paga o pato: inocentes, como a criança na foto da primeira página.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

 A esmola dos pobres e o dinheiro dos santos

http://www.google.com.br/imgres?q=antonio+conselheiro
Fui ontem procurado por amigo já entrado em anos. Oiten'anos, mais precisamente. Mesmo assim, forte como um lajedo. A principio não o reconheci: vestia-se como Antônio Conselheiro e estava à frente de uma grei de maltrapilhos. À minha aparição, convocou-me a nobre e ingente missão: iniciar uma pia caminhada tirando esmolas para os pobres e para os santos. Aos pobres se daria pão e aos santos se acenderiam velas com o dinheiro arrecadado. Como ainda tenho uma chama de loucura em mim, atendi ao chamamento e uni-me àquele bando.

"Sairemos pelas ruas cantando benditos e exclamando louvores, erguendo pregações e fazendo rezas fortes", disse, para acrescentar: "Tome este bisaco, que é onde você guardará as esmolas que receber." Pus o saco às costas e saímos. O amigo à frente cantando "Queremos Deus, homens ingratos" e a multidão repicando em coro. Passamos o dia nessa luta até que ao entardecer tínhamos para mais de dez arrobas de moedas em nossos embornais. 

Compramos muitas velas e se distribuiu o pão-dos-pobres. Fomos para a frente de uma igreja e ali acendemos centenas de velas tendo ao centro enorme círio , tudo isso iluminando a noite em meio a orações e fervores, cantatas e exortações ao bem e repúdio ao vício e ao pecado. De repente, apareceu um outro homem assemelhado ao Conselheiro e gritou a todos: "Aleluia, irmãos!, aleluia!". E todos responderam "aleluia!", e criou-se grande falariço. Diante disso, meu amigo se aproximou e pediu explicações ao que o outro retrucou: "Vim em boa paz, mas preciso do seu povo para uma grande jornada de orações e milagres. Por quanto você vende, ou pelo menos aluga, a sua gente?"

Meu amigo, vermelho, reagiu prontamente: "Esse povo não é de aluguer. Estamos aqui por fé e somente pela fé estamos aqui. Não acato compromisso, não aceito subornação e esconjuro teus malsinados."

Mas umas pessoas haviam ouvido a história e começou um trovejo de vozes querendo se vender e bandear para o lado do outro Conselheiro. E logo pularam para o lado dele e disseram que já haviam pedido muita esmola e que pão é pouco para o homem e que o cheiro das velas queimando estava insuportável. E assim foi dito e destarte foi feito. Meu amigo ficou só, parado no meio da praça, apenas eu a seu lado. Todos partiram com o pregador peculatário.

Aproximei-me dele e chamei-o a ir para casa. E aí ele me disse: "Ao que eu não dou jeito eu não choro. Mas minha fé é inabalável. Amanhã mesmo partiremos em nova jornada."

"Nova jornada?", quis saber: "Vamos fazer o quê, já que o povo o abandonou."

"Amanhã", disse-me ele, "iniciaremos augusta peregrinação a Portugal. Dizem que D. Sebastião foi reencontrado e voltará para a salvação de todos.Vamos."

Devo informar que sou portador de louca lucidez. Neste momento estou arrumando malas. Vou partir para Portugal.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dando uma mexida neste Coisas... encontrei a crônica que abaixo republico.


http://www.google.com.br/imgres?q=casal+dan%C3%A7ando&hl
Encabulada em dó maior
Emanoel Barreto


Ela chegou. Veio em passos de pantera e de veludo azul.
Atravessou o grande salão e, fazendo isso, a música parou. Atravessou o salão e, fazendo isso, deu-se a descobrir.

Estava ali uma mulher completa, intensa, inteira, farta, doidivanas;
Petulante, sólida, perfeita;
Camarada, amiga, doce solidão a dois;
Feminina, forte, descobridora;
Caminhante, sã, insana primavera;
Distante, pertíssimo, misteriosa, bela;
Felina, feliz, atraente, difícil;
Viajante, indagadora; senhora de respostas, autora de dúvidas.
Um romance inscrito em corpo de mulher.

A festa como que parou, só para vê-la. Dirigiu-se a uma mesa, sentou-se: - Dança? A pergunta havia partido de uma voz masculina em dó maior, grave. - Sim, foi a resposta que ela deu, pondo-se de pé. Com a orquestra o cantor discorria um bolero. Os passos dos casais coleavam em meio ao claro-escuro do salão. Maracas e bongôs pontuavam a música com seu remexido côncavo-convexo.

A voz de dó maior perguntou: - Qual o seu nome? Ela respondeu em surdina: - Encabulada.- Como? - foi a dúvida seguinte, ante a resposta inesperada. - Encabulada - ela disse com um sorriso de meia lua, as costas da mão encostadas na nuca do dó maior.

- Você, encabulada? - o dó maior quis saber, pois, naquela mulher, não havia espaços de silêncio.- Eu não disse que estou encabulada. Eu disse que sou Encabulada. É diferente. Sou diferente de todos e igual a mim mesma. E como não sou resposta, mas proposta, espero sempre as perguntas. As perguntas certas. Daí, porque sou Encabulada. Não vou às pessoas, elas têm que vir até a mim. Dou a impressão de estar retraída, distante do mundo, para que me descubram o caminho. Poucos descobrem... Daí, dou a impressão de estar encabulada. Mas quando alguém me descobre, está com Encabulada. Dá para entender?

O dó maior fez que sim e continuaram a dançar boleros firmes, ajustados, justos, encaixados, mínimas, semínimas, colcheias e acordes. Os violões agudos perfuravam a noite: flores e floretes, enigma de passos.Aí, foi ela quem perguntou: - Seu nome? O dó maior pensou um pouco e respondeu: - Pode me chamar de Colecionador. Sou um colecionador. Um colecionador de situações, as mais inesperadas, estranhas, belas, difíceis, lamentáveis, boas. Situações que às vezes procuro, outras não; um tempo lamento, outro tanto gosto. Como agora, que descobri você, essa mensagem cifrada, num código que ainda desconheço, mas que vou aprender. Ficou encabulada, Encabulada?

Ela voltou com seu sorriso de meia-lua e respondeu: Não. Ela não havia ficado encabulada. Afinal, disse, uma situação se constrói a dois, passo a passo, gesto a gesto, ato a ato, palavra-por-palavra. Até que, como a brisa marinha, se transforme numa lembrança. Mas, isso, já é outra situação...

E, Encabulada e Dó Maior ficaram assim, colecionados de si, pasmos e presos ao bolero que dizia as coisas que todos os boleros dizem. E no depois do tempo, fizeram-se um só, fazendo-se brotar no meio do salão.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Costumes viciosos
Vejo na Folha:

Vereadores aprovam 'bolsa paletó' em cidade do RN

 
LUCIANA DYNIEWICZ
DE SÃO PAULO
Os nove vereadores de São João do Sabugi (310 quilômetros de Natal) criaram um auxílio anual de R$ 525, apelidado pelos moradores de"bolsa paletó", para que eles possam comprar a peça de roupa ou blazer. 

O valor da bolsa corresponde a 35% do salário de R$ 1.500 dos vereadores, que não poderão participar das sessões sem paletó. O auxílio custará R$ 4.725 à Casa.
A criação do auxílio foi motivada após uma lei obrigar, desde julho, o uso de paletó ou blazer durante as sessões da Câmara da cidade. A gravata é dispensável. 

A lei que obriga o blazer foi proposta pela mesa diretora e aprovada por unanimidade pelos vereadores. "Assim fica uma sessão mais organizada", justifica o presidente da Câmara, Cipriano Neto (PR).
O autor da resolução que concede a bolsa, vereador Marcílio Dantas (PMDB), que tem um paletó no guarda-roupa, diz que "o importante é o trabalho em prol da cidade, mas [a aparência] também importa. Você não pode ir a uma reunião de chinelo". 

São João do Sabugi tem 5.922 habitantes. Seu clima semiárido, com temperatura média máxima em torno dos 31,3ºC, não estimula muito a população a usar o paletó.
O vice-prefeito do município, Vivarte Brito (PMDB), diz que só vestiu a peça em sua posse. "Aqui, só juiz de direito e executivo usam." 

O ar-condicionado instalado na Câmara no ano passado, porém, vai garantir que os vereadores não suem demais dentro de seus blazers.
Alcides de Morais (DEM), um dos vereadores que elaborou a resolução, diz que já deixa o paletó na Câmara para não ter que ir até o local com ele. Veste a peça só durante a sessão.
A "bolsa paletó" deveria ser concedida já neste ano, de acordo com a resolução. Como ela não estava no orçamento, ainda não se sabe se será paga em 2011.
Os vereadores da cidade participam de apenas quatro sessões por mês, sempre nas noites de terça-feira.

Repercuto artigo do Blog da Adurn datado do dia 28 de julho

ADURN-Sindicato discute Carreira em mesa de negociação com o Governo


Na próxima terça-feira, 02 de agosto (hoje), o ADURN-Sindicato participa da realização de mais uma Mesa de Negociação de Carreira do Magistério Superior. A reunião acontece na sede do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em Brasília, e contará com a participação do secretário de Recursos Humanos do MPOG, Duvanier Paiva, do Fórum dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior (PROIFES) e ADs filiadas (APUB, ADURN e ADUFC), e do Sindicato Nacional das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN).

“A expectativa é de que o impasse atual na negociação, tão importante e estratégica para os docentes das IFES, seja superado e iniciemos uma negociação verdadeira, com alteração de aspectos que as ADs e sindicatos recém constituídos consideram injustos na avaliação e progressão dos docentes”, afirma o presidente do ADURN-Sindicato, João Bosco Araújo.

Em dezembro de 2010, após meses de negociações, o MPOG apresentou ao movimento docente projeto de lei (PL) sobre a estruturação do Plano de Carreira e Cargo do Magistério Federal, a ser encaminhado ao Congresso Nacional. Ao longo do processo de negociação que se arrasta a mais de um ano, os Docentes obtiveram alguns ganhos, flexibilizaram alguns pontos, mas ainda há aspectos negativos na proposta de governo e que foram discutidos no VII Encontro do PROIFES, realizado de 15 a 18 de julho. Apesar do recuo do Governo em alguns pontos da proposta e que o PROIFES e seus aliados consideravam negativos para a própria funcionalidade da carreira, manteve uma visão distorcida da realidade dos professores das IFES ao desconsiderar o papel que os aposentados tiveram na construção da Universidade Pública Federal, bem como colocar em segundo plano os professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT).

Em junho deste ano, com a retomada da mesa que trata questões específicas da Carreira do Magistério Superior, suspensa desde de dezembro passado, além da entrega de um ofício com a pauta da entidade, o PROIFES apresentou e defendeu as demandas dos professores do ensino público superior federal: pronta instalação do Grupo de Trabalho (GT) sobre a Carreira do EBTT, conforme acordo firmado em março de 2008; a equiparação salarial entre as carreiras docentes (MS e EBTT) e as mais bem pagas do Executivo; recomposição dos vencimentos dos docentes de IFES, defasados desde julho de 2010; promulgação urgente do Projeto de Lei que permita a contratação, em caráter permanente, dos professores efetivos necessários para que se possa dar seqüência, com qualidade, ao Programa REUNI, além da discussão sobre a perspectiva orçamentária para educação superior.

A ADURN, filiada ao PROIFES-Fórum desde janeiro de 2010, e participante ativo da reorganização do Movimento Docente desde outubro de 2004, tem sido um dos protagonistas da discussão da proposta de carreira docente dos professores universitários das IFES e defende a necessidade de correção de aspectos que dignifiquem a função docente e a prepare efetivamente para os desafios que enfrenta.

“Fiel aos princípios e à defesa do interesse dos professores de IFES, o ADURN-Sindicato privilegiará a disposição para o diálogo, mas mantém a postura de que o Movimento Docente, liderado pelo PROIFES-Fórum e seus aliados, tenha a capacidade política de fazer o Governo reconhecer a importância de uma categoria que continua a ser vista como custo e não como investimento”, ressalta o diretor de Política Sindical da ADURN, Wellington Duarte.

A Carreira emerge como a mais importante peça de negociação, pois dá garantias futuras para os docentes. Mas, a Diretoria do ADURN-Sindicato defende a necessidade de um olhar sobre a remuneração dos Docentes, tendo em vista que o acordo, fielmente cumprido pelo governo anterior, venceu em 2010 e, até o momento, o novo governo não sinalizou como procederá para este ano.

“Nesse ponto é que a Diretoria do ADURN-Sindicato tem se mostrado extremamente preocupada, pois a possibilidade, real, de não termos sequer a recomposição de perdas inflacionárias de 2010, pode iniciar um novo ciclo de perdas salariais já bem conhecidas por nossa categoria”, explica Wellington Duarte.

Nas reuniões das associações docentes com o PROIFES-Fórum, a Diretoria do ADURN-Sindicato tem se pronunciado defendendo a tese da necessidade de que, além da Carreira, a categoria tenha a recomposição salarial e o fechamento de um novo acordo salarial trienal, que garanta a ampliação da qualidade de vida dos Docentes.

“A retomada da mesa de negociação marca, portanto, o início de uma árdua batalha, já que temos uma campanha salarial e buscaremos um novo acordo com o governo, a definição da carreira docente, além da proteção aos ganhos dos aposentados, a discussão sobre a previdência complementar e vários temas locais que contarão agora com um sindicato local forte e independente para conduzir a luta, e de uma federação para consolidar nossas demandas diante do governo”, enfatiza Wellington Duarte.