sexta-feira, 6 de julho de 2007

Coisas de jornal

Caros Amigos,

Coisas de jornal são fatos, são atos,
gritantes, hostis.
São coisas tão tristes,
às vezes alegres, mas são
sempre coisas, coisas de jornal.

Coisas de jornal são tantas,
tão tolas, tão grandes, febris.
São fomes, são gestos,
são medos sem fim.

Coisas de jornal
são protestos nas ruas,
são balas que rasgam,
são vítimas sem paz.
São meninos magros,
meninas em risco,
homens sem emprego,
mulheres, parir.

Coisas de jornal
são coisas da vida,
são coisas da morte,
são egos inflados,
gorduchos de si.

Coisas de jornal
são letras que falam.
Manchetes lampejam
chamando o leitor.
Depois você lê.
Depois joga fora.

Jornal vai às ruas,
grudado de vida.
Vida vira tinta,
lembrança em papel.

Coisas de jornal,
tragédias diárias.
Estranhos momentos,
todos somos sós.

Emanoel Barreto

quinta-feira, 5 de julho de 2007

O Brasil, bem... que pena...

Caros Amigos,
Olhar a realidade brasileira é como pôr óculos escuros, quando já se está em plena escuridão. É como caminhar entre monstros, passear entre feras, equilibrar-se em corda que se vai partir.

O senado está coalhado de corruptos intensos, imorais convictos, profissionais do escuso. Enquanto o presidente Renan Calheiros se expõe com cinismo universal e se alega inocente, outro senador, Joaquim Roriz, cai em meio a um abismo de moral viscosa. Seu suplente está sob suspeita de corrupção e o segundo suplente pode não assumir, para que haja nova eleição ao senado e Roriz possa de candidatar.

Trata-se, na verdade de uma solerte usurpação do sentido do voto e da cidadania.

No Rio, os bandidos estão firmes, apesar de acossados pela polícia e pela Força Nacional de Segurança - e não há indícios de que venham a ficar sob controle.

Em meio a tudo isso, o País gasta milhões com os Jogos Pan-americanos, crianças não têm boa escola, muitos não têm o que comer. Que pena.

Não quero fazer uma ladainha de mazelas, tristezas coletivas, pessimismo em tempos de cólera. Apenas lamento os lamentos; a pobreza conformada; a dor tão grande e tão distribuída; o olhar cabisbaixo; o estranhamento a uma realidade tão pavorosamente larga em incertezas, e prelúdio de mais males.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Até quando? Até quando? Até quando?

Arrasta-se no senado uma luta intensa e surda, com golpes e contragolpes, pressões se empurrando no recinto estreito da insalubridade moral. O presidente da Casa, Renan Calheiros, insiste em permanecer no cargo, a despeito da fartura de provas de que mantinha concubinato ético e financeiro com lobistas, relação da qual retirava as trinta moedas com as quais sustentava uma filha tida fora do casamento.

Senadores, ontem, fizeram apelo ao seu bom senso, a fim de que renunciasse, para que a instituição seja poupada dos apupos e do achincalhe a que se acha exposta aos olhos da nação.

Ele reagiu. Como que prevendo a chuva de palavras de advertência, todas feitas em com cerimonioso e polido ele, sentado à cadeira presidencial, refutou a todos os argumentos com um discurso previamente redigido, eivado de um cinismo que beirava o deboche. Disse que estava sob a proteção de sua inocência e assim não se afastaria do cargo.

A honradez é o desmancha-prazeres dos desordeiros morais. Renan demonstra uma incrível capacidade de resistir, em meio ao fragor de tempestade que instaurou-se por sua própria culpa.

Até quando a sociedade brasileira, em seus costumes, sua cultura e sua visão de mundo, enquanto ser coletivo, continuará a produzir seres como esse senador?

terça-feira, 3 de julho de 2007

Uma estranha reunião

Os jornais contam que está prevista para hoje às 10h, reunião do Conselho de Ética a fim de decidir se o processo contra o presidente da Casa, Renan Calheiros,será arquivado. Esperemos para comentar.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 2 de julho de 2007

A conversa do louco

Assisti há alguns dias a um inesperado, incrível e magnífico diálogo entre um louco e o seu imaginário mundo paralelo. Alguém, um personagem vivo apenas em sua imaginação, levava aquele homem a uma conversa que a nós, normais, soaria estranha, desviada, gauche.

Sentado a um batente, vestindo apenas bermudas, ele gesticulava, falava, dizia coisas. Parava uns instantes e parecia estar ouvindo respostas ou contradições àquilo que dizia. Em seguida, retomava e continuava a falar. Tão calmo, tão sereno...

Marcou-me fortemente sua expressão facial. O semblante era de quem aconselhava, censurava mansamente a alguém que precisava ser advertido, alertado das coisas e dos perigos da vida. A gestualidade das mãos complementava a postura do rosto. Eram movimentos lentos, como se em cada passo desse balé das mãos houvesse sempre um abraço, a proteção a um filho pródigo que acabara de chegar, fora recebido e agora era aconselhado.

O olhar tinha algo de sinceridade. Sim, ele estava realmente falando com alguém, alguém que habita a sua vida e certamente com ele confabula dramas e problemas do seu cotidiano enviesado.

Segui adiante e o louco ficou. E fiquei imaginando que conselhos ele daria a nós, sãos, para tentarmos entender, em nossas vidas, tanta insanidade, mistérios hediondos, maldades insanáveis.