sábado, 20 de novembro de 2010

ESCOLA VIVA
--- Walter Medeiros

Uma curiosidade que eu tinha havia muitos anos findou sendo esclarecida nesta semana, através da entrevista do meu amigo radialista Adamires Futado ao programa Memória Viva, da TV Universitária. Contando passagens da sua infância, Adamires referiu-se ao grupo escolar onde estudou, o Áurea Barros. Aquela declaração reacendeu minha vontade de saber onde exatamente situava-se aquela escola, pois também estudei lá, nos idos de 1963/64. Naquele tempo, Natal tinha até escola rural, pois estudei também na Escola Rural Professor Manoel Dantas, na Avenida Prudente de Morais, entre o Senai e a Escola Sebastião Fernandes. 

Mas Adamires falou sobre alagamentos imensos da área no Tirol, fazendo-me lembrar os períodos chuvosos nos quais cheguei até a me perder em Natal - recém-chegado de Alagoas, onde morei sete anos - confundindo o Quartel da Polícia com o Palácio do Governo, seguindo, portanto, para rumo diferente da minha casa, à época na rua Alberto Maranhão. Nosso amigo disse, então, que o grupo Áurea Barros funcionava onde hoje é a Casa do Professor. Foi o suficiente para eu dar uma passada naquele local e contemplar a esquina, hoje tão diferente daquele prédio bucólico da minha infância.
Mas a semana reservava-me outra surpresa boa. Fui convidado para falar a um grupo de pessoas na Escola Municipal Professor Celestino Pimentel, na Cidade da Esperança – Avenida Pernambuco. Lá vamos nós, pelo caminho, resgatando lembranças de quando Aluízio Alves inaugurou aquele conjunto habitacional feito pela FUNDHAP (Fundação de Habitação Popular). Tinha uma prima que morava na avenida Paraíba e íamos visitá-la. Uma dificuldade: o ônibus passava longe da sua rua, alguns taxis não aceitavam corrida para lá, pois os carros atolavam nas ruas de areia de duna. Da mesma forma que anos depois costumava estudar na casa do amigo Luiz Laércio Rocha da Silva, que virou especialista da aeronáutica, coisa que não pude ser porque minha altura ficava um centímetro aquém do exigido.
Chegando à escola, uma boa surpresa. O ambiente apresenta uma vitalidade imensa. 

As instalações dignas de não deixar a desejar perante outras escolas de qualidade. A diretora, Josyáurea Fernando Atanázio nos recebeu e a professora Eunice Bracho, da Equipe Pedagógica logo nos convidou a conhecer a escola, na qual era realizada uma feira de ciências. Quinze salas de aula, com visíveis contribuições de vários prefeitos, sucessivamente, inclusive a atual. Laboratório de informática de ótimo padrão, auditório, biblioteca, estúdio de uma rádio comunitária, cozinha, corredores, pátio, equipamentos esportivos, tudo organizado, limpo e bem cuidado. A surpresa se dá, pois o que se diz da escola pública é outra coisa. 

Mas eu já tinha passado por agradável surpresa parecida, em outro ano, quando a professora Nadja Lira me convidou para falar sobre “Saudade” (http://www.rnsites.com.br/humaniza_29.htm) na escola municipal Santa Catarina, na Zona Norte.
Como escola não se faz somente com paredes, corredores e salas, ouvimos os relatos sobre o seu funcionamento. Os alunos, que têm suas atividades didáticas, podem usufruir de outras atividades esportivas, artísticas e culturais. Naquela ocasião foi feita apresentação da banda da escola, na qual os alunos aprendem a tocar vários instrumentos. Abrilhantaram a ocasião tocando o Hino Nacional Brasileiro – era 19.11, Dia da Bandeira; uma música de Lady Gaga, que mostra a sua atualização; e uma música nordestina. Naquele mesmo espaço a comunidade ensaia uma quadrilha junina. 

Diante de tanta atividade, o pensamento volta-se logo para o descaso para com a organização. Mais um engano. Diante da dificuldade de transmitir individualmente as normas de disciplina da escola, foi confeccionado um imenso painel com direitos e deveres dos que fazem aquele estabelecimento de ensino, além do que são realizados pequenos mutirões de arrumação. Resultado: não se vê lixo no chão, chiclete nos cantos, nem riscos nas paredes.

A conscientização deu certo e todos se sentem responsáveis pela conservação. Claro que em meio a tudo isso sabemos que existem muitos problemas, entre eles aqueles alunos que insistem em dar trabalho, mas que são tratados com firmeza e respeito pedagógico. Como um que queria continuar sentado enquanto era executado o Hino Nacional. Um olhar explicativo e um gesto discreto da vice-diretora a dez metros de distância foi suficiente para fazê-lo erguer-se e permanecer perfilado com os demais colegas. Viva a Escola!
Arena das Dunas sequer é mencionada entre projetos dos estádios para 2014. Culpa de Drácula?
Emanoel Barreto

O projeto da Arena das Dunas não foi apresentado em Nova Iorque durante evento em que foram mostrados os projetos dos estádios para a Copa de 2014. A notícia até então não repercutiu no jornalismo de acá. Parece que temos falta de pauteiros em nossas redações. Mas, a valer algum caiporismo, o nome do responsável pelo Arena das Dunas é Christopher Lee, o mesmo do ator que interpreta Drácula. Não sei se o projeto da Arena está sendo vampirizado, mas... Bom, acabo de ver a matéria na Folha e transcrevo:

A proposta era apresentar, em Nova York, os 12 projetos de estádios para a Copa do Mundo de 2014. Mas a 2014 Brazil World Cup Architectural Summit, que ocorreu na quinta e sexta-feira, revelou só dez dos eleitos e alguns constrangimentos.
Christopher Lee, do escritório Populous, causou estranhamento ao não mencionar a reforma da Arena das Dunas, em Natal, sob sua responsabilidade. 

Em vez disso, preparou apresentação sobre o estádio idealizado para a Olimpíada de Londres, em 2012.


Pelos corredores, comentava-se que a omissão se deveu ao fato de que o projeto está sob risco de suspensão. Lee minimizou a polêmica e disse que se tratava de um evento de design esportivo. 

O estádio de Natal chegou a ter suspensa a concorrência para a contratação da empresa construtora, depois de o Ministério Público do Rio Grande do Norte apontar falha no edital. O governo alterou o documento e foi autorizado a retomar o processo

A arquiteta convidada a falar sobre a reforma do Maracanã, Cátia Castro, afirmou que o projeto precisa de mudanças quase diárias para conciliar as exigências da Fifa com o tombamento da estrutura externa do estádio. 

O projeto, cujo orçamento era de R$ 430 milhões, alcançou R$ 705 milhões devido às ordens da Fifa e do COL para mantê-lo como palco da final. A reforma, a ser financiada pelo governo, pode custar 25% a mais do que o valor licitado, segundo o edital. 

Por fim, para representar São Paulo, foi escolhido o escritório de Ruy Ohtake, responsável pelo projeto do Morumbi, já rejeitado pela Fifa. 

O COL, o governo do Estado e a prefeitura paulistana oficializaram a indicação do estádio do Corinthians para a abertura da Copa. A decisão depende de chancela da Fifa. 

Segundo a organização, Anibal Coutinho, autor do projeto corintiano, recusou convite para representar São Paulo em Nova York. 

"Ele disse que o Corinthians não queria assumir a responsabilidade de aparecer oficialmente como o estádio da Copa", falou à Folha Marcos de Souza, da Mandarim Comunicação, que fez os convites aos arquitetos. 

"Como o escritório do Ruy Ohtake desenvolveu um trabalho de longo prazo, e o projeto estava completo, embora vetado pela Fifa, achamos que isso fazia parte da história dos preparativos." 

Foto: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://blogs.citypages.com/gimmenoise/lee450.jpg&
As coisas de jornal do Estadão informam:

"Um dia após receber alta, Alencar volta a hospital para transfusão de sangue

 'SÃO PAULO - O vice-presidente da República, José Alencar, deu entrada no Hospital sírio-libanês para realizar uma transfusão de sangue, informou sua assessoria nesta sexta-feira, 19. Ele havia tido alta do hospital na quinta, 18, após permanecer 24 dias internado.

No dia 25 de outubro Alencar deu entrada no hospital para tratar de uma obstrução intestinal. Na última segunda-feira, 15, o vice-presidente foi transferido para um quarto comum depois de três dias na unidade coronária (semi-intensiva) do hospital, após sofrer um enfarte agudo do miocárdio na quinta-feira da semana passada".

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Há pouco conversava sobre o assunto: até que ponto vale uma vida assim? Alencar sabe, qualquer pessoa de bom senso entende, que esse caminho, na situação em que se encontra o vice-presidente, não tem volta. 

Louvo a capacidade guerreira de resistir. Sem dúvida, se o problema fosse noutro plano, numa grande luta a favor do social, por exemplo, ele seria um  líder, um leão a comandar o combate.

Mas pergunto, no plano existencial que vida é essa. Qual a satisfação de estar vivo sofrendo tanto?; o corpo pressionado ao máximo, a fim de manter preso a si o anima vital? Não sei se tal sofrer vale a pena ser assim tão cultivado. Aplaudo o grande guerreiro e a sua fibra, mas fico a pensar se vale a pena.



As imagens de McMartney foram criadas pelos designers Thea Severino e Marcelo Pliger para a Folha, tendo como gancho a vinda do Beatle ao Brasil. Um belo trabalho mostrando quatro fases dos fab four. O texto superficial do jornalismo "moderno" da Folha não faz jus nem à beleza do trabalho dos dois artistas nem à simbologia que encerram. Passada a fase ingênua, manifesta no primeiro ícone, os quatro passaram a etapas sucessivas de evolução. Mas não só isso. Integravam um processo que tinha algo de político, ajudavam a criar uma discrepância, ato de enfrentamento com o status quo no plano do comportamento e representação desse mesmo mundo. Denúncia de um mundo louco demais, guerreiro demais, brutal demais. (EB)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010


De como o Baronete Alberany, o Abominável, parte para enfrentar o Duque de Hermida y Aragão, mas, antes, se defronta com situação de grande injustiça, que será de bom alvitre resolver. Eis sua nova carta, relato dos seus grandes gestos.
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Terra Brasilis, 15 de junho de 1730

Ó leitor bondoso, nada temais que a mim me possa afligir. Sou astuto, intenso e reprovável, e c’os malévolos posso contender. Eis o que vos narro logo agora e a partir daqui.


Lembrai-vos de que, em certa noite, apoderamo-nos eu, o Marquês de Camisão y Astúrias e os biltres que me seguem, de um velho, tabelião e usurário, extirpamos-lhe os bens e o metemos bem e posto a ferros? Pois, bem, depois de assumir perante o Marquês a ingente missão de enfrentar o Duque de Hermida y Astúrias, que, dizem, mantém comércio com o Cão, descobri-me, apavorado, em meio a terrível dilema: como tomar-lhe as terras se é homem malsão e desalmado? Como enfrentar tão tenebrosa criatura? Perdido em meus pensamentos, eis que passo frente ao cárcere do citado velho. E sem meias palavras resolvi-me a lhe pedir conselhos. Não vos quedeis perplexo pela consulta a quem pusera em situação vil e degradada, que é de mim usar e aproveitar, especialmente daqueles a quem posso, sem medo e meio gesto, submeter a tudo o que desejo. 

Munido de meus solertes propósitos dele me aproximei e disse: Sois por certo vilão de grande monta, senão não estaríeis aqui calado e preso. Mas vos faço agora proposta e trato, e se souberdes comigo tratar, vos tirarei do calabouço e vos livro do garrote vil.
Eis que ele respondeu tão prontamente, que a mim até mesmo surpresou: Sim, disse, entro em trato convosco e bem depressa, já que nada mais tenho a perder. Aí, mandei que o livrassem e contei-lhe a desgraça que vivia. Ele, célere, celerado intenso, logo então a falar aconselhou: Vinde em minha companhia, ó velhaco, que juntos faremos cousas grandes. Traze então vossos mais astuciosos servos, carpideiras, velhas e bruacas, que com o Cão não se pode arrefecer. Traze também desordeiros e homens de força rude, para o caso de algum confronto. Enfrentaremos o Duque e seus algozes e os poremos a todos a servir. De senhores virarão labéu de homens, de poderosos a serviçais dobrados. 

Fiz isso e logo partiu toda a terrível comitiva. E pelos caminhos se promoveram insultos, aterrando os pobres passantes. E do povo aqueles sem prestar logo a nós se aliavam, que é do ordinário aos seus se ajuntar. Mas então perguntei ao usurário qual o plano que estava a urdir. Disse-me ele: Não ficou certo com o Marquês que quando um grande não pode do povo tirar se atira sobre outro seu igual e o expropria, para ser assim monopolista? Sim, confirmei. Pois bem, continuou ele. Para tanto é preciso pois, fazer o nobre, em aparência de bandido tornado, ser tido em tal situação. E de augusto a torpe proclamado, e assim merecer penas da lei: seja por amplo e sórdido desacato ou discrepância e torpe sedição. E isso é bem fácil de fazer, pois que o nobre já traz em si tão crimes lestos, que basta uma folha que o desabe. 

Como faremos isso, mente perniciosa, como provaremos que o Duque é homem vil?, quis saber. A resposta deixou-me atônito e parvo: Não sei. E continuou: pelos caminhos encontraremos, até chegar-lhe ao castelo, a solução aos nossos mui percalços. E eu, como já não podia recuar, atirei-me ao lado daquele louco e proclamávamos cousas sem sentido, atraindo grande multidão. Seguia o nosso préstito à larga quando aos longes se nos divisou: lá vinha em sentido oposto, outra grande e enorme procissão. E lhes ouvíamos os gritos, baldões e pronunciação de injúrias.
Afinal se encontraram os dois séquitos e no meio do que vinha encontrava-se amarrado homem. Coberto e feridas, macerado por torturas mais cruéis, gemia o pobre, mas não era ouvido. E estava-lhe na lomba o chicote, que diziam lhe ser punição. A seu lado vinha homem togado, que logo se apresentou como juiz. Perguntei-lhe o que se passava, mas foi a voz do forçado que falou: Foi furto famélico, meu Senhor! Furto famélico! Apoderei-me de três pomos para a fome matar dos filhos meus e da molher que comigo é minha esposa! Nada mais! E por isso então estou punido e temo até que à forca vá! 

Nesse momento o tabelião usurário demonstrou grande escrutínio. Disse-me: Não tendes, como o Marquês, um camisão que, se usado, ele flutua? Sim. Foi a resposta. Então, continuou, vistamo-los eu um e Vossa Mercê outro. E saltemos a fluir aos olhos vedores e deixai o resto à minha conta. 

Vestimos os camisões e nossos patifes nos atiraram ao alto. E os olhos pararam maravilhados: dois homens a voar bem bonançosos. Tomou então a palavra o usurário e gritou ao juiz e aos demais: Este homem aqui não é culpado! Mas o juiz então lhe redarguiu: É culpado sim, de culpa plena, que sentença até lhe perpetrei. Rebateu assim o usurário: Quem dentre vós que não tem fome? Quem dentre vós compareceu ao carrasco e ao verdugo, ao janízaro e ao cruel beleguim porque fome sentia e pão não tinha? É crime pois então buscar comida? 

A multidão virou-se contra o juiz e a favor do homem. Mas os prebostes do juiz o cercaram de apoios e puxaram o preso perto a si. E então o usurário foi rasante e pasmou a todos seu saber. Apoderou-se do juiz e o elevou e o trouxe para perto de mim. Falou-lhe então o grave usurário: seu tabelião e bem me conheceis. Sabeis dos meus tratos e negócios e conheço-vos todos os vossos. Somos iguais e estamos empatados. Vilanagens e todas as baixezas formam nossos catálogos precedentes. Assim,preciso-vos para dois intentos: primeiro, liberai aquele pobre indivíduo. Três pomos não matarão o dono de clamor. E depois ide a nosso lado, prender outro, esse sim, vil e lamentável. Se não, proclamarei vossos males a esta patuléia e sabeis bem qual o resultado. 

O juiz respondeu e foi enfático: Se é assim, se é para o bem de Têmis e justiça geral e amplidão, designo que o pobre seja solto e partamos ao mal subjugar. Eu e o usurário descemos, soltamos o juiz e este proclamou que se fosse solto aquele que estava a sofrer. E afinal convocou todo o seu povo a com ele a se nos ajuntar, a fim de dar cabo a grande injusto, cujos crimes haveria de punir. O povo urrou e aplaudiu a tão ilustre magistrado. E todos se apressaram então a nos comboiar, que nobre missão nos esperava.

Eis que agora vos deixo, meu leitor, que comigo tempo já perdestes. Mas esperai porém que muito breve, boas novas logo vos trarei.

Curvo-me a vosso serviço e me posto e mui,
Baronete Alberany, o Abominável

Madonna: de como festejar quem não merece
Emanoel Barreto

Vejo no Estadão matéria com o título "Madonna é a 11ª mulher mais influente do século XX". A seguir vem notícia, que diz:

NOVA YORK - A revista Time publicou nesta quinta-feira,19, sua lista das 25 mulheres mais poderosas do mundo no século XX, em relação liderada por Jane Addams, a primeira americana a ser premiada com o Nobel da Paz, e que conta com Madonna, Hillary Clinton e Angela Merkel.

Ernesto Rodrigues/AEA rainha do pop durante visita a São Paulo, em fevereiro de 2010Segundo a publicação, Jane lidera a lista por seu trabalho em defesa do voto feminino e pelos direitos trabalhistas das mulheres, assim como por sua atitude como pacifista.

Na sequência aparecem, respectivamente, Corazón Aquino, ex-presidente das Filipinas, e a bióloga americana Rachel Carson, fundamental para o início do movimento ecológico.

Em quarta está a estilista francesa Coco Chanel, e, em quinta, a cozinheira americana Julia Child. Completam os dez primeiros lugares a ex-primeira-dama americana e atual secretária de Estado Hillary Clinton, a cientista polonesa Marie Curie, a cantora americana Aretha Franklin, a política indiana Indira Gandhi e a americana Estée Lauder, criadora da empresa cosmética que leva o seu nome.

Figuram na lista ainda a cantora Madonna (11ª), a política israelense Golda Meir (13ª), e a atual chanceler alemã, Angela Merkel (14ª).

Nos cinco últimos lugares da relação são citadas a empresária americana Martha Stewart, madre Teresa de Calcutá, a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a apresentadora de televisão Oprah Winfrey e a escritora inglesa Virgínia Woolf.
...

Uma coisa a estranhar: o título destaca alguém que ficou em 11º primeiro lugar. Uma clara inversão de valores, não concorda? Mas é isso: para dar noticiabilidade ao assunto o jornal recorreu ao fato de que Madonna, excelente eu autopromoção, funcionaria como elemento de destaque.

Errou porém o jornal: o enquadramento deveria se voltar para personalidades mais importantes, como Madame Curie, além de questionar porque Madre Teresa ficou no final da lista. Madonna é apenas uma cantora oportunista, um ídolo pop, intérprete de canções sem qualquer profundidade, seja em forma ou conteúdo. Aretha Franklin está acima de Madonna, como voz e como pessoa icônica, mas isso não foi levado em consideração.

Preferiu-se a baladação e o apelativo, numa artista que só tem performance.



A estranha história de Ranulfa, a moça triste
Emanoel Barreto

Ranulfa era uma boa moça. Mas uma moça triste. Afinal, chamava-se Ranulfa. E era triste de uma tristeza-auta-de-sousa, cabisbaixa e terna. Estranho isso, não?, uma tristeza terna. E de tanta ternura era a tristeza que Ranulfa a ela se apegara.

Caminhava a vida sempre ao lado de sua tristeza, com ela trocava confidências, comunicava segredos e indecisões, vontades e até mesmo raivas que, de tão pudicas, a moça não as vivia. Afinal, era uma moça triste e tristeza é algo tão grande que ocupa todos os espaços na alma de quem está triste; e assim, em Ranulfa, não havia lugar para as raivas.

Mas as raivas eram persistentes e seguiam a moça e sua amiga, a tristeza. Seguiam nas não tentavam se impor. Como disse, as raivas eram pudicas, ou seja: queriam ser sentidas mas não expressadas, porque as raivas também eram raivas tristes. As raivas queriam apenas um lugar junto à tristeza de Ranulfa.

Um dia, a tristeza disse a Ranulfa que iria partir. Ranulfa disse que não fosse, senão ela ficaria com saudade e quem tem saudade, saudade muita, termina por ficar triste. Mas como a tristeza teria ido embora, Ranulfa não poderia mais ser triste, e sem a sua tristeza não poderia viver.

A tristeza porém insistiu e insistiu tanto que Ranulfa disse: vá. E a tristeza se foi. Então, as raivas pudicas pediram licença e se apresentaram. Conversaram com a moça e fizeram um longo passeio juntas. Explicaram a ela que não tinham coragem de se apresentar ao mundo, porque o mundo é dominado pelas raivas explosivas e elas, como eram tímidas e pudicas, achavam que não poderiam competir com as raivas grandes.

Mas a moça, de tanto conviver com a tristeza e com ela se aconselhar, explicou às raivas pudicas que elas poderiam sim lutar no mundo e se fazer impor. E então, um dia, em meio a uma grande e densa névoa, a moça e as raivas pudicas se uniram e gritaram alto. A moça tornou-se alegre e intensa, um turbilhão.

Anos depois volta a tristeza. Estava desiludida com o mundo. Queria outra vez um lugar na alma da moça. Mas, dessa vez, foi ela quem não a quis ali. E disse à tristeza: vá embora. Depois que acolhi as minhas raivas e passei a falar e a gritar disseram que estou louca.
Então, é assim e louca que que quero ficar. Que ódio.


FIM

Veja o futuro de Serra neste vídeo do UOL. Videntes e cientista político falam a respeito.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Luta sem trégua, uma dor sem fim
Emanoel Barreto

Diz a Folha: O vice-presidente da República, José Alencar, irá receber alta nesta quinta-feira do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde está internado desde o dia 25 de outubro para o tratamento de uma suboclusão intestinal.



Na quinta-feira, Alencar sofreu um infarto agudo do miocárdio e foi submetido a um cateterismo, que não mostrou obstruções arteriais importantes.

Na noite de sexta-feira, o vice-presidente foi transferido para a unidade semi-intensiva. Na segunda-feira, ele foi para um quarto normal.
Alencar continua o tratamento do câncer no intestino, de acordo com o último boletim médico, divulgado na terça-feira.


De acordo com o médico Roberto Kalil, o infarto de Alencar foi consequência de uma série de fatores, entre eles, o forte tratamento a que ele vem se submetendo contra o câncer.


Na manhã de sábado, depois de mais de 16 horas de viagem, a presidente eleita Dilma Rousseff e o presidente Lula desembarcaram em São Paulo para uma visita de 40 minutos com o vice.

No dia 8 deste mês, ele voltou a se alimentar por via oral depois de passar duas semanas recebendo alimentação por sondas.

O vice-presidente, que enfrenta um câncer na região abdominal há mais de dez anos e já passou por mais de 15 cirurgias, está sofrendo com os efeitos colaterais do novo tratamento. No começo de outubro Alencar passou três dias internado no mesmo hospital.
Em setembro, o vice-presidente internou-se no hospital para tratar um edema agudo de pulmão.
Em julho, ele ficou sete dias internado no hospital. Ele passou por um cateterismo (exame para verificar as condições de vasos sanguíneos).

Por conta do tratamento, o vice-presidente decidiu não concorrer nas eleições deste ano, por considerar uma injustiça com os eleitores.


Alencar retomou as sessões de quimioterapia no início de setembro do ano passado, pouco depois de exames terem demonstrado que os tumores abdominais haviam voltado a crescer. Por isso, interrompeu o tratamento experimental a que se submetia nos Estados Unidos.
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O drama de Alencar, abordado na linguagem fria da notícia sequer pode ser mensurado em toda a sua aterradora essência: conviver o homem, em seu próprio corpo, com aquilo que um dia, próximo ou distante, o irá matar.

Não se trata da irrrevogabilidade da morte, aliviada pela álea da vida que não nos dá, quando em estado de higidez, sinal de quando iremos morrer. Vamos vivendo e pronto. Mas, a quem está com câncer há já a certeza e a causa determinante. Passa-se a conviver com o destruidor encravado no íntimo do ser.

À queda, o retorno; a cada dor a injeção que acalma o corpo em desespero e repara momentaneamente o homem insulado. Alencar vem cumprindo o sofrido ritual do tratamento submetendo o corpo e a mente a um travbalho que salva um pouco, mas também fere e fere muito.

A campanha nessa guerra torna-se pior porque no fundo sabe-se que não haverá salvação, apenas alívio. Mas, ao lado disso, a firmeza de um caráter que não se vergou nem se dobra à ventania bruta de um mal sem limite.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O banco de Sílvio Santos e a descoberta de Atlântida
Emanoel Barreto

Nos últimos dias tive pouco tempo para o Coisas de Jornal. Salvo as atualizações das cartas de Alberany, agora Baronete, mas ainda abominável, nada pude redigir. 

De qualquer forma o mundo, velho mundo, continua o mesmo. Se os jornais respeitassem rigorosamente que somente o que é novidade é notícia, nada seria noticiado. Escândalos são idênticos àqueles que os antecederam, morticínios idem, corrupção política ibidem. 

Talvez jornais só devessem sair se fosse descoberto um novo continente. Salvo uma extraordinária descoberta do que restou de Atlântida, isso é bastante improvável. 
Mas os jornalistas precisamos manter o mundo informado a respeito de suas velharias, quase dizia velhacarias...

E com isso, pela obrigação de fechar espaços, manter nosso contrato de leitura, atender àqueles que nos buscam com fidelidade curiosa, isso se torna uma obrigação, para mim bastante agradável. No Brasil, o último escândalo é o do banco de Sílvio Santos, reprise da costumeira rapinagem de dinheiro num setor improdutivo. 

Que triste, não? Enquanto isso, tem gente que espera na fila para descobrir que o médico do posto de saúde faltou mais uma vez...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A professora Arlete Araújo e o professor Manuel Lucas, candidatos a reitora e vice da UFRN na última consulta à comunidade universitária para sucessão do reitor Ivonildo Rego, divulgaram carta aberta de agradecimento, cuja transcrição segue abaixo.
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Nota de agradecimento à comunidade universitária

Concluído o processo de consulta à Comunidade Universitária para escolha
do   Reitor e Vice-Reitor, nós, que constituímos a chapa Um Novo Olhar
para a UFRN,  nos dirigimos  a todos os professores,
técnico-administrativos e alunos que  expressaram a sua confiança
mediante o voto em nossas idéias, para manifestar nossos agradecimentos
pelo apoio e estímulo recebidos no pleito.

Durante toda a campanha apresentamos e defendemos um projeto de gestão
que contemplava um conjunto de iniciativas acadêmicas e administrativas
baseadas nos princípios da transparência, da participação, da autonomia
e da democratização interna do espaço púbico. E o fizemos sempre
pautados por uma conduta ética, de respeito às diferenças no campo
programático e de defesa intransigente de uma instituição republicana
que assegurasse a impessoalidade no trato da coisa pública, a
publicização de seus atos, a legalidade e a transparência. Também não
descuidamos de qualificar o debate, tanto apresentando um programa em
sintonia com os problemas atuais da UFRN, como levantando um conjunto
de proposições na forma de artigos sobre temas candentes da gestão
universitária.

Estamos convictos da importância de termos oferecido um projeto
alternativo à nossa Comunidade Universitária. Permanecemos convencidos
que o debate fortalece a instituição e exige que as candidaturas façam
a interlocução com seus diversos segmentos e dessa forma se comprometam
com um programa de gestão em sintonia com as demandas existentes, de
modo que a responsabilização do gestor público possa vir a ser algo
concreto e passível de cobrança no futuro.

A confiança depositada em nossos nomes será objeto de balizamento para
nossas ações cotidianas e fará com que o compromisso com a UFRN seja
permanentemente reafirmado. Não nos furtaremos a exercê-lo!
Muito obrigado a todos que acreditaram e acreditam na UFRN que sonhamos!

Natal, 15 de Novembro de 2010

Arlete e Manoel Lucas
Após encotrar-se com o Marquês de Camisão y Astúrias, o Baronete Alberany,o Abominável, traça com seu anfitrião ilustre conversação, fixando planos para aquele que pretende tornar-se Faraó. Nesta carta ele narra o que então se passou.

Terra Brasilis, 14 de junho de 1730

Ilustre leitor, grande letrado, eis agora o que se vos passo a relatar de minha convivência com Sua Graça, o Marquês de Camisão y Astúrias. Caso tenhais paciência de me ler até o fim, vereis quantas cousas boas e dignos projetos estamos a fabular.

Eis o que vois falo: 
após tornar-me apto a conhecer as instâncias da ciência e pôr- me a par de altos conhecimentos, Sua Graça envidou-me a sérios planos. Eis o que se deu: Estais pronto a ajudar-me no intento de logo logo tornar-me Faraó?, disse-me ele.

Ao que de pronto respondi, contrito: Com todo o fito do meu ser e todas as forças que do corpo e mente me acudirem. Ó, exultou, então, tomai saber do que se passa em minh'alma gentil e industriosa. É missão minha e empenho pessoal chegar a tão subida posição. E tornar o povo tão feliz, por servir de bom grado a mim Senhor, que não posso abdicar das lutas, ingentes esforços que já se me avizinham. Meu primeiro passo, já o sabeis, será construir, erguer e erigir magnífica pirâmide, dossel  de eterna pedra onde repousará magnífico o meu sarcófago.

Encantado pela distinta honra de trabalhar com aquele iluminado ser, expus então o que se deu e vos dou agora a saber: Vossa Graça, indaguei, para a construção da pirâmide não precisaremos de extensas terras e de muita mão de obra? Sim, ele concordou de imediato.

Então, disse-lhe eu, mandemos vossos trabalhadores e escravos já a vossa terra repartir, delimitando o local de tão grande obra, feito grande e a ser inigualado. Mas a resposta que me deu calou-me a boca e entonteceu o meu raciocínio. Disse-me: Não. Mas por quê, Vossa Graça?, indaguei. Sem as terras não teremos obra, sem obra crescimento, sem crescimento pirâmide alguma, e tereis a vossa glória desabada.

Ele insistiu: Não. E explicou-me. Suas terras eram para o cultivo e as austeras produções, amanho e belíssimas colheitas. E como faremos?, quis saber então. Teremos terras, assegurou-me. Ante tal declaração logo intuí e disse: Já sei, tomaremos a terra ao povo, que a não nunca soube cultivar? Também não, asseverou, cenho cerrado. Também não, porque o povo não tem terra. E a quem a tem, quando a tem, está em área de paul que a nada serve, a não ser a nuvens de pernilongos e outros insetos malfazejos. O povo, Baronete, não tem nada. Nada a não ser os próprios braços, que esses nem mesmo lhes são seus, pois que vive a mendigar trabalho, implorando uma códea de pão. Pão preto e de travoso gosto.

Então, como faremos, Vossa Graça: ergueremos a pirâmide nos ares? Ele sorriu blandícias e demonstrou sabença: Baronete, tiraremos as terras de outro nobre. Que como eu não é bondoso e justo. Mas avaro e entesourador, não as cultivando com carinho intenso, como faço eu em meu saber.


Ó, Vossa Graça, que carinho, que grandeza de espírito. Deixa ao povo as suas pobres terras para que nelas possam com os mosquitos estar em serena convivência e temperança. E tomareis a um nobre igual a vós aquilo do qual não aproveita. Grande senso de justiça tendes! Eia!

Vistes, vistes como age de bom grado um grande Faraó? Eis aqui toda a minha justiça. Mas, ó, que infeliz sou - surpreendeu-me. E eu disse: Sois infeliz, Vossa Graça? Mas, como, se tendes um futuro eminente? Ao que ele respondeu: As terras que predendo, Baronete, pertencem a sórdido vilão, o Duque de Hermida y Aragão. E, dizem, e afirmou isso com olhar de medo, dizem que tem comércio com o diabo. E ante tais coisas mesmo um Faraó, um ser divino,deve atuar com cautela e parcimônia.

Percebendo o altivo sofrimento de Sua Graça, assumi postura varonil: Ah! Quer dizer que temos aqui um tratante que mantém contatos e presta serviços a Belzebu, heim? Diante de minhas palavras, o grandioso homem admitiu que sim e o fez com um triste acenar de cabeça.

Mas eis que então eu reagi de pronto: Não temais, nobre senhor, assegurei: Irei enfrentá-lo em seus próprios domínios. Esqueceis que tenho comigo súcia de velhacos de grande porte, homens loucos afeitos ao perigo? Esqueceis que me acompanham molheres feiticeiras e macabras, adivinhos falantes e terríveis, videntes e profetas embusteiros? Ó, nobre senhor, considerai vosso intento coisa feita. Deixai-me liderar a minha grei e ao fim e ao cabo vos trarei as alvíssaras mais lucentes e hermosas e daremos a nosso ofício mãos à obra, construindo monumental pirâmide.

E dizendo assim pedi licença, e de sua presença me saí. Reuni meu bando de ordinários, atirando-me à grande empreitada: enfrentar e vencer o Duque de Hermida y Aragão, abrindo ao meu senhor largos espaços.

Mas, eis que agora vos deixo leitor meu, ilustre anfitrião de mis palavras. Em breve retorno em outra carta, vos narrando o que se assucedeu.

Deste que vos honra e preza,
Baronete Alberany, o Abominável.
No Haiti, o fantasma cruel de Papa Doc comanda a ópera sinistra
Emanoel Barreto
Emilio Morenatti/AP

A simples citação da palavra Haiti nos remete imediatamente a um país de sofrimento, negros em permanente estado de ameaça social, atraso, culto vudu, zumbis caminhando em meio a trevas. Mas tal estado de coisas não é o Haiti.
 
Sua gente foi tornada assim por séculos de ataques de europeus e americanos, pilhagem de suas riquezas, morticínio e dizimação dos índios que habitavam a bela ilha de Hispaniola, a Pérola do Caribe, local onde surgiu a realidade a que hoje chamamos de Haiti.

Agora, depois da devastação do último terremoto, fenômeno natural que se juntou aos abalos sociais que sempre ali tiveram império, parece que o fantasma do cruel Papa Doc comanda a ópera sinistra ali instalada. A cólera chegou como um, mais um flagelo a prender-se à vida dolorosa dos haitianos. 

A via crucis parece não ter fim. Economicamente arrasado, o país não tem condições sanitárias e seu povo é mantido em relativa ordem pelas tropas internacionais ali acantonadas. Quer dizer: todo um povo torna-se equivalente a uma quadrilha ou bando a ser domado. Há bandidos sim, mas eles existem porque e como causa da espoliação dos haitianos, dessangrados até à última gota. 

E segue toda aquela multidão de desvalidos a clamar aos olhos do mundo por ajuda, reorganização social e dignidade humana. O Haiti é no Haiti. E como que sob a assombração de Papa Doc seu povo segue, zumbi de si mesmos seus homens, mulheres e crianças; mais mortos que vivos, temendo até mesmo beber água.

domingo, 14 de novembro de 2010

La Traviata (Giuseppe Verdi)

Charlotte Church Ave Maria

LUZ DEL FUEGO NO FANTÁSTICO DE 1994

3 X 4: a foto no prontuário da vida


É o camelô ou ou não é?
Emanoel Barreto

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Silvio Santos deixou de ser camelô mas o camelô não deixou de ser Sílvio Santos. É o que aparenta a crise do SBT, puxada pela locomotiva do Banco PanAmericano. Sem maiores aprofundamentos, vajamos: os programas comandados por Santos são todos centrados na figura do dinheiro.
 
Todas as atrações têm o meio circulante como leitmotiv, ideia fixa do camelô Senor Abravanel, o jovem de voz bonita que, ao ter sua mercadoria apreendida por um guarda municipal, foi elogiado pelo captor, que sugeriu: "Por que você não faz um teste no rádio?".

O guarda deu o nome de alguém que conhecia numa rádio e Sílvio foi lá. Encaixou-se na hora. Carismático, inculto e corajoso, atirou-se a um meio onde, para crescer, não é preciso cultura, conhecimentos teóricos, muito menos ética: a vida de apresentador de TV. Sua criatura Gugu Liberato que o diga. 

Resumindo, com Sílvio deu no que deu. Certamente porque o camelô continuava determinando a dominar o pedaço. E, ao que parece, conseguiu: o banco foi à bancarrota, salários são negaceados, jamais o SBT conseguiu impor-se como padrão em jornalismo, jamais firmou-se como a Record, que busca imitar a plenipotenciária Globo, jamais...

Talvez porque o camelô, ainda vivo e buliçoso, lhe diga que vale a pena arriscar e que vale tudo por dinheiro. Não vale.