sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Os debates: da ágora ao espetáculo no palco da TV

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Acabou seu tempo, candidato!
Emanoel Barreto

Iniciado o ciclo circense da política, com os debates e as aparições no horário gratuito da propaganda eleitoral, os candidatos virtualmente chegam às ruas. Debates são uma das formas de manifestação da nossa sociedade do espetáculo, onde um público adestrado à linguagem da TV se interessa por política como reality show sazonal.

De qualquer maneira, lhe resta algo sim de espaço de sociedade civil - muito tenuamente. O candidato expõe-se e, se tem realmente essência, consegue de alguma forma passá-la. Veja bem: eu disse "de alguma forma". Com isso indicio que essa essência é manifesta de forma incompleta, superficial. Como pode alguém mandar uma mensagem consistente, de formulação sintática coerente, se tem apenas dois minutos para fazê-lo?

De qualquer forma essa é a nossa realidade e temos de com ela conviver. Os debates têm algo de agonístico, são uma rememoração tardio-midiática da ágora. A questão é que em vez de se permitir o debate largo, debate em sua consistência de confronto de ideias argumentadas, o que se vê é um ritmo frenético de perguntas/respostas. Isso tira do debate sua condição mesma de debate para levá-lo à situação de um jogo de espertezas.

Cria-se no público a expectativa não de público em seu sentido de sociedade civil,  mas de torcedores. O cordão do encarnado contra o cordão azul, como tínhamos em nossos folguedos juninos. Esvazia-se o debate em favor do confronto, mesmo que num bate-boca de bom nível, aqui entendido como relação de divergência respeitosa.

Mas a campanha começou. E se é isso, com os debates, e se será isso também com o guia eleitoral, paciência. Nos debates o matraquear de frases, no guia eleitoral um elenco de promessas apresentadas como "compromissos" que todos sabem de antemão irrealizáveis.

Por trás de tudo uma realidade cruel, cuja superação histórica engloba a passagem de gerações. Todavia, o tabique ideológico oculto pelas promessas deve ser rasgado de cima a baixo, por quem tenha visão acima do senso comum.

No confronto de ontem vi um Serra discursivamente pálido, atacando questões pontuais como um suposto aparelhamento dos Correios pelo PT e falta de apoio às Apae. Pequena política, tática de marqueteiro escolado e que o ensina.

Dilma, apesar dos compromissos do PT com uma certa ala conservadora, pode e deve ser a pessoa a impedir que o PSDB reassuma e dê continuidade ao desmantelamento da máquina pública em favor dos interesses do capital.

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