segunda-feira, 9 de novembro de 2020

 “Hey, Joe! You are a good guy!”

Por Emanoel Barreto

As consequências de falhas no processo de comunicação podem ser desastrosas, notadamente se o comunicador se apresenta de forma exacerbada e se expõe entre o ridículo e o grotesco.

Quando afinal se percebem o grotesco e o ridículo desmonta-se o espetáculo e fica difícil fechar a cortina.

Foi exatamente isso o que aconteceu com Bolsonaro em sua renitente necessidade de expressar sucumbência e vassalagem a  Donald  Trump. Com isso passou a seu público a sensação de que eram muito próximos, mais que isso: aliados. Na verdade, porém, para o minotauro americano o brasileiro não passava de um sujeito de mínima importância.

Mas as mesuras, para o senso comum de seus seguidores, terminaram por criar para Bolsonaro um liame ilusório mas poderoso com   Trump, como se verdadeiramente fossem aliados, amigos, quem sabe.  Ou você não via nas manifestações bolsonaristas as bandeiras cheias de estrelas e listras ladeando o verde-amarelo nacional?

O imaginário espelhamento entre Bolsonaro e Trump forjou o simulacro da aliança e proximidade pessoal e deu no que deu ao fim do processo eleitoral americano: com a derrota do minotauro ficou muito difícil ao brasileiro admitir que de alguma maneira ele também foi metaforicamente derrotado e arrastado na enxurrada da queda trumpista.

Com isso tornou-se complicado saudar o vencedor. Parabenizar Joe Biden, na situação de Bolso, ficou muito além e muito acima do gesto cordial e diplomático de cumprimentar um presidente eleito.

Para ele isso passou a significar uma forma de humilhação, pois seu ídolo dos pés de barro ruiu, devagar, mas ruiu; teve expressiva votação, mas está prestes a ser retirado da Casa Branca.

Tivesse Bolso a capacidade de compreender os meandros e as questões complexas da geopolítica jamais teria se apresentado como animadíssimo admirador de Trump, nunca teria envergado a libré para respeitosamente dele se aproximar.

A política é um jogo, é algo de teatral e retórico, tem muito de encenação e fantasia. Mas no fundo é algo muito sério, pois se no palco do mundo valem o jogo de palavras e a gestualidade de grandeza  ou humildade, na essência da política há que ser sério e ter consciência de com quem se está lidando.

Agora ficou difícil. Parabenizar Joe Biden, comportamento que seria unicamente um cumprimento simbólico foi transformado por Bolso num ato de política internacional. Superável, passageiro, mas, no momento, ridículo.

 E lembrar que bastava ter pedido a alguém para ensiná-lo a dizer: “Hey, Joe! You are a good guy!” – simples assim.