terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Depois de Lampião, chega o novo terror

Beira-Mar em Mossoró: Santa Luzia, olhai por nós

A chegada do traficante Fernandinho Beira-Mar a Mossoró sábado último suscita um questionamento: o aparelho policial, pelo seu serviço e inteligência, poderia estimar a possibilidade de que criminosos de sua facção viessem a tentar libertá-lo? Isso foi levado em consideração? A pergunta ganha importância a partir do fato de que quando o bandido esteve no presídio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, houve violento ataque com duração de cerca de 20 minutos e uso de helicóptero, visando a liberação de algum criminoso.
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A reação dos guardas foi à altura, a tentativa falhou e não foi apurado se seria ele o motivo do ataque. Minha preocupação parte do fato de que Mossoró já vive problemas de segurança graves, não sendo interessante que, de repente, fosse a cidade literalmente atacada por quadrilha de alta periculosidade, objetivando dar fuga a um dos piores traficantes do país.

Não é sem sentido o questionamento. O sistema defensivo da penitenciária federal de segurança máxima de Mossoró deve ser efetivamente poderoso, para merecer esse nome. Seja em número de agentes, seja em qualificação operacional para contenção de tumultos e ataques externos. Todavia, pelo crescente número de crimes de morte ocorridos recentemente na cidade, pela insegurança que sei que existe em Mossoró - seja no noticiário, seja em conversa com fontes - não creio que o policiamento da cidade esteja apto a cumprir com convocação de última hora para alguma reação necessária e inesperada.

Uma tentativa de libertar Beira-Mar apresenta, do ponto de vista logístico, grandes dificuldades: a distância entre Mossoró e o centro de operações do criminoso, o que obrigaria membros da quadrilha a se deslocar do Rio àquela cidade, o modo como a empreitada se realizaria, a libertação de Beira-Mar e a fuga dos próprios autores da proeza, caso esta venha a ser incluída no rol das probabilidades.

Como jornalista, julgo-me na obrigação de levar adiante esse questionamento. Não estamos tratando com um bandido qualquer. Trata-se de um chefão do crime, com alto poder de organização e liderança. No presídio estão outros condenados de alta periculosidade, o que aumenta. As autoridades policiais do Estado, espero, devem levar em consideração o com quem estamos lidando. Creio que a imprensa norte-rio-grandense deveria cobrar do governo do estado e da Polícia Federal explicações claras e objetivas a esse respeito. Mossoró enfrentou Lampião. Aguentaria uma rajada de balas de Fernandinho Beira-Mar?

As autoridades têm de ficar de olhos abertos. Isso não é missão para o santo olhar de Santa Santa Luzia.

Abaixo, matérias da Tribuna do Norte e do Jornal de Fato.

Juiz definirá tempo de permanência


Roberta Trindade - Repórter/TN

O tempo de permanência do traficante mais temido do Brasil no Rio Grande do Norte será uma decisão do juiz federal Mário Jambo, que volta ao trabalho amanhã (09). O pedido para Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar ser transferido para o presídio federal de Mossoró foi do Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça Federal, o pedido foi aceito pelo juiz Vinícius Vidor, que ocupa interinamente o cargo de Mário Jambo, de férias. Ainda segundo a assessoria, o pedido do DEPEN foi aceito, por Vinícius Vidor, em caráter estritamente provisório. A decisão foi tomada devido à gravidade do que vinha ocorrendo na Penitenciária Federal de Catanduvas.

CedidaFernandinho Beira-Mar chegou ao presídio federal de Mossoró no sábado, trasferido da Penitenciária de Catanduvas, no ParanáFernandinho Beira-Mar chegou ao presídio federal de Mossoró no sábado, trasferido da Penitenciária de Catanduvas, no Paraná
O juiz federal Mário Jambo já havia negado, em 2010, vários pedidos de transferências de presos considerados de alta risco para a Penitenciária  Federal de Mossoró, por considerar precárias as condições de segurança da unidade. Havia, por exemplo, o problema da água. A informação era de que não havia autonomia hidráulica e que a solução era receber água do Presídio Estadual Mário Negócio. 

A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a assessoria de imprensa do Ministério de Justiça, em Brasília (DF). De acordo com informações repassadas pelos funcionários do órgão, as transferências de presos entre as quatro penitenciárias federais do país são periódicas. Catanduvas (PR), Campo Grande (MT), Porto Velho (RO) e Mossoró (RN).

O serviço de inteligência do DEPEN evita encaminhar presidiários que pertençam à uma mesma facção para uma única unidade prisional, o que provocaria uma facilitação ainda maior para os criminosos comandarem o crime organizado de dentro das  penitenciária.  Beira-Mar já esteve no presídio federal de Campo Grande, mas não podia ser transferido para Porto Velho porque, segundo informações da direção daquela unidade, lá já estão “presos da facção do Comando Vermelho liderada por Luiz Fernando da Costa”.

A TN tentou e não conseguiu conversar com a direção da Penitenciária Federal de Catanduvas. Agentes que atenderam as ligações disseram apenas que não podiam dar detalhes sobre Beira-Mar. A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça enfocou que durante o tempo que Fernandinho Beira-Mar permaneceu em Catanduvas, “era um homem reservado, com a noção de que poderia ser punido caso descumpri-se as normas da instituição”.   Na Penitenciária Federal de Campo Grande (MT), questionado sobre o comportamento de Fernandinho, o diretor da instituição, Washington Clark dos Santos, disse apenas a seguinte frase: “Era normal”.

Sobre o banho de Sol, Clark que está à frente da unidade há um ano e dois meses afirmou: “Era coletivo” (o que significa que Fernandinho não estava inserido no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde o banho, se toma o banho de sol sozinho para evitar contato com outros apenados”.    

Beira-Mar chegou em Catanduvas em 19 de julho de 2006, lá permaneceu até 25 de julho do ano seguinte até ser transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MT). Fernandinho ficou apenado naquela unidade até 18 de dezembro de 2010, data em que voltou para Catanduvas e só saiu no sábado (5) quando foi transferido para o Rio Grande do Norte.

Em agosto de 2010, o Tribunal Regional Federal (TRF) negou o pedido de transferência de Beira-mar para um sistema penitenciário estadual no Rio de Janeiro. O presidiário reclamava do rigor do sistema penitenciário federal de Mato Grosso do Sul e da dificuldade de receber parentes.

A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com o Jornal do Estado (PR) e com a Gazeta do Paraná para obter informações (reportagens) sobre possíveis problemas gerados pelo traficante número 01 do sistema penal federal. Uma das editoras do Gazeta do Paraná informou que  na Penitenciária de Segurança Máxima de Catanduvas disse que durante todo o dia de ontem tentou contato com a unidade prisional, mas que foi orientada a falar com o Depen para obter algum tipo de informação (que também não foi repassada pelo órgão).

Transferidos são a elite do crime

O presídio federal de Mossoró, aos poucos, tornou-se a unidade prisional do Brasil com o maior risco de segurança e, consequentemente, a mais badalada. O último interno, Luís Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-Mar”, é um dos responsáveis pela preocupação neste aspecto. Ele se junta a outros presos também perigosos, como o colombiano Nestor Ramon Caro Chaparro, o “El Duro”, considerado o número 4 no narcotráfico colombiano, além de outros 11 criminosos cariocas que estão em Mossoró há vários meses.

Chaparro foi transferido para Mossoró no dia 17 de abril do ano passado, sob forte aparato de segurança montado pelos agentes penitenciários federais e a polícia federal local. El Duro era procurado pelos Estados Unidos e foi preso pela polícia federal brasileira no Rio de Janeiro, em 13 de março de 2010. O colombiano estava hospedado em um hotel de luxo e não ofereceu resistência.

El Duro era procurado pela polícia norte-americana pelos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de entorpecentes. A polícia americana oferecia R$ 5 milhões por uma informação que levasse à prisão de Ramon.

De acordo com a Polícia Federal, Chaparro teria enviado cerca de cinco toneladas de cocaína da Colômbia para o território americano, via Brasil. A PF informou na época da sua prisão aos jornais cariocas que o traficante usava o Brasil, como entreposto para enviar drogas para os Estados Unidos e também para a Inglaterra, segundo maior receptor da droga de Chaparro.

Na época da sua prisão no Rio de Janeiro, a PF comparou a influência de El Duro no tráfico de drogas internacional com a do também narcotraficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, preso em São Paulo desde 2007 e extraditado para os Estados Unidos da América em 2008.

Beira-Mar é considerado exceção

Andrey Ricardo - Jornal de Fato

Mossoró - A lei que trata da inclusão de presos no Sistema Penitenciário Federal (SPF), que administra as quatro prisões federais do Brasil – a quinta será construída ainda – estipula que os presos devem passar até um ano recolhidos em unidades prisionais federais, podendo ser prorrogado por mais outro ano. Beira-Mar é uma exceção e está no regime de segurança máxima desde 2006, quando foi mandado do Rio de Janeiro para o presídio federal de Catanduvas (PR). Ele passou cerca de três anos lá, foi para Campo Grande, e voltou para Catanduvas. Sua última parada é a prisão federal de Mossoró.

De acordo com o delegado da Polícia Federal Arcelino Vieira Damasceno, que assume nos próximos dias a direção do presídio federal de Mossoró, a chegada de Beira-Mar não altera a rotina de trabalho da unidade. Para Arcelino, que está atualmente à disposição da Polícia Federal de Brasília (DF), mas já estava ontem em Mossoró tratando dos procedimentos acerca da sua nova função, “cuidar” de Beira-Mar não é nenhuma novidade. É que ele já foi diretor do presídio federal de Campo Grande, por onde o traficante passou nesses quatro anos que faz parte do Sistema Penitencário Federal.

Quando diretor do presídio de Campo Grande, Arcelino passou por uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo Sistema Penitenciário Federal, quando bandidos fortemente armados tentaram uma invasão. Os agentes penitenciários federais revidaram e o confronto armado durou cerca de 20 minutos. Sem condições de invadir a prisão, os bandidos fugiram e até hoje não foi esclarecido qual era o verdadeiro objetivo dos invasores, que chegaram a utilizar um helicóptero. Na época, cogitou-se a possibilidade da ação ser um resgate de Beira-Mar, o que nunca foi provado pela polícia.

Ao ser questionado sobre um possível aumento na segurança com a chegada de Beira-Mar, o delegado tratou de reafirmar o forte esquema de segurança que existe em todas as unidades prisionais que fazem parte do SPF. “Todas as unidades foram construídas para esse tipo de situação e Mossoró não é diferente. Temos todo o aparato necessário para lidar com esse tipo de situação (refere-se à chegada de Beira-Mar)”, enfatiza Arcelino, que passa a contar com um reforço, junto com a chegada do traficante. Com ele vieram armas que estavam sendo usadas nos treinamentos dos novos agentes.

Beira-Mar e os outros cinco bandidos desembarcaram no Aeroporto Dix-Sept Rosado por volta das 18h30 do sábado passado, sob forte esquema de segurança. Eles foram trazidos de Catanduvas (PR) em uma aeronave da Polícia Federal – a mesma usada noutras transferências. Por ar, a escolta foi feita por 20 agentes penitenciários, que ganharam o reforço de outros 30 de Mossoró. Além dos agentes, policiais federais e rodoviários federais foram designados para fazer a escolta do megatraficante os outros cinco do aeroporto para o presídio. Foram cerca de 10 km de muita preocupação.

De acordo com um agente penitenciário ouvido pela reportagem, que participou da escolta de Beira-Mar de Catanduvas para Mossoró, todo a operação foi montada sob um forte esquema de segurança e altamente sigiloso. Ele disse ao DE FATO que foi informado sobre a missão poucas horas antes, assim como os agentes penitenciários de Mossoró, que também só descobriram que iriam escoltar Beira-Mar momentos antes. “Foi tudo muito rápido. A gente não estava nem sabendo”, comenta o agente, que pediu anonimato, lembrando que a vinda de Beira-Mar já vinha sendo especulada.

Traficante chega com nomes de peso

A transferência de Fernandinho Beira-Mar para Mossoró foi o assunto dos principais meios de comunicação de todo o Brasil, mas além dele, vieram outros presos que também são considerados extremamente perigosos. Um deles foi flagrado quando tentava manter contatos com líderes do Comando Vermelho (CV), arquitetando com confronto direto com a polícia carioca em repreensão a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs.

O jovem Washington Presence de Oliveira tem apenas 23 anos, mas já possui uma extensa ficha criminal. Fernandinho Beira-Mar foi condenado a 120 anos de cadeia. A pena do jovem Washington não deixa muito a desejar no que diz respeito ao mais perigoso criminoso do Brasil: são 80 anos.

A esposa de Washington foi presa no fim do ano passado, logo após visitar seu companheiro no presídio federal de Catanduvas (PR), de onde ele e os outros cinco presos, incluindo Beira-Mar, foram transferidos no sábado para Mossoró.

De acordo com as investigações, as cartas apreendidas com a esposa do criminoso eram direcionadas para Márcio Santos Nepomuceno, o “Marcinho VP”, um dos principais líderes do Comando Vermelho, e Marco Antônio Pereira Firmino, o “My Thor”, também apontado como um dos líderes.

Um comentário:

Amana Raab disse...

revoltante isso!

que cada criminoso fique no seu lugar de origem! não já bastam os problemas que temos no nordeste, ainda querem trazer a sujeira deles pra cá também?