sábado, 12 de fevereiro de 2011

A palavra que faltou

A grande imprensa mundial acompanhou passo a passo a derrubada de Mubarak. A multidão como protagonista, as declarações dos novos detentores do poder no Egito, sua anunciada intenção de realizar eleições, a importância das redes sociais para a mobilização de milhões. Anunciou, da mesma forma, que Mubarak encontra-se refugidao confortavelmente no próprio Egito. Houve, contudo, uma falha: ningém ouviu Mubarak a respeito dos acontecimentos.
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://bikyamasr.com

Sei que não seria coisa fácil nem prioritária, ante a velocidade dos acontecimentos dos últimos 18 dias. Mas, agora, quando se acalma o tsunami, seria importante que um bom repórter conseguisse entrevista com ele. Declarações a quente, pulsantes de história, a emoção do personagem da notícia por ele mesmo. Mubarak iria se defender? Claro. Iria dizer que estava certo, que deveria continuar até o fim do mandato? Sim, iria. 

Mas, jornalismo é isso: não se trata da velha fórmula de "ouvir os dois lados", como falsa manifestação de isenção e credibilidade. Seria para esgotar o assunto mesmo, dar à história um registro necessário, a palavra de quem foi o pivô de tudo.

Beatles: livro em quadrinhos conta a história

 

Deu na Folha:

Francês cria cartuns com trajetória dos Beatles

IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO
Quando tinha 14 anos, o francês Hervé Bourhis ganhou da mãe um livro sobre os Beatles. É curioso que madame Bourhis tenha escolhido presentear o pequeno com um livro, e não com um LP ou uma fita de sucessos da banda. Mas deu certo. 

"Descobri os Beatles ali. Como todo mundo, conhecia algumas músicas. Mas então eu descobri as histórias por trás das músicas. Por gostar delas é que fui ouvir cada uma das canções", conta à Folha o hoje quadrinista Bourhis, 36, por e-mail. 

Todas aquelas histórias que encantaram o infante em tenra idade estão no recém-lançado "O Pequeno Livro dos Beatles". Aquelas histórias e muitas outras, já que, apesar do adjetivo "pequeno", o livro relata não só a trajetória como a vida pessoal dos quatro integrantes.
Em quadrinhos, mas não como histórias com diálogos. São cartuns representando momentos importantes de Lennon, McCartney, Harrison e Ringo Starr.

Reprodução de " O Pequeno Livro dos Beatles"
Uma das ilustrações do livro "O Pequeno Livro dos Beatles", de Hervé Bourhis, que reproduz foto clássica de John Lennon e Yoko Ono
Ilustração de "O Pequeno Livro dos Beatles", de Hervé Bourhis, que reproduz foto clássica de Lennon e Yoko
"Desde os 14 anos, coleciono discos, livros, revistas e DVDs sobre eles. Mas tive que comprar muito material novo por causa da precisão histórica que estava procurando. Para poder falar de um disco do Ringo de 1976, por exemplo, eu tive que ir atrás dele e escutá-lo." 

Entre os quadrinhos que mais gostou de fazer estão os de suas músicas e álbuns preferidos. "Minha canção favorita é 'Tomorrow Never Knows'. O disco depende da semana. Hoje é 'Revolver', ou o 'Álbum Branco'." 

Esta é a segunda incursão de Bourhis na área da música quadrinizada. Em 2007, ele lançou na França "O Pequeno Livro do Rock", projeto semelhante ao atual, que conta a história do gênero desde os anos 50 até o começo deste século. Foi um sucesso na Europa e também saiu aqui, pela Conrad. 

Bourhis tem outros preferidos. "Serge Gainsbourg e The Kinks também são obsessões." Mas, por enquanto, esses artistas vão permanecer longe da prancheta do artista. "Estou trabalhando agora na quadrinização da política francesa dos últimos 60 anos", conta. Ulalá!

Abaixo, ilustrações obtidas na net










A miserável condição humana ou o ridículo perfeito

Elizabeth Taylor, aos 78 anos, apresenta e figura de quem não acedeu ao declínio do corpo nem compreendeu a passagem do tempo. Não parece estar vivendo o glorioso instante do envelhecer, respeitando a velhice e o que ela tem de bom: sabedoria, consciência de que somos seres voltados à queda, compreensão de que essa queda é natural e pode ser revertida em coisa magnífica quando vivida como coisa magnífica.

O apego às aparências, ao material, a fez ficar como na foto: um ser arquejante, uma montagem de trajes e joias, bricolage desesperada de atavios em busca do tempo passado, a beleza esmaecida, perdida para sempre.

Levada ao hospital com sintomas de crise cardíaca, apresenta uma vaidade grotesca e quase terrível. Jóias de aspecto horrendo, roupas burlescas, excesso caricato, suntuosidade lamentável. La Taylor chegou ao ridículo perfeito. Que pena.

Da Folha:

Elizabeth Taylor é internada com problemas cardíacos

DE SÃO PAULO
Elizabeth Taylor, 78, está internada no centro médico Cedars-Sinai, em Los Angeles.
Segundo o site da "People", ela deu entrada no local no começo desta semana.
A atriz estava com sintomas de insuficiência cardíaca, descrita por representantes dela como "intermitentes".
Segundo comunicado divulgado por eles, Elizabeth Taylor continua no hospital porque sua condição está sendo monitorada.
"A família a amigos agradecem o apoio caloroso e o interesse de seus fãs leais, mas pedem para que as pessoas respeitem a privacidade dela e permitam que a equipe médica tenham tempo e espaço para focar em restaurar sua saúde", diz o texto.
A atriz, cuja última internação foi em outubro de 2009, tem um longo histórico de problemas de saúde.

The Grosby Group
Elizabeth Taylor chega a consultório médico nos EUA
Elizabeth Taylor, que está internada em hospital nos Estados Unidos após ter sintomas de insuficiência cardíaca

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O day after do Egito

Após a queda de Mubarak, sucedido de fato pelo general e ministro de Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, as expectativas se voltam para futuro imediato do país. A situação do Egito é complexa: o quadro instalado resulta de um cadinho de forças sociais diversas, momentaneamente unidas em torno do objetivo conquistado: a expulsão do ditador agora em desgraça e com os bens congelados na Suíça. 
Master Sgt. Jerry Morrison/AP - General Mohamed Husseim Tantawi (E)

Na sequência, a conjução de forças começará a mostrar as suas tendências. Os militares, ator social ativo no processo, certamente gostarão de ter presença proativa. O nó górdio da questão, assim, chama-se consenso. No caso, o consenso possível será  a convergência, por aliança, em trorno de objetivos comuns: reordenar o país economica e socialmente. 

Muitos interesses estão em jogo: a presença americana, do ponto de vista geopolítico, o que inclui os interesses econômicos; a efetiva democratização do país; as relações do Egito com Israel; urgentes reformas que permitam a promoção de expressivas camadas da população. Não é pouca coisa.

O passo seguinte, a realização de eleições, serão o indício de como os fatos se encaminharão, sinalizando perspectivas de poder e, afinal, poder de fato, poder que possa ser instalado para conviver com o lento,demorado processo histórico de encaminhamento à democracia.

Da Folha:

Exército elogia saída de Mubarak e promete mediar transição

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Revolta ÁrabeAtualizado às 18h07.
O Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito afirmou nesta sexta-feira que não pretende substituir "a legitimidade desejada pelo povo" egípcio e que irá anunciar em breve medidas para uma fase de transição no país.
A afirmação foi feita em breve comunicado na emissora de TV estatal, horas depois de o vice-presidente do país, Omar Suleiman, ter anunciado a renúncia do ditador Hosni Mubarak, que ficou 30 anos no poder.
Na nota, a cúpula militar, que comandará a transição até realização de eleições, elogia ainda a saída de Mubarak, dizendo que a medida está de acordo com "os interesses do país". Os militares também saudaram os "mártires que perderam suas vidas" durante os violentos confrontos e protestos, que entraram hoje no 18º dia.

Tara Todras-Whitehill/AP
Egípcios celebram o anúncio de que o ditador do país, Hosni Mubarak, renunciou ao poder após 30 anos
Egípcios celebram o anúncio de que o ditador do país, Hosni Mubarak, renunciou ao poder após 30 anos
"Sabemos a extensão da gravidade e da seriedade desse assunto e as demandas do povo para iniciar mudanças radicais", dizia o texto. "O Conselho Supremo das Forças Armadas está estudando o tema para atingir as esperanças de nosso grande povo."
"O conselho irá soltar um comunicado detalhando os passos e procedimentos e diretivas que serão tomadas, confirmando ao mesmo tempo que não há nenhuma alternativa para a legitimidade aceitável pelo povo."
Na nota, o conselho também cumprimentou Mubarak "por tudo o que deu ao país em tempos de guerra e paz, e por seu patriotismo, priorizando os mais altos interesses da nação".

Mohammed Abed/AFP
Garoto egípcio beija soldado após renúncia de Mubarak; Exército elogia medida e promete mediar transição
Garoto egípcio beija soldado após renúncia de Mubarak; Exército elogia medida e promete mediar transição
NOVO LÍDER
O ministro de Defesa do Egito, Mohamed Hussein Tantawi, deve ser o novo chefe de governo. Segundo a agência de notícias Reuters, que cita fontes militares, Tantawi é o chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas, a quem Mubarak entregou a administração do país.
Ele fez um tour pela área do palácio presidencial que pertencia a Mubarak nesta sexta-feira, de acordo com a rede de TV Al Arabyia.
Anteriormente, o vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, anunciou a saída do ditador e disse que o poder foi entregue às Forças Armadas. "O presidente Hosni Mubarak decidir renunciar como presidente do Egito", disse Suleiman, em um breve anúncio, acrescentando que a decisão foi tomada diante das "difíceis circunstâncias pelas quais o país passa".
Autoridades dos Estados Unidos veem Tantawi como um aliado empenhado em evitar uma nova guerra contra Israel, mas no passado o criticaram reservadamente por ser resistente a mudanças políticas e econômicas. Ele conversou por telefone em cinco ocasiões com o secretário americano de Defesa, Robert Gates, desde o início da crise, em 25 de janeiro. A última conversa ocorreu nesta quinta-feira à noite.

Master Sgt. Jerry Morrison/AP
O ministro egípcio da defesa Mohamed Hussein Tantawi (à esq.); ele deve chefiar governo egípcio, diz agência
As relações com o Exército egípcio são tradicionais e importantes para Washington, que fornece cerca de US$ 1,3 bilhão por ano em ajuda militar ao país.
Fontes do Pentágono se mantêm mudas a respeito das discussões entre Tantawi e Gates, mas o secretário de Defesa tem feito elogios públicos aos militares egípcios por serem uma força estabilizadora em meio à crise. Na terça-feira, Gates disse que os militares do Egito haviam dado "uma contribuição à democracia".
Mas, reservadamente, autoridades dos EUA caracterizam Tantawi como alguém "relutante com mudanças" e desconfortável com a ênfase americana no combate ao terrorismo, segundo um documento de 2008 do Departamento de Estado, divulgado pelo site WikiLeaks.
Tantawi, 75, serviu em três conflitos contra Israel - na crise de Suez, em 1956, e nas guerras de 1967 e 73.
O comunicado interno do Departamento de Estado dizia que o comandante estava "comprometido em prevenir que outra [guerra] aconteça um dia".
Apesar disso, diplomatas alertaram, antes de uma visita dele a Washington em 2008, que as autoridades dos EUA deveriam se preparar para encontrar "um Tantawi envelhecido e resistente a mudanças".
"Charmoso e cortês, ele está, não obstante, preso a um paradigma militar pós-Camp David, que tem servido aos estreitos interesses da sua corte nas últimas três décadas", dizia o documento, referindo-se ao acordo de paz entre Egito e Israel, assinado em 1979 na residência de veraneio da Presidência americana.
Washington há muito tempo cobrava mudanças no Cairo. Mas o documento afirma que Tantawi "tem se oposto tanto às reformas econômicas quanto políticas, as quais ele percebe como uma erosão do poder do governo central".
FESTA NAS RUAS
O anúncio -- feito no 18º dia seguido de intensos e violentos protestos que tomaram diversas cidades do Egito-- foi recebido com gritos de comemoração, cantos e bandeiras sendo agitadas na praça Tahrir, centro do Cairo, que foi o epicentro dos protestos públicos contra o regime de Mubarak, que estava no poder desde 1981.

Dylan Martinez /Reuters
Criança levanta os braços em comemoração pela renúncia de Mubarak na praça Tahrir, centro do Cairo
Criança levanta os braços em comemoração pela renúncia de Mubarak na praça Tahrir, centro do Cairo
A renúncia ocorre menos de 24 horas depois de fortes rumores de sua saída imediata do poder. Na noite de quinta-feira, Mubarak discursou à nação e disse que passava parte de seu poder a Suleiman, mas permaneceria até setembro --quando estão previstas eleições presidenciais. O discurso de "fico" causou fúria nos manifestantes que marcharam em direção ao Palácio Presidencial aos gritos para que deixasse o poder.
Mais cedo, o porta-voz do partido de Mubarak havia confirmado que o mandatário e sua família viajaram para o balneário de Sharm el-Sheikh, no mar Vermelho. "Ele está em Sharm el-Sheikh", afirmou Mohammed Abdellah, do Partido Nacional Democrático.
Pouco antes, fontes ligadas ao governo informaram que Mubarak e a família haviam deixado o Cairo nesta sexta-feira, mas sem deixar claro qual era o destino.
Os violentos protestos registrados no Egito por mais de duas semanas registraram quase 300 mortes, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), além da morte de jornalistas e diversos ataques à imprensa.
Iniciadas no Cairo, as manifestações se espalharam por outras cidades, como Alexandria e Suez.
O Exército teve um papel crucial desde o início da crise, por vezes apoiando a população mas em algumas ocasiões também abrindo fogo contra os manifestantes.
+ Canais
Egito: a aparente revolução sem líderes

O monumental movimento de sociedade civil no Edigo derrubou Hosni Mubarak. O grito das ruas, pacífico mas incisivo, durou 18 dias e expôs ao mundo um ditador bruto, detentor de fortuna de 70 bilhões de dólares, usufrutuário do Estado em proveito de si, da família e de acólitos. O Egito foi o segundo dominó a cair no mundo árabe, logo depois da Tunísia cujo movimento popular recebeu o nome de Revolução do Jasmin.

Khaled El Fiqi/Efe
O grande fator, o rastilho da revolução foram sem dúvida as redes sociais, a comunicação da perplexidade, da indignação, de repulsa a um regime que mantinha firmes relações com os Estados Unidos, velho incentivador dos sistemas de poder instalados naquela parte do mundo. 

A revolução do Egito é um movimento idiossincrático: não se ouviu falar um só instante em qualquer lider, qualquer personalidade-chave a clamar. Se diz sempre algo sobre a respeito da Irmandade Islâmica e o prêmio Nobel da Paz Mohammed El Baradei e sua importância dentro do movimento, mas nenhum foi apresentado como ator proativo determinante no caso. Todavia, por trás do movimento há sim pessoas com capacidade de mobilização e profundamente ligadas com os anseios e as crises. Sejam pessoas progressitas ou os piores representantes de uma certa teocracia muçulmana.

Mas, para o público, o que parece é que o grande ser coletivo a quem chamamos povo reuniu-se nessa empreitada e lá se foi, grito na boca, bandeiras às mãos, coragem fervendo. Trezentos foram mortos, mas a marcha não parou. 

O Exército domina o Estado agora, uma vez que não se pode considerar o vice de Mubarak, Omar Suleiman presidente de fato. Este e figura talvez com alguma representatividade, mas emblemática. Apenas isso.

A expectativa é que o poder, em futuro próximo, venha a ser assumido por partido laico e democrático. Que saiba gerir os acontecimentos imediatos e, na sequência, não se curve aos americanos nem mantenha relações próximas com, por exemplo, o regime teocrático dos Aiatolás. Seria péssimo sair de uma ditadura e cair nas mãos de fanáticos.

Abaixo, matéria da Folha a respeito da queda de Mubarak.

Após 30 anos no poder, ditador Hosni Mubarak renuncia no Egito

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Revolta Árabe.
Após 18 dias de intensos e violentos protestos que tomaram diversas cidades do Egito, o ditador Hosni Mubarak, 82, renunciou ao poder depois de comandar uma ditadura com mão de ferro durante 30 anos. O anúncio foi feito pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, na TV estatal. Em poucos minutos, centenas de milhares estavam em festa e aos gritos na praça Tahrir, epicentro das manifestações de oposição.
"Presidente Hosni Mubarak decidir renunciar como presidente do Egito", disse Suleiman, em um breve anúncio, acrescentando que o poder foi entregue às Forças Armadas.
Segundo Suleiman, a decisão foi tomada diante das "difíceis circunstâncias pelas quais o país passa". 

A saída de Mubarak solidifica a crise no mundo árabe, sendo a segunda ditadura a ruir na região em menos de um mês. Ainda no dia 14 de janeiro a Revolução do Jasmim levou o ditador da Tunísia, Zine el Abidine Ben Ali, a abandonar o país, em meio ao movimento que se alastrou para outros países, causando protestos na Mauritânia, Argélia, Jordânia e Iêmen.
Após o anúncio, uma explosão de alegria tomou as ruas do Cairo. Centenas de milhares de egípcios agitaram bandeiras, choraram e se abraçaram em celebração. "O povo derrubou o regime", cantavam em coro. 


AFP
Manifestantes antigoverno tomam as ruas da litorânea Alexandria, segunda maior cidade do Egito, no 18º dia de protestos
Manifestantes antigoverno tomam as ruas da litorânea Alexandria, segunda maior cidade do Egito, no 18º dia de protestos

A renúncia ocorre menos de 24 horas depois de fortes rumores de sua saída imediata do poder. Na noite de quinta-feira, Mubarak discursou à nação e disse que passava parte de seu poder a Suleiman, mas permaneceria até setembro --quando estão previstas eleições presidenciais. O discurso de "fico" causou fúria nos manifestantes que marcharam em direção ao Palácio Presidencial aos gritos para que deixasse o poder. 

O ditador Mubarak ascendeu na Força Áérea --principalmente pelo seu desempenho na guerra de Yom Kippur com Israel-- e tornou-se vice-presidente em 1975. Ele assumiu a Presidência quando islamitas mataram a tiros seu antecessor, Anwar Sadat, em um desfile militar em 1981. 

Mubarak se beneficiou de artigos da Constituição egípcia que ditam mandatos presidenciais de seis anos com um número de reeleições indefinidas. Além disso, alterações à lei fizeram com que a vitória de candidatos de outro partido que não o seu fosse praticamente impossível.
Sob denúncias de corrupção e em meio a diversas acusações de abusos de autoridade e prisões tornadas possíveis devido ao estado de emergência, em vigor há 30 anos no país, a imagem de Mubarak deteriorou-se ao longo dos anos.

Amr Nabil-8.fev.2011/AP
Aos 82 anos, Hosni Mubarak renunciou ao comando do Egito após três décadas à frente da ditadura no país
Aliado de Washington na região, o ditador usufruía de boas relações com o Ocidente embora fosse fato conhecido de que seu governo era uma ditadura de mão de ferro.
Mubarak também era bem visto por ter mantido um acordo de paz com Israel, assinado em 1979, país com o qual o Egito travou três guerras.
Nas eleições legislativas de novembro passado, o partido de Mubarak ganhou cerca de 90% dos assentos no Parlamento, que viu a principal oposição islâmica perder todos os seus 88 lugares, garantindo ao partido de Mubarak as decisões do Parlamento e apertando o punho Mubarak no poder. 

SAÍDA DO CAIRO
Em uma tentativa de acalmar os manifestantes, Mubarak anunciou dias atrás que não concorreria às eleições presidenciais de setembro próximo, mas alertou que ficaria no poder até lá para evitar o "caos" no país. Ele mandou ainda seu vice, Omar Suleiman, negociar com a oposição --oferta que foi rejeitada. Os manifestantes exigiam que Mubarak deixasse o poder antes de iniciar qualquer diálogo.
Mais cedo, o porta-voz do partido de Mubarak havia confirmado que o mandatário e sua família viajaram para o balneário de Sharm el-Sheikh, no mar Vermelho.
"Ele está em Sharm el-Sheikh", afirmou Mohammed Abdellah, do Partido Nacional Democrático. 

Pouco antes, fontes ligadas ao governo informaram que Mubarak e a família haviam deixado o Cairo nesta sexta-feira, mas sem deixar claro qual era o destino.
A TV estatal egípcia informou também que uma importante declaração de Mubarak será transmitida em breve, mas não deu mais detalhes.
A edição digital do jornal pró-governo "Al Ahram" afirma, citando fontes próximas às Forças Armadas, que Mubarak esteve em uma base militar durante as últimas 48 horas para garantir sua segurança. 


AP
Guardas presidenciais egípcios observam manifestantes rezando na entrada do palácio presidencial, no Egito
Guardas presidenciais egípcios observam manifestantes rezando na entrada do palácio presidencial, no Egito

O jornal diz ainda que, "devido à situação na capital, foi impossível para o presidente mover-se com segurança com sua comitiva habitual".
A informação sobre a viagem de Mubarak também foi divulgada pelas redes de TV árabes Al Arabiya e Al Jazeera. Sharm el-Sheikh, localizado no extremo sul da península do Sinai, é o local em que Mubarak costuma receber personalidades estrangeiras e realizar conferências internacionais.
PROTESTOS
Os violentos protestos registrados no Egito por mais de duas semanas registraram quase 300 mortes, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), além da morte de jornalistas e diversos ataques à imprensa.
Iniciadas no Cairo, as manifestações se espalharam por outras cidades, como Alexandria e Suez.
O Exército teve um papel crucial desde o início da crise, por vezes apoiando a população mas em algumas ocasiões também abrindo fogo contra os manifestantes.

Pedro Ugarte/AFP
Egípcios gritam frases contra o ditador Hosni Mubarak durante protesto na praça Tahrir, centro do Cairo
Egípcios gritam frases contra o ditador Hosni Mubarak durante protesto na praça Tahrir, centro do Cairo

Nesta sexta-feira, centenas de milhares de pessoas fizeram orações na praça Tahrir, onde clérigos traçaram paralelos entre a luta dos manifestantes contra Mubarak e a do profeta Moisés com o antigo faraó. "Que Deus force os opressores para fora!", os clérigos diziam. "Amém, amém", respondiam os fiéis. Depois, seguiram para o palácio presidencial.
Do lado de fora do prédio, homens rezavam atrás de veículos blindados. Os militares não interferiram, apesar de eles terem bloqueado as principais ruas que levam ao palácio, um grande complexo onde Mubarak conduz a maioria de suas tarefas oficiais. 

"Abaixo, abaixo Hosni Mubarak!", cantavam os manifestantes. Centenas deles andaram por mais de uma hora para chegar até o palácio na noite de quinta-feira, saindo do epicentro dos protestos, a praça Tahrir, no centro do Cairo. 

"Saia! Por que você continua?", gritavam cinco mulheres idosas. "Trinta anos é o suficiente", elas diziam ao ditador, de 82 anos de idade. O número de manifestantes no palácio já era de 2.000 no início da tarde.
"Não sairemos até que Mubarak renuncie e, se Deus quiser, o protesto de hoje será pacífico", disse Yasmine Mohamed, 23, uma estudante universitária. "Tudo ficará bem e ele renunciará com certeza."

Suhaib Salem/Reuters
Manifestantes antigoverno participam das orações de sexta-feira na praça Tahrir, Cairo, no 18º dia de protestos
Manifestantes antigoverno participam das orações de sexta-feira na praça Tahrir, Cairo, no 18º dia de protestos

Um membro de um dos movimentos jovens por trás protestos, que começaram em 25 de janeiro, disse que os manifestantes iriam "tomar o palácio". "Teremos massas de egípcios após as orações de sexta-feira para tomá-lo", disse Ahmed Farouk, 27. 

Na segunda maior cidade egípcia, Alexandria, na costa mediterrânea, centenas de milhares de pessoas foram às ruas após as orações. O xeque Ahmed al Mahalawi, em seu sermão na principal mesquita da cidade, pediu aos fiéis para não desistirem. 

"Não recuem de sua revolução porque a história não irá recuar", afirmou o xeque em um sermão transmitido pela rede Al Jazeera. Mahalawi disse aos fiéis que eles estavam derrubando um "regime corrupto" que não serve para governar.

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Hosni Mubarak
Amr Nabil-8.fev.2011/AP

Mubarak está em balneário egípcio, confirma porta-voz do partido

Do UOL Notícias
Em São Paulo
 

O porta-voz do PND (Partido Nacional Democrático), Mohammed Abdellah, confirmou que o presidente egípcio Hosni Mubarak deixou o Cairo, capital do Egito, com a família na manhã desta sexta-feira (11), com destino ao balneário Sharm el-Sheikh.
Abdelllah, membro do PND (Partido Nacional Democrático), disse à Al-Jazeera que Mubarak delegou seus poderes ao vice-presidente, Omar Suleiman, na noite de sexta-feira.
A TV estatal do Egito informou que a presidência divulgará, em breve, um comunicado "importante e urgente".

Pouco depois da confirmação de que Mubarak havia deixado o Cairo, o Exército egípcio, por meio do general Talat Musallam, disse que irá anunciar um novo comunicado nesta sexta-feira, informando que "cumprirá com as reivindicações do povo". "As massas não estão satisfeitas", afirmou o general à emissora de televisão "Al Jazeera".

Em outro comunicado divulgado nesta sexta-feira, pela manhã, o Exército já havia se comprometido a garantir as reformas prometidas pelo presidente e encerrar a Lei de Emergência, vigente no país desde 1981, "imediatamente depois que se termine a situação atual", referindo-se aos protestos.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Graco Magalhães: um homem da altura de Ícaro
Emanoel Barreto

Reencontrei hoje, lá se vão vint'anos ou mais, o Comandante Graco Magalhães. No apartamento que já deu vista para o mar, agora parcialmente encoberto pelo cimento de outros edifícios, esse militar da reserva, piloto da aviação de caça, homem que já voou os céus do mundo todo, contou de sua vida e mostrou-se uma ser humano de altitude de Ícaro. E revelou faceta que desconhecia: Graco Magalhães, fotógrafo. Preciso, técnico, adestrando essa técnica à sensibilidade, é dele a foto de capa do livro "Voar é preciso", em que faz autobiografia.

O menino na foto é seu filho Márcio, hoje também piloto. Graco aguardava esse avião e, de repente, lá estava o filho diante da grandiosa máquina. O fotógrafo entrou em ação e o resultado está aí. 

Perceba-se a pequenez epifânica da criança ante a enorme, pesada, poderosa máquina de voar. O menino, a cabeça levemente erguida, a decifrar encantado o milagre de poder voar, o enorme esforço de voar. O ser humano, em sua idade mais cândida, enfrenta a estrutura ciclópica que o homem construiu em sua ânsia de alturas, sonho de pássaro disposto ao sem-fim.

A relação espectador/foto tem um além e um aquém. Aí o seu grande mistério e impressionante troca de energias entre quem fotografou e quem vê. O além é o universo mesmo da foto, aquilo que ela nos sugere, a força que nos atrai, o estar à nossa frente e representar, na planura da imagem, a profundidade daquilo que o fotógrafo buscou traduzir. O aquém somos nós em relação a ela e ao fotógrafo, o olhar preso ao momento captado.

Foi uma tarde reconfortante. Cercado de livros, antigos móveis de família, olho no computador, atento às coisas do mundo delirante neste início de século 21, o Comandante Graco é alguém que nos engrandece pela conversa, pelo gesto, pela grandeza. Um grande abraço, amigo.
Leio no Ig:

Twitter é avaliado em US$ 10 bilhões após negociações, diz jornal

Segundo fontes, microblog teria faturado US$ 45 milhões em 2010.
Empresas como Google e Facebook estariam negociando aquisição

Do G1, em São Paulo

As negociações que o Twitter tem mantido com potenciais compradores, como o Facebook e o Google, teriam avaliado o microblog entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões, segundo reportou o jornal “Wall Street Journal”.

Fontes próximas ao assunto reportaram ao periódico americano que executivos do Google, Facebook e outras companhias, têm mantido conversas com o Twitter nos últimos meses para ampliar a perspectiva de compra do serviço. Porém, as negociações, até agora, não levaram a nenhum acordo.

O Twitter é uma empresa privada e não revela o seu faturamento. Em 2010, é estimado que a empresa tenha faturado US$ 45 milhões, mas o microblog terminou o ano com grandes gastos em novas contratações e centros de dados. Para 2011, a expectativa é que o Twitter dobre a sua receita, alcançando valores entre US$ 100 milhões e US$ 110 milhões.

Em dezembro de 2010, o Twitter levantou US$ 200 milhões em capital, em uma transação que avaliou a companhia de microblogs em US$ 3,7 bilhões, menos de um ano depois que ela iniciou seus primeiros esforços sérios para ganhar dinheiro. O Twitter atingiu a marca de 175 milhões de usuários registrados no mundo que enviam, diariamente, 95 milhões de tuítes.

Deu no Ig:

Na UTI, Alencar recebe Dilma "lúcido e bem humorado"

Ex-vice e presidenta conversaram sobre "trivialidades da vida", de acordo com médico do hospital Sírio-Libanês

Ricardo Galhardo, iG São Paulo | 10/02/2011 11:26 - Atualizada às 12:52

O ex-vice-presidente José Alencar recebeu no fim da manhã desta quinta-feira a presidenta Dilma Rousseff na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, onde está internado. De acordo com o médico Roberto Kalil Filho, a visita da presidenta durou cerca de 45 minutos. Os dois conversaram por meia hora sobre "trivialidades da vida", segundo o médico.

Alencar, que voltou a ser internado no início da tarde de ontem com peritonite por perfuração intestinal, está "lúcido e bem humorado", de acordo com Kalil. Acompanhada ministro-chefe da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, a presidenta chegou e saiu do hospital de helicóptero e não conversou com a imprensa.

O filho de Alencar, Josué Gomes da Silva, também esteve com o pai nesta manhã. Ele contou que Alencar "passou muito bem" a noite e que, quando chegou ao quarto, "ele já estava acordado e elétrico”.

Segundo o iG apurou, Alencar foi ontem ao hospital para fazer hemodiálise e transfusão de sangue e reclamou de um "desconforto abdominal". Os médicos pediram uma tomografia e identificaram perfurações no intestino. Ele está sendo tratado com antibióticos e seu quadro é considerado grave.
Foto: Futurapress
Alencar, entre Lula e Dilma, em sua última aparição, em 25/01/2011, em SP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também faria a visita hoje, adiou o retorno a São Paulo. Lula está na capital federal para as comemorações de 31 anos do PT. Ele desembarcou na capital federal na tarde de quarta-feira pela primeira vez desde que deixou o cargo. Apesar da viagem, Dilma ainda é aguardada para a festa do PT, que acontece a partir das 17h.

Última aparição
Alencar, que luta contra um câncer há quase 13 anos, estava em casa com a família, em São Paulo. Ele havia deixado o hospital no último dia 25, após 30 dias internado. A última aparição de Alencar aconteceu no aniversário de São Paulo, quando foi homenageado pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP) com a Medalha 25 de janeiro.

Na ocasião, Alencar falou sobre sua luta contra o câncer e disse que lutava “para não morrer”. “Ainda não estou bem. Estou bem melhor, mas ainda não estou bem", disse o ex-vice. “Se eu morrer agora vou morrer feliz. A situação não poderia estar melhor para mim. O Brasil inteiro está rezando por mim. Não tem como melhorar”, discursou, antes de seguir para casa, com o aval de sua equipe médica.
Tem mulher boa no pedaço; e quase nua

No tipo de sociedade que criamos, onde o consumismo é norma-padrão, consumir, consumir até mesmo pelo olhar, consumir até mesmo pelo olhar o corpo do outro, ou dar o próprio corpo ao consumo desse olhar, pedir o consumo do próprio corpo pelo olhar de outrem, é procedimento que ingressa nessa normalização. 

Por isso a mulher sente-se obrigada a ser magra, ter peito grande e bunda valuptuosa: quem não for assim, será indigna de ser chamada de mulher, pelo menos mulher segundo essa acepção dicionarizada no vocabulário do olhar social, que está sob a direção invisível e poderosa dos que ditam a moda e os comportamentos a ela inerentes. Moda, aqui, inclui a performance da massa ponderal feminina, suas curvas e demais atrativos, o que inclui poses, roupas insinuantes, o caminhar, os , ademanes e gestos de sedução.

Essa antropofagia social do corpo feminino é exemplarmente exposta em carnes fêmeas no Lingerie Bowl, assim descrito pelo portal Ig: O “Lingerie Bowl” é um evento anual que surgiu em 2004 como atração de intervalo do “Super Bowl”, o maior evento esportivo de Futebol Americano. Esse ano, jogadoras em roupas íntimas disputaram a final da oitava edição da Liga de Futebol Americano de Lingerie, em Las Vegas. Nesta partida final do “Lingerie Bowl”, o Los Angeles Temptation bateu o Philadelphia Passion por 26 a 25. 

As fotos a seguir mostram à larga essa exposição de fêmeas da espécie humana, cujas atitudes vão muito além, ou abaixo, do que se poderia esperar de mulher elegante e bela. É a exploração grotesca e a brutalização das relações sociais sob a forma de espetáculo esportivo. A matriz profunda desse espetáculo revela uma sociedade doente, voltada para as aparências e para o lucro de quem muito ganha com esse tipo de viver.
 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O fulgor e a treva

Terríveis tempos, estranhos homens; dragões nos ameaçam


Estranha civilização a que construímos: alicerçamos nossa vida no temor, no horror que possamos causar ao próximo e ao distante. 


Estabelecemos nossas prioridades dentro de nossas próprias muralhas: o que está fora é o inimigo, o estrangeiro, o agressor - e muitas vezes é mesmo, pois que nascido da mesma civilização. 

E como nos lançamos ao confronto como modo de diálogo, resta-nos a conversa estabelecida em ataque e defesa. 

Substituímos o fulgor pela treva, o compartilhar pela posse, o olhar pela mira, o estender da mão pelo disparo. Dragões povoam nosso imaginário.

E assim vamos em galope louco, cada um dono da própria razão, loucos todos os demais; eu não louco, o outro sim lunático, desmiolado. E, dementes de tanta certeza, seguimos todos ao hospício, ao tribunal, ao hospital, à cadeia, e lá internamos todos os demais, sentenciamos todas as penas, punimos crimes imputados e amputamos todas as referências do que seria mesmo humanidade.

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Grande Otelo
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Egito: a força contra o povo

Leio na Folha: O Exército egípcio poderá ser obrigado a intervir para proteger o país caso os protestos contra o regime provoquem um "estado de caos", advertiu nesta quarta-feira o ministro das Relações Exteriores, Ahmed Abdul Gheit, citado pela agência estatal Mena.
"Nós temos que preservar a Constituição, mesmo que esta seja alterada", disse Abul Gheit à emissora de TV Al Arabiya, de acordo com a agência Mena. 

"Ele afirmou que caso o caos ocorra, as forças armadas intervirão para controlar o país, um passo, segundo ele, que poderá levar a uma situação muito perigosa", informou a agência, citando o entrevistado. 
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Mohammed Abou Zaid/AP - Cartaz fala da fortuna de Mubarak
Que tal se fosse invertida a compreensão do problema e se passasse a dizer assim: o povo egípcio foi obrigado a intervir contra uma ditadura de 30 anos, que permitiu a seu usufrutuário o acúmulo de fortuna estimada em 70 bilhões de dólares?


A culpa, é bem mais fácil assim, é colocada no povo, nos milhões de famintos, nos que não têm direito a comer um pão. A persistência do ditador Mubarak é o empecilho a uma suposta e desejável democratização do país. Ele é o problema, não aqueles que protestam.

A "intervenção" do exército será um exercício de temeridade. Mesmo sob a consigna de defesa da Constituição, o uso de força armada contra multidão resulta em banho-de-sangue. Nada parece sugerir que o grito das ruas venha a se calar. A não ser que venha a ser calado.
Em busca do tempo perdido

Caminhar hoje pelo centro da cidade é ser abordado, ali, nas imediações da Caixa Econômica Federal, Rua João Pessoa, por pessoas que querem convencer você da importância de tomar um empréstimo. Não, não é na Caixa, é em algum esconso estabelecimento onde, assinando um documento que garanta que o pagamento será descontado em folha, você terá direito a até cinco mil reais.

Os, vou chamar atravessadores, abordam você e quase pegam no braço, sob a promessa de que as cinco mil notinhas de um real serão a salvação. Você estará com uma fortuna e será feliz para sempre. Estará a um passo do Paraíso. Hoje, ao ser abordado assim, senti uma sensação de estranhamento: senti que algo se foi, substituído por uma multidão de vendedores ambulantes disso e daquilo. 

Senti que uma certa Natal esvaiu-se, volatilizou-se, sumiu. Hoje, o que havia de belo, aquela sensação de sentir-se bem, aquela sensação cristalizou-se nos shopping centers, escapou ao ar das ruas e, permita-me a palavra, encapsulou-se nos tais centers.

O Centro está feio e magotes de subempregados buscam ganhar qualquer dinheiro.

Da próxima vez que for por lá, quando for chamado a fazer um empréstimo vou aceitar: vou perguntar ao atravessador se ele pode me emprestar, mesmo somente por algumas horas, o centro da cidade como era há uns vinte ou trinta anos. Se ele puder, vou aceitar. Mesmo que a dívida venha a ser cobrada ano após ano e nunca mais tenha fim.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Ginger Rogers
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Depois de Lampião, chega o novo terror

Beira-Mar em Mossoró: Santa Luzia, olhai por nós

A chegada do traficante Fernandinho Beira-Mar a Mossoró sábado último suscita um questionamento: o aparelho policial, pelo seu serviço e inteligência, poderia estimar a possibilidade de que criminosos de sua facção viessem a tentar libertá-lo? Isso foi levado em consideração? A pergunta ganha importância a partir do fato de que quando o bandido esteve no presídio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, houve violento ataque com duração de cerca de 20 minutos e uso de helicóptero, visando a liberação de algum criminoso.
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A reação dos guardas foi à altura, a tentativa falhou e não foi apurado se seria ele o motivo do ataque. Minha preocupação parte do fato de que Mossoró já vive problemas de segurança graves, não sendo interessante que, de repente, fosse a cidade literalmente atacada por quadrilha de alta periculosidade, objetivando dar fuga a um dos piores traficantes do país.

Não é sem sentido o questionamento. O sistema defensivo da penitenciária federal de segurança máxima de Mossoró deve ser efetivamente poderoso, para merecer esse nome. Seja em número de agentes, seja em qualificação operacional para contenção de tumultos e ataques externos. Todavia, pelo crescente número de crimes de morte ocorridos recentemente na cidade, pela insegurança que sei que existe em Mossoró - seja no noticiário, seja em conversa com fontes - não creio que o policiamento da cidade esteja apto a cumprir com convocação de última hora para alguma reação necessária e inesperada.

Uma tentativa de libertar Beira-Mar apresenta, do ponto de vista logístico, grandes dificuldades: a distância entre Mossoró e o centro de operações do criminoso, o que obrigaria membros da quadrilha a se deslocar do Rio àquela cidade, o modo como a empreitada se realizaria, a libertação de Beira-Mar e a fuga dos próprios autores da proeza, caso esta venha a ser incluída no rol das probabilidades.

Como jornalista, julgo-me na obrigação de levar adiante esse questionamento. Não estamos tratando com um bandido qualquer. Trata-se de um chefão do crime, com alto poder de organização e liderança. No presídio estão outros condenados de alta periculosidade, o que aumenta. As autoridades policiais do Estado, espero, devem levar em consideração o com quem estamos lidando. Creio que a imprensa norte-rio-grandense deveria cobrar do governo do estado e da Polícia Federal explicações claras e objetivas a esse respeito. Mossoró enfrentou Lampião. Aguentaria uma rajada de balas de Fernandinho Beira-Mar?

As autoridades têm de ficar de olhos abertos. Isso não é missão para o santo olhar de Santa Santa Luzia.

Abaixo, matérias da Tribuna do Norte e do Jornal de Fato.

Juiz definirá tempo de permanência


Roberta Trindade - Repórter/TN

O tempo de permanência do traficante mais temido do Brasil no Rio Grande do Norte será uma decisão do juiz federal Mário Jambo, que volta ao trabalho amanhã (09). O pedido para Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar ser transferido para o presídio federal de Mossoró foi do Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça Federal, o pedido foi aceito pelo juiz Vinícius Vidor, que ocupa interinamente o cargo de Mário Jambo, de férias. Ainda segundo a assessoria, o pedido do DEPEN foi aceito, por Vinícius Vidor, em caráter estritamente provisório. A decisão foi tomada devido à gravidade do que vinha ocorrendo na Penitenciária Federal de Catanduvas.

CedidaFernandinho Beira-Mar chegou ao presídio federal de Mossoró no sábado, trasferido da Penitenciária de Catanduvas, no ParanáFernandinho Beira-Mar chegou ao presídio federal de Mossoró no sábado, trasferido da Penitenciária de Catanduvas, no Paraná
O juiz federal Mário Jambo já havia negado, em 2010, vários pedidos de transferências de presos considerados de alta risco para a Penitenciária  Federal de Mossoró, por considerar precárias as condições de segurança da unidade. Havia, por exemplo, o problema da água. A informação era de que não havia autonomia hidráulica e que a solução era receber água do Presídio Estadual Mário Negócio. 

A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a assessoria de imprensa do Ministério de Justiça, em Brasília (DF). De acordo com informações repassadas pelos funcionários do órgão, as transferências de presos entre as quatro penitenciárias federais do país são periódicas. Catanduvas (PR), Campo Grande (MT), Porto Velho (RO) e Mossoró (RN).

O serviço de inteligência do DEPEN evita encaminhar presidiários que pertençam à uma mesma facção para uma única unidade prisional, o que provocaria uma facilitação ainda maior para os criminosos comandarem o crime organizado de dentro das  penitenciária.  Beira-Mar já esteve no presídio federal de Campo Grande, mas não podia ser transferido para Porto Velho porque, segundo informações da direção daquela unidade, lá já estão “presos da facção do Comando Vermelho liderada por Luiz Fernando da Costa”.

A TN tentou e não conseguiu conversar com a direção da Penitenciária Federal de Catanduvas. Agentes que atenderam as ligações disseram apenas que não podiam dar detalhes sobre Beira-Mar. A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça enfocou que durante o tempo que Fernandinho Beira-Mar permaneceu em Catanduvas, “era um homem reservado, com a noção de que poderia ser punido caso descumpri-se as normas da instituição”.   Na Penitenciária Federal de Campo Grande (MT), questionado sobre o comportamento de Fernandinho, o diretor da instituição, Washington Clark dos Santos, disse apenas a seguinte frase: “Era normal”.

Sobre o banho de Sol, Clark que está à frente da unidade há um ano e dois meses afirmou: “Era coletivo” (o que significa que Fernandinho não estava inserido no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde o banho, se toma o banho de sol sozinho para evitar contato com outros apenados”.    

Beira-Mar chegou em Catanduvas em 19 de julho de 2006, lá permaneceu até 25 de julho do ano seguinte até ser transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MT). Fernandinho ficou apenado naquela unidade até 18 de dezembro de 2010, data em que voltou para Catanduvas e só saiu no sábado (5) quando foi transferido para o Rio Grande do Norte.

Em agosto de 2010, o Tribunal Regional Federal (TRF) negou o pedido de transferência de Beira-mar para um sistema penitenciário estadual no Rio de Janeiro. O presidiário reclamava do rigor do sistema penitenciário federal de Mato Grosso do Sul e da dificuldade de receber parentes.

A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com o Jornal do Estado (PR) e com a Gazeta do Paraná para obter informações (reportagens) sobre possíveis problemas gerados pelo traficante número 01 do sistema penal federal. Uma das editoras do Gazeta do Paraná informou que  na Penitenciária de Segurança Máxima de Catanduvas disse que durante todo o dia de ontem tentou contato com a unidade prisional, mas que foi orientada a falar com o Depen para obter algum tipo de informação (que também não foi repassada pelo órgão).

Transferidos são a elite do crime

O presídio federal de Mossoró, aos poucos, tornou-se a unidade prisional do Brasil com o maior risco de segurança e, consequentemente, a mais badalada. O último interno, Luís Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-Mar”, é um dos responsáveis pela preocupação neste aspecto. Ele se junta a outros presos também perigosos, como o colombiano Nestor Ramon Caro Chaparro, o “El Duro”, considerado o número 4 no narcotráfico colombiano, além de outros 11 criminosos cariocas que estão em Mossoró há vários meses.

Chaparro foi transferido para Mossoró no dia 17 de abril do ano passado, sob forte aparato de segurança montado pelos agentes penitenciários federais e a polícia federal local. El Duro era procurado pelos Estados Unidos e foi preso pela polícia federal brasileira no Rio de Janeiro, em 13 de março de 2010. O colombiano estava hospedado em um hotel de luxo e não ofereceu resistência.

El Duro era procurado pela polícia norte-americana pelos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de entorpecentes. A polícia americana oferecia R$ 5 milhões por uma informação que levasse à prisão de Ramon.

De acordo com a Polícia Federal, Chaparro teria enviado cerca de cinco toneladas de cocaína da Colômbia para o território americano, via Brasil. A PF informou na época da sua prisão aos jornais cariocas que o traficante usava o Brasil, como entreposto para enviar drogas para os Estados Unidos e também para a Inglaterra, segundo maior receptor da droga de Chaparro.

Na época da sua prisão no Rio de Janeiro, a PF comparou a influência de El Duro no tráfico de drogas internacional com a do também narcotraficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, preso em São Paulo desde 2007 e extraditado para os Estados Unidos da América em 2008.

Beira-Mar é considerado exceção

Andrey Ricardo - Jornal de Fato

Mossoró - A lei que trata da inclusão de presos no Sistema Penitenciário Federal (SPF), que administra as quatro prisões federais do Brasil – a quinta será construída ainda – estipula que os presos devem passar até um ano recolhidos em unidades prisionais federais, podendo ser prorrogado por mais outro ano. Beira-Mar é uma exceção e está no regime de segurança máxima desde 2006, quando foi mandado do Rio de Janeiro para o presídio federal de Catanduvas (PR). Ele passou cerca de três anos lá, foi para Campo Grande, e voltou para Catanduvas. Sua última parada é a prisão federal de Mossoró.

De acordo com o delegado da Polícia Federal Arcelino Vieira Damasceno, que assume nos próximos dias a direção do presídio federal de Mossoró, a chegada de Beira-Mar não altera a rotina de trabalho da unidade. Para Arcelino, que está atualmente à disposição da Polícia Federal de Brasília (DF), mas já estava ontem em Mossoró tratando dos procedimentos acerca da sua nova função, “cuidar” de Beira-Mar não é nenhuma novidade. É que ele já foi diretor do presídio federal de Campo Grande, por onde o traficante passou nesses quatro anos que faz parte do Sistema Penitencário Federal.

Quando diretor do presídio de Campo Grande, Arcelino passou por uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo Sistema Penitenciário Federal, quando bandidos fortemente armados tentaram uma invasão. Os agentes penitenciários federais revidaram e o confronto armado durou cerca de 20 minutos. Sem condições de invadir a prisão, os bandidos fugiram e até hoje não foi esclarecido qual era o verdadeiro objetivo dos invasores, que chegaram a utilizar um helicóptero. Na época, cogitou-se a possibilidade da ação ser um resgate de Beira-Mar, o que nunca foi provado pela polícia.

Ao ser questionado sobre um possível aumento na segurança com a chegada de Beira-Mar, o delegado tratou de reafirmar o forte esquema de segurança que existe em todas as unidades prisionais que fazem parte do SPF. “Todas as unidades foram construídas para esse tipo de situação e Mossoró não é diferente. Temos todo o aparato necessário para lidar com esse tipo de situação (refere-se à chegada de Beira-Mar)”, enfatiza Arcelino, que passa a contar com um reforço, junto com a chegada do traficante. Com ele vieram armas que estavam sendo usadas nos treinamentos dos novos agentes.

Beira-Mar e os outros cinco bandidos desembarcaram no Aeroporto Dix-Sept Rosado por volta das 18h30 do sábado passado, sob forte esquema de segurança. Eles foram trazidos de Catanduvas (PR) em uma aeronave da Polícia Federal – a mesma usada noutras transferências. Por ar, a escolta foi feita por 20 agentes penitenciários, que ganharam o reforço de outros 30 de Mossoró. Além dos agentes, policiais federais e rodoviários federais foram designados para fazer a escolta do megatraficante os outros cinco do aeroporto para o presídio. Foram cerca de 10 km de muita preocupação.

De acordo com um agente penitenciário ouvido pela reportagem, que participou da escolta de Beira-Mar de Catanduvas para Mossoró, todo a operação foi montada sob um forte esquema de segurança e altamente sigiloso. Ele disse ao DE FATO que foi informado sobre a missão poucas horas antes, assim como os agentes penitenciários de Mossoró, que também só descobriram que iriam escoltar Beira-Mar momentos antes. “Foi tudo muito rápido. A gente não estava nem sabendo”, comenta o agente, que pediu anonimato, lembrando que a vinda de Beira-Mar já vinha sendo especulada.

Traficante chega com nomes de peso

A transferência de Fernandinho Beira-Mar para Mossoró foi o assunto dos principais meios de comunicação de todo o Brasil, mas além dele, vieram outros presos que também são considerados extremamente perigosos. Um deles foi flagrado quando tentava manter contatos com líderes do Comando Vermelho (CV), arquitetando com confronto direto com a polícia carioca em repreensão a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs.

O jovem Washington Presence de Oliveira tem apenas 23 anos, mas já possui uma extensa ficha criminal. Fernandinho Beira-Mar foi condenado a 120 anos de cadeia. A pena do jovem Washington não deixa muito a desejar no que diz respeito ao mais perigoso criminoso do Brasil: são 80 anos.

A esposa de Washington foi presa no fim do ano passado, logo após visitar seu companheiro no presídio federal de Catanduvas (PR), de onde ele e os outros cinco presos, incluindo Beira-Mar, foram transferidos no sábado para Mossoró.

De acordo com as investigações, as cartas apreendidas com a esposa do criminoso eram direcionadas para Márcio Santos Nepomuceno, o “Marcinho VP”, um dos principais líderes do Comando Vermelho, e Marco Antônio Pereira Firmino, o “My Thor”, também apontado como um dos líderes.

Saúde, ou cadeia para quem nega saúde

A alegada incompetência do Estado no provimento de serviços é o motivo apresentado para que a iniciativa privada cresça e ocupe espaços que seriam, de origem, responsabilidade estatal, portanto, social. Há alguma ponderabilidade em tal afirmação, uma vez que a letárgica ação da máquina pública, com a cultura da burocracia e do absenteísmo dos funcionários, parece confirmar a assertiva de que o Estado deve ser varrido do mapa, deixando-se tudo a critério da iluminada iniciativa privada - desde que haja lucro, claro.

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A ação do Estado, todavia, não elide o fato de que este é patrimonializado pelo privado, colocando-se, desta forma, o público a serviço do privado. Esse o nó górdio da questão: o Estado não é entidade acima, não é um ente com vida própria, não é um alguém. O Estado, enquanto poder organizado, enquanto sistema jurídico, é colonizado por representantes do privado que ali semeiam seus interesses e prioridades. Daí a inxistência de disposição histórica de reverter situações estruturais e conjunturais e favor do social. 

Desta forma foi fácil, no Brasil, imergir-se o aparelho estatal em sua forma desinteressada de atender a questões como a saúde pública com a celeridade necessária. Veja bem, eu disse "imergir-se", não "imergir" o Estado a tal situação. Quero dizer que o Estado não imergiu, foi imerso, ao longo de sucessivos aluviões históricos, a tal situação. Não há interesse dos que representam o privado em fazer com que o serviço público caminhe como deveria. E isso é fácil, pois são as elites quem corporifica fisicamente o Estado e usa de suas instituições em proveito próprio.

Colocando a situação em termos práticos: o setor saúde foi negligenciado, abrindo-se caminho aos planos de saúde que, como empresas, visam o lucro, não importando a que custo, socialmente falando. Não importando a que dores, humanamente se dizendo, sejam atirados doentes, pessoas fragilizadas fisica e psicologicamente.

Notícia da Folha que abaixo transcrevo exibe à plenitude o que afirmo. Doentes "caros" são encaminhados ao SUS a fim de que deixem de "dar prejuízo" aos donos da saúde. A crueldade com que tais decisões são tomadas, a partir unicamente de planilhas de custos é estarrecedora. O mais triste é que tais atitudes são corroboradas pela máquina do Estado e não poderia ser diferente: afinal, esta organização chamada Estado foi sucateada exatamente para atender aos interesses dos planos de saúde. 

Uma definição de dicionário diz que saúde é "estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar". Creio que é suficiente para compreender o que quero dizer: o homem em estado de plenitude, situação holística do sentir-se bem e isso é muito importante; é muito sério e exige muito mais que o exame deste artigo de jornal. Exige disposição política, capacidade de entender que o Estado tem sim responsabilidade e deve assumir por inteiro a socialização dos serviços de saúde. É difícil? É. É caro? Também. Mas isso não exime que um governo, se tiver efetivamente disposição para tanto, de assumir a tarefa histórica de cumprir com o seu papel. Leia a matéria da Folha e veja se não tenho razão. Chega a ser chocante a desfaçatez dos planos de saúde objetivando impedir que as pessoas tenham saúde. 

A iniciativa privada deve ser chamada a cumpria com a missão que assumiu. Ou pagar pesadamente, falo em justiça, falo em cadeia, caso não cumpra o que promete em suas tão propaladas eficiência e eficácia. Já que assumiu um serviço público, atenda ao público.

Plano de saúde usa SUS para não pagar medicamento caro

DE SÃO PAULO
Hoje na Folha Planos de saúde têm empurrado seus segurados ao SUS para buscarem remédios ou procedimentos que deveriam ser cobertos por eles. A informação é da reportagem de Cláudia Collucci publicada na edição desta terça-feira da Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Cinco usuários de diferentes planos de saúde confirmaram a prática à Folha. O Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) também já registrou queixas sobre isso. O caso mais recente envolve a Porto Seguro Saúde e um empresário paulista da área têxtil, D.L., 52, que sofre de artrite reumatoide.

Há três anos, o plano cobre o tratamento com a droga Remicade (infliximabe), aplicada na veia. Ele fica uma noite internado para isso. Há um mês, porém, a Porto informou, por e-mail, que não cobriria mais o remédio e o orientou a buscá-lo no SUS --o frasco de 100 ml custa R$ 4.000. A cada dois meses, L. usa cinco frascos.
Segundo a advogada Daniela Trettel, do Idec, pela lei, toda medicação que exige internação para ser administrada deve ser fornecida pelo plano de saúde. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) também confirma a informação.

Rodrigo Capote/Folhapress
Pacientes retiram remédio de alto custo na farmácia do SUS em AME do Belenzinho, na zona leste de São Paulo
Pacientes retiram remédio de alto custo na farmácia do SUS em AME do Belenzinho, na zona leste de São Paulo
OUTRO LADO
Por meio de nota, a Porto Seguro Saúde confirmou que encaminhou o segurado D.L. para buscar a medicação no SUS. Diz que a empresa "tem como política sempre oferecer soluções e alternativas viáveis" aos seus segurados.

"Há anos existe um programa regular estatal de fornecimento de medicamentos de alto custo à população. Quando um tratamento não tem cobertura pelo rol da ANS, orientamos sobre a existência deste serviço."
Questionada sobre o motivo que a levou a ressarcir a medicação por três anos, a Porto alega que uma nova resolução da ANS definiu a não cobertura a droga. Mas, na lista de procedimento excluídos pela ANS, não consta o Remicade.

Procurada novamente ontem à noite, a Porto Seguro não respondeu.