quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Graco Magalhães: um homem da altura de Ícaro
Emanoel Barreto

Reencontrei hoje, lá se vão vint'anos ou mais, o Comandante Graco Magalhães. No apartamento que já deu vista para o mar, agora parcialmente encoberto pelo cimento de outros edifícios, esse militar da reserva, piloto da aviação de caça, homem que já voou os céus do mundo todo, contou de sua vida e mostrou-se uma ser humano de altitude de Ícaro. E revelou faceta que desconhecia: Graco Magalhães, fotógrafo. Preciso, técnico, adestrando essa técnica à sensibilidade, é dele a foto de capa do livro "Voar é preciso", em que faz autobiografia.

O menino na foto é seu filho Márcio, hoje também piloto. Graco aguardava esse avião e, de repente, lá estava o filho diante da grandiosa máquina. O fotógrafo entrou em ação e o resultado está aí. 

Perceba-se a pequenez epifânica da criança ante a enorme, pesada, poderosa máquina de voar. O menino, a cabeça levemente erguida, a decifrar encantado o milagre de poder voar, o enorme esforço de voar. O ser humano, em sua idade mais cândida, enfrenta a estrutura ciclópica que o homem construiu em sua ânsia de alturas, sonho de pássaro disposto ao sem-fim.

A relação espectador/foto tem um além e um aquém. Aí o seu grande mistério e impressionante troca de energias entre quem fotografou e quem vê. O além é o universo mesmo da foto, aquilo que ela nos sugere, a força que nos atrai, o estar à nossa frente e representar, na planura da imagem, a profundidade daquilo que o fotógrafo buscou traduzir. O aquém somos nós em relação a ela e ao fotógrafo, o olhar preso ao momento captado.

Foi uma tarde reconfortante. Cercado de livros, antigos móveis de família, olho no computador, atento às coisas do mundo delirante neste início de século 21, o Comandante Graco é alguém que nos engrandece pela conversa, pelo gesto, pela grandeza. Um grande abraço, amigo.

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