Em busca do tempo perdido
Caminhar hoje pelo centro da cidade é ser abordado, ali, nas imediações da Caixa Econômica Federal, Rua João Pessoa, por pessoas que querem convencer você da importância de tomar um empréstimo. Não, não é na Caixa, é em algum esconso estabelecimento onde, assinando um documento que garanta que o pagamento será descontado em folha, você terá direito a até cinco mil reais.
Os, vou chamar atravessadores, abordam você e quase pegam no braço, sob a promessa de que as cinco mil notinhas de um real serão a salvação. Você estará com uma fortuna e será feliz para sempre. Estará a um passo do Paraíso. Hoje, ao ser abordado assim, senti uma sensação de estranhamento: senti que algo se foi, substituído por uma multidão de vendedores ambulantes disso e daquilo.
Senti que uma certa Natal esvaiu-se, volatilizou-se, sumiu. Hoje, o que havia de belo, aquela sensação de sentir-se bem, aquela sensação cristalizou-se nos shopping centers, escapou ao ar das ruas e, permita-me a palavra, encapsulou-se nos tais centers.
O Centro está feio e magotes de subempregados buscam ganhar qualquer dinheiro.
Da próxima vez que for por lá, quando for chamado a fazer um empréstimo vou aceitar: vou perguntar ao atravessador se ele pode me emprestar, mesmo somente por algumas horas, o centro da cidade como era há uns vinte ou trinta anos. Se ele puder, vou aceitar. Mesmo que a dívida venha a ser cobrada ano após ano e nunca mais tenha fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário