sexta-feira, 29 de junho de 2007

Sobre o caso Renan Calheiros

Vândalos marotos trabalham em surdina;
objetam mentiras a argumentos válidos.

Tristes personagens atuam no escuro,
olhos bem voltados ao poder sinistro.

Tantos eles são, todos bem treinados,
tão capacitados nos gestos mais vis,
que, bem certamente,
obterão êxito
em acordos sujos,
frios e maléficos.

Paro a pensar: no alto, em Brasília,
companheiros sujos gritam ladainhas,
cantos imorais, gestos truculentos;

E defendem causas: torpes, declaradas,
envoltas em trapos de ética bandida.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Cristiano, Nelson Gonçalves e a história de um grande abraço

Silêncio.

Nelson Gonçalves deu um grande trago no cigarro, pegou o violão, ajeitou na perna, bebeu de um gole a cachaça de primeira e o vozeirão encheu de som o bar: todos ouviam com olhar sorridente “A volta do boêmio”.

Em meio ao numeroso grupo de amigos, todos boêmios de boa cepa, estava a figura magnífica de Cristiano Matias. Bom de copo, bom de conversa e um coração deste tamanho, Cristiano é uma dessas pessoas que, em menos de cinco minutos, faz de você mais um amigo.

Essa história com Nelson Gonçalves ele me contou em uma de minhas viagens a Minas Gerais, com Teinha. Detalhou como o grande cantor, depois do show, partiu em companhia de um grupo para o bar, em um mercado. E o espetáculo, disse, foi muito melhor do que o show. Em meio ao ambiente simples, à barulheira e ao entusiasmo de quem chegava, ele ficou horas e horas a desfiar seu largo repertório.

Cristiano é como um grande abraço: intenso e sincero. Grande anfitrião, tem sempre guardada alguma cachaça de sabor secreto, feita em algum alambique perdido nas vastidões das Gerais. Domina como ninguém a arte de preparar um bom churrasco, tudo regado a uma boa conversa e, sempre, muita alegria.


O bidogão branco ajuda a enfeitar o sorriso e a risada. E um repertório enorme de causos e fatos fazem o tempo passar tão depressa que, quando a festa vai acabar, a gente diz: “Mas, já?” Só que nesse “já” a noite se passou inteira e o sol começa a abrir mais uma manhã.


Hoje é o dia do aniversário desse grande amigo e cunhado. Às vezes, penso que já nos conhecemos há mais de cem anos, tal a forma calorosa e boa com que sempre nos recebe em sua casa.

Cristiano, nesse aniversário, em que você, mais experiente e mais sábio, se torna mais velho e faz renascer em si um meninão sempre cheio de vida, receba um abração grande. Tão grande quanto a beleza e os mistérios que habitam as montanhas dessa sempre tão grande Minas Gerais.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Ali Sibá e os 40 amigões

"Abre-te, Sésamo!"
Com estas palavras mágicas, Ali Sibá e seus 40 amigões conseguiram retardar por mais algum tempo as investigações sobre o presidente do senado, Renan Calheiros. Ao renunciar à presidência da Comissão de Ética, Ali sibá abriu as portas da caverna regimental que guarda o tesouro da pretendida salvação de Renan.

É grande a movimentação dos que querem a permanência de Renan no cargo, mesmo à custa da completa desmoralização do senado enquanto instituição, fazendo ver ao público a que ponto de baixeza o que no Brasil se chama de classe política, pode chegar.

Ali Sibá sem sido um bom companheiro e deu grande colaboração ao rebanho dos amigos de Renan, que é calheiros, está sendo visto como canalha e não tem escolha, a não ser tentar dizer a todos que estão enganados. E mais: podem esperar que Aladim e a lâmpada maravilhosa virão em seu socorro, com um gênio bondoso, que fará o milagre: transformar as acusações em pedidos de desculpa. Aí, a vaca vai para o brejo.

terça-feira, 26 de junho de 2007

E como se não bastasse...

Estão em poder da polícia os quatro criminosos ricos que espancaram e roubaram uma doméstica, no Rio, sob a alegação de que tratava-se de "uma prostituta", sendo portanto eles, como membros da elite, pessoas autorizadas e competentes para vigiar e punir tais "infratores".

Os jornais têm registrado, e não é de hoje, a ação de criminosos de alto poder aquisitivo que atacam pessoas de alguma forma desvalidas ou indefesas, para divertir-se e dar vazão a uma alegria bárbara e cruel
.

Em 1997, o índio Galdino Jesus dos Santos foi atacado enquanto dormia ao relento, em Brasília, e teve chamas ateadas ao corpo. Faz 17 anos que o crime foi cometido por um grupo de criminosos jovens e ricos. Nada aconteceu com eles. Estão felizes e impunes.

Temo que idêntico destino terá a ação policial-penal quanto aos que agrediram a doméstica. Temos uma larga e profunda tradição de impunidade a lastrear a nossa cultura jurídica, quando os infratores integram as elites.

E não será agora que, suponho, esse ciclo será interrompido. Os rapazes são economicamente poderosos, suas famílias podem pagar bons advogados, certamente não têm antecedentes criminais e tudo isso, aliado ao peso do seu status, será usado para oprimir a empregada e fazê-la calar, cabisbaixa e triste.

Não sei: às vezes, penso o povo brasileiro como um bicho manso. Apanha, submete-se, alegra-se com um gol e pronto. Lá vai ele cumprindo sua sina e seu fado de ser povo e alegrar-se com tão pouco.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Quo vadis?

Na política brasileira, dizem os que dela fazem uso, é sempre importante o "fato novo". No caso, lamentável e moralmente trôpego, do senador Renan Calheiros, seus iguais não se dão por vencidos e, ao contrário do que anunciavam os jornais, cobram forças e já intentam que a decisão do Conselho de Ética quanto à instauração de processo contra ele seja adiada para agosto.

O fato novo é esse: a reestruturação dos aliados de Renan, que até então davam sinais de cambaleio, expondo a tibieza e a cara flagrada. Mas agora, certamente chicoteados pela decisão de ferro de Renan, suas manobras e cobranças, partem para novo ataque, buscando salvar aquela eminência decaída.

Homens de moral elástica, cheios de ética complacente, seus aliados esperam que, chegado o recesso parlamentar, a imprensa esqueça o caso, a opinião pública passe a se preocupar com outras mazelas nacionais e as peças desse jogo político, imerso em lamaçal e vergonha, possam se mover com facilidade em meio às sombras, salvando o senador alagoano.

Brasil: ó tempos! Ó costumes! Quo vadis?