sábado, 24 de abril de 2010

Quem vê capa vê coração? Depende.
Emanoel barreto

A penúltima edição da revista Veja trouxe o ex-governador José Serra em posição assemelhada à de Barack Obama na Time, quando da eleição deste a presidente dos Estados Unidos. A respeito do fato, pode-se lembrar que nas redações é muito comum uma brincadeira, que diz: "No jornalismo brasileiro nada se perde, nada se cria, tudo se copia".

O exemplo é claríssimo, vendo-se as duas fotos. Mas a cópia não coincidiu com o original, menos ainda com o objetivo desejado pela revista - expor Serra como se a partir de sua face se visse o seu interior: confiabilidade, serenidade, uma espécie de bonomia humanizadora da função política.

Observe bem: na imagem de Obama vemos um " nice guy", um cara, um "young man" jovial e amigável, um sujeito com visual convicente, o tipo do bom moço: carismático e portador de discurso credível, acessível e simples.

Na foto de Serra o que vemos? Uma figura algo sinistra, um "old man" com traços a que se tentou dar algo de extremamente humano, percebe? Mas o efeito resulta desastroso. Temos um homem com crânio escalvado, sorriso factício. Do que tanto estaria ele sorrindo? Por sua vez, Obama inspira um certo "ar de bondade", um jovem generoso, disponível, acessível. Está sugerido que ele estaria olhando para o outro lado da mesa onde repousa o braço que lhe sustenta o queixo. Desse outro lado estaria, virtualmente, o leitor da Time.

Obama não é bonito, mas é simpático, empático, assertivo em seu sorriso entalhado para convencer o leitor de que esse sorriso expressa o seu interior. Serra, ao contrário, além de não ter empatia, carisma e flama, está numa conjuntura iconográfica que não cumpre, exatamente por ele não ter empatia, com o propósito de chamar à si, na imagem, a confiança do leitor.

A atmosfera sombria da foto somente deve ter agradado a quem lhe seja seguidor. Há algo de cínico e falso neste reino da Dinamarca que foi a capa da Veja. Maiores detalhes com estudiosos de fisiognomonia...





sexta-feira, 23 de abril de 2010

 Serra: vestido para ganhar
Emanoel Barreto

A entrevista ontem do ex-governador de S. Paulo José Serra à TV Tropical revelou um homem que sabe cumprir com o que lhe diz sua assessoria de marketing: foi comedido nas declarações a respeito do PT, admitiu que o governo Lula foi correto com sua administração - não o discriminando no repasse de verbas - e, habilidosamente, refluiu ao ser indagado a respeito do seu vice: é coisa lá para maio, sentenciou.

Um aspecto, contudo, merece realce: o modo como o ex-governador apareceu vestido: sem gravata e de camisas de mangas curtas. Isso lhe deu um ar de despojado; homem simples, desapegado da vaidade de vestir elegante camisa de mangas compridas, optando por um look tipo "estou apressado, tenho mais o que fazer."

Manifestou, para quem quisesse acreditar, conhecimentos a respeito do Rio Grande do Norte: falou sobre a importante fábrica de barrilha, defendeu o aeroporto de São Gonçalo e, pasme-se, citou até a necessidade de construção da barragem de Oiticica.

Aos desavidados isso parece o dircurso de quem sabe tudo a respeito do Rio Grande do Norte. Tanto, que chegou a mencionar as UPAs da então prefeita Rosalba Ciarlini em Mossoró, dizendo em seguida que quando prefeito de São Paulo fizera obra semelhante.

Resumindo: Serra está vestido para ganhar. Sabe ser um bom fingidor. Isso, em campanha, é o que importa.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

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Brasília e a Sagrada Família
Emanoel Barreto

Há um quê de clamor cabisbaixo nessa foto de família anônima. Perplexidade compartilhada ante a Brasília recém-inaugurada, 50 anos comemorados hoje. A foto, documento instantâneo, momento preciso, é tragicamente biográfica. Nela, de alguma forma, estão todas as vidas anuladas de brasileiros desconhecidos, multidão de sonhos incompletos - pesadelos, pelo fato mesmo da incompletude.

A Sagrada Família do trabalhador honesto e maltratado olha a monumental obra, epopéia pulsante em cimento e utopia. Cinquenta pesados anos se passaram. Mil vidas vividas nessa travessia.
Brasília, festa de portentosos monumentos; arquitetura erguida no espaço grande do planalto central.

E essa família, meu Deus? Que fim levou? Onde estarão o pai, a mãe e os quatro filhos? Perdidos, quem sabe, na multidão parda onde as sobras e as sombras se encontram, enquanto se constroi a tragédia brasileira.

A foto em si é poema, é elegia. O homem pequeno diante do destino. Perplexo e maravilhado, vive uma espécie de medo ungido de humilde esperança. É como se o dobre de um sino dissesse: "Brasil, capital Brasília... Brasil, capital Brasília. Para onde vai você, José, com sua Sagrada Família? Brasil, capital Brasília, Brasil, capital Brasília"

Eu nao pergunto nada, porque o resto o sino não sabe; o resto o sino não sabe... o resto... bom, é melhor parar por aqui. Porque, o resto, o sino não sabe.
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Sentir Brasília

 Walter Medeiros*
waltermedeiros@supercabo.com.br

Cinqüenta anos, Brasília! Cinqüenta anos de vida, a mais intensa. Cinqüenta anos que surgiste da natureza para ser o grande ponto de encontro da humanidade, com a tua energia envolvente e contagiante. Cinqüenta anos de convergências e divergências pela criação de um Brasil melhor. Cinqüenta anos hospedando o mundo, na tua beleza transcendente e sideral. Cinqüenta anos de mudança para além do trivial. Cinqüenta anos, Brasília! Oh! Amada capital!


Muitas vezes explorei tuas entranhas, no Venâncio 2000, no Conjunto Nacional, nas tesourinhas, na W3, Rodoviária, Aeroporto e na bela Praça dos Três Poderes, de gritos contidos, de gritos gritados, de cacetetes e gás lacromogêneo, de tantas flores, de tantas festas, de tanto amor à Pátria. Brasília, és a casa dos brasileiros, por isto precisamos cuidar de ti, como se cuida dos entes mais queridos. E neste teu novo aniversário, tão importante, refletir pelo melhor, pela tua grandeza, pela tua história.


Nestes tantos anos abrigaste tantos momentos, de todos os tipos, mas que te fizeram amadurecer e firmar-se como quimera. Daqueles que não sabem viver em cidades desorganizadas, mas também daqueles outros que findaram começando a te desorganizar. Daqueles que querem ser enterrados debaixo das lajes das tuas super-quadras. Daqueles poetas da 304 – “a namorada foi para o Rio / e fiquei aqui a ver ministérios”.


Brasília, cidade elegante, cidade do futuro, cidade de todos, dos que crescem na vida e dos que não têm rumo, de corações que bateram e batem nas lutas da nossa história, de celas que prendiam os revolucionários ao ecumenismo da Torre de TV, da orla do Lago encantado às efervescências das cidades satélites.


Brasília, o mundo todo te reverencia, por seres a prova de que é possível construir os próprios destinos e mudar paradigmas. És mais que o teu todo, pois teu significado é mais amplo até que os escândalos que levam para dentro de ti.


Vez por outra tenho saudade de cada vez que te vi, Brasília. Saudade dos primeiros dias, nos quais tua beleza era total, dos dias sem medo, dos dias contemplativos, dos sonhadores que te completavam a cada dia. Auxiliadora Targino, Amantino Teixeira, Alexandre Cavalcanti, Monte Filho, Meira Filho, Chico Pereira, Chico Maia, Arlete Azevedo, João Heredício Pinto, Paulo Cunha, Dona Ceci e tantos outros.


Nos teus cinqüenta anos dou esse testemunho humílimo de quem pisou teu chão vermelho e em ti deixou e tem muitos amigos que se encantaram com as flores do cerrado. Amigos que em dias e noites inesquecíveis por ti circularam em tua culinária universal, em tua arte de vanguarda, em tua atmosfera inexplicável.


Brasília, não dá para bem te descrever, pois para te entender precisa, mais que tudo, te sentir.
*Jornalista – Natal/RN (Residiu em Brasília no ano de 1979 e retornou várias vezes a serviço ou em trânsito)

terça-feira, 20 de abril de 2010

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 Estou calado e não quero falar
Emanoel Barreto

Não, não foi bem assim, senhores. Eu não cheguei dizendo que sabia tudo; eu só pedi licença pra falar.

Como não deram, eu fechei os olhos, pra não ver tudo o que se fazia. Olhar, somente olhar, já seria ser criminoso, comparsa e ladrão.

Fechei os olhos mas fiquei atento.
E agora e hoje que me sinto mudo, só quero ver o que voces fizeram.
E então lhes digo que não sei de tudo.
Nesta assembléia não quero falar.

Suas palavras os levarão bem fundo.
E eu insisto não quero falar.
Vocês vão ver e vão sentir de tudo - e eu calado não quero falar.

Que horror, que horror, Brasília...
Emanoel Barreto

A charge do Bennet, na Folha, antecipa em um dia o aniversário de Brasília, 50 anos. A imagem diz tudo: a cor amarelada, a face de aspecto doentio deambulando entre o criminal e o louco, o furtivo ameaçador, insano e temível.

Os dentes mastigam, na metáfora medonha, aquela grande construção brasiliense que tem a forma de um H. E dos beiços pinga uma espécie de sangue sujo; o sangue maculado do povo do Brasil.

Que horror, que horror, Brasília...





segunda-feira, 19 de abril de 2010

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O povo, na frente da televisão, esquece...
Emanoel Barreto

A próxima campanha presidencial levará aos pontos mais altos o sentido da política como espetáculo. Nas mídias eletrônicas, TV e internet, então, esse sentido se dará de maneira total, pelo menos na totalidade dos telespectadores que também tenham acesso à net.

Tanto Dilma quanto Serra não são candidatos carismáticos, arrebatadores. Assim, suas equipes de marketing terão grande trabalho em colocá-los, enfeixá-los, seria a palavra certa, em pacotes midiático-discursivos expondo-os como se fossem semideuses.

Capazes de, com apenas palavras, edulcoradas em cenários de convencimento, afirmar-se como aptos a ser vistos como grandes timoneiros da grande nau chamada Brasil.

Há, é claro, em uma e outro, uma essência bem própria e peculiar: suas convicções, visões de mundo. Até mesmo, quem sabe, utopias, intenções efetivamente boas. Mas aos diversos tipos de eleitorado a que se dirigirão será preciso vender o que entendem como sendo "bom para o Brasil" e, especialmente, "bom para aquela parcela de eleitorado".

É aí que entram em cena as bruxarias dos marqueteiros, suas fórmulas miraculosas de perfectibilidade das candidaturas, ajustadas milimetricamente ao senso comum de cada classe, cada segmento de classe, cada eleitorado.

Dilma sairá embalada pelo prestígio histórico de Lula, Serrá deverá desenvolver um discurso que o apresente como capaz de manter a atual situação de aparente equilíbrio da situação sócio-econômica. Tanto isso foi percebido, que sua assessoria já engendrou, de empréstimo ao americano Obama, o lema "o Brasil pode mais".

Isso admite a estabilidade vivida pelo país, mas acena que será preciso um grande condottiero a fim de que tudo continue seguindo bem. Ele, não Dilma, seria esse ser especial, dotado de competência e experiência administrativa suficientes e necessárias a tão grande empresa.

Haverá uma grande batalha de símbolos, discursos e propostas midiáticas. O probema é que, entre o alarde da propaganda, o anúncio de uma era fabulosa de paz, progresso e prosperidade, e a realidade dura e fervente, há um grande abismo.

O povo talvez até saiba disso, mas, na frente da televisão, esquece...

domingo, 18 de abril de 2010

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Os lamentos do Estadão: do heroico ao ridículo
Emanoel Barreto

O Estadão, em seus lamentos diários, registra que está "há 261 dias sob censura". Claro que censura de jornal em uma democracia é um atentado à liberdade de imprensa, atentado que também se volta contra o público. A censura é exercida contra a sociedade, sendo o jornal o artefato que se emudece para atender aos interesses dos censores.


Fica-me uma indagação: o Estadão não conta com assessoria jurídica suficientemente competente para reverter o quadro? O que acontece no mundo jurídico, que tal situação não se altera?  Agora, vejamos outro aspecto: o jornal não está, em seu sentido mais amplo, "sob censura"; o que está em tal condição é a abordagem de material noticioso mostrando negociatas da família Sarney.

Não estou, absolutamente, defendendo essa censura tópica. Antes, questiono se, por trás disso, não estaria o Estadão querendo assumir um falso heroísmo, como se estivesse em cruzada. Se até agora não conseguiu reverter o quadro que busque explicações do seu setor jurídico uma vez que, notoriamente, trata-se de um ato atentarório à liberdade de expressão.

Encerrando, uma abordagem paradoxal: e se a censura tópica não for sustada, ficará o jornal a dizer, por exemplo: "Sob censura há 10.340 dias? De heróico, estaria resvalando ao ridículo. Ao que parece, o que falta é apenas um bom advogado.