domingo, 6 de fevereiro de 2011

Na Folha:
REVOLTA ÁRABE

Perda de aliados coloca EUA em alerta

Analistas ouvidos pela Folha dizem que os americanos estão preocupados com petróleo e situação de Israel

Agitações sociais nos países árabes deixam em 2º plano luta contra os grupos terroristas instalados na região

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Enquanto vê crescer o risco de perder influência pela queda de aliados no mundo árabe, os EUA vêm se preparando para enfrentar problemas em outros pontos críticos: o fluxo de petróleo e a situação de Israel.

Muito mais do que a luta contra o terrorismo, são essas questões as mais importantes nas avaliações de Washington sobre como agir diante das revoltas árabes, segundo analistas consultados pela Folha.
No primeiro caso, a questão é que os países em turbilhão ou sob seu risco atualmente influenciam a política regional dos produtores de petróleo, como a Arábia Saudita -a começar pelo Egito.

"A maior preocupação dos EUA no Oriente Médio é o controle do petróleo", disse o analista Robert Dreyfuss.
Andrew Terrill, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos EUA, acredita que petróleo só seria problema no longo prazo.
"Arábia Saudita e Kuait estão tratando de amenizar quaisquer insatisfações para evitar agitação social. O Egito certamente tem influência na Arábia Saudita, mas não imagino que os sauditas mudarão suas políticas por enquanto", disse à Folha.

Para Terrill, o ponto mais premente dentre os dois críticos é Israel. "Líderes americanos temem que o acordo de paz de 1979 entre Israel e Egito possa ser rechaçado por um futuro governo egípcio, o que criaria instabilidade no Oriente Médio."

É quase certo que um novo governo egípcio será mais anti-Israel do que o atual e que será mais difícil tê-lo como parceiro em relação aos palestinos ou a Gaza.

Além disso, o governo de Barack Obama se vê na delicada posição de mudar uma política que privilegia a estabilidade regional. "Mubarak oferecia isso", afirma Mohamad Bazzi, analista do Council on Foreign Relations.
A situação aumenta a preocupação com a agitação na Jordânia, que tem acordo de paz com Israel.

O contraterrorismo tem ficado em segundo plano. Um dos motivos é a esperança de que reformas democráticas sejam mais benéficas contra o extremismo do que prejudiciais pela potencial perda de parceiros diretos.

Em relação ao declínio da influência americana, para muitos, a situação é inexorável. Terril, porém, tem tom otimista. "Há sentimento anti-EUA, mas não é comparável ao que houve na revolução islâmica de 1979 no Irã."

GANHADORES
Se os EUA são considerados perdedores com as revoltas, Irã e Turquia estão sendo apontados cada vez mais como ganhadores.

Ambos seriam alternativas para ocupar possíveis vácuos de poder regional, algo que já vêm tentando em anos recentes. A Turquia está lucrando com um percebido declínio do poder do Egito.

Já sobre o Irã, há quem discorde da visão generalizada. "Acho que estão apavorados", diz Terril. "Tiveram seus problemas com movimentos de massa recentemente. Ver governos próximos caírem é exemplo temeroso para sua população."

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