segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Viagem de horror e desumanidade




Doente ao lado de cadáver; é assim em hospital de Mossoró



Tomógrafo sem funcionar há quatro meses, setor de endoscopia parado há um mês, falta de vagas na UTI, pessoas enfermas ao lado de doentes com infecções, falta de remédios, superlotação, médicos trabalhando no limite da exaustão e até pacientes sob observação acomodados ao lado de cadáveres. Essa a situação do hospital Tarcísio Maia, em Mossoró, segundo informa o Sindicato dos Médicos do RN-Sinmed.
Sindicato constata situação precária no atendimento
Eis o relato enviado pela entidade denunciando o descalabro:

O Sindicato dos Médicos do RN - Sinmed RN - intensificou visitas as unidades de saúde do Rio Grande do Norte em 2015, para averiguar condições de trabalho dos médicos, e deu prosseguimento este ano, com visitas já realizadas nos hospitais de Natal, Goianinha, Tibau do Sul e Mossoró.

As últimas unidades visitadas foram o Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM) e a Maternidade Almeida Castro (antigo Hospital da Mulher), em Mossoró, no dia 20 de fevereiro. Os problemas constatados nestas unidades, como superlotação, falta de insumos básicos, repousos inadequados e atrasos nos pagamentos, são os mesmos já detectados pelo Sinmed em hospitais de grande porte como o Walfredo Gurgel e o Santa Catarina.
 
Registro da dramática situação no hospital Tarcísio Maia
No Hospital Tarcísio Maia, pacientes com aneurisma estão sem assistência, pois o tomógrafo está quebrado há quatro meses. Da mesma forma encontra-se a endoscopia, parada há um mês, e a sala de cirurgia interditada pela COVISA há três anos.

Sem vagas na UTI, pacientes ficam na sala de ventilação ou no próprio centro cirúrgico aguardando vaga no hospital ou uma transferência para Natal. O problema de falta de vagas é crônico e atinge todos os setores. Nas enfermarias o sindicato presenciou uma mesma sala dividida por homens e mulheres, além de pacientes cirurgiados junto a pacientes infectados.

Na sala de observação feminina, de acordo com relato dos profissionais, é comum ficarem pessoas "internadas" por falta de leitos destinados a este fim. Por vezes, os pacientes em observação convivem com cadáver. Na sala não funcionam os exaustores, o ar-condicionado vaza água, as paredes têm mofo e está sempre superlotada. Os pacientes já ocupam parte dos corredores do hospital.

Na maternidade, gerida com participação do estado e do município, são realizados em média 200 partos por mês. A UTI neonatal está sempre lotada. São dez leitos, mas só estão em funcionamento sete, uma vez que os outros não possuem respirador ou monitor para dar assistência ao paciente. Médicos relataram a falta de remédios, como antibióticos, drogas de caráter emergenciais e material básico para atendimento e uso diário dos profissionais. 
Abandono e carência de material atingem todos os setores

Terceirização
"O que observamos em Mossoró é um aglomerado de empresas sem unidade de comando. O estado praticamente não tem mais funcionários", observa Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN. Ferreira demonstrou preocupação com as terceirizações em Mossoró, feitas por empresas que não se tem a certeza do seu compromisso com a saúde da população, além de precarizar o trabalho com contratos que não garantem os direitos dos trabalhadores.

No HRTM são apenas quatro anestesistas concursados e os outros são contratados por uma empresa terceirizada. Já os neurocirurgiões chegam a ficar quarenta dias seguidos no plantão, cobrindo brechas da escala. A maioria dos profissionais é contratada pela empresa SAMA (Serviços de Assistência Médica e Ambulatorial Ltda), terceirizada pelo município de Mossoró.

 A demora do repasse de verba da Prefeitura às empresas tem sido um problema recorrente e ocasiona prejuízo a população. Os profissionais da ortopedia, que não recebem os salários há cinco meses, resolveram paralisar as cirurgias eletivas há dois meses e deixam hoje 500 pacientes aguardando o procedimento.

Na maternidade, ginecologistas, obstetras e pediatras só receberam pagamentos até outubro de 2015. O contrato com a empresa NGO (Núcleo de Ginecologia e Obstetrícia) é feito pelo estado.
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Fotos: Assessoria de Imprensa do Sinmed

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Podres poderes

A falta de compromisso dos poderes públicos com a saúde, a inversão de valores quanto ao que deve receber atenção dos governantes torna-se bastante explícita ante o relato que me foi enviado pelo Sinmed. 

Enquanto o hospital Tarcísio Maia chega a situação de descalabro e horror o estado paga mensalmente dez milhões de reais à construtora OAS como parte da dívida total de 423 milhões contraída para a construção daquele estádio.

Creio que alguma autoridade precisa ser denunciada - e punida - por deixar que o Tarcísio Maia tenha chegado a tão desgraçada situação. 
(EB)