sexta-feira, 25 de abril de 2008

De como bebi uísque com Canhoto da Paraíba no palco de um teatro, foi no Alberto Maranhão

Caros Amigos,
A morte de Canhoto da Paraíba, além de marcar o início de uma saudade bem brasileira, nordestinamente inteira, feita por sina, e por fado, me relembra de uma coisa que aconteceu em Natal: ele ia se apresentar no Alberto Maranhão e eu estava por lá. Pois então, quando cheguei, já muita gente havia; teatro quase lotado, e um rapaz me abordou: "Você é Emanoel Barreto, que escreve no jornal?"

Eu lhe respondi que sim e ele me convidou: "Aceita ficar no palco, ao lado do tocador? Vamos botar umas mesas, é como se fosse um bar. Conhoto fica tocando, você e os outros bebem, o garçom fica servindo, é festa para arrombar."

Aceitei na mesma hora; fui levado lá pra cima, fiquei numa mesa boa; Canhoto virou o mundo nas cordas do violão. Mestre feito e engenhoso, gênio limpo, gesto claro, Canhoto - casa lotada - derramava até ao chão, um mar de acordes perfeitos.

Só não gostei de uma coisa: quando eu ia me animando, eu e meus companheiros, uísque de copo cheio, chegou ao fim o espetáculo; terminava o show de Canhoto, mestre sem par nem parelha, tocador de regra inteira, do tamanho de um trovão.

E agora, no jornal, vem a nota triste e fala, e diz que ele morreu. Morreu nada, só partiu. Depois, um dia ele volta. Volta em cada violão, em cada acorde fechado, no sentimento alargado, tocando o mundo virado, como virava o violão.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Brasil não quer apito

Caros Amigos,
Transcrevo parte de matéria publicada pelo Estadão, dando conta de que ONGs estrangeiras com atuação na Amazônia serão controladas militarmente, a fim de prevenir ações contrárias aos interesses nacionais. Eis o que o jornal divulga: "Muitas ONGs internacionais, como o grupo ambientalista Greenpeace, têm escritórios na Amazônia e fazem campanhas contra o desmatamento provocado por madeireiros e fazendeiros.

Também há grupos de direitos humanos que ajudam índios e camponeses numa área de muitos conflitos fundiários. Na quarta-feira, o ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que muitas ONGs estão envolvidas com a biopirataria e tentam influenciar a cultura indígena para expropriar suas terras. Os ministérios da Justiça e da Defesa pretendem enviar em junho ao Congresso uma nova Lei de Estrangeiros, para impedir que as ONGs sirvam como fachada para atividades ilegais na Amazônia. Por esse projeto, indivíduos e grupos estrangeiros precisariam de autorização do Ministério da Justiça e de cadastro no Comando Militar da Amazônia para atuar na região.

Quem for apanhado sem as devidas autorizações estará sujeito a revogação de visto, deportação e multa de 5.000 a 100 mil reais. O governo brasileiro é sempre sensível a críticas de estrangeiros à suas políticas para a Amazônia, onde há pouca presença do poder público para conter o desmatamento, a grilagem e a exploração de recursos.

As Forças Armadas também se preocupam com hipotéticos cenários de invasão e ocupação da Amazônia por uma potência estrangeira. "Não estamos cientes de nenhuma ameaça pendente. Não temos disputas fronteiriças com nossos vizinhos, mas por que esperar até que alguma coisa aconteça? Precisamos estar preparados para proteger nossos recursos", disse Jobim."

Trata-se, sem dúvida, de uma atitude acertada, que já chega com algum atraso. Afinal, não é de hoje que, sob o mando de ações humanitárias, desinteressadas, entidades e cidadãos de outras nacionalidadedes chegam à Amazônia manifestando pios interesses e as melhores intenções, quando, na verdade, são bem outros seus propósitos.

Também não é de hoje que os países de centro buscam internacionalizar a Amazônia, sob a alegação de que o Estado brasileiro não tem competência, disposição ou capacidade de atuar naquela estensa área do nosso território. Com essa atitude, o Governo demonstra de forma bem clara suas intenções de reverter esse quadro.

Não é meta fácil de ser atingida, porém deve ser um objetivo nacional permanente. Os países do Norte estão destruindo suas reservas naturais. Não é preciso ser um sábio ou alguém dotado de poderes de vidência para perceber-se que, em muito poucos anos, estarão ainda mais dispostos a fazer-se presentes ali, a fim de consolidar sua presença e hegemonia.

A ilustração do Padre Vieira catequizando índios é bem demonstrativa do quanto de mal foi perpetrado, sob a bandeira da "civilização" e da "redenção" dos "gentios". A ação da Igreja abriu caminho para todo um panorama de desvirtuação e redução de culturas aborígenes belíssimas à condição de subalternidade, perdendo-se para sempre povos e valores. É o que os grupos estrangeiros, hoje, também pretendem: sob o pálio largo de propostas humanitárias, promove-se a biopirataria e instilam-se junto aos índios costumes e culturas que em nada dizem respeito às coisas mesmas do Brasil, sua soberania e direitos territoriais.

Como nação emergente, o Brasil precisa afirmar-se ainda neste quadrante da história como capaz de atuar em seu território, preservar o meio ambiente e proteger os povos da floresta. Ou faz-se isto agora, ou veremos, na prática, que a Amazônia será, efetivamente, um Inferno Verde.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 23 de abril de 2008