quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Participei de importante reunião



Dois mamutes me falam de uma nova e terrível evolução
Emanoel Barreto

Comentei aqui há poucos dias que fui procurado por um macaco gorila e um papagaio, senhores de grande respeito e sábias ocorrências, que a mim vieram consultar a respeito do uso correto do papel crempom. Supunham que eu teria domínio e técnica de tal e tamanha ciência para, com isso, entender o sentido da vida.

Infelizmente, não pude atendê-los. Não sei o uso correto do papel crepom e, portanto, o sentido da vida. Ontem, voltaram à minha casa e convidaram-me a grave entrevista com outros senhores de alta ressonância, hospedados na casa da um honorável orangotango, embaixador de Bornéus.

Entramos em um coche e meia hora depois chegávamos à casa do senhor embaixador. Macaco de modos aristocráticos, o orangotango convidou-nos a uma vasta sala de reuniões, decorada ao estilo vitoriano.

Pediu licença após uma rápida conversa de apresentações, e saiu. Retornou cerca de um quarto de hora depois, acompanhado por dois respeitáveis mamutes. Como pessoas educadas, pediram desculpas pelo incômodo a mim, ao gorila e ao papagaio mas, explicaram, tinham negócios de estado urgentes a tratar conosco.

Argumentamos que não é do nosso alvitre nos imiscuirem negócios de potências estrangeiras, mas os mamutes disseram que seríamos os únicos a ter alguma possibilidade de ajudá-los.

Em suma: os mamutes eram sábios pesquisadores. Suas últimas descobertas indicam que a humanidade - da qual fazem parte, claro - está ingressando num novo período evolutivo e, pelo que já estudaram, trata-se de algo de resultados trevosos.

"Como assim?", quis saber o papagaio. Explicaram que suas pesquisas demonstram que todos nós estamos nos encaminhando para nos transformar em monstros. As previsões são catastróficas, lamentaram.

"Como assim?, repetiu o papagaio, ele próprio um senhor que desenvolve estudos na área evolucionista, o mesmo se dizendo do gorila. Daí o convite. Mas eu, que posso eu fazer, eu que sou apenas um jornalista?

Responderam: é preciso confirmar os perigos dessa evolução. Conferenciaram com o gorila e o papagaio e chegam à conclusão que o perigo existe. E eu? O que faço? 

 "Ao senhor caberá divulgar o seguinte", disseram: "Haverá um tempo em que os homens, então já monstros, criarão estranhas ideias de mundo e a todos considerarão como inimigos."

"Depois, os criadores dessa ideias monstruosas dirão que os inimigos é que as criaram, assim como bombas e outros artefatos de morte. Com isso terão direito de revidar. Preventivamente, é claro. E proclamarão terríveis doutrinas de dominação, justificando que há homens que nasceram para dominar e outros para ser dominados, devendo os servos servir eternamente."

Quanto a mim, disseram que devo, como jornalista, anunciar os tempos que virão, a fim de que tal intentona não se confirme, por reação da opinião pública. Pedi licença para pensar a respeito. Agora, já em casa, penso a respeito. Mas custa-me crer que isso venha a algum dia a acontecer. Espero, assim, uma nova visita dos meus amigos o gorila e o papagaio para lhes dizer que, sinceramente, não acredito que a humanidade chegue a patamar tão baixo...

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