quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Arlete divulga carta à comunidade universitária

Recebo e divulgo carta aberta da professora Maria Arlete Duarte de Araújo (foto) candidata a reitor da UFRN, em que trata de assuntos de interesse da Universidade. Outra ou outras candidaturas que venham a se apresentar terão neste Coisas de Jornal espaço para apresentar suas propostas à discussão. Segue o texto:

Discutindo a UFRN
Reforma da Estrutura Organizacional: uma agenda para a UFRN

Maria Arlete Duarte de Araújo
Professora Titular - DEPAD/Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Candidata à Reitoria :”UM NOVO OLHAR SOBRE A UFRN”


Nos últimos tempos tem prosperado no âmbito da UFRN a idéia de que a reforma de sua estrutura organizacional é uma necessidade. Entre os argumentos apresentados emerge com muita força a idéia de que a figura do Departamento, considerado lócus do conhecimento, tem se mostrado incapaz de dar conta das exigências de interdisciplinaridade que o conhecimento impõe, que sua agenda é eminentemente burocrática e que ele não articula de forma correta com outros espaços organizacionais, a exemplo das coordenações de graduação e pós-graduação.


A solução que naturalmente surge de tal diagnóstico é o fim dos Departamentos. Espera-se dessa forma que o enxugamento da estrutura organizacional solucione os problemas citados.


Neste diagnóstico o que mais chama a atenção é a ausência de discussões sobre a estruturação do campo científico fora da universidade e como ele impacta na forma como o professor produz e socializa o conhecimento produzido. Essa estruturação demarca com muita nitidez os espaços nos quais o professor reafirma sua identidade profissional, articula redes, define sua trajetória acadêmica. E cada vez mais essa estruturação se apresenta de forma fragmentada – eventos, periódicos, comitês de pesquisa e de avaliação. De modo que naturalmente a vinculação do professor se faz em primeiro lugar com o seu campo de conhecimento.


Ora, se aceitarmos esse argumento, nos deparamos com as seguintes questões: O fim do Departamento modificaria a forma pela qual o professor se relaciona com a sua área especifica de conhecimento?; A interdisciplinaridade entre diferentes áreas do conhecimento se daria pelo desaparecimento do Departamento?; A ausência de articulação entre diferentes espaços organizacionais – departamentos e coordenações não se explicaria, talvez, pela ausência de uma visão compartilhada sobre a condução de uma determinada área do conhecimento pelos diferentes atores envolvidos nessa construção?


Por outro lado, a discussão sobre a reforma da estrutura organizacional não deve ficar restrita à extinção e/ou manutenção dos Departamentos. Deve-se produzir também um debate no interior da instituição dos impactos que novos arranjos organizacionais – institutos, unidades acadêmicas especializadas, escolas, faculdades – estão produzindo na estrutura organizacional em termos de novas relações de poder, distribuição de recursos, adoção de novos procedimentos, alocação de pessoas e tecnologias.


A arquitetura organizacional vem sendo modificada sem que velhos problemas sejam resolvidos e, em especial, não se percebe que ela esteja sendo configurada em função de uma estratégia claramente definida. Do mesmo modo, não é visível a adoção de estruturas mais flexíveis para lidar com a diversidade de problemas que exigem criatividade para o seu gerenciamento.


Assim a discussão sobre a estrutura atual e a possibilidade de novos formatos organizacionais deve ocupar espaço central na agenda institucional, inclusive para abrigar novas iniciativas já em discussão no âmbito da universidade, a exemplo do Instituto de Química, da Unidade Acadêmica Especializada de Odontologia e das Faculdades de Medicina e Arquitetura.


Quando a estrutura não consegue mais responder às exigências colocadas pela função, há necessidade de repensar os arranjos organizacionais. No entanto, deve preceder à revisão da estrutura, a discussão do projeto formativo da UFRN. Igualmente, faz-se necessário pensar a operacionalidade da nova estrutura – as relações com as demais unidades, orçamento, vinculação hierárquica, lotação de professores, relacionamento com a comunidade, espaço físico e outras questões. Uma nova estrutura deve refletir a preocupação com a agilidade dos processos, com o trabalho em equipe, com a mobilidade dos professores, com o desenvolvimento do ensino e da pesquisa interdisciplinares, com a flexibilização curricular, com maior liberdade e autonomia.


Não há respostas prontas para essa nova configuração organizacional. É necessário assim iniciar um amplo processo de discussão para analisar a pertinência ou não da manutenção da estrutura departamental e de um novo formato organizacional para a UFRN. Enfrentar essa discussão é lançar um novo olhar sobre a arquitetura organizacional, com o objetivo de reconfigurar a atual estrutura.



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