sábado, 17 de outubro de 2009

Ricardo Moraes/Reuters
Os terríveis desgraçados
Emanoel Barreto

Diz a Folha:
Um confronto entre traficantes resultou em pânico para moradores da zona norte do Rio neste sábado. O tiroteio começou durante a madrugada, quando criminosos do morro São João tentaram invadir o morro dos Macacos, em Vila Isabel, em disputa pelos pontos de venda de drogas, de acordo com a PM. Na manhã de hoje, um helicóptero da PM que sobrevoava a região foi derrubado pelos traficantes, e dois PMs morreram. Em retaliação à ação da polícia, ao menos seis veículos --cinco ônibus e um carro-- foram queimados.
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À falta de uma maior organização do aparato policial, as facções criminosas atuam de forma bastante desenvolta no Rio. Ao que parece, falta maior efetivo e um competente trabalho de inteligência que poderia, dentre outros aspectos, descobrir como as armas chegam aos criminosos de maneira tão livre, tão fácil.

Essa realidade criminal há muito deixou de ser conjuntural para se tornar estrutural e o Estado parece não ter forças para um enfrentamento eficaz. Além disso, as dramáticas condições de pobreza e miséria fornecem, nos bolsões sociais onde estão instaladas, todo o contingente humano que virá a formar os soldados do tráfico.

O combate à pobreza e miséria precisam de um olhar mais atento e com sentido histórico sério. A reversão de quadro é urgente urgentíssima. Ou, no final das contas, toda a sociedade brasileira estará à mercê dos desgraçados que, à míngua de dignidade, tornam-se criminosos terríveis, bárbaros e dispostos a tudo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os afetos
Emanoel Barreto

O tempo não afeta os afetos
quando os afetos são feitos
de verdade.

A flecha não fere o corpo poético
quando o coração é o escudo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Uma fábula
Emanoel Barreto

Contaram-me certa vez que havia um nauta que não tinha mar. Ele tinha a nau pronta para navegar, mas o mar, o mar não havia. Então, decidido, ele abriu as velas e pôs-se a navegar no grande mar de areia que era o mundo. E o mundo, vendo que fora vencido pela coragem do nauta, desistiu de não ter mar. E aquele que tivera coragem de desafiar o mundo acabou por dominá-lo.

Moral da história: a poesia sempre prevalecerá, para aqueles que não têm medo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009


Não, não. É impossível
Emanoel Barreto

Não, não. É impossível. Nenhum tempo é suficiente longo para medir a imensa eternidade que se esconde na saudade.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009


As lições do "Salve geral"
Emanoel Barreto

O filme "Salve geral", da mesma forma que a produção "9mm SP" trata da questão de como os criminosos estão de tal forma organizados que podem ameaçar a sociedade por inteiro. E as autoridades, acuadas, "negociam" com os criminosos.

Ambas as produções, longe de serem filmes de aventura no gênero policial, tratam de um tema de importância: a fragilidade do Estado brasileiro levada ao extremo. O Estado é frágil e incompetente seja na saúde, na educação, na saúde e, claro, na segurança.

A situação-limite descrita no Salve geral é somente ficcional na parte em que trata da mãe de classe média e seu desespero por salvar o filho, envolvido em assassinato. Ponto. Depois, tudo o que se passa é referido por episódio de barbárie que teve São Paulo, capital, como epicentro do terremoto social.

O que ocorreu, em termos de ataques a delegacias e postos policiais, incêndio a ônibus e morticínio foi bem real, muito real. Foi, plenamente, terrorismo, mas não se acionou um aparato de contenção - quero dizer bélico - à altura, para conter os bandos de criminosos.

A sociedade ficou à mercê das hordas, mas em nenhum instante se cogitou o uso das Forças Armadas para seu enfrentamento. Isso é um dado histórico. Pode repetir-se? Pode. E temo que, novamente, venhamos a ter um banho de sangue. Pode?