sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O day after do Egito

Após a queda de Mubarak, sucedido de fato pelo general e ministro de Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, as expectativas se voltam para futuro imediato do país. A situação do Egito é complexa: o quadro instalado resulta de um cadinho de forças sociais diversas, momentaneamente unidas em torno do objetivo conquistado: a expulsão do ditador agora em desgraça e com os bens congelados na Suíça. 
Master Sgt. Jerry Morrison/AP - General Mohamed Husseim Tantawi (E)

Na sequência, a conjução de forças começará a mostrar as suas tendências. Os militares, ator social ativo no processo, certamente gostarão de ter presença proativa. O nó górdio da questão, assim, chama-se consenso. No caso, o consenso possível será  a convergência, por aliança, em trorno de objetivos comuns: reordenar o país economica e socialmente. 

Muitos interesses estão em jogo: a presença americana, do ponto de vista geopolítico, o que inclui os interesses econômicos; a efetiva democratização do país; as relações do Egito com Israel; urgentes reformas que permitam a promoção de expressivas camadas da população. Não é pouca coisa.

O passo seguinte, a realização de eleições, serão o indício de como os fatos se encaminharão, sinalizando perspectivas de poder e, afinal, poder de fato, poder que possa ser instalado para conviver com o lento,demorado processo histórico de encaminhamento à democracia.

Da Folha:

Exército elogia saída de Mubarak e promete mediar transição

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Revolta ÁrabeAtualizado às 18h07.
O Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito afirmou nesta sexta-feira que não pretende substituir "a legitimidade desejada pelo povo" egípcio e que irá anunciar em breve medidas para uma fase de transição no país.
A afirmação foi feita em breve comunicado na emissora de TV estatal, horas depois de o vice-presidente do país, Omar Suleiman, ter anunciado a renúncia do ditador Hosni Mubarak, que ficou 30 anos no poder.
Na nota, a cúpula militar, que comandará a transição até realização de eleições, elogia ainda a saída de Mubarak, dizendo que a medida está de acordo com "os interesses do país". Os militares também saudaram os "mártires que perderam suas vidas" durante os violentos confrontos e protestos, que entraram hoje no 18º dia.

Tara Todras-Whitehill/AP
Egípcios celebram o anúncio de que o ditador do país, Hosni Mubarak, renunciou ao poder após 30 anos
Egípcios celebram o anúncio de que o ditador do país, Hosni Mubarak, renunciou ao poder após 30 anos
"Sabemos a extensão da gravidade e da seriedade desse assunto e as demandas do povo para iniciar mudanças radicais", dizia o texto. "O Conselho Supremo das Forças Armadas está estudando o tema para atingir as esperanças de nosso grande povo."
"O conselho irá soltar um comunicado detalhando os passos e procedimentos e diretivas que serão tomadas, confirmando ao mesmo tempo que não há nenhuma alternativa para a legitimidade aceitável pelo povo."
Na nota, o conselho também cumprimentou Mubarak "por tudo o que deu ao país em tempos de guerra e paz, e por seu patriotismo, priorizando os mais altos interesses da nação".

Mohammed Abed/AFP
Garoto egípcio beija soldado após renúncia de Mubarak; Exército elogia medida e promete mediar transição
Garoto egípcio beija soldado após renúncia de Mubarak; Exército elogia medida e promete mediar transição
NOVO LÍDER
O ministro de Defesa do Egito, Mohamed Hussein Tantawi, deve ser o novo chefe de governo. Segundo a agência de notícias Reuters, que cita fontes militares, Tantawi é o chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas, a quem Mubarak entregou a administração do país.
Ele fez um tour pela área do palácio presidencial que pertencia a Mubarak nesta sexta-feira, de acordo com a rede de TV Al Arabyia.
Anteriormente, o vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, anunciou a saída do ditador e disse que o poder foi entregue às Forças Armadas. "O presidente Hosni Mubarak decidir renunciar como presidente do Egito", disse Suleiman, em um breve anúncio, acrescentando que a decisão foi tomada diante das "difíceis circunstâncias pelas quais o país passa".
Autoridades dos Estados Unidos veem Tantawi como um aliado empenhado em evitar uma nova guerra contra Israel, mas no passado o criticaram reservadamente por ser resistente a mudanças políticas e econômicas. Ele conversou por telefone em cinco ocasiões com o secretário americano de Defesa, Robert Gates, desde o início da crise, em 25 de janeiro. A última conversa ocorreu nesta quinta-feira à noite.

Master Sgt. Jerry Morrison/AP
O ministro egípcio da defesa Mohamed Hussein Tantawi (à esq.); ele deve chefiar governo egípcio, diz agência
As relações com o Exército egípcio são tradicionais e importantes para Washington, que fornece cerca de US$ 1,3 bilhão por ano em ajuda militar ao país.
Fontes do Pentágono se mantêm mudas a respeito das discussões entre Tantawi e Gates, mas o secretário de Defesa tem feito elogios públicos aos militares egípcios por serem uma força estabilizadora em meio à crise. Na terça-feira, Gates disse que os militares do Egito haviam dado "uma contribuição à democracia".
Mas, reservadamente, autoridades dos EUA caracterizam Tantawi como alguém "relutante com mudanças" e desconfortável com a ênfase americana no combate ao terrorismo, segundo um documento de 2008 do Departamento de Estado, divulgado pelo site WikiLeaks.
Tantawi, 75, serviu em três conflitos contra Israel - na crise de Suez, em 1956, e nas guerras de 1967 e 73.
O comunicado interno do Departamento de Estado dizia que o comandante estava "comprometido em prevenir que outra [guerra] aconteça um dia".
Apesar disso, diplomatas alertaram, antes de uma visita dele a Washington em 2008, que as autoridades dos EUA deveriam se preparar para encontrar "um Tantawi envelhecido e resistente a mudanças".
"Charmoso e cortês, ele está, não obstante, preso a um paradigma militar pós-Camp David, que tem servido aos estreitos interesses da sua corte nas últimas três décadas", dizia o documento, referindo-se ao acordo de paz entre Egito e Israel, assinado em 1979 na residência de veraneio da Presidência americana.
Washington há muito tempo cobrava mudanças no Cairo. Mas o documento afirma que Tantawi "tem se oposto tanto às reformas econômicas quanto políticas, as quais ele percebe como uma erosão do poder do governo central".
FESTA NAS RUAS
O anúncio -- feito no 18º dia seguido de intensos e violentos protestos que tomaram diversas cidades do Egito-- foi recebido com gritos de comemoração, cantos e bandeiras sendo agitadas na praça Tahrir, centro do Cairo, que foi o epicentro dos protestos públicos contra o regime de Mubarak, que estava no poder desde 1981.

Dylan Martinez /Reuters
Criança levanta os braços em comemoração pela renúncia de Mubarak na praça Tahrir, centro do Cairo
Criança levanta os braços em comemoração pela renúncia de Mubarak na praça Tahrir, centro do Cairo
A renúncia ocorre menos de 24 horas depois de fortes rumores de sua saída imediata do poder. Na noite de quinta-feira, Mubarak discursou à nação e disse que passava parte de seu poder a Suleiman, mas permaneceria até setembro --quando estão previstas eleições presidenciais. O discurso de "fico" causou fúria nos manifestantes que marcharam em direção ao Palácio Presidencial aos gritos para que deixasse o poder.
Mais cedo, o porta-voz do partido de Mubarak havia confirmado que o mandatário e sua família viajaram para o balneário de Sharm el-Sheikh, no mar Vermelho. "Ele está em Sharm el-Sheikh", afirmou Mohammed Abdellah, do Partido Nacional Democrático.
Pouco antes, fontes ligadas ao governo informaram que Mubarak e a família haviam deixado o Cairo nesta sexta-feira, mas sem deixar claro qual era o destino.
Os violentos protestos registrados no Egito por mais de duas semanas registraram quase 300 mortes, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), além da morte de jornalistas e diversos ataques à imprensa.
Iniciadas no Cairo, as manifestações se espalharam por outras cidades, como Alexandria e Suez.
O Exército teve um papel crucial desde o início da crise, por vezes apoiando a população mas em algumas ocasiões também abrindo fogo contra os manifestantes.
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