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Até que o circo pegue fogo
Emanoel Bareto
Ao tomar conhecimento da candidatura de Tiririca a deputado federal - o que não estranhei, somente lamentei - veio-me uma dúvida: mas não é a Câmara, exatamente, a Casa do Povo? E em assim sendo não deveria eu regozijar-me, pois não é ele, exatamente, povo?
Povo na mais objetiva acepção da palavra em seu sentido de alguém nascido, vivido e vivificador do cotidiano, explítico ator do senso comum, copartícipe do ato diário do experimentar o que seja o brasileiro?, o brasileiro das ruas, becos, filas, dores e medos desse ser brasileiro?
Sim, ele o é. Mas, então, porque eu e outros deploramos essa presença - essa e outras, como o ex-jogador Bebeto - inscritos formalmente à cena público-parlamentar? Haveria aí um contrassenso, um paradoxo?
Na verdade, não. O problema, a questão, está no fato de que Tiririca, Bebeto, Romário, Agnaldo Timóteo - que é vereador em S. Paulo - e quejandos, assomam ao palco político-partidário exatamente em função do que ele tem de palco - em seu sentido de proscênio, de espetáculo.
Estão ali literalmente como atores de seus próprios papéis midiáticos, arrimando-se espertamente da política para nutrir seus rendimentos pessoais. E o fazem em função de que a política, a que se pratica no Brasil, permite a sua assunção enquanto participantes de uma mascarada.
E assim eles se candidatam e têm, certamente têm, possibilidades de embolsar um mandato, pelo menos um, ganhando um agrado no fim do mês. E que agrado. E assim somos e assim vivemos. No Brasil, senhoras e senhores, sempre tem marmelada. Até que, um dia, o circo pegue fogo.
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