sexta-feira, 12 de março de 2021

Carlos Eduardo e Eliseu Satanás
Por Emanoel Barreto

Quando muito jovem o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves teve passagem pela redação da Tribuna do Norte levado pelo seu pai, jornalista Agnelo Alves. Creio que foi em 1982, permanecendo no jornal mais alguns anos.


Eu ocupava a editoria de Cidades e lembro como se fosse hoje: eram mais ou menos três e meia da tarde quando Agnelo aproximou-se e me chamou: “Barreto.” 

Eu me virei e ele continuou: “Esse é meu filho Carlos Eduardo. Vai trabalhar aqui no jornal. Trate como você trata qualquer um dos outros repórteres.” Não conversou  mais e saiu.

Carlos Eduardo, que nesse tempo tinha o apelido de Tata, entrou em ação dia seguinte: como não tinha qualquer experiência foi enviado para cumprir pauta abordando assuntos mais simples.

Coisas como reclamações comunitárias, poste com lâmpadas queimadas, buraqueira em bairros distantes. À medida que ganhava experiência foi assumindo questões mais difíceis, que exigiam do repórter mais atenção e disposição para que os fatos ficassem bem apurados.

Uma dessas matérias envolveu a perigosíssima figura de um tipo conhecido como Eliseu Satanás. O apelido já diz tudo. Era famoso no noticiário policial: truculento e brutal, dizia não ter medo de nada. 

Vendia gasolina estocada ilegalmente em grandes tonéis, fazia desocupação violenta de terrenos por posseiros e reagia quando a polícia o buscava. Dizia não recuar nem mesmo diante do Mão Branca, o matador – ou matadores – de bandidos que quase diariamente abandonava corpos de criminosos em terrenos baldios de Natal.

Pois bem: Carlos entrevistou Eliseu Satanás a respeito de uma de suas tropelias. O enquadramento da matéria, como não poderia deixar de ser, era francamente desfavorável ao medonho entrevistado.

Pronto o texto foi publicado na página cinco. Foi assinado e ocupou a manchete do jornal. Dia seguinte Eliseu Satanás riscou na portaria da Tribuna. Perguntou:“Aqui tem um repórter chamado Carlos Eduardo?”

O rapaz da portaria confirmou: “Tem sim.”
Satanás quis saber: “E quem é ele?”
Resposta: “É o filho do dono do jornal.”

Diante da resposta a perigosa criatura preferiu não levar adiante seus certamente terríveis intentos contra o jovem repórter Tata e desabafou:“Diga a ele que escapou de boa!” – e foi-se embora. 

Somente vim a saber dessa história anos depois, Carlos já prefeito, primeiro ou segundo mandato. Encontramo-nos num shopping por acaso; ele falou a respeito e disse: “Rapaz, você quase que me põe num rabo de foguete...”




quarta-feira, 10 de março de 2021

 Lula está voltando e assombra Bolsonaro

Por Emanoel Barreto

A volta de Lula como potencial candidato à presidência da República está assombrando os becos mais escuros e os esconsos mais abjetos e viscosos do bolsonarismo. Desde seus mais brutos e ignorantes servidores e seguidores até os mais cínicos e mal-intencionados membros da sua elite.

Nunca nenhum governo levou este país a situação que chegasse a esse nível de indignidade: a morte literalmente se espalhando e um sujeito sem qualquer preparo no cargo de presidente.

O retorno de Lula ocorre em meio a uma conjuntura que foi sendo construída sob a liderança do então juiz Sérgio Moro, que como enxadrista do direito moveu as peças no tabuleiro político-jurídico até chegar à inelegibilidade e depois prisão do petista.

Quando, todavia, o jogo da democracia é usado contra a democracia a dialética do processo histórico entra em ação e termina por reverter o quadro, mesmo que pouco, ou pouco a pouco. E é isso o que está acontecendo: passo a passo caem os muros da Jericó de Moro, dando passagem a Lula.  

Junte-se a isso a desgraça da pandemia, a inação, as atitudes broncas de Bolsonaro e temos o quadro que hoje vivemos – a  hecatombe mais perfeitamente repulsiva porque bastante previsível e, portanto, evitável; o desespero de milhões, o medo de morrer. Tudo isso faz de Lula uma esperança.

Quanto à pandemia nada foi feito e tudo de ruim está acontecendo. Em meio a isso a política segue seu curso, Lula está voltando e assombra Bolsonaro. Pode até nem voltar ao fim do processo jurídico. Mas está dando um grande susto.